A ora-pro-nóbis é uma planta alimentícia não convencional (PANC), com importância regional, econômica, nutricional, nutracêutica e muito utilizada na medicina popular. Rica em proteínas, vitaminas, fibras e minerais, sua composição nutricional merece destaque pelo elevado teor de proteínas. O estabelecimento de uma cadeia produtiva pode favorecer a diversificação da produção agrícola, promover o desenvolvimento sustentável dos sistemas, geração de renda e, ainda, devido a sua importância nutricional, contribuir para a soberania e segurança alimentar. Nesse sentido, esta pesquisa tem como objetivo avaliar a produção, a comercialização e a conservação da biodiversidade da ora-pro-nóbis no Distrito Federal e entorno, de modo a contribuir para a estruturação e o fortalecimento da cadeia produtiva dessa espécie subutilizada, além de propiciar valor agregado ao produto, o incremento da diversidade alimentar e a valorização da cultura tradicional. Essa pesquisa pode ser classificada como de natureza aplicada, voltada à aquisição de novos conhecimentos com vistas à aplicação em uma situação específica, com abordagem qualitativa e quantitativa. Quanto ao objetivo, trata-se de uma pesquisa descritiva. A coleta de dados foi realizada por meio de um roteiro de entrevista semi-estruturado, com a finalidade de caracterizar o sistema de produção e comercialização da ora-pro-nóbis no Distrito Federal e entorno. Foram realizadas 13 entrevistas com agricultores familiares, indicados pela EMATER-DF e Embrapa, durante visitas às propriedades rurais, moradias e feiras orgânicas. Uma vez que aborda fenômenos de uma população reduzida, o presente estudo pode ser caracterizado como um estudo de caso. Essa pesquisa vai além de um estudo voltado para técnicas de produção e manejo da cultura, uma vez que, além da viabilidade técnica e econômica, a produção de PANC envolve questões sociais, culturais e ambientais. Foi possível compreender e caracterizar perfil da produção e comercialização da ora-pro-nóbis, além de identificar as lacunas no sistema produtivo. O cultivo da ora-pro-nóbis é conduzido, pela maioria dos agricultores, em consórcio com outras espécies convencionais ou na área marginal da unidade familiar. Apenas um produtor faz o cultivo em larga escala e o processamento da ora-pro-nóbis para a comercialização em capsulas. Todos os entrevistados reconhecem a importância do resgate e do cultivo da espécie, do seu potencial na manutenção da biodiversidade e da cultura tradicional, na transformação da produção, consumo e economia do agricultor familiar e na garantia da soberania e segurança alimentar.

A agricultura brasileira, embora altamente produtiva, enfrenta críticas devido à dependência de defensivos químicos e seus impactos ambientais e à saúde. Nesse contexto, os inseticidas microbiológicos surgem como alternativa promissora e sustentável para o manejo de pragas. A presente dissertação tem como objetivo identificar as tendências emergentes no mercado de inseticidas microbiológicos, considerando tanto o panorama geral quanto para os produtos disponíveis para a cultura da soja no Brasil, com foco em três objetivos específicos: (1) Identificar e descrever os inseticidas microbiológicos disponíveis no mercado brasileiro, bem como aqueles disponíveis para a cultura da soja; (2) Investigar os diferenciais tecnológicos presentes em inseticidas microbiológicos disponíveis para a cultura da soja no mercado brasileiro; e (3) Comparar inseticidas microbiológicos que possuem a mesma composição de ingredientes ativos, buscando entender como se diferenciam. A metodologia adotada combinou pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas, permitindo a análise de registros oficiais e informações fornecidas por empresas do setor. Os resultados indicam que os fungos representam a maioria dos ingredientes ativos (70,6% dos produtos. As formulações em pó predominam, mas há diversidade conforme o microrganismo. Os diferenciais tecnológicos identificados foram facilidade de armazenamento/estabilidade, espectro de ação, sinergia/compatibilidade, variedade de formulações, tecnologias exclusivas e efeito residual. A existência de produtos com a mesma composição de ingrediente ativo, porém mais concentrados, com maior espectro de pragas-alvo e atributos como estabilidade, praticidade de aplicação e efeitos adicionais como a infecção em cadeia agrega valor aos inseticidas microbiológicos. Observa-se um conjunto de tendências no mercado de inseticidas microbiológicos: predominância dos fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, destaque das bactérias pela diversidade de cepas e dos vírus pela alta especificidade; tendência no uso de formulações WP e SC; diferenciais tecnológicos voltados para armazenamento/estabilidade nas empresas nacionais e para tecnologias exclusivas nas internacionais; além da crescente adoção de combinações fúngicas com ação complementar como estratégia para ampliar a eficácia dos produtos.

