Nossa pesquisa teve como objetivo compreender as conexões entre competências, identidade docente e práticas pedagógicas identificadas nas falas de professores de Ciências da Natureza que atuam, ou atuaram, em Salas de Recursos Específicas para Estudantes com Deficiência Visual. Buscamos identificar elementos que possam ser incorporados na formação de novos professores, favorecendo a inclusão escolar e o aprimoramento do Ensino de Ciências para esses estudantes, de forma a atender suas necessidades educacionais e a fortalecer o processo de ensinoaprendizagem. Para tornar esta tese mais acessível a pessoas com deficiência visual, incluímos descrições detalhadas de todas as imagens e elementos visuais, elaboradas de forma a serem interpretadas tanto por programas leitores de tela quanto por ledores humanos. Essa abordagem procura garantir a compreensão plena dos conteúdos apresentados e promover a acessibilidade acadêmica. No primeiro abordamos o funcionamento da visão e fundamentos para entender a deficiência visual e suas implicações pedagógicas. No segundo discutimos a evolução da percepção social sobre pessoas com deficiência, destacando sua luta histórica por direitos. No terceiro, exploramos a Teoria Histórico-Cultural de Vigotski, com ênfase na superação de barreiras socioculturais e no apoio à inclusão. No quarto discutimos a formação do conceito de competências e a identidade docente, analisando-se o que significa ser professor e os desafios de atuar em contextos inclusivos. No quinto detalhamos a metodologia qualitativa da pesquisa, destacando a Análise Textual Discursiva (ATD) como método de interpretação de dados e a inovação no uso de Inteligência Artificial como ferramenta de auxílio na compilação de dados, transcrição de entrevistas e criação da identidade visual do trabalho. Além disso, apresentamos os Grupos de Reflexão como instrumento central, reunindo-se professores de Ciências da Natureza e Matemática e três grupos de cursistas de Braille, Soroban e Análise Funcional da Visão. Esses grupos possibilitaram: troca de experiências, reflexões sobre identidade docente e práticas pedagógicas, bem como sugestões para aprimorar cursos realizados. No sexto capítulo, discutimos as análises realizadas com base nos dados construído durante a pesquisa. Essa etapa destaca reflexões críticas e apresenta propostas de aprimoramento de curso de formação continuada com os objetivos de promover o Ensino de Ciências Inclusivo. Por fim apresentamos as considerações finais, consolidando os resultados alcançados e propondo aplicações práticas das descobertas. Na pesquisa combinamos uma análise teórica abrangente com uma abordagem metodológica inovadora, oferecendo contribuições significativas para a formação de professores do Ensino de Ciências interessado em trabalhar em Sala de Recurso Específica de Deficiência Visual, promovendo-se a inclusão destes estudantes. A troca de experiências nos grupos de reflexão e o uso de tecnologia na análise de dados enriqueceram os resultados e apontaram caminhos concretos para uma formação continuada mais inclusiva e transformadora.

Nesta pesquisa, analisamos a atuação docente nas feiras de ciências em um município do
interior da Bahia, visando compreender os desafios e as perspectivas para a promoção da
alfabetização científica. O estudo partiu do pressuposto de que as feiras de ciências representam
um espaço potencial para a educação científica, nas quais professores podem incentivar a
curiosidade e a investigação entre os estudantes. O objetivo geral foi identificar quais as
dificuldades dos professores na orientação de projetos em feiras de ciências que promovam a
alfabetização científica a partir das suas percepções e das atuações desses profissionais em
escolas de um município do interior da Bahia. Os objetivos específicos incluíram:
compreender as concepções dos professores que participam das feiras, analisando suas
motivações e expectativas; analisar os editais recebidos da Secretaria da Educação da Bahia e
a documentação gerada pelo Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) da cidade onde a
pesquisa foi realizada, para entender as diretrizes e recursos disponíveis; acompanhar o
processo de organização das feiras de ciências no município, incluindo a interação entre
professores, estudantes e NTE; e analisar os relatos de um grupo de professores que
participaram da última edição da feira de ciências, identificando suas dificuldades para a
promoção da alfabetização científica nas orientações de projetos. A metodologia adotada foi
qualitativa com uso de formulários do Google Forms, análise de editais, do acompanhamento
da coordenação do NTE 11. Nas análises dos relatos dos professores que participaram da
última edição da feira de ciências, utilizamos a técnica denominada grupo de reflexão.
Participaram da pesquisa 37 professores, sendo que destes, apenas 05 contemplaram os
critérios estabelecidos. Devido à grande quantidade de informações, utilizamos a análise
textual discursiva. Os resultados da pesquisa nos revelaram que, embora os docentes
reconheçam o valor das feiras de ciências como uma estratégia para desenvolver competências
científicas nos estudantes, eles enfrentam diversos obstáculos, tais como a falta de recursos
materiais, formação inadequada e a necessidade de apoio institucional. Os resultados indicaram
que a participação nas feiras de ciências é percebida como uma oportunidade valiosa para o
desenvolvimento profissional dos professores e para o engajamento dos estudantes em
práticas científicas. Consideramos que as dificuldades mencionadas refletem uma necessidade
urgente de políticas públicas que priorizem a formação continuada dos docentes e a melhoria
da infraestrutura escolar. As considerações finais enfatizaram a importância de um suporte
mais efetivo por parte dos NTEs, bem como a necessidade de uma articulação mais sólida
entre os editais e as realidades locais das escolas. Essa pesquisa contribui para um
entendimento mais aprofundado sobre a dinâmica das feiras de ciências e oferece subsídios
para reflexões sobre práticas educativas que favoreçam a formação de cidadãos críticos e
cientificamente alfabetizados, alinhados com os desafios contemporâneos da educação.

A atual realidade educacional, em que há um maior ingresso de estudantes com deficiências na Educação Básica, requer metodologias e o aprimoramento de materiais didáticos que favoreçam, não só a permanência desses alunos nas classes comuns, mas, também, participação com qualidade desses indivíduos no processo de ensino e aprendizagem. Para tal, a exploração de caminhos alternativos que contribuam com esse direito é fundamental. Portanto, surgiu a ideia de investigar as possibilidades do uso de um jogo, do tipo Role Playing Game (RPG), para alunos com deficiência visual no ambiente escolar. No RPG os jogadores interpretam personagens e externalizam suas ações com o intuito de alcançar soluções para os desafios abordados nas histórias narradas pelo mestre. Esse tipo de jogo é, comumente, cooperativo isto é, os jogadores devem se relacionar em busca de objetivos em comum. Dessa forma, o RPG não carece definitivamente de recursos físicos dependendo, principalmente, da construção de imagens mentais dos participantes, da inter-relação entre os membros das equipes e das linguagens corporais dos discentes. Nesse contexto, para observar as possibilidades do uso do RPG para alunos com deficiência visual, esse trabalho pautou-se nas compreensões sócio interacionistas de Vygotsky, por meio do estudo de casos que favoreceu a avaliação comportamental dos estudantes durante as aplicações das aventuras. Tal escolha foi feita devido à necessidade de percorrer um caminho metodológico qualitativo que permitisse a observação de fatores pontuais na pesquisa em questão. A pesquisa foi feita em duas escolas públicas do Distrito Federal. Sendo que, em uma das escolas, a aplicação do jogo ocorreu na sala de recursos. As aplicações do RPG contaram com a participação de quatro alunos com deficiência visual. Para contribuir com a construção de informações relevantes para essa pesquisa, a coleta de dados foi baseada no diário de bordo dos alunos e nas filmagens das aplicações dos jogos. Por fim, foi utilizada a análise de conteúdos de Bardin para categorizar e analisar as informações construídas no decurso da investigação. Como resultado dessas investigações, foi possível notar as diferentes alternativas surgidas com o uso do RPG para alunos com deficiência visual. Percebeu-se que essa ferramenta pode favorecer a construção de imagens mentais por esses alunos, além de oportunizar a externalização de informações por meio das linguagens corporais, sem que as especificidades visuais se tornem empecilhos para tal.

