Caracterização de sequelas subsequentes a aspiração folicular e efeitos do tratamento com células tronco mesenquimais e vesículas extracelulares sobre a população folicular ovariana em bovinos
produção in vitro de embriões, aspiração folicular, células-tronco mesenquimais, avaliação clínica, avaliação macroscópica, histopatologia, lesão ovariana, bovino.
A produção in vitro de embriões (PIVE) revolucionou a reprodução animal, representando uma ferramenta essencial para o avanço genético dos rebanhos. Seu desenvolvimento está diretamente associado à técnica de aspiração folicular transvaginal guiada por ultrassonografia (OPU), amplamente utilizada em programas de coleta de oócitos. No entanto, a repetição frequente desse procedimento pode provocar danos ao tecido ovariano, em função dos múltiplos traumas causados pela agulha de aspiração. Esse efeito cumulativo pode comprometer a função ovariana, sobretudo em fêmeas submetidas a protocolos intensivos de aspiração. Nas rotinas comerciais, a pressão por resultados tem intensificado o uso de doadoras, levando ao descarte precoce de fêmeas com alto valor genético devido a patologias ovarianas associadas à OPU. Nesse contexto, estudos experimentais com modelos animais indicam que o uso terapêutico de células-tronco mesenquimais (CTM) e vesículasextracelulares (VE) pode contribuir para a recuperação da função ovariana em casos de lesão induzida. Este estudo teve como objetivo avaliar os danos clínicos e histopatológicos causados pela OPU nos ovários de doadoras bovinas submetidas a sucessivas OPU, bem como investigar o potencial efeito terapêutico das CTM e VECTM sobre as características histológicas ovarianas. No primeiro estudo foram avaliadas as consequências clínicas e histopatológicas observadas no ovário de vacas da raça Gir submetidas a sessões repetidas de OPU. Foram realizadas avaliações ultrassonográficas dos ovários e útero, dosagens plasmáticas de hormônio antiMülleriano (AMH) e análises macro e microscópicas dos ovários. No segundo estudo foram avaliados histologicamente ovários de vacas da raça Nelore submetidas à OPU, previamente utilizadas em estudo para análise do efeito in vivo da aplicação intraovariana de CTM ou VE-CTM. As doadoras foram distribuídas aleatoriamente em quatro grupos experimentais: controle (solução salina 0,9%), CTM, VE-CTM e hidrogel (veículo). As análises histológicas incluíram avaliação da densidade folicular (folículos primordiais, primários e secundários), da espessura da túnica albugínea e da proporção volumétrica dos componentes teciduais (tecido conjuntivo, folículos, tecido luteal e vasos sanguíneos). No primeiro estudo observou-se que o número de sessões de OPU esteve negativamente correlacionado com a recuperação de oócitos, sua viabilidade e a produção embrionária (P<0,01). Clinicamente, 91,7% das doadoras apresentaram doença cística ovariana e 83,3% tinham mucometra. Alterações xi macroscópicas, como aderências, foram identificadas em 16,7% dos ovários. Histologicamente, todos os ovários analisados exibiram graus variáveis de enrijecimento e deposição de colágeno, sendo essas alterações intensas em 82% dos casos. O segundo estudo, constatou que a aplicação de CTM e VE-CTM não resultou em diferenças significativas na densidade de folículos primordiais e primários entre os grupos. Contudo, o grupo tratado com hidrogel apresentou maior densidade de folículos secundários em comparação ao controle (P<0,05). As proporções volumétricas de tecido conjuntivo, folículos, tecido luteal e vasos sanguíneos, bem como a espessura da túnica albugínea, não diferiram significativamente entre os grupos. Os achados do primeiro estudo indicam que a realização frequente de OPU pode comprometer progressivamente a função reprodutiva em vacas Gir, destacando a importância de estratégias de manejo que visem preservar a saúde reprodutiva e a longevidade produtiva dessas doadoras. Em vacas doadoras de oócitos a aplicação intraovariana de CTM e VE-CTM é uma técnica segura, sem aparentes impactos negativos sobre os ovários e sua composição tecidual.