Esta pesquisa tem como propósito investigar a participação de atores e atrizes profissionais, dentro do contexto da área de Simulação Realística em Medicina, com foco em pacientes simulados, em Brasília-DF a partir de estudos tanto nas áreas das Artes Cênicas, quanto nas Áreas da Saúde e Educação. A metodologia utilizada engloba revisão bibliográfica, uma análise qualitativa e comparativa pelo viés pedagógico de uma atividade prática de Treinamento em Simulação Realística enquanto projeto de extensão universitário, além dos anos de prática da autora realizando a atividade profissionalmente (2017 a 2024). Casos e experiências citados utilizam a Medicina Narrativa, de Rita Charon. Nas Artes Cênicas a dissertação se baseia nos estudos de atuação de Constantin Stanislavski e Eleonora Fabião para explicitar termos específicos desta área, incluindo ação performativa e ação cênica; Raquel Júlio Mastey para comparar termos na área de medicina e contextualizar atores e atrizes na Simulação Realística, bem como na dissertação de Emerson de Barros Rossini para relacionar situações de artistas dentro do contexto médico de ensino. Nos estudos sobre educação Adilson Ledubino e Letícia Fructuoso relacionam a importância entre educação-médica e atuação. Nas áreas da saúde Marcelo Schweller, Saionara Nunes de Oliveira e Mateus Henrique Meska explanam o funcionamento das atividades dentro do campo da Simulação Realística em Medicina. Os principais resultados desta investigação incluem a valorização da profissão do ator dentro das áreas da saúde e a humanização do atendimento em saúde.

Esta tese propõe uma metodologia de pensamento/ação em improvisações em danças desde as perspectivas afrorreferenciadas, agenciando epistemes negras aprendidas/apreendidas em  movências e sociabilidades de algumas práticas culturais afro diaspóricas do Brasil. O objetivo de Improvisações de Povoada não é reproduzir ou recriar as vivências destes contextos mas sim compreendê-las como tecnologias que articulam modos de mover e se organizar que corporificam princípios sociocosmológicos e filosóficos afro diaspóricos elaborados no país. As conexões com os Valores Civilizatórios Afro Brasileiros (TRINDADE, 2005) permitem perceber e experienciar caminhos para a improvisação, dialogando com diferentes contextos e intencionalidades desde uma prática que convida os corpos/corpas à uma movência singular-comunitária pautada nas africanidades brasileiras. Tal proposição permite ampliar a produção de conhecimento em improvisações em danças desde as epistemologias negras, defendendo  narrativas pluriversais sobre o assunto.

A Cia. Pé na Estrada, grupo teatral de que faço parte, desde 2015 vem produzindo e apresentando seu teatro em Unaí, uma cidade agropecuária, localizada no estado de Mi-nas Gerias e a 150 km de Brasília, onde não há galerias, teatros ou salas de espetáculo. Sem outro espaço que nos recebesse, começamos a ensaiar e apresentar nossos trabalhos no quintal da casa de um dos integrantes do grupo, em um bairro periférico de Unaí. O que parecia uma alternativa temporária para o grupo foi se mostrando uma possibilidade estética e ética para as nossas criações. Lá acabamos fundando o Teatro de Quintal, que por ser um espaço teatral com muitas especificidades, limitações, mas também potências, tem nos guiado para uma forma particular de fazer o teatro. Na pesquisa estudei a história de Unaí (nos livros dos historiadores Maria Torres Gonçalves e Oliveira Mello), a história da prática do teatro na cidade (pelo relatos dos dois historiadores e por meio de entrevistas que fiz com artistas locais), além da trajetória da Cia. Pé na Estrada e da análise de seus processos criativos, colhendo elementos que ajudam a entender o Teatro de Quintal não só como o espaço teatral alternativo do grupo, mas também como a sua poética política, o seu modo doméstico e comunitário de produção teatral, que se constitui como uma insurgência cultural numa cidade interiorana governada pelas exigências do agronegócio. À luz de Rosyane Trotta e Patrícia Fagundes, de seus estudos sobre coletivos teatrais desafiando a realidade neoliberal que tanto dificulta as produções simbólicas no Brasil, mas também de reflexões de Augusto Boal, Henri Lefebvre, David Harvey e Michel Fou-cault, utopias do teatro e do mundo, busco mostrar como, mesmo na precariedade, o Te-atro de Quintal da Cia. Pé na Estrada funda outros espaços na realidade geográfica, his-tórica e cotidiana de Unaí, constituindo lutas pelo direito à cidade e pelo direito à fruição do teatro nas cidades de interior da região central do país, onde, nas últimas décadas, o aumento das populações nas áreas urbanas tem sido motivado pelo agronegócio, cujo poder financeiro e político se estende inclusive ao campo da cultura.