O Novo Ensino Médio, desenvolvido a partir da Lei nº 13.415 de 2017, é composto, além dos componentes curriculares da Formação Geral Básica, por uma porção curricular flexível denominada Itinerários Formativos, cujas unidades curriculares devem se desenvolver em torno de pelo menos um entre quatro eixos estruturantes possíveis: ‘Investigação Científica’, ‘Processos Criativos’, ‘Mediação e Intervenção Sociocultural’ e ‘Empreendedorismo’. Sendo a ‘investigação científica’ um enunciado historicamente caro ao ensino de ciências, o objetivo deste trabalho é analisar as condições de emergência desse enunciado dentre as políticas curriculares, com a sua consequente fixação como um dos eixos estruturantes responsáveis por embasar unidades curriculares referentes a todas as áreas do conhecimento. Como suporte para tal estudo, apresento um panorama histórico referente à investigação científica ao longo da trajetória do ensino de ciências no Brasil e um levantamento bibliográfico concernente ao tema com o propósito de visibilizar diferentes sentidos já incorporados a esse enunciado nos campos discursivos educacional e epistêmico, e os processos envolvidos na produção de um sistema de raciocínio que regula a elaboração das políticas curriculares, aceitando e legitimando determinados enunciados. Baseando-me em uma análise enunciativa inspirada em estudos foucaultianos busco evidenciar como a ‘investigação científica’ adquire hoje uma abordagem tipicamente escolar no campo discursivo do ensino de ciências, com os significados que a constituem em muito se aproximando da ‘alfabetização científica’ e do ‘ensino de ciências por investigação’. Em diálogo com o ciclo contínuo de produção de políticas, privilegio a análise da Base Nacional Comum Curricular e do Currículo em Movimento do Novo Ensino Médio, documentos normativos que regem a estruturação curricular, com a intenção de compreender como eles vêm acionando esse enunciado, encontrando sentidos próximos àqueles praticados pelo meio acadêmico. Por fim, como forma de acessar o contexto da prática e fundamentada na teoria da atuação, elaborada por Stephen Ball e colaboradores, examino os catálogos das unidades curriculares dos itinerários formativos da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal buscando compreender como o eixo estruturante da investigação científica vem sendo interpretado e traduzido nas suas ementas. Percebo que, apesar de notoriamente caro aos professores da área de Ciências Naturais, o termo 'investigação científica’ carrega uma multiplicidade de sentidos, sendo muitas vezes utilizado em discordância com o que vimos entendendo e denominando como ‘investigação científica escolar’. Destaco, assim, a necessidade de uma maior sistematização de informações e subsídios metodológicos por parte das políticas curriculares acerca do desenvolvimento dessa abordagem.

Este estudo de dissertação de mestrado se consolidou a partir do uso da metodologia qualitativa, dentro da linha de pesquisa sobre formação de professores de Ciências, com ênfase no eixo temático de Narrativas, Cultura e Saberes na formação de professores. A busca pelo desenvolvimento dos objetivos de pesquisa se deu pelo uso de entrevistas semiestruturadas, que tiveram como base teórico-fundamental elementos da pesquisa narrativa e do método autobiográfico. O processo de pesquisa teve como intuito buscar compreender e investigar sobre a possível influência de experiências acadêmicas e pessoais e momentos-charneira no decorrer do processo formativo de egressos do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília na escolha da docência e se foram determinantes para essa decisão de atuar na área específica do ensino de Ciência e Biologia. A análise das histórias de vida compartilhadas nos momentos de entrevista teve como uso o método de análise das histórias a Análise Textual Discursiva (Moraes, 2003), através da construção de categorias de análise criadas com base nas temáticas dos objetivos específicos e também, das que emergiram ao longo do processo.

A pesquisa focalizou a análise dos sentidos produzidos na formação inicial de professoras e professores de Ciências e Biologia, especificamente a partir da disciplina Reflexões sobre gênero e sexualidade no Ensino de Ciências e Biologia (RGeSex), ofertada na Universidade de Brasília (UnB). Orientado por uma perspectiva que compreende gênero e sexualidade a partir de suas inscrições históricas e culturais, as quais práticas discursivas e não-discursivas as produzem e são produzidas, me propus a olhar para a formação de professores como uma dessas instituições regulatórias, produtora de sentidos e parte da complexa rede de relações de poder que compõem o complexo dispositivo da sexualidade. Para tal, me orientei a partir de uma abordagem discursiva, no diálogo com Michel Foucault e alguns de seus interlocutores, para suscitar debates capazes de gerar estranhamentos em lógica deterministas e efeitos de verdade que costumam sustentar os sistemas de pensamento dos processos pedagógicos de Ciências e Biologia. Através da análise de um vasto conjunto de fontes, incluindo transcrições de aulas, entrevistas com participantes e suas produções textuais, pude identificar e compreender, a partir das regularidades discursivas e das condições de possibilidades que permitiram a emergência e dispersão dos enunciados, os sentidos produzidos na disciplina. Nesse contexto, dar visibilidade aos enunciados se mostrou crucial para uma análise crítica dos discursos relacionados ao gênero, à sexualidade e à própria formação docente. Para além, alinhado com as perspectivas teórico-metodológicas que me nortearam, analisei como esses acontecimentos discursivos podem se traduzir em potencialidades pedagógicas, almejando a produção de outros modos de pensar, em diferentes dispositivos pedagógicos e processos formativos. Identificou-se enunciados múltiplos, alguns de dor, medo e expectativas em relação às temáticas de gênero, sexualidade e educação. Outros de acolhimento, cuidado e amorosidade na formação. Evidenciou-se o potencial pedagógico das interações com colegas professoras como potentes estratégias formativas docentes. Nesse sentido, os enunciados singulares e raros que emergiram neste contexto enriqueceram perspectivas e multiplicaram os novos modos de pensar, permitindo acesso à ordem do discurso.