O Sistema Agroindustrial (SAG) do Leite em Goiás ocupa posição estratégica no agronegócio brasileiro, sendo responsável por significativa geração de renda, emprego e desenvolvimento regional. Apesar de sua relevância, o setor enfrenta desafios complexos relacionados à baixa produtividade média, heterogeneidade tecnológica, acesso limitado à assistência técnica e dificuldade de inserção em mercados mais competitivos. Nesse contexto, a presente pesquisa teve como objetivo propor um método estratégico de atuação que oriente ações integradas para o fortalecimento da SAG em Goiás, com foco na elevação da competitividade dos produtores e na promoção do desenvolvimento sustentável. Para tanto, adotou-se uma abordagem metodológica mista (qualitativa e quantitativa), com base em levantamento bibliográfico, análise documental, estudos de caso múltiplos e entrevistas semiestruturadas com informantes-chave. A partir dos resultados obtidos, foram estruturadas diretrizes metodológicas organizadas em quatro eixos centrais: fortalecimento da base produtiva, otimização logística e acesso a mercados, fortalecimento da governança setorial e desenvolvimento do capital humano. Essas diretrizes foram validadas por meio da aplicação prática em 400 propriedades, com apoio de instituições como SENAR-GO e SEBRAE-GO, o que possibilitou a criação de painéis de gestão à vista e planos de ação colaborativos. A proposta metodológica demonstrou capacidade de induzir melhorias na gestão técnica e econômica das propriedades, fomentar a adoção de inovações, fortalecer a cooperação entre os elos da cadeia e gerar subsídios para políticas públicas mais eficazes. O método desenvolvido apresentou elevado potencial de replicabilidade para outros SAG e territórios rurais.

O leite orgânico é um alimento produzido por vacas, búfalas, cabras ou ovelhas em uma unidade orgânica de produção, a qual é gerida de forma sistêmica como um Organismo Agropecuário, com garantia da sua qualidade e rastreabilidade por meio de certificação pela Portaria no 52 (Brasil, 2021). No Brasil são 96 Unidades de Produção de leite orgânico distribuídos em 11 estados. A produção nacional está em torno de 21 milhões de litros/ano, fruto de um rebanho de 5,9 mil vacas, em uma área total de 6,5 mil ha. Nesse sentido, essa pesquisa teve como objetivo analisar o cenário atual da produção de leite orgânico na Região Sudeste do Brasil, identificando práticas adotadas, fatores motivadores, obstáculos e potencialidades do setor. Para isso, utilizou-se o método DCAP (Diagnóstico, Contextualização, Análise e Propostas), que combina uma abordagem qualitativa e quantitativa para compreender o comportamento dos produtores e o funcionamento da cadeia produtiva na adoção de tecnologias. Como materiais, foram utilizados dados de entrevistas realizadas com produtores de leite orgânico na região, além de uma revisão da literatura sobre o tema. O estudo também empregou análise bibliométrica para identificar as principais áreas de pesquisa relacionadas à produção orgânica de leite. O método consistiu em aplicar um instrumento de avaliação técnica, que inclui um questionário estruturado com perguntas sobre a caracterização das propriedades, o rebanho, infraestrutura, práticas de manejo, certificação e comercialização. Foram realizadas entrevistas com produtores de leite orgânico na Região Sudeste, incluindo proprietários, meeiros e gerentes, com o objetivo de coletar dados sobre suas experiências, desafios e motivações. Os resultados indicam que o setor está em expansão, onde os produtores enfrentam dificuldades relacionadas a recursos, acesso à certificação e canais de comercialização, contudo há potencial de crescimento impulsionado pelo aumento da demanda por produtos sustentáveis. A pesquisa conclui que ações voltadas à capacitação, fortalecimento institucional e facilitação do acesso ao mercado podem contribuir para o desenvolvimento sustentável do sistema de produção de leite orgânico na região e no Brasil.