O trabalho apresenta o processo composicional de uma artista que se coloca em uma perspectiva alquímica quando se propõe a transmutar o chumbo em ouro no sentido espiritual, por meio de uma jornada iniciática de autoconhecimento e transformação de si, coagulada em uma performance-ritual-oracular-autobiográfica-1x1. A pesquisa colhe informações sobre a alquimia, oráculos, tarô, sincronicidade, verticalidade, umbanda e a arte da performance. Em um trabalho sobre si, as experiências da artista são matéria-prima da pesquisa alquímica, e como resposta criativa a impermanência da vida, cria-se um oráculo das imagens registradas no litoral de São José do Norte, no extremo sul do Rio Grande do Sul. As imagens foram editadas em analogia ao tarô e sobrepostas por colagens através de uma seleção iconográfica de diversos arcanos, e estão disponíveis na dissertação e em uma performance singular, onde a cada execução, a relação 1x1 proporciona uma dimensão ritualística e oracular em um diálogo íntimo entre a artista e a espectadora-consulente.

Este estudo discorre sobre a poética cênica voltada para bebês e seus acompanhantes, desenvolvida no continente europeu a partir da década de 1980 e presente no Brasil desde meados dos anos 2000. Com especificidades cênicas construídas a partir de observações em creches e pesquisas das mais variadas áreas de conhecimento sobre bebês e seus acompanhantes em terras europeias, tal poética desembarca no Brasil influenciando inúmeros artistas. Contudo, como defendem vários pesquisadores das áreas da neurociência, antropologia e psicologia (a serem mencionados nesse estudo), os bebês possuem cultura, assim como seus cuidadores, que são cruciais para que os bebês se conectem com as apresentações. A partir dessa perspectiva, este estudo explicita uma tendência de procedimentos — desenvolvido por e para europeus — que vem se repetindo nas poéticas cênicas feitas para bebês e seus acompanhantes em algumas cidades brasileiras e questiona se esta prática deveria ser reinventada a partir das culturas brasileiras. Portanto, a reflexão desta pesquisa é: como podemos construir uma poética cênica em que bebês e seus acompanhantes brasileiros possam viver uma fruição duplamente poderosa: o pertencimento cultural e a experiência artística.

Este trabalho apresenta um espaço cênico alternativo e as adaptações, constantes e necessárias, por meio das escolhas e ações de sua gestão para acolher as obras que ali são criadas ou performadas. Reflete-se sobre como o local é transformado pelos seus frequentadores, pela sua forma de gestão e como essas relações afetam mutuamente o ambiente, o rider e as obras e aqueles que ali transitam. Trata-se de um estudo de caso deste pequeno teatro localizado na Vila Telebrasília, região periférica da capital do país, o Espaço PÉ DiReitO. Criado em 2012, com a vocação para receber espetáculos de artes cênicas e circo, que vislumbra desde a formação de artistas, passando pela criação de espetáculos até a performance para o público. Este foi o ponto de partida desta pesquisa, um olhar sobre as experiências práticas e afetivas vividas em um espaço cênico, uma perspectiva criada e observada de dentro de casa. Assim também, esse texto é escrito.

A tese analisa a dramaturgia de Oduvaldo Vianna Filho, elegendo a peça teatral “Papa Highirte”, escrita pelo dramaturgo e censurada no ano de 1968. O objetivo é refletir sobre os impasses do trabalho artístico de Vianna, no período da ditadura civil-militar brasileira, com o intuito de verificar o amadurecimento da escrita do autor e do uso dos expedientes dramatúrgicos na experiência da construção de uma obra épica.

Esta pesquisa tem como objetivo central compreender como as crianças negras e brancas narram suas experiências raciais nos contextos da escolarização pública, apoiada em uma abordagem interdisciplinar, que articula saberes sobre a negritude, a branquitude e o racismo, a interface entre os Estudos da Performance e a Educação, e a Sociologia das Infâncias. O trabalho de campo foi realizado com duas turmas do quinto ano do Ensino Fundamental, compostas por crianças com a faixa etária entre 10 e 12 anos, da EC 04 do Paranoá, região periférica do Distrito Federal, nos meses de maio e junho de 2022. O percurso metodológico,pensado para ser guiado por uma prática planejada,foi desnorteado pelas corporalidades das crianças que, nas brincadeiras organizadas, nas dinâmicas interativas, nos jogos teatrais e nas experimentações cênicas, performavam suas narrativas acerca dos racismos, por intermédio de uma etnografia afetivo-performativa instrumentalizada pelo próprio corpo infante. Nesse sentido, as performances narrativas contextualizadas e produzidas pelos estudantes, nos diversos formatos –áudios, cenas, fotografias, desenhos, registros escritos –,compuseram as expressões cênicas de suas emoções, sentimentos e percepções acerca de suas experiências racializadas, nas quais os seus corpos comunicaram muito além das palavras. A análise interpretativa e inferencial dessas performances aponta a potência comunicativa da criança que narra sua própria história, (re)conta o passado vivo em sua memória e, assim, protagoniza e ressignifica sua experiência no agora. Configura-se, assim, a compreensão dos caminhos de explicitação das relações racializadas que afetam os corpos das crianças na educação básica. Um entendimento que, enquanto saber incorporado, exige uma percepçãomais atenta, compreensiva e sensível entre os adultos e as crianças na escolarização; a aproximação da realidade cotidiana delas com o contexto escolar e, principalmente, a efetiva percepção e acolhida pela escola dos impactos causados pelo racismo estrutural e institucionalizado na vida emocional e cognitiva das infâncias negras.

Esta pesquisa investiga a potência de processos e procedimentos artísticos e pedagógicos que usufruem de autobiograficções como dispositivo de invenção nas artes da cena a partir de uma performatividade crítico feminista. Explora esta hipótese num movimento teórico-prático, artístico-pedagógico no ensino superior, com duas turmas do curso de Artes Cênicas da UnB, e no processo de criação autoral do espetáculo Senhora P, que aborda as questões de violência contra a mulher e que encorpa o objeto desta tese. Em 5 trilhas e com metodologia cartográfica de abordagem, a pesquisa se funda na urgência da incorporação de pedagogias feministas nos campos da educação principalmente no que tange às artes da cena. Aponta noções e entendimentos dos engendramentos possíveis entre a educação, os territórios cênico-performativos e o feminismo para apresentá-los numa organização conceitual estética, ética e sócio-política adequada e relevante para a formação de estudantes de teatro da educação básica e superior. Os conceitos investigativos sobre ensino e aprendizagem estão ancorados principalmente no pensamento crítico feminista de bell hooks, na cognição inventiva de Virgínia Kastrup, na noção de experiência de Jorge Larrosa Bondía, na pedagogia crítica de Paulo Freire e bell hooks, na filosofia da diferença na perspectiva de Gilles Deleuze, Félix Guattari e Suely Rolnik; bem como no pensamento feminista negro com Audre Lorde, Grada Kilomba, Lélia Gonzalez, entre outras. Os estudos da performance e suas distintas dimensões processuais, liminares, de intervenção na realidade, são importantes aqui para pensar e fomentar territórios de práticas pedagógicas e de pesquisa expandidos, em diálogo com distintas/os pesquisadores dentre as/os quais Richard Schechner, Diana Taylor, Eleonora Fabião e Elyse Lamm Pineau. Observa ainda as tensões entre realidade e  ficção, estruturais para os teatros do real, e conjectura a partir daí que explorar processos e procedimentos de criação autobiograficcionais favorecem processos de autonomia, resistência, compreensão e reconhecimento das opressões e dominações hegemônicas nos campos das artes e da educação.

O presente estudo investiga os modos pelos quais a palhaçaria feminina responde e contesta imposições de gênero demandadas às mulheres e, consolidando-se como instrumento para criações dramatúrgicas cômicas feministas. Almeja refletir sobre a palhaçaria criada e vivenciada por mulheres e suas relações com pensamentos/atitudes/ideias dos feminismos. Investigações sobre a mulher na palhaçaria, a comicidade e os diversos feminismos são pontos de partida para esta análise, que se desdobra em entrevistas com palhaças da contemporaneidade, abarcando também montagens cômicas de cenas e espetáculos brasileiros. Esta pesquisa mapeia discursos, narrativas e dramaturgismos feministas presentes nas palhaçarias contemporâneas, em seus diversos estilos: as (estrategicamente) binaristas, as decoloniais e as queers. Conta também com a criação e análise procedimental de um espetáculo solo vivenciado e montado por mim, palhaça-pesquisadora. A despeito de o surgimento da mulher na palhaçaria ter acontecido, ela só conseguiu exercer esta função por causa das transformações sociais em sua condição de vida, o que impulsionou sua atuação nas artes. Além disso, a atuação na palhaçaria é uma ação que promove mudanças na sociedade. Por meio da palhaçaria e da comicidade, defendo que podemos provocar reflexões sobre nossa condição de mulher, trazendo para o cerne da cena dramaturgias que evidenciam opressões de gênero. Numa cultura sexista e patriarcal, engendrada, como pode a construção social da mulher servir de base ao processo dramatúrgico e criativo das palhaças? E como se materializam as decisões dramatúrgicas das palhaças que abordam questões femininas, feministas e de gênero? Acredito que a metáfora cômica da palhaça parte de questões pessoais e íntimas para tocar em sistemas sociais engendrados e universais, de modo a, primeiramente, denunciar e, consequentemente, minimizar os prejuízos da desigualdade entre gêneros. Ao longo do trabalho, os principais diálogos são estabelecidos com a psicóloga Valeska Zanello, com a pesquisadora de gênero Judith Butler, e com a autora decolonial María Lugones, além das palhaças Daiani Brum, Ana Borges, Karla Cordeiro, Melissa Caminha e u pesquisadore e palhace Manu Cardoso. E, embora a pesquisa contemple os elementos responsáveis pela criação em palhaçaria, seu foco primordial é a recente renovação de suas dramaturgias cômicas por meio de um viés feminino, feminista e subversivo.

Este trabalho investiga, perambula, por moitas e ruínas, onde emaranham-se práticas artísticas diversas, em especial: a ópera, a commedia dell´arte, a palhaçaria e a arte drag. Os apontamentos levantados se dão, entretanto, não em função de um estudo comparativo entre as supracitadas linguagens artísticas ou em relação a perspectivas históricas tópicas, contrapondo dados, informações, autores, ou outros. O trabalho intenta ‘dar uma busca’ visando agregar situações, pessoas, grupos, máscaras, figuras, personagens, criações cênicas, identidades, que suportem dizer respeito a percursos queer, ou dissidentes, dentro de uma perspectiva da produção, agrupadas absoluta ou tangencial, como integrante das artes cômicas. O trabalho fala ainda da iteração entre criatura e criador, desde práticas onde a essas partes se fundem, confundem, de maneira heterônoma. Trata-se, pois, de uma pesquisa onde paralelismos, parecenças e paródias dão a base para aproximações simbólicas e estéticas, discutindo questões de gênero desde a lente da comicidade contemporânea

O presente estudo tem como objetivo analisar as possibilidades do Teatro de Animação aliado à Sala de Aula Invertida como perspectivas pedagógicas para o ensino de Artes Cênicas no Terceiro Ciclo de Aprendizagem em uma escola da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. O Teatro de Animação pode ser entendido como o ato de oportunizar a ideia de “vida” a elementos inanimados, tais como: bonecos, personagens de sombras, entre outros. Já a Sala de Aula Invertida é vista como uma extensão da sala de aula presencial, em que o estudante realiza um estudo prévio dos conceitos estabelecidos pelo professor. Como viés metodológico, faz-se uso do estudo de caso, de cunho exploratório qualitativo, desenvolvido no Centro de Ensino Fundamental 101, localizado na Região Administrativa do Recanto das Emas, Distrito Federal, com estudantes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: uma Proposta Pedagógica contendo 80 aulas distribuídas em quatro anos (20 aulas para cada ano – 6º, 7º, 8º e 9º) sobre teatro de sombras, boneco de luva e boneco de animação direta; utilização da Sala de Aula Invertida; registro em Diário de Bordo (pelos estudantes); registro audiovisual das aulas de teatro; e aplicação de três questionários online. Para os apoios teóricos, têm-se as ideias de: Dewey (2010) e Larrosa (2022), sobre experiência na arte; Bergmann e Sams (2018), sobre Sala de Aula Invertida; Ausubel (2000) e hooks (2017), sobre aprendizagem e socialização na escola; Carvalho (2015), sobre o Terceiro Ciclo; Amaral (2002, 2007, 2011), sobre teatro de animação, Amorós e Paricio (2005), artigos da Móin-Móin Revista de Estudos sobre Teatro de Formas Animada e da revista Fantoche – Arte de los Títeres.

Esta pesquisa pretende realizar uma análise espacial de encenações que ocorrem fora de espaços teatrais institucionalizados, a partir do estudo dos objetos que as constituem e que se manifestam em três escalas diferentes: a Tolda, no Teatro de Mamulengo, a Máscara, no Cavalo Marinho e o Estandarte, no Maracatu de Baque Solto. Esses três objetos, denominados aqui por objetos-fortes, são considerados focos proporcionadores da escala de seus eventos e referência para dimensionar o território de brinquedo, ou até onde se percebe sua teatralidade. Sob a hipótese de a escala de uma encenação em sua materialidade ser parte conformadora do território de teatralidade de um universo brincado ou performado, a pesquisa faz uma análise da cenografia, da indumentária, dos objetos cênicos e de outras feituras, de maneira combinada às ações no espaço. Para tanto levanta modos de cenografar e indumentar na Cultura Popular e na rua; aprofunda a definição de brinquedo e brincadeira; evidencia saberes dos mestres Chico Simões, José Grimário e Manoelzinho Salustiano; analisa sistemas, espaços, objetos e ação, segundo a encenação no teatro e na rua, sendo, esta última, de acordo com procedimentos apresentados em A Natureza do Espaço (2008) de Milton Santos; analisa espacialmente a escala dos eventos onde os objetos são acionados e cria um glossário. Para tal é proposta uma metodologia de bordado, modo para perceber a totalidade de uma composição, não ignorando seu lado revés, analogia para processo de criação e feitura, como a presença de propósitos que as antecederam no devir do seu desenho. Trata-se de uma sequência de leitura (textual, visual, memorial, experienciada e outros), representada em desenho e análise.

Esta pesquisa parte do estudo sobre um processo de arte-vida que se desenrola na abertura às fronteiras do sonhar. Trata-se de uma jornada permeada por situações criativas cênicas e performativas atravessadas pela relação com as ruas (e suas insurgências políticas), comunidades (artísticas e ativistas) e a terra (no reconhecimento das relações com existências mais-que-humanas). Um percurso investigativo que se faz nas bordas entre mundos, rasgando a pele dos confins entre sono e vigília, em uma mu(dança) dos limites do corpo e de imaginários cósmico-políticos.

Dois terrenos alicerçam essa investigação: a escola como espaço formal de atuação e a comunidade como território fértil de experiência. A presente pesquisa propõe reflexões acerca do Teatro escolar, do Teatro em Comunidade e da interface entre estes conceitos, onde um processo criativo serviu como base para essa análise: a construção de “Gigante pela própria natureza”, espetáculo elaborado no Centro Educacional 02 de Sobradinho – DF com alunas e alunos do Ensino Médio e o seu deslocamento para a região administrativa Fercal – DF. O percurso didático-metodológico contou com o arsenal de jogos do Teatro do Oprimido e com a Estética do Oprimido como ferramentas de sensibilização, o que possibilitou o envolvimento prático de “não atores” na execução de toda a proposta. A pesquisa oportunizou a constatação da possibilidade do trabalho com teatro como mecanismo de formação, organização e transformação social.

Esta pesquisa tem como tema o estudo de diferentes elementos presentes no trabalho da 5ª dentição da Universidade Antropófaga do Teatro Oficina, realizado em 2022 na cidade de São Paulo. Aspectos da música, atuação e cena são discutidos e analisados em primeira pessoa por um pesquisador que participou do laboratório de experimentos musicais, cantos e composições – também chamado de núcleo 5. São utilizadas como ferramentas de pesquisa: a gravação do espetáculo; fotos dos ensaios e de encontros dentro e fora do núcleo 5; o diário de bordo do pesquisador; o texto e o roteiro que compõem o anexo deste trabalho; as composições musicais do núcleo 5 – bem como as suas gravações e partitura. A partir dessas ferramentas, pretende-se alcançar os objetivos da pesquisa que consistem em: documentar e analisar essa dentição em específico e o rito resultante chamado Cacilda y Carmem: deusas encontram-se na clandestinidade. Para tanto, faz-se uma breve recuperação histórica do Teatro Oficina, o relato das experiências de ensaio do Núcleo 5 e o estudo do espetáculo. Também se pretende apontar uma perspectiva de como ou de quais formas música, atuação e cena foram trabalhados no Núcleo 5 da 5ª dentição da Universidade Antropófaga.

Esta dissertação busca compreender como a noção de autoficção operou nas construções dramatúrgicas da peça Bolo Republicano, escrita e produzida por esta autora entre os anos de 2021 e 2023 em Belo Horizonte, Minas Gerais. Considera-se as relações entre questões de gênero, memória e pós-memória como aportes sociais e políticos para a análise do objeto de estudo. A partir da metodologia prática como pesquisa, realizou-se estudos sobre o trauma familiar herdado, repercutindo na memória e nos corpos de gerações posteriores. Através da teoria teatral performativa, site-specific, teorias psicanalíticas e políticas, relevou-se a importância de valorizar a autoficção, no contexto da ‘escrita de si’ no teatro contemporâneo, sobretudo no teatro feminista, como forma de operar a memória no presente e para o futuro. Verifica-se que a autoficção nos estimula a operar a partir da natureza inventiva da memória, permitindo-nos olhar para nossas memórias e suas relações com o presente de modo crítico em amplas perspectivas. Considera-se que uma autoficção familiar, pautada na performance, que atravessa dois tempos sociais históricos diferentes, pode criar na dimensão pública condições favoráveis para refletirem seu próprio posicionamento em determinadas esferas da vivência política. Conclui-se que uma obra artística que propõe discutir pós-memórias e memórias familiares pode ter relevância e impacto social, assim como pode atuar como resistência política na forma de fazer teatral.

A presente pesquisa tem como caminho e proposição investigar a prática de inscrever a si no exercício da escrita dramatúrgica e refletir como esses processos podem se relacionar, assim como impactar, influenciar e potencializar o trabalho criativo da artista. Com movimentos distintos, o percurso de inscrever a si mesma pode fornecer materiais e ferramentas que permitam àquela que cria, um território fértil de bem viver e em constante fricção. Desde o que chamo de “esvaziamento dos atravessamentos”, dinâmica de dar vazão às diferentes provocações que mobilizam quem faz parte do processo criativo, até a “reinauguração de uma paisagem criativa”, em que a artista é estimulada a, através dos seus materiais levantados, ficcionalizar e propor possibilidades da sua expressão dramatúrgica de uma forma até então não experimentada.
A metodologia a ser lançada nesta investigação se dá a partir de três eixos de análise: o levantamento historiográfico de parte das experiências práticas do Grupo Embaraça – coletivo de Teatro Negro residente em Brasília desde 2012 –, a análise e compartilhamento da experiência de uma oficina ministrada pela autora com a presença de sete pessoas participantes e as reflexões e costuras da própria autora no percurso apresentando. Dessa forma, eu, o grupo e a oficina se transformam em sujeitos da pesquisa que forcenem diálogos a serem entrelaçados com conceitos e/ou teorias.
Assim, para o levantamento historiográfico, o projeto terá como abordagem a pesquisa centrada no sujeito e a discussão da memória a partir da inscrição de si. E para a análise da oficina o projeto apresentará as experiências e os conceitos em que a pesquisa se debruça como caminho metodológico.
Lanço a hipótese de que quem se coloca no papel, através da inscrição de si mesma, tem sua qualidade criativa potencializada, assim como busco investigar como podem se dar os processos de se ficcionalizar materiais pessoais para levar para a cena.

Para ancorar os questionamentos propostos, apresento o diálogo com os seguintes conceitos: Escritas de si, Escrevivências, Oralituras, Dramaturgias Negras, Autoficção e Subjetividade.

O trabalho está dividido em cinco pedaços, estrutura criada para contemplar as pistas que tecem a pesquisa e esmiuçam a investigação.

A escola da infância é um espaço privilegiado para a difusão de saberes e fazeres literários, propiciando a experiência estética de crianças e adultos. Como professora da educação básica há 26 anos, e pesquisadora junto às crianças pequenas e suas narrativas orais, algumas inquietações surgiram: quais seriam as temáticas presentes nas narrativas do cotidiano de crianças pequenas em instituições educativas? Como se dariam as experiências estéticas vivenciadas pelas crianças pequenas nas práticas literárias em instituições educativas? Somadas a essas questões que me acompanhavam anteriormente, questionei ainda: como se dariam esses processos em um contexto pandêmico? Na busca por responder a essas perguntas, desenvolvo a presente tese, que tem como objetivo central compreender os mundos de vida de crianças pequenas por meio de suas próprias narrativas em instituições educativas do Distrito Federal. Para tanto, opto por uma escrita que articula saberes da Teoria Histórico-Cultural, da interface entre Estudos da Performance e Educação e das Ciências Sociais da Infância. O objetivo da tese se desdobrou nos seguintes objetivos específicos: analisar como as crianças pequenas manifestam seus contextos sociais em situações narrativas cotidianas, de mediação de leitura e contação de histórias em instituições educativas; analisar as performances narrativas de crianças a partir das experiências estéticas vivenciadas e analisar produções simbólicas de crianças pequenas presentes na escola da infância em contexto pandêmico. A pesquisa empírica foi realizada com quatro turmas de 2º período compostas por crianças com faixa etária entre 5 e 6 anos em quatro unidades escolares públicas de Educação Infantil localizadas em regiões periféricas do Distrito Federal: Cidade Estrutural, Planaltina, Recanto das Emas e Riacho Fundo 2 durante o ano letivo de 2021, delineada em uma abordagem etnográfica performativa por meio de práticas artístico-pedagógicas de mediação de leitura e contação de histórias em contexto virtual e presencial, com os seguintes instrumentos: observação participante, dinâmicas conversacionais, oficinas de histórias, oficinas de atividades lúdicas e registros escritos, pictóricos e audiovisual da produção narrativa das crianças pequenas. Produzi com as crianças colaboradoras o livro Crianças Narradoras, com 57 performances narrativas das crianças pequenas, que foram categorizadas conforme os temas abordados: histórias de morte, histórias de família, histórias de não-humanos, histórias de seres encantados, histórias de pobreza, histórias de heróis e heroínas e histórias de machucados. Defendo que as narrativas das crianças pequenas evidenciam seus mundos de vida como prática performativa na escola da infância, a partir da materialidade das performances narrativas das crianças pequenas e dos relatos de episódios vivenciados no percurso empírico em diálogo com as autoras e os autores convidados para esta conversa sobre infâncias, narrativas e cotidianos pandêmicos.

Via Deslocado ou a arte de transviar rotas é uma tese composta por tentativas de se performar, em (práticas de) escritas, alguns dos encontros que modificaram os percursos do Conexão Samambaia - programa de residências transestéticas, organizadas e ofertadas como ações de pesquisa e extensão, em contextos ampliados de ensino e aprendizagens. Naus coletivas que se aventuraram na duração das relações como tática de produção de alteridades, de convívios dissensuais, para oxigenação e transformação dos modos de pensar e fazer no campo expandido das artes. E que abraça o erro como privilegiada e embaçada lente pela qual observa e revisita processos, derivas e trajetos, no esforço de praticar uma episteme que seja, no mínimo, honesta com a imprevisibilidade errante e desviante de seus processos.

Sonoridades; cena; encontro; coisas; objetos; não-humanos.

O processo de democratização, expansão e interiorização do ensino superior por meio da educação a distância, levanta reflexões sobre sua relevância inclusiva de norte a sul do Brasil. Este trabalho tem como enfoque analisar os ecos e reflexos da graduação em Teatro EaD/UnB na prática e no cotidiano dos professores licenciados na cidade de Tarauacá-Acre. Para tanto, os referenciais teóricos e metodológicos desta dissertação situam-se em pesquisa de campo qualitativa, através da técnica de entrevista semiestruturada em rodas de bate-papo com professores-alunos e estudantes de escolas locais. Discute ainda, diferentes contribuições voltadas ao entendimento do panorama da educação a distância no Brasil nos últimos anos, e ao processo de formação de professores em Teatro por meio da EaD. Neste contexto, destaca-se ainda, a atuação da Universidade de Brasília-UnB no pioneirismo a ofertar cursos superiores, que a princípio, só eram oferecidos presencialmente, considerando as especificidades, na modalidade a distância, nas mais diversas localidades do país. Constata-se ainda que, entre os aspectos dimensionais analisados nesta pesquisa, surge uma nova percepção sobre a educação a distância, no que se refere à formação docente e sua relevância da interiorização às culturas locais. Nesse sentido, os resultados dessa pesquisa evidenciam contribuições éticas, estética e econômicas do curso de Teatro à prática pedagógica e no cotidiano pessoal e profissional dos professores formados, refletindo no cotidiano dos alunos desses docentes.  

O objetivo desta pesquisa é investigar a vulnerabilidade como um aspecto da atuação bem como sua percepção e utilização técnica dentro do teatro de grupo Coletiva Teatro. Bebendo em fontes como a bioética, ciências sociais e psicologia busco entender sobre as definições do conceito de vulnerabilidade e a respectiva aplicabilidade para o trabalho do atuador. Utilizo a definição de vulnerabilidade segundo Brene Brown (2012) com suporte teórico-conceitual dos autores Donald M. Kaplan (1969), Declan Donnellan (2008), Gabbard (1979), William Saad Hossne (2009), J. G. Simmonds E J. E. Southcott (2012) em diálogo na atuação com Stanislaviski (2001), Renato Ferracini (2013), Josette Féral (2015) e Giselle Rodrigues de Brito (2020). A partir da prática de teatro de grupo gerada pela Coletiva Teatro analiso sob a ótica da vulnerabilidade do atuador os projetos #poesiadodia (2017), O Amor que Habito (2018) e Baú de Histórias (2018), todos de autoria do grupo. Aplicando um questionário investigo como a vulnerabilidade é utilizada por membros da Coletiva Teatro e procuro entender, de forma qualitativa, o uso e as reverberações da vulnerabilidade do atuador nas diferentes fases de exploração do processo criativo: composição, pré-apresentação, apresentação e pós-apresentação. Finalmente, a partir da perspectiva neurocientífica de stress proposta por Andrew Huberman e o conceito de mindset de Alia Crum, proponho um guia para auxiliar atuadores na identificação da vulnerabilidade em sua forma produtiva e contraproducente bem como em sua ativação. Resultados obtidos na pesquisa e observados na prática indicam a vulnerabilidade enquanto aspecto relevante no trabalho de atuador na Coletiva Teatro e o mindset individual sobre a vulnerabilidade como determinante na sua utilização. A partir destes resultados, o guia proposto objetiva auxiliar atuadores a utilizar a vulnerabilidade como uma ferramenta técnica, criativa e produtiva desde o momento de exploração no processo artístico até o pós-apresentação, seja em sua práxis individual ou coletiva.

Esta dissertação tem por objetivo principal analisar as técnicas de trabalho vocal desenvolvido por Zygmunt Molik durante e após sua trajetória ao lado de Jerzy Grotowski no Teatro Laboratório. Aborda temas como “Os Ressonadores”, “O Alfabeto do Corpo” e um enfoque particular na condução de Molik em seu workshop solo “Voz e Corpo”. No que tange aos recursos metodológicos, a pesquisa conta com informações adquiridas a partir de uma entrevista com Giuliano Campo; descrições e análises dos registros audiovisuais Acting Therapy (1976), Dyrygent (2006) e Alfabeto do Corpo (2009); registros pessoais do autor acerca de um workshop realizado no Instituto Grotowski em 2019; e análises dos registros bibliográficos que tratam destas técnicas, abarcando autores da linha grotowskiana. A pesquisa aposta nestes múltiplos acessos buscando fornecer ao leitor uma perspectiva dialógica acerca do tema tratado.

Com este trabalho, almejo tensionar o organismo institucionalizado das danças no Brasil, apontando operações do racismo como constituinte estrutural que condiciona e normaliza violências de apropriação, exclusão, exotificação, desqualificação e invisibilização de corpos/corpas e epistemologias na área. Com uma postura relacional, implico a branquitude, pretensamente neutra e universal, como força motriz de manutenção e reinvenção das lógicas coloniais que sustentam privilégios e funcionam para a perpetuação destes operativos. Investigando minha própria caminhada em perspectiva etnocenológica de trajetividade e tecendo relações analíticas com o macro projeto de país, me posiciono em um local afro referenciado de ação e investigação para inquirir a dança enquanto campo investigativo e prático sobre seu silêncio em relação às violências étnico-raciais que também estão presentes nas entranhas de seu organismo institucional no âmbito da formação, gestão, pesquisa, cenas, fomento, mercados, entre outros. Com esta iniciativa, para além de apontamentos e problematizações, desejo nos convidar a outras movências dançantes, relacionais, políticas, afetivas e éticas, fomentando, quem sabe, outros modos de (con)fiar (n)as tessituras que nos conectam em vida e em fazeres das danças.