O objetivo desta dissertação é analisar os jogos produzidos para o ensino de Ecologia publicados em periódico especializado. É uma pesquisa predominantemente qualitativa, fundamental, do tipo Metanálise, tendo por metodologia a Análise Textual Discursiva (ATD). Para tanto, foi feita uma breve descrição do fenômeno lúdico tendo por base Huizinga (1993); Caillois (1990) e outros, ressaltando o jogo. A seguir enfatizou-se o jogo do tipo analógico, como os de cartas, tabuleiros, papel e caneta, etc. Woods (2012) e outros classificam os jogos analógicos em três famílias: jogos clássicos, jogos de mercado de massa e os jogos de hobby. Enfatizamos estes últimos e seus quatro gêneros, Wargames, Collectible Card Games, Roleplaying Games e Eurogames, por sua diversidade de mecânicas, vitória por desempenho, não exclusão de jogadores, tempo pré-determinado de partida, etc. Com tal caracterização do lúdico e dos jogos analógicos, abordamos o uso dos jogos no ensino em perspectiva histórica, partindo da Grécia Antiga, percorrendo o Império Romano, Idade Média, Modernidade e Contemporaneidade, sendo tal descrição embasada em Abbagnano (1957), Cambi (1999) e outros. A teoria do uso dos jogos no ensino é composta por Brougère (1998, 2002, 2008); Kishimoto (1999, 2002, 2003, 2007, 2018); Soares, Cleophas (2018); Cavalcanti (2018); Vial (2015); Krasilchik (2011), etc. Para uma melhor compreensão dos jogos analógicos abordamos a tétrade elaborada por Schell (2008), enfatizamos as mecânicas enumeradas por Engelstein e Shalev (2020), com seus 13 gêneros compostos por 184 espécies de mecânicas que abordam cada aspecto do jogo. O plano de fundo é o ensino em Ecologia, escolhido pela sua relevância biológica, política, social e econômica. A base teórica ecológica é composta por Odum, (1988); Acot (1990); Townsend, Begon e Harper, (2010). Cain, Bowman e Hacker (2018); Reece et al (2015), etc. Estabeleceu-se então um panorama do uso dos jogos no ensino de Biologia, em especial em Ecologia, por meio dos trabalhos publicados na Revista de Ensino em Biologia (REnBio) da Sociedade de Ensino em Biologia (SBEnBio), sendo utilizadas as edições lançadas de 2005 a 2022. Constatou-se que 103 abordaram jogos no ensino, a maior parte destes componentes das edições que trouxeram as atas do Encontro Nacional de Ensino de Biologia (ENEBIO), e destes 15 abordaram conteúdos de Ecologia, em especial Biomas, conceitos básicos, relações ecológicas e tróficas entre outros. A produção destes concentrou-se no Sudeste, com predominância das instituições federais, entretanto a Instituição de Nível Superior que apresentou a maior produção foi a Universidade Federal do Piauí. Cerca de 70% dos jogos foram aplicados em sala de aula, mais de 90% são analógicos, havendo predominância de jogos similares ao Perfil da editora Grow. Quanto ao embasamento teórico dos trabalhos inventariados, há um maior volume de textos acadêmicos em detrimento dos autores clássicos, o que pode ser um sinal da incipiência da pesquisa do ensino lúdico em biologia no cenário nacional, mas também uma característica inerente de trabalhos voltados a congressos. Finalizamos apresentando dois exemplos de jogos de tabuleiro modernos que possuem temática ecológica, dando assim uma sugestão e apontamento para futuras pesquisas.

A presente pesquisa dedica-se à exploração do uso de jogos como uma estratégia no Ensino de Ciências, com um enfoque especial na adaptação desses recursos para atender às necessidades específicas de estudantes com Dupla Excepcionalidade. O objetivo geral desta pesquisa é analisar o potencial dos jogos com conteúdos de Ciências na promoção da complementação e suplementação pedagógica para estudantes com Dupla Excepcionalidade que cursam os Anos Iniciais, no contexto do Atendimento Educacional Especializado de uma escola do Distrito Federal. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, realizada na perspectiva de estudo de caso, tendo como instrumentos para a construção de dados: observação participante, entrevistas semiestruturadas e diário de campo. A pesquisa envolveu as/os seguintes participantes: três estudantes com Dupla Excepcionalidade, na faixa etária de 9 a 11 anos, que frequentam o AEE e duas professoras da sala de recursos, sendo uma da sala para altas habilidades e uma da sala generalista. Os dados construídos na pesquisa foram analisados segundo o critério proposto pela Bardin, utilizando a análise de conteúdo. Como resultado obteve-se: os jogos relacionados à disciplina de Ciências são recursos valiosos para a complementação e suplementação no atendimento educacional especializado. Contudo, os jogos que obtiveram sucesso foram os elaborados pelas próprias professoras, com adaptações baseadas nos objetivos previamente estabelecidos por elas, já que os jogos disponíveis, comercializados, não atingiram a finalidade proposta e assim foi possível percorrer este caminho como um espaço para o Ensino de Ciências.

Este trabalho está dividido em três capítulos principais. O primeiro capítulo fornece uma introdução e estabelece o contexto do estudo, discutindo o impacto do Ensino Remoto Emergencial (ERE) provocado pela pandemia da Covid-19 e suas consequências para a prática dos professores de Ciências no Distrito Federal. O segundo capítulo se concentra em um levantamento bibliográfico, examinando as práticas pedagógicas adotadas pelos professores de Ciências durante o ensino remoto. O terceiro capítulo descreve a pesquisa realizada por meio de dois grupos focais, investigando as adaptações e práticas educacionais adotadas por professores de Ciências da rede pública do Distrito Federal durante e após o período pandêmico. A proposta do grupo focal é verificar se os resultados encontrados corroboram com as informações da literatura. A metodologia utilizada é qualitativa, com técnicas de coleta de dados que incluem a aplicação de um formulário de sondagem inicial e a condução de grupos focais presenciais. A análise dos dados foi conduzida utilizando a Análise de Conteúdo de Laurence Bardin, que facilita a identificação e a interpretação de padrões nos dados. Este trabalho pretende auxiliar os educadores de Ciências na reflexão sobre as mudanças didáticas que se consolidaram e influenciaram a Educação em Ciências após o período emergencial. Os resultados indicam que tanto os professores quanto os alunos enfrentaram desafios significativos relacionados ao uso de tecnologias. Apesar dessas dificuldades, os professores continuaram a utilizar algumas práticas, como jogos e vídeos. Após a pandemia, houve uma mudança para uma abordagem mais flexível e menos centrada no conteúdo, em resposta às lacunas educacionais resultantes da pandemia. Este estudo destaca a necessidade de realizar mais pesquisas sobre recursos que possam ajudar a preencher as lacunas de aprendizado existentes.

Esta dissertação trata de uma iniciativa inovadora no Distrito Federal, o Programa Parque Educador, que se constitui como uma política pública de Educação Ambiental implementada por uma parceria interinstitucional entre Secretaria de Estado de Educação, Secretaria de Meio Ambiente e Instituto Brasília Ambiental. O objetivo da investigação foi analisar práticas de Educação Ambiental do Programa Parque Educador, desenvolvidas no Parque Ecológico Saburo Onoyama em parceria com uma das escolas de educação básica da rede pública do Distrito Federal, visando investigar suas contribuições para o desenvolvimento de noções de encantamento e pertencimento ao meio ambiente em estudantes participantes do programa. Trata-se de um estudo de caso, pautado pela abordagem qualitativa, desenvolvido com uma turma de estudantes de 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública do DF, inscrita no programa. O desenvolvimento da pesquisa se deu por meio das seguintes etapas: exploratória, que compreendeu a análise documental sobre o referido programa; produção de dados sobre o caso, a partir do desenvolvimento de práticas de Educação Ambiental Vivencial com uma turma de estudantes em encontros realizados no Parque Saburo Onoyama, localizado em Taguatinga-DF; e análise de dados, com base no método de Laurence Bardin. Os resultados recuperam o histórico do programa, desde sua criação em 2018, e o quantitativo de escolas de educação básica atendidas até 2023, que totaliza 62 unidades escolares de dez Regiões Administrativas do DF. Quanto ao estudo de caso, os depoimentos colhidos em materiais produzidos pelos estudantes foram agrupados em três categorias: experiência sensorial, sentidos atribuídos ao ambiente do parque e conexão ambiental. A pesquisa revelou como a interação com o ambiente natural, através dos sentidos, é importante para o aprendizado e o desenvolvimento dos estudantes. Há indícios de que as atividades proporcionaram relações de confiança entre os estudantes e deles com as professoras, além de momentos de introspecção e contato direto com a natureza. Como resultado, houve uma ampliação de sentidos atribuídos ao ambiente, demonstrando o potencial do parque como um ambiente integrador, que oportuniza bem-estar e aprendizados sobre elementos naturais e culturais. Este estudo oferece uma perspectiva sobre como as atividades em ambientes externos à sala de aula é importante para conectar teoria e prática de maneira significativa e apresenta pistas de que as vivências no Programa Parque Educador favoreceram o desenvolvimento de uma relação de encantamento, conexão ambiental e pertencimento entre os estudantes e o ambiente do parque. Além de apontar contribuições do Programa Parque Educador para a Educação Ambiental do Distrito Federal, a dissertação reconhece a necessidade de pesquisas futuras que abordem lacunas identificadas no presente estudo.

Esta dissertação tem como objetivo conceitualizar, validar e definir bases, orientações e possibilidades práticas para uma educação científica marginal e periférica a partir da participação e da produção conjunta com coletivo dedicado ao tema, grupos da periferia e escolas públicas do Distrito Federal. Entendendo como periferia um lugar historicamente marcado por desigualdades sociais, estigmas e sufocamento da classe trabalhadora.Por outro lado, também é um lugar de potência no sentido de produção culturale de práticas de resistência.Asescolas periféricas, aquelas que estão na periferia e que recebem alunos dessa comunidade, são influenciadas pelo seu contexto epadecem de problemas materiais e culturais semelhantes. Essa escola é um lugar de reprodução e produção da hegemonia da classe dominante e, contraditoriamente, também um lugar de possibilidades contra-hegemônicas.A ciência é influenciada por interesses e realidades de onde é desenvolvida, geralmente é apresentada nas escolas como um conhecimento construído de forma neutra. Em escolas periféricas o ensino de ciências aparenta-se distante dessa realidade, sendo necessário contextualizar.A metodologia dessa pesquisa é baseada na perspectiva qualitativa através do método da pesquisa-ação contando com a participação do Núcleo de Estudos, Organização e difusão do conhecimento sobre a Literatura Marginal (NEOLIM), que é um grupo de pesquisadores sobre e da periferia, colaboraram também grupos de estudantes e moradores da periferia, bem como professores de ciências em escolas públicas periféricas. As reuniões foramanalisadas por meio do método análise textual discursiva que resultou na validação da teoria ensino de ciências marginal e periférico, em que foi debatido sobre as possibilidades e desafios do ensino de ciências em escolas periféricas e a teoria proposta.Como resultado o ensino de ciências marginal e periférico demonstra potencial para a superação da percepção de distância e desconexão relacionado a realidade periférica e os conteúdoscientíficos, essa teoria também enriquece o ensino de ciências com um método que envolve os professores e alunos no entendimento de ciências contextualizado com a realidade periférica.

A Educação CTS tem influenciado o processo de formação profissional docente, requerendo cada vez mais criticidade e abordagens interdisciplinares e contextualizadas dos conhecimentos a partir da problematização das relações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade. Nesse contexto, investigações da área de Ensino de Ciências apontam para a importância das práticas curriculares CTS nos processos formativos de professores como uma das formas de contribuir para a construção da autonomia docente e a transformação social. Diante disso, este trabalho buscou compreender concepções, desafios e possibilidades formativas apresentadas nos discursos de docentes formadores dos cursos de Licenciatura em Química em universidades públicas brasileiras acerca do desenvolvimento de práticas curriculares na perspectiva da Educação CTS. A fundamentação teórica-metodológica está ancorada na educacional crítica com articulação entre os pressupostos do educador Paulo Freire e da Educação CTS no Ensino de Ciências, perante uma abordagem qualitativa-exploratória de pesquisa na produção e análise de dados. Para entendimentos acerca da Educação CTS no contexto da formação inicial de professores de química, delineou-se dois caminhos metodológicos que se complementam, sendo o primeiro de cunho teórico com levantamento das produções acadêmicas em teses e dissertações brasileiras; e o segundo de caráter empírico com a realização de entrevistas semiestruturadas com cinco docentes formadores que têm o CTS como objeto de suas pesquisas. Todos os dados produzidos foram submetidos à Análise Textual Discursiva/ATD e emergiram categorias, redundando na produção de metatextos. A análise das teses e dissertações selecionadas permitiu identificar características teórico-metodológicas e ênfases à formação docente em química na perspectiva CTS, relacionadas ao: (i) desenvolvimento de concepções sobre as inter-relações CTS e sua inserção no ensino de química; (ii) às potencialidades da perspectiva CTS na formação docente e (iii) à organização curricular dos cursos de Licenciatura em Química. Já a análise das entrevistas, possibilitou reconhecer aspectos formativos em CTS, que foram discutidos em duas etapas. Na primeira etapa, discutiu-se temáticas principais sobre: (i) formação CTS e a produção de sentido à prática pedagógica; (ii) aspectos polissêmicos acerca do Ensino de Ciências na perspectiva CTS; (iii) enfrentamentos no desenvolvimento de práticas educativas CTS; (iv) construção de possibilidades curriculares CTS; e (v) potencialidades da Educação CTS à formação docente. Na segunda etapa, discutiu-se compreensões de docentes formadores sobre autonomia docente e dimensões formativas críticas presentes em práticas educativas CTS, que expressam a) protagonismo, encorajamento e engajamento docente/discente no contexto da prática profissional; b) problematização de relações CTS a partir de temáticas do cotidiano social/cultural e da contextualização dos conhecimentos químicos; e c) processos interativos e colaborativos para a constituição de professores reflexivos e críticos. Os resultados apontam que a Educação CTS se mostra promissora e potencializadora para o desenvolvimento de dimensões formativas críticas na formação inicial de licenciandos em química e também na formação continuada de docentes formadores, promovendo reconfigurações curriculares e a construção da autonomia docente. Ao mesmo tempo, ressalta-se a necessidade de refletir criticamente sobre a formação inicial de professores de química, assim como criação e fortalecimento de espaços e tempos de diálogo permanente sobre conhecimentos ou saberes no exercício da docência, como modo de viabilizar o desenvolvimento de práticas educativas CTS em todos os níveis escolares/acadêmicos.

Esta tese de doutorado é proveniente de uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso e apresenta como objeto de estudo o jogo de Role Playing Game (RPG) como instrumento para coleta de dados na avaliação da aprendizagem. Desse modo, para conseguirmos estudar esse objeto, elaboramos a pergunta problematizadora a seguir: Como um jogo de RPG do tipo Live Action pode ser utilizado como instrumento para coleta de dados para investigar o nível de desenvolvimento cognitivo de estudantes de licenciatura em Química sobre a forma e a estrutura das moléculas? Para nos ajudar a responder essa pergunta-problema, esta pesquisa teve o seguinte objetivo geral: compreender o jogo de RPG do tipo Live Action como instrumento avaliativo para investigar o grau de desenvolvimento cognitivo de estudantes de licenciatura em Química sobre a forma e a estrutura das moléculas. Para isso, dividimos essa tese em quatro partes. A primeira parte, composta pelo referencial teórico, que está dividido em 2 capítulos que dissertam a respeito: do jogo de RPG e de uma análise das produções acadêmicas no ensino de Química, Física e Biologia e da avaliação da aprendizagem com foco na Taxionomia dos Objetivos Educacionais. Já a segunda parte desta tese é intitulada de Percurso Metodológico e apresenta os pressupostos metodológicos que guiaram a pesquisa que deu origem a esta tese de doutoramento, bem como explicitamos como o jogo de RPG denominado de: Um Crime na Purdue Produtos Químicos, foi construído com base na Taxionomia dos Objetivos Educacionais, de Benjamin Bloom. A terceira parte da tese apresenta os Resultados e Discussão e contém alguns dados provenientes de gravações de áudio e vídeo que foram analisados com a ajuda da técnica de análise de conteúdo por meio de três categorias de análise, a saber: a) entendimento; b) avaliação; e c) caráter lúdico, que emergiram a posteriori. A quarta parte desta tese é composta pelas Considerações Finais que apontam, entre outras coisas, contribuições e implicações desta pesquisa em, pelo menos, três aspectos: atual estado das pesquisas sobre o RPG; elaboração de uma aventura de RPG como instrumento de coleta de dados para avaliação da aprendizagem; e proposição de enquadramentos dos estudantes nos domínios cognitivos básico, operacional e global. Além disso, as limitações desta tese foram elencadas como possibilidade para o desdobramento de novas pesquisas na área.

O interesse por compreender a complexidade do processo de aprendizagem para estudantes com a Dupla Excepcionalidade datam do século XX. Porém, ainda lidamos com a escassez de pesquisas que abordam práticas pedagógicas para essa população estudantil considerada uma das mais invisibilizadas e subidentificadas, consequentemente, não tendo suas necessidades educacionais atendidas, especialmente no âmbito do Ensino de Ciências. Pessoas com Dupla Excepcionalidade são aquelas que apresentam, simultaneamente, altas habilidades/superdotação em associação com uma deficiência e/ou transtorno. Nesta Tese de Doutorado temos como objetivo identificar, definir e caracterizar concepções de Dupla Excepcionalidade que sustentam Atendimento Educacional Especializado para Estudantes com Dupla Excepcionalidade no contexto do Ensino de Ciências no Distrito Federal, considerando as Regiões de Influência do Campus II e III. A abordagem metodológica que guiou a pesquisa foi a qualitativa, por entender que investigamos um fenômeno que é impactado pelo contexto sociocultural, que se trata da inclusão de estudantes com Dupla Excepcionalidade. Como delineamentos de pesquisa utilizamos a Teoria Fundamentada, principal delineamento da pesquisa pela natureza da Tese, novos olhares e posicionamento teórico a partir dos dados analisados e como delineamentos intermediários, utilizamos a Pesquisa Documental, Revisão Integrativa da Literatura e Pesquisa Narrativa, visando contemplar cada objetivo específico da pesquisa. Os dados foram analisados à Luz dos Pressupostos Teóricos da Análise Textual Discursiva, técnica de análise que julgamos adequada ao delineamento de pesquisa da Teoria Fundamentada nos Dados. Após a Análise dos Dados, as informações construídas nos permitem afirmar que a concepção de Dupla Excepcionalidade e de Atendimento Educacional Especializado para estudantes com Dupla Excepcionalidade é de Somatório, Segregadora e Excludente. Uma concepção de que o/a estudante com Dupla Excepcionalidade é uma pessoa que se constitui a partir da soma de duas ou mais condições, e explica, portanto, a oferta do Atendimento Educacional Especializado de forma fragmentada em complementação ou suplementação. Nesse sentido, considerando a demanda emergente e necessária, trazemos como inovação nesta Tese de Doutorado a criação da nomenclatura SUPLECOMPLEMENTAR, que compreende um terceiro tipo de Serviço de Atendimento Educacional Especializado para estudantes, que nessa Tese, nomeamos como Paradoxalmente Singulares. Um atendimento que compreende o/a estudante com Paradoxalmente Singular em uma perspectiva unificada, integral e complexa de existência. Julgamos relevante pensar em um nome dê visibilidade a identidade desses/as estudantes, para tanto, sugerimos o conceito Paradoxalmente Singular para nos referirmos aos/às estudantes que possui condição associada agregadora singular, ou seja, estudantes que possui, de forma associada, altas habilidades, deficiência e/ou transtorno. Por fim, a nossa Tese é de que aos/às estudantes Paradoxalmente Singulares com interesse na área de Ensino de Ciências deve ser ofertado o Atendimento Educacional Especializado

A inclusão educacional é essencial para garantir que todos os estudantes, independentemente de suas diferenças, tenham acesso à aprendizagem. O objetivo deste estudo foi investigar os desafios enfrentados pelos professores de Ciências do Ensino Médio da Rede Pública do Distrito Federal no desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas. Para isso, identificamos as percepções dos professores de Ciências da classe comum e do Atendimento Educacional Especializado (AEE) em relação às práticas pedagógicas inclusivas e analisamos as práticas pedagógicas inclusivas compartilhadas por professores de Ciências da classe comum. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, realizada em duas escolas da Rede Pública do Distrito Federal, com a participação de 20 professores de Ciências, sendo 15 da classe comum e 5 do AEE. Para identificar as percepções docentes, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com todos os participantes e, para analisar as práticas compartilhadas, foi enviado um formulário no Google Forms aos professores da classe comum entrevistados. Utilizamos a Análise Textual Discursiva para interpretar os dados coletados. Os resultados evidenciaram percepções docentes interligadas em aspectos como: a) formação docente; b) entendimento de inclusão; c) posicionamento sobre inclusão; d) atuação docente; e e) práticas pedagógicas inclusivas. Observamos que a formação docente impacta diretamente o desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas, orientando o entendimento e o posicionamento sobre inclusão e influenciando a atuação docente. As análises apontaram lacunas tanto na formação inicial quanto na continuada dos professores, além de diferenças no entendimento e nos posicionamentos em relação à inclusão. As atuações docentes, embora acolhedoras, revelaram-se limitadas no atendimento aos estudantes e na comunicação entre os professores da classe comum e do AEE. As percepções docentes sobre práticas pedagógicas inclusivas apresentaram elementos isolados dos princípios inclusivos, permitindo identificar suas características. Percebemos que as práticas pedagógicas inclusivas compartilhadas atendem aos princípios da acessibilidade e da equidade, contemplando as necessidades específicas dos estudantes, mas não refletiram o princípio da universalidade do ensino, que garante acessibilidade a todos. Foram identificados indicadores de inclusividade, e o grau de inclusividade das práticas foi analisado, diferenciando-se Prática Pedagógica Acessível, Prática Pedagógica Inclusiva e Prática Pedagógica Inclusiva à luz do Desenho Universal para Aprendizagem (DUA).O estudo evidenciou limitações estruturais, organizacionais e pedagógicas, apontando lacunas na formação docente e fragilidades na comunicação entre os professores da classe comum e do AEE. Recomenda-se a organização institucional para promover momentos de diálogo e planejamento pedagógico entre os professores da área, além da reorganização da formação inicial, com a inclusão de disciplinas obrigatórias sobre inclusão nos cursos de Ciências, e a oferta de formação continuada institucional por meio de cursos obrigatórios sobre inclusão para docentes que ingressam na rede de ensino. Esperamos que este estudo contribua para reflexões e aprendizados que promovam a inclusão no ensino de Ciências

A atuação do professor de Ciências da Natureza (CN) requer conhecimentos conceituais e metodológicos, alinhados com as necessidades da sociedade, além daqueles que favoreçam a interação com os estudantes.  Mesmo tendo estas necessidades atendidas na formação inicial, entende-se que os docentes precisam dar continuidade as reflexões relacionadas aos processos de ensino e de aprendizagem. Atentos a esta demanda, consideramos a existência do tempo de coordenação pedagógica no turno contrário ao da regência, direcionado segundo os documentos da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), à reflexão sobre estes processos pedagógicos e a formação continuada dos profissionais. Assim, o reconhecimento da demanda formativa e a possibilidade do tempo, suscitou a investigação sobre como o professor de Ciências da Natureza, que atua nos anos finais do Ensino Fundamental, percebe sua aprendizagem profissional e a possibilidade de uso da coordenação pedagógica para sua formação continuada.  Nos propusemos, então, a conhecer estudos sobre formações direcionadas aos professores, compreender a visão dos docentes sobre as oportunidades e possibilidades de formação continuada, e favorecer a construção de ideias sobre o uso do tempo de coordenação pedagógica para uma formação continuada que subsidie as ações pedagógicas das escolas pesquisadas. A investigação se deu a partir de uma pesquisa qualitativa, com uso da metodologia de pesquisa-ação, aplicada em escolas públicas do Distrito Federal. Durante o processo de pesquisa foram utilizadas discussões em grupo, questionários, entrevistas e análise de documentos, com as informações examinadas de acordo com a análise de conteúdo descrita por Bardin (2011). Deste modo, a análise dos registros e a observação enquanto mediadora oportunizaram uma compreensão do cotidiano dos professores de CN. Foi possível reconhecer na fala dos professores um desejo de sistematização dos momentos de coordenação pedagógica e de valorização dos saberes do grupo, na busca de soluções para problemáticas do cotidiano.

Nesta dissertação, investigamos a influência do efeito social no desempenho escolar no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), como um todo, e em Ciências da Natureza, em específico, nas edições de 2015 a 2019. A partir da Análise de Correspondência Múltipla Ajustada das informações socioeconômicas dos candidatos, obtivemos uma medida da posição social das escolas. Essa posição social, se tomada como variável explicativa em um modelo de Regressão Linear Simples, mostrou-se capaz de predizer aproximadamente 80% da nota alcançada pela escola no ENEM. Transpondo esse modelo para cada prova do certame, vimos que as provas de Linguagens e Ciências da Natureza apresentaram maior predição a partir da posição social da escola, com 74% e 71%, respectivamente. Quando olhamos para as Unidades da Federação, os estados da região Sudeste e o Distrito Federal ocuparam as primeiras posições nos rankings. Dessa forma, baseados na Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu, sobretudo no conceito de arbitrário e atos performativos, e em estudos sobre eficácia escolar, lançamos um olhar crítico para o papel desempenhado pelos rankings na criação e manutenção da excelência escolar e qualidade de ensino de Ciências. Com isso, mostramos que novas formas de classificar as escolas são possíveis e que os rankings são sensíveis à maneira como essas classificações são operadas. Controlando o efeito social no desempenho escolar, observamos que algumas escolas estaduais e federais obtiveram desempenho muito acima do que era esperado nas provas de Ciências da Natureza e no ENEM como um todo, segundo o modelo estatístico empregado. Com relação às regiões do país, a região Nordeste apresentou alguns estados que despontaram quando o efeito social foi controlado. A essas instituições e regiões, designamos as expressões escolas que fazem a diferença e estados que fazem a diferença, respectivamente. Esperamos com essa pesquisa contribuir para o entendimento das bases da compulsão por medição de qualidade escolar e ranqueamentos, além de mostrar que a maneira vigente de ranquear tende a privilegiar e celebrar instituições e regiões onde está localizada a classe dominante.

: Atualmente, há um consenso a respeito da importância de discussões sobre Natureza da Ciência em todos os níveis de ensino. Entretanto, não se tem um consenso sobre o que ensinar de Natureza da Ciência, nem sobre como levar essas discussões. Além da falta de consenso, se observa que tais discussões, muitas vezes, não se concretizam nas salas de aula. Na tentativa de oferecer suporte para solucionar essas questões, diversas abordagens de Natureza da Ciência têm-se difundido na literatura, sendo uma delas a pautada no Modelo de Ciências para o Ensino de Ciências versão 2 (MoCEC v.2). O MoCEC v.2 aborda a Ciência como uma atividade complexa, que pode ser analisada a partir de diferentes áreas do conhecimento, sendo que em cada uma dessas áreas são elencados aspectos de Natureza da Ciência, que são definidos detalhadamente. Em nossa pesquisa sinalizamos que o MoCEC v.2 tem sido utilizado para duas finalidades no Ensino de Ciências: (i) propor situações de ensino sobre Ciências; e (ii) como ferramenta de análise no contexto de discussões de Natureza da Ciência. No âmbito das publicações sobre o modelo, pouco se discutiu sobre o uso do MoCEC v.2 na proposição de situações de ensino por professores. Tendo isso em vista, neste trabalho discutimos como uma professora que atua na Educação Básica utilizou o MoCEC v.2 para avaliar e planejar situações de ensino envolvendo Natureza da Ciência. Para investigar esta problemática, utilizamos a metodologia de estudo de caso e constatamos que a docente manifestou oito aspectos de Natureza da Ciência ao refletir sobre como abordaria em suas aulas uma proposta didática referente a um caso sociocientífico Formulario 9909792 SEI 23106.071710/2023-36 / pg. 2 sobre o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho (MG). E em sua proposta didática sobre o desenvolvimento dos modelos atômicos ela manifestou dezessete aspecto de Natureza da Ciência. Concluímos que a professora: i) conseguiu promover discussões a partir do MoCEC; ii) teve dificuldades em diferenciar duas as áreas presentes no modelo, sendo elas Antropologia da Ciência e Sociologia da Ciência; e iii) demonstrou estar mais confortável em usar as áreas do MoCEC em detrimento dos aspectos. Apontamos que nossas discussões fomentam as reflexões sobre elementos que podem contribuir para a inserção de discussões de Natureza da Ciência em sala de aula, especialmente a partir do MoCEC. E sinalizamos a importância de investigar o uso da ferramenta em situações reais de ensino promovidas por professores da Educação Básica, assim como enfatizamos a relevância de discutir Natureza da Ciência a partir de diversas estratégias, como casos históricos, sociocientíficos e atividades investigativas.

A presente dissertação busca compreender ‘Em que medida uma formação docente antirracista pode contribuir para as percepções e práticas de docentes sobre o ensino em ciências?’. Para a coleta dos dados, a pesquisa contou com a realização de uma formação, chamada ‘Jipambu - Ciclo de Análise e Ação Educacional Antirracista’, voltada para professores das disciplinas de Ciências Naturais. O ciclo foi dividido em 4 (quatro) movimentos, sendo que em cada um foram debatidos assuntos pertinentes às questões raciais e à educação antirracista. Por meio de uma análise qualitativa dos discursos dos professores durante os movimentos formativos e a análise dos produtos produzidos por eles durante o último movimento, bem como foi possível perceber, ao longo da formação, a mudança de conduta e discurso à medida que íamos discutindo os temas. Como conclusão, entendemos a importância de uma formação antirracista qualificada, tendo em vista que existe ainda uma resistência e um silêncio no tema na área das ciências naturais, ademais salientar como as perspectivas antirracistas ganham em potência quando incorporam elementos de classe, gênero e as profundas problemáticas históricas. A pesquisa, por fim, evidencia as potencialidades do ensino de ciência no combate ao racismo, permite reconhecer os desafios enfrentados por professores em seu cotidiano escolar e, particularmente, quando estão diante de temas raciais ou práticas antirracistas na educação científica. A partir do reconhecimento, é possível traçar processos formativos engajados, críticos e permanentes na história futura da educação do nosso país de modo a superar os determinantes e as consequências do racismo.

 Este trabalho insere-se no rol dos que defendem e buscam uma educação científica que contribua para a emancipação dos segmentos sociais oprimidos. Fundamenta-se em pressupostos do educador Paulo Freire e do Pensamento Latino Americano em Ciência, Tecnologia, Sociedade (PLACTS); além de considerar reflexões sobre diálogo de saberes, oriundas de diferentes campos. À luz desses referenciais, articulados à Análise Textual Discursiva de produções da área de Ensino, em particular, do campo da Educação Freire-CTS, caracterizamos propósitos e pressupostos da perspectiva educacional defendida, associados: i) ao desenvolvimento de uma cultura de participação; ii) à problematização da atividade científico-tecnológica, e, iii) à organização temática do currículo escolar. Associado à referida caracterização, verbalizamos denúncias e anúncios, relacionados à necessidadede ampliarmos a participação dos sujeitos oprimidos, de considerarmos outros marcadores sociais ao problematizarmos a atividade científicatecnológica e outros saberes no processo de redução temática dos conteúdos. Em particular, isso resultou em uma releitura da Investigação Temática, realizada com a intenção de contribuir, de forma mais direta, com o universo das práticas educativas, em especial, as que buscam uma educação científica comprometida com o desvelamento e transformação de realidades marcadas por contradições e injustiças sociais, econômicas e cognitivas.

Com esta tese almejamos compartilhar a nossa filosofia, epistemologia – o nosso projeto de vida. O nascimento deste trabalho esteve encharcado com sonhos e desejos. Originou-se com o fervor por mudanças estruturais, por novas formas de pensar a sociedade, por relações interpessoais mais alvissareiras, pela valorização das singularidades e sutilezas que acompanham a existência – em todos os espaços. Isto inclui, em nosso espaço de trabalho, trilhar novos contornos em direção a uma inclusão em aulas de ciências que contribuam na consolidação da emancipação humana. As nossas vivências em sala de aula com pessoas autistas nos levaram a alguns questionamentos: o que se entende por autismo; onde são os espaços (escolas/aulas regulares e/ou especiais/específicas) que favorecem o desenvolvimento de estudantes autistas; por que eles(as) precisam aprender os conceitos científicos da ciência e como podem ocorrer processos inclusivos de alunos(as) autistas em aulas de ciências com vias a complexificação do desenvolvimento? Em busca de respostas, o fio condutor de nossa reflexões e objetivações alicerçou-se nas premissas do movimento dialético do desenvolvimento humano que explicam não apenas os comportamentos típicos, mas também os desdobramentos de condutas atípicas – as proposições teórico-metodológicas da teoria histórico-cultural e sua base marxista. Destacamos as discussões defectológicas de Lev Semionovitch Vigotski (1896-1934), que no início do século passado já antecipava uma perspectiva social sobre a deficiência e outros modos de desenvolvimento. A partir de nossos referenciais apresentamos alguns elementos gerais que permitem compreender o autismo no contexto de educação inclusiva em aulas de ciências em uma perspectiva histórico-cultural, destacamos: a orientação biológica, o desenvolvimento histórico-cultural; funções psíquicas naturais e culturais, significação, conceitos científicos, mediação com instrumentos materiais e simbólicos, zona de desenvolvimento potencial, caminhos indiretos de aprendizado, compensação, experiências escolares coletivas, personalidade integral, entre outros. Estes conceitos conversam com o nosso objetivo geral de analisar as contribuições do conhecimento científico no desenvolvimento de estudantes autistas em processos inclusivos à luz da perspectiva histórico-cultural. A tese, foi estruturada em quatro capítulos (artigos) no formato multipaper. No primeiro capítulo, apresentamos a constituição histórica e contraditória do autismo. Ainda que Vigotski não estivesse mais vivo à época de seu diagnóstico, apresentamos suas contribuições para superar as concepções biomédicas e limitadoras sobre os seus modos de desenvolvimento. Entender que a aparência e visões estereotipadas sobre os comportamentos atípicos dão indícios, mas não revelam a essência, seja uma pessoa autista ou não autista, os aprendizados passam, obrigatoriamente pelo outro, pelas relações sociais. Ou seja, pessoas autistas não vivem no mundo deles, vivem em nosso mundo e socializam muito antes de desenvolverem o pensamento autístico. Também dialogamos sobre a importância da defesa das singularidades em uma perspectiva coletiva de emancipação humana. No segundo capítulo, apresentamos que a inclusão escolar com os pares é o melhor espaço de socialização e compartilhamento de conhecimentos, em nosso caso, da ciência com estudantes com deficiência, autistas e outras necessidades educacionais especiais. Apresentamos algumas trajetórias de inclusão e exclusão em aulas de ciências, a fim de conhecermos limitações e possibilidades. No terceiro capítulo, explicamos como os conhecimentos científicos e a linguagem das ciências contribuem para a tomada de consciência de si e do mundo para que uma pessoa com desenvolvimento típico ou atípico transforme sua forma de pensar e governar suas ações. Por fim, com as contribuições dos capítulos anteriores, buscamos conhecer quais são os meios para a compensação das dificuldades das pessoas autistas em uma perspectiva histórico-cultural. Afinal, já acompanhamos instrumentos criados para superar impedimentos e remover barreiras de algumas deficiências, por exemplo, ao colocarem rampas de acesso a prédios para cadeirantes, criarem a leitura em Braile para pessoas cegas, sistematizaram a língua de sinais para pessoas surdas. E o que está sendo realizado para que as pessoas autistas superem suas dificuldades? No quarto capítulo, ainda em vias de execução, apresentamos uma análise dos artigos em revistas nacionais e internacionais que incluem estudantes autistas em aulas de ciências desde o seu diagnóstico (1943) até o ano de 2021. Buscaremos as categorias que indicam quais os recursos e estratégias estão sendo utilizados e como contribuem para a compensação de suas interrupções. Por fim, fechamos o texto da tese promovendo um diálogo entre os capítulos e trazemos as considerações finais.

Os saberes e fazeres socioambientais quilombolas perpassam os caminhos investigativos deste estudo. O objetivo principal foi a busca por um encontro com a memória biocultural Kalunga, por meio de narrativas autobiográficas de mulheres licenciandas da Educação do Campo da Faculdade UnB de Planaltina - DF. Essa busca se justifica pela importância desses saberes e fazeres socioambientais para as ciências e em propostas que busquem quilombolizar a Educação Ambiental, reconhecendo-os como patrimônio socioambiental de uma comunidade que tem enfrentado desafios e transformações ao longo do tempo. Portanto, os caminhos teórico-metodológicos da pesquisa se baseiam na perspectiva decolonial, bem como nos fundamentos da pesquisa participante e do método biográfico. A pesquisa aconteceu em três etapas investigativas, a primeira de aproximação ao universo da LEdoC/FUP e as duas seguintes em conformidade ao calendário acadêmico da Turma “Gabriela Monteiro”, respeitando a Pedagogia da Alternância do curso: Tempo Universidade e Tempo Comunidade. Na segunda etapa, além da observação participante, houve a realização de oficina de construção de narrativas autobiográficas, que revelou a presença de um corpo território carregado de memórias da infância com brincadeiras envolvendo elementos do Cerrado e as convergências de suas falas ao relatarem as dificuldades de deslocamento em busca de escolas na cidade de Cavalcante-GO. A oficina favoreceu a reflexão acerca de suas histórias de vida e da transmissão oral desses saberes socioambientais que é indissociada de suas ancestralidades. Na terceira etapa, durante o Tempo Comunidade, realizamos entrevistas no território, onde foi possível compreender que as experiências acadêmicas e comunitárias narradas pelas estudantes Kalunga revelam um processo de transformação e empoderamento, associado à formação na LEdoC/FUP e à autoidentificação quilombola. A memória biocultural se manifesta de maneira intrínseca na vida dessas mulheres, moldando suas práticas cotidianas, suas visões de mundo e suas jornadas formativas na Educação Básica e no Ensino Superior. Sendo assim, esse processo consolida nossa tese de que a memória biocultural é um elemento central na elaboração de uma proposta de Educação Ambiental Quilombola, contribuindo para a construção de processos educativos inclusivos, decoloniais e antirracistas comprometidos com a valorização da diversidade socioambiental no Brasil.

No campo das práticas educativas fundamentadas pela educação CTS, a questão do engajamento dos alunos é amplamente verbalizada, no entanto, há poucos aprofundamentos teóricos sobre o tema. Diante disso, esta tese tem como objetivo elucidar o que caracteriza o engajamento dos estudantes em práticas educativas CTS. Para tanto, a presente investigação tomou como referência os propósitos da educação CTS e de estudos do campo da educação científica, em especial, os pressupostos do educador Paulo Freire, além de uma ampla revisão dos estudos da área de ensino de Ciências por meio da Análise Textual Discursiva. À vista disso, no primeiro momento, fez-se necessário compreender e identificar os diferentes aspectos relacionados ao objeto de estudo e caracterizar as inter-relações com os pressupostos freireanos. Essa etapa possibilitou identificar aspectos influenciadores do engajamento dos estudantes, entre eles: aspectos contextuais; curriculares e didático metodológicos, relacionais e afetivos. Concomitantemente, foi realizada uma imersão investigativa nas práticas de sala de aula, especificamente, nas teses brasileiras, nos artigos publicados nas revistas da área e nos trabalhos apresentados no ENPEC. Esse processo investigativo evidenciou que o engajamento dos estudantes em práticas educativas CTS é caracterizado por três dimensões possíveis, tais quais: “exercício de voz”, “mobilização e apropriação do conhecimento” e “ações sociopolíticas”, em diferentes níveis de criticidade. Adicionalmente, para complementar as compreensões emergidas deste estudo, foi delimitada uma nova amostra de trabalhos, em particular, as dissertações profissionais com foco em práticas educativas CTS, com vistas a identificar e consolidar as dimensões e os níveis de engajamento possíveis evidenciados durante o exercício teórico-prático.