A disseminação generalizada da tecnologia da internet deu origem a uma nova modalidade econômica centrada em plataformas digitais que influenciou vários segmentos, dentre eles o agronegócio. Esta dissertação tem como objetivo identificar oportunidades para comercialização de produtos oriundos do agronegócio em plataformas digitais. Para obtenção deste propósito, pretende-se, primeiramente, realizar uma revisão da literatura com o uso da metodologia prisma, englobando publicações nas bases de dados Web of Science (WoS), Scopus, Scielo, Science Direct e Periódicos Capes; em seguida, analisar os dados dos sellers participantes do marketplace examinado e efetuar uma pesquisa on-line com as empresas que fazem parte desta plataforma digital objeto do estudo. A pesquisa com os sellers avaliou cinco questões conceituais oriundas dos artigos avaliados. Os resultados revelaram que os marketplaces virtuais reduzem intermediários, ampliam o alcance da empresa, diversificam os canais de comercialização e aumentam as vendas. As entrevistas indicaram também que os fabricantes devem oferecer soluções abrangentes, além do produto, disponibilizando digitalmente serviços e pacotes tecnológicos para aumentar a atratividade da transação. O trabalho detectou que os cinco temas abordados pelos autores nos 102 artigos pesquisados foram ratificados pelas empresas, evidenciando que os marketplaces virtuais tornaram-se uma tendência acelerada que deve ser considerada pelas empresas que pretendem continuar competitivas. Outra constatação observada está ligada à confiança, configurando-se como um dos principais fatores para análise das vendas em plataformas digitais, notadamente quando se trata de transações envolvendo equipamentos de alto valor, uma vez que essas operações ainda despertam o interesse de um contato físico mais direto com o produto. Concluindo, o estudo apurou fatos novos ligados à comercialização de máquinas em ambientes digitais, temática ainda pouco explorada comercial ou academicamente. Cerca de 80% das vendas da plataforma analisada foram oriundas de máquinas e equipamentos agrícolas, sendo uma das poucas plataformas de comércio eletrônico especializadas nesse setor no mundo, o que a tornou uma referência na área pelo volume de vendas e por agregar em seu ambiente os principais fabricantes do mercado. Essa informação foi comunicada aos gestores do marketplace, os quais reconheceram a importância de concentrar ainda mais esforços nesse aspecto, dada a vantagem competitiva única desenvolvida, até então não observada em outras plataformas digitais semelhantes em diferentes países. 

A análise da produção de soja e milho no Brasil revela desafios significativos na cadeia de produção desses grãos. Estudos e investigações apontam para um déficit considerável no armazenamento dos grãos no país, apesar do constante aumento na produção anual, que continua a bater recordes. No entanto, a logística de transporte, essencial para a cadeia produtiva, enfrenta sérios problemas, não acompanhando o ritmo do crescimento da produção e da população. Isso se reflete em desafios adicionais para os produtores, que lidam com estradas danificadas, falta de manutenção e capacidade insuficiente nos portos para escoar toda a carga, resultando em atrasos significativos no abastecimento dos navios. Diante desses desafios, os produtores se veem obrigados a superar obstáculos constantes, desde o plantio até a venda dos grãos. Nesse contexto, o armazenamento surge como uma solução viável para a produção agrícola no Brasil, proporcionando melhores rendimentos aos produtores. No entanto, estabelecer um armazém de grãos requer a identificação de locais adequados, investimentos significativos e, acima de tudo, a capacidade de armazenar toda a produção para vendas futuras com maior lucratividade. Diante desse cenário, foi reconhecido que a modelagem matemática pode fornecer subsídios essenciais para a tomada de decisão sobre a melhor localização para o estabelecimento de armazéns de soja e milho, além de ajudar a avaliar os investimentos necessários. Este estudo teve como objetivo principal enriquecer um modelo matemático de localização e armazenamento de soja e milho, por meio de entrevistas realizadas com produtores de soja, milho e engenheiros especializados em armazenamento de grãos, aliado a uma revisão de literatura. Também foi proposta uma análise dos modelos matemáticos presentes na literatura referente ao tema deste trabalho, visando examinar os dados utilizados. Os áudios das entrevistas foram transcritos e os dados foram tratados e categorizados utilizando o software MAXQDA®, proporcionando uma melhor compreensão das respostas dos entrevistados. Um quadro completo foi então elaborado, contendo todas as variáveis identificadas nas entrevistas, totalizando 235 variáveis extraídas de 274 respostas. Para a elaboração deste quadro e para fortalecer o modelo matemático, foram selecionadas as variáveis encontradas nas entrevistas, bem como variáveis utilizadas e publicadas por outros autores, especialmente relacionadas à abertura e localização de armazéns de milho e soja. Ao término deste estudo, após análises e comparações realizadas, foi possível alcançar o objetivo proposto, oferecendo um quadro abrangente contendo os dados relevantes para a abertura e localização de armazéns de soja e milho.

A presente pesquisa investiga os Custos de Transação e as holdings de empresas do agronegócio, com enfoque nos aspectos jurídicos e econômicos. A metodologia inclui análise de dados de artigos científicos sobre holdings no agronegócio, entrevistas semiestruturadas e análise de conteúdo. A pesquisa visa analisar a viabilidade dessas estruturas para empreendimentos rurais. A investigação também aborda a gestão em propriedades rurais, ressaltando a importância das holdings nesse contexto. A análise a partir de relatos de gestores de holdings rurais permite identificar a melhor viabilidade entre diferentes casos. O perfil dos entrevistados inclui proprietários de empresas rurais e administradores, tendo a coleta de dados sido realizada por meio de entrevistas semiestruturadas e análise de texto com auxílio de software específico. A pesquisa busca contribuir para o entendimento da aplicabilidade da Economia de Custos de Transação e das holdings no contexto do agronegócio, visando melhorias nas empresas do setor. A conclusão do estudo destaca que, para grandes empresas a aplicabilidade dependerá de seus objetivos estratégicos, sendo sempre viável, enquanto que para empresas de pequeno e médio porte no agronegócio, a viabilidade da utilização de holdings pode variar conforme o contexto, sendo essencial considerar fatores como estrutura patrimonial e planejamento sucessório, além dos objetivos estratégicos para a tomada de decisão. A pesquisa oferece insights relevantes para a avaliação da adequação das holdings como estratégia de gestão no agronegócio, considerando os benefícios e desafios envolvidos.

Até 2050, a população mundial deverá atingir 9,8 bilhões de pessoas, o que exigirá um aumento de cerca de 70% na produtividade agrícola para atender à demanda por alimentos, rações, fibras e bioenergia. Para alcançar essa produção, são necessários diversos insumos, como fertilizantes, combustíveis e agrotóxicos. Em resposta à crescente demanda do setor produtivo, a sustentabilidade do agronegócio brasileiro tem ganhado destaque. Nesse contexto, os bionsumos emergem como um marco biotecnológico, podendo ser produzidos tanto em indústrias quanto diretamente nas fazendas. A produção On Farm está se tornando cada vez mais popular, impulsionada por fatores como rentabilidade, maior autonomia na produção, melhoria biológica do solo e o desejo de reduzir a dependência da indústria química convencional. A pesquisa visa caracterizar o uso de bioinsumos por meio de um questionário aberto semiestruturado aplicado a propriedades que adotaram essa tecnologia na região do Cerrado brasileiro, evidenciando os impactos na redução de custos, aumento da autonomia dos produtores e diminuição da dependência de insumos importados, com ênfase na regeneração do solo e na preservação da biodiversidade. As informações geradas proporcionam um entendimento mais profundo e uma aplicação mais ampla dessa inovação tecnológica. O compromisso contínuo com a inovação, educação e colaboração entre produtores, empresas e pesquisadores será crucial para realizar os benefícios que os bioinsumos prometem para uma agricultura regenerativa.

O Brasil é consolidado como um dos principais produtores e exportadores de commodities agrícolas. Neste sentido, regiões como o SEALBA – Acrônimo para Sergipe, Alagoas e Bahia – emergem como novas fronteiras agrícolas, especialmente no cultivo de soja e milho. No entanto, a infraestrutura logística, em especial a de armazenagem, enfrenta desafios, ameaçando a expansão agrícola desta região. Assim, a pesquisa visou desenvolver um modelo multicritério de apoio à decisão para a localização de armazéns graneleiros na região do SEALBA, utilizando o método Analytic Hierarchy Process (AHP), bem como a comparação de duas formas de utilização (AHP tradicional e AHP + Matriz de Decisão). Além disso buscou-se realizar uma revisão sistemática da literatura (RSL) e uma análise bibliométrica sobre as mais recentes pesquisas voltadas à tomada de decisão para localização de armazéns com a utilização do método AHP e suas variações/combinações, apontando as principais tendências e lacunas de pesquisa. A literatura foi pesquisada em bases como Web of Science, ScienceDirect e Scopus, analisada no VosViewer e R/Bibliometrix, classificada e codificada, resultando em uma estrutura do que se tem de mais recente sobre o assunto, com recomendações, visando orientar pesquisas futuras. Para a montagem da estrutura hierárquica do AHP sob o problema de melhor localização de uma unidade armazenadora de grãos na região do SEALBA, utilizou-se as informações coletadas na revisão de literatura e consulta com especialistas, por meio de questionário elaborado no Google Forms. Foram estabelecidos os critérios e subcritérios, bem como o Princípio de Pareto para definir o quantitativo dos critérios e subcritérios e as alternativas definidas entre os municípios pertencentes ao SEALBA. Como resultado da RSL destacam-se a necessidade de aumento de estudos com este tema para a armazenagem agropecuária, utilização de Delphi para identificação de critérios e as tendências de utilização de metodologias integradas ao AHP, como GP (Goal Programming) e SIG. Para o AHP, os critérios socioeconômicos e ambientais se destacaram mais do que acessibilidade e custo, e Paripiranga/BA foi considerada a melhor alternativa, tanto para o AHP tradicional, quanto para o AHP + Matriz de Decisão, sendo que a maior divergência está na posição de Carira/SE que, no AHP + Matriz de Decisão é a 2ª melhor alternativa.

A política de regularização fundiária possui potencial para gerar efeitos significativos no desenvolvimento rural e no desmatamento de uma região. Nesta direção, o governo brasileiro tem atuado desde 2004 com o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) para conter o avanço no desmatamento na região, e a emissão de títulos de terra, através da regularização fundiária é um dos pilares de tal política. O presente estudo é estruturado em três etapas distintas: a primeira etapa consistiu em investigar o estado da arte da literatura sobre a titulação de terras rurais em âmbito global por meio de uma análise bibliométrica, com o objetivo de identificar as principais questões abordadas e os autores mais influentes no tema; a segunda etapa visou verificar o estado da arte da literatura sobre a titulação de terras rurais no Brasil, através de uma revisão sistemática da literatura; e, finalmente, a terceira etapa avaliou o efeito da titulação de terras após 10 anos em quatro áreas emblemáticas da Amazônia. No primeiro estudo, observou-se substancial produção bibliográfica acerca das titulações de terras ocorridas na China a partir de 2009. Além disso, identificou-se uma forte associação do termo “Brasil” com o termo “conservação” dentro da literatura analisada. O segundo estudo, revelou que a literatura sobre regularização fundiária de terras rurais é predominantemente orientada pelos aspectos regionais e ambientais, especialmente no contexto do debate sobre a Amazônia brasileira. Por fim, na última etapa, foi realizada uma análise dos efeitos da titulação de terras no desmatamento após um período de 10 anos em áreas específicas tituladas pelo Programa Terra Legal Amazônia. Esta análise investigou o comportamento do desmatamento nas áreas tituladas em quatro glebas, comparando-o com áreas não tituladas, a fim de analisar as implicações da regularização fundiária sobre a conservação ambiental. Os resultados apontaram uma pouca influência das emissões de título na contenção do desmatamento, com exceção à região da BR-163 (área de fronteira agrícola) na qual houve uma significativa redução do desmatamento nos imóveis titulados. Desse modo, conclui-se que a regularização fundiária por si só não garante a contenção ao desmatamento, necessitando estar associadas a outras políticas de desenvolvimento rural.

Entre 2007 e 2024, foram registrados, 85 bionematicidas industriais no Brasil, dos quais 49 por empresas brasileiras e 36 por empresas estrangeiras. Neste estudo, foram selecionados 38 bionematicidas para análise, com base em entrevistas realizadas com 12 empresas, sendo seis brasileiras e seis estrangeiras. O objetivo da pesquisa foi investigar os diferenciais tecnológicos dos bionematicidas registrados durante esse período e os desafios enfrentados. A metodologia adotada foi de natureza exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa e quantitativa. A análise dos dados foi feita por meio de estatística descritiva e do software Iramuteq, permitindo a identificação de 10 diferenciais tecnológicos que caracterizam os bionematicidas comercializados no Brasil. Os diferenciais incluem o uso de cepas exclusivas e isoladas, várias cepas, shelf life prolongado, endósporos, diferentes formulações (secas e líquidas), tecnologias exclusivas e mecanismos de ação específicos para microrganismos como fungos e bactérias. Entre os pontos em comum observados entre ambas, destacam-se os mecanismos de ação para bactérias e fungos, o uso de cepas exclusivas e isoladas, além da aplicação de várias cepas nos bionematicidas. Especificamente, as empresas estrangeiras se destacam no desenvolvimento de tecnologias como Bioshock e Statera, baseadas em fungos como Purpureocillium lilacinus e Pochonia chlamydosporia, além de terem um foco maior em formulações líquidas. Por outro lado, as empresas estrangeiras adotam mais formulações secas (WPWG), shelf life e uso de endósporos, o que reforça a diversificação de estratégias tecnológicas entre os grupos analisados. Outro destaque é a predominância de Bacillus spp. como ingrediente ativo, amplamente utilizado por ambos os grupos de empresas. Além disso, foi identificada uma diversificação no uso de fungos nematófagos, como Purpureocillium lilacinus, utilizado exclusivamente por empresas estrangeiras, e Trichoderma harzianum, que possui função dupla como bionematicida e biofungicida, sendo mais comum entre as brasileiras. Os resultados apontam um mercado competitivo e equilibrado, no qual as empresas estrangeiras, apesar de competirem com as brasileiras — das quais quatro das seis entrevistadas são consolidadas no setor de nematicidas químicos. Entretanto, ainda existem desafios, como a integração dos bionematicidas com outros insumos no manejo integrado de pragas e doenças (MIP e MID). Empresas brasileiras estão investindo em inovações, como tecnologias de microencapsulamento para prolongar a eficiência de campo de microrganismos como Bacillus spp., além de desenvolver embalagens e moléculas mais resistentes às condições adversas do solo, especialmente no Cerrado. Por fim, todas as empresas brasileiras entrevistadas operam exclusivamente no mercado de biológicos. As parcerias B2B entre empresas brasileiras e estrangeiras se revelam estratégicas, possibilitando que inovações desenvolvidas por empresas brasileiras sejam inseridas no mercado.

A modernização da agricultura brasileira contribuiu para expansão da produção e, consequentemente, para o aumento da necessidade de estrutura de armazenagem, área estratégica e relevante dentro das cadeias de produção. São necessários estudos sobre a produção agrícola do Brasil, da sua demanda e sua dinâmica de armazenamento e escoamento . O milho foi a commodity escolhida, excluindo-se os demais grãos, considerando suas especificidades relacionadas ao consumo interno no país e seu destaque na produção e exportação brasileiras. O presente estudo busca identificar, nos estados brasileiros mais relevantes para a produção de milho, a atual capacidade estática para sua armazenagem, assim como realizar a prospecção para um cenário futuro em quinze anos. As análises se basearam nos dados de produção de milho e armazenagem de grãos do Brasil e na coleta de informações através de questionário com escala Likert de cinco pontos respondido por especialistas nas áreas envolvidas. Como resultado, foi possível estimar a capacidade de armazenamento de milho e visualizar os cenários prospectivos da produção e armazenagem de milho no Brasil.

Mudanças nos modelos de negócios das organizações tem impulsionado o avanço de economias alinhadas à promoção de transformações socioambientais e econômicas, garantindo o uso mais eficiente de recursos e interações sociais, como é o caso da economia compartilhada. O compartilhamento tem se consolidado como uma alternativa para os produtores melhorarem seu desempenho, notadamente os ligados aos assentamentos rurais de reforma agrária, que enfrentam dificuldades para acessar recursos e comercializar seus produtos no mercado. Este trabalho teve como objetivo conhecer como as práticas de economia compartilhada podem contribuir para a melhoria do desempenho da produção de produtores de leite de assentamentos rurais de reforma agrária. Este trabalho tem abordagem qualitativa, de natureza aplicada e com objetivo exploratório e descritivo. Em relação ao procedimento técnico, foi realizado um estudo de casos múltiplos. Os resultados mostraram que o compartilhamento de itens como máquinas, ferramentas e equipamentos, além do compartilhamento de conhecimento, habilidades, informações e animais contribuem para melhorar o desempenho da produção de leite. Ao promover transformações e adaptações nos processos produtivos, a economia compartilhada garante um leite com qualidade superior, produzido de forma mais rápida, aumentando a confiabilidade do comprador, além de acarretar em menos impactos ambientais, mais qualidade de vida para os produtores, aumento da receita e diminuição dos custos de produção. Como conclusão, foi identificado que a economia compartilhada contribui para a melhoria do desempenho da produção de leite nos níveis social, estratégico e operacional.

Produzir alimentos e alimentar o mundo frente a uma demanda crescente enfrenta um paradoxo, já que os recursos disponíveis são limitados e cada vez mais escassos.  Por outro lado, a combinação ótima dos fatores de produção contribui para a redução de custos. Assim, a busca pela eficiência, cada vez mais, tem se mostrado um fator chave no alcance da competitividade. Todavia, não basta somente ser eficiente, o desafio atual é agregar o fator ambiental ao processo produtivo e à análise da eficiência, ao que chamam de ecoeficiência. O objetivo deste trabalho foi analisar a ecoeficiência da agropecuária na Região Centro-Oeste e seus fatores determinantes, de modo a identificar as melhores práticas, oferecendo informações e ferramentas para a tomada de decisões e implementação de políticas públicas voltadas à agropecuária. Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa, de natureza aplicada e objetivos exploratórios. Utilizou-se como método a Análise Envoltória de Dados (DEA) com técnica de reamostragem (bootstrap) e regressão truncada para estimar indicadores de ecoeficiência não viesados e seus fatores determinantes. Os resultados demonstram que há espaço para a agropecuária na Região Centro-Oeste se tornar mais ecoeficiênte, reduzindo insumos e emissões de gases de efeito estufa (GEE) e aumentando as receitas e a preservação ambiental, equiproporcionamente, na ordem de 32,2%. O acesso ao crédito e à assistência técnica foram as variáveis exógenas de maior influência na eficiência econômico-ambiental da região. Esses resultados permitiram concluir que é possível economizar recursos e a pressão ao meio ambiente, com aumento da produção, tendo o financiamento da produção e a orientação técnica como ferramentas de grande impacto na promoção da ecoeficiência.

Em decorrência da preocupação dos consumidores por produtos sustentáveis e socialmente corretos, a Cadeia Produtiva brasileira do Milho passa por uma fase de transição. Neste sentido, este trabalho se propôs a identificar iniciativas no âmbito da Academia e contextualizá-los com a realidade brasileira e assim identificar ações que acelerem a transição. Sob o prisma dos Estudos Prospectivos, foi feita uma Revisão Sistemática da Literatura envolvendo 66 artigos, aplicou-se um questionário a 72 produtores rurais e 23 entrevistas com especialistas da cadeia. Os estudos indicaram as seguintes práticas: biotecnologia, redução de fertilizantes nitrogenados, rotação de culturas, redução de perdas e desperdícios, agricultura digital, redução das emissões de CO² e produção de bioenergia, biogás, biocombustível e bioplástico. Os questionários englobaram 206 mil hectares espalhados por 15 Estados brasileiros e sinalizou que os produtores rurais já fazem rotação de 13 culturas, praticam o plantio direto, segunda safra, usam biológicos, o plantio de cobertura e a integração lavoura pecuária. Visando uma contextualização no cenário internacional, comparou-se com os preceitos dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e também com o Pacto Ecológico Europeu. As conclusões principais a partir da avaliação da literatura selecionada e dos depoimentos nas entrevistas e questionários levaram à conclusão que o Brasil está relativamente bem-posicionado no que concerne às práticas agrícolas sustentáveis, na adoção de tecnologia, no modelo energético e legislação ambiental. A adoção da Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF), a implantação do Código Florestal (embora ainda com pendências), o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e a Matriz Energética renovável e a adoção de práticas sustentáveis justificam esta conclusão. Ainda é preciso avançar na rastreabilidade, combate ao desmatamento ilegal, estímulo à Industria Ecológica e ao processamento sustentável, controle da contaminação dos lençóis freáticos e o estímulo ao consumo sustentável e redução de perdas e desperdícios.

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) apresentam relação estreita com agricultores e comunidades tradicionais, apresentando-se como tema de imenso potencial para ser explorado nas mais diversas áreas de pesquisa, uma vez que possuem grande importância para a subsistência dos indivíduos, principalmente em situação de vulnerabilidade econômica. Neste sentindo, as PANC se inserem como um recurso natural promissor, com diversos benefícios à saúde. O presente estudo teve como objetivo prospectar informações sobre a presença das plantas alimentícias não-convencionais em feiras orgânicas do Distrito Federal, com a finalidade de contribuir com a difusão do conhecimento sobre estas espécies, com o incremento da diversidade na dieta e com o dinamismo da economia local. Trata-se de estudo exploratório, qualitativo e multicaso. Foram visitadas 20 feiras e entrevistados 24 produtores/feirantes em diferentes regiões administrativas do DF. O levantamento de dados foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas de forma presencial. Foram levantadas informações sobre o perfil do feirante, características da atividade, bem como a percepção dos entrevistados sobre a atividade. Cerca de 80% dos entrevistados conheciam o termo PANC. Para a maioria, o conhecimento vem desde a infância, principalmente repassados pelos avós. Entre as PANC mais conhecidas e consumidas estão: ora-pro-nóbis, taioba, peixinho e beldroega. Verificou-se que 88% dos entrevistados produzem as PANC em suas propriedades e afirmam que elas representam ganho econômico significativo, gerando renda extra para a família. A oferta só não é maior por falta de conhecimento tanto de produtores, quanto de consumidores. Foi observada a necessidade de divulgação das espécies e da importância nutricional e social junto à sociedade.

As tecnologias existentes no Brasil para produção de soja sustentável vêm ganhando destaque no contexto nacional e mundial. Este trabalho tem por objetivo caracterizar as práticas operacionais de manejo sustentável que estão sendo adotadas pelos produtores rurais com registro da propriedade junto à Round Table on Responsible Soy – RTRS na região de Rio Verde – GO, sob a perspectiva das boas práticas agrícolas no mercado voluntário de soja certificada. Neste trabalho, buscou-se evidenciar os diferentes perfis produtivos dos produtores avaliados; caracterizar o grau de adoção dos produtores para os métodos de cultivo de soja mais sustentável e, por fim, descrever as principais abordagens e tecnologias implementadas pelos produtores. Quanto aos aspectos metodológicos, trata-se de uma pesquisa de natureza aplicada, com abordagem qualitativa. Quanto aos objetivos, trata-se de uma pesquisa descritiva. Como procedimento técnico, foi realizada coleta de dados por meio de uma população especifica, sendo classificada como pesquisa por “censo”, onde registrou-se a participação de 22 produtores certificados nos padrões de soja responsável da RTRS. Para o levantamento de dados, optou-se pelo emprego de questionário estruturado, sendo respondidos pelos produtores nos escritórios administrativos durante as visitas na região e, por vezes, via contato telefônico, tendo em vista o período da colheita agrícola. Os resultados demostram que os produtores de soja certificada possuem níveis de produtividade média entre 73 sacos/ha e máxima de 81 sacos/ha. Além disso, denota-se que mais de 55% dos produtores certificados declaram já terem avançado entre 50% e 100% em direção aos processos e insumos de base biológica. Em outra análise, constatou-se que o modelo adotado pelos produtores está orientado a diversificação de culturas com plantas de cobertura verde (nabo-forrageiro, crotalária, braquiária, feijão, sorgo e milheto) e, consequentemente, com pouca adoção para a rotação de culturas, dado o contexto local. Por outro lado, verificou-se o emprego do Sistema de Plantio direto (SDP), Manejo Integrado de Pragas (MIP), Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) e técnica de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), sendo ações que contribuem para o fortalecimento das Boas Práticas Agrícolas (BPA). No que diz respeito as práticas agrícolas operacionais, notou-se que os produtores realizam com frequência a análise de solo para correção de macro e micronutrientes, bem como o emprego de inoculantes por meio do tratamento de sementes e/ou no sulco do plantio com micron, dentre outros. Além disso, constatou-se que os produtores são aderentes aos bioinsumos, com destinação orientada para os inseticidas e fungicidas de base biológica, por exemplo, bactérias de microrganismos, algas marinhas, bactérias bacillus, fungos do gênero Trichoderma, Beauveria Bassiana e fungos Metarhizium Anisopliae, utilizados como agente de controle microbiano de pragas. Portanto, a pesquisa contribui com a evidência de que os produtores estão em processo de transição sustentável com redução da dependência de insumos de base química para produtos de base biológica. Ademais, conclui-se que os movimentos em torno da transição agrícola não estão diretamente associados com a indução externa de mercado, ou seja, trata-se de uma decisão do produtor que envolve prioritariamente os aspectos econômicos e melhorias das boas práticas agrícolas. Os resultados rompem a ideia da teoria do discurso na perspectiva da “intensificação produtiva” e apresenta uma compreensão do aspecto da materialidade da perspectiva multinível (PMN) sobre os avanços da transição agrícola e emprego das práticas sustentáveis na região de Rio Verde-GO.

A discussão sobre o tripé da sustentabilidade é latente e transversal à diversas áreas do conhecimento, principalmente no que tange a alimentação e o conceito da patrimonialização alimentar. O objetivo desta revisão sistemática é discutir se a promoção e a valorização do patrimônio alimentar são catalizadores do desenvolvimento territorial sustentável. A revisão demonstrou que diferentes formas de valorização do patrimônio alimentar estão sendo desenvolvidas e discutidas em vários continentes, porém, a discussão sobre o desenvolvimento territorial é tratada como uma consequência de importância secundária ou até mesmo não é citada. A discussão foi dividida em três eixos principais: i. transição de sistemas agroalimentares e iniciativas de valorização do patrimônio como um meio para o desenvolvimento rural sustentável; ii. Uso do patrimônio alimentar pelo turismo como ferramenta de promoção cultural e possível impulsionador do desenvolvimento rural sustentável; iii. A formalização da patrimonialização alimentar como promotora do desenvolvimento rural sustentável.

O mercado global de plantas medicinais está em constante crescimento, refletindo a demanda dos consumidores por produtos naturais para promover um modo de vida saudável. Nos últimos anos, o comércio de plantas medicinais e aromáticas tem se tornado promissor e uma fonte de crescimento econômico para a agricultura familiar. Com isto, tem-se como objetivo caracterizar a produção e extração de plantas medicinais no Assentamento Sílvio Rodrigues – Alto Paraíso (GO), visando à promoção da saúde, conservação da sociobiodiversidade e o desenvolvimento socioeconômico da comunidade. O projeto será realizado na Microrregião da Chapada dos Veadeiros, no Assentamento Silvio Rodrigues, localizado a 34km de Alto Paraíso (GO). Esta pesquisa é classificada como de natureza aplicada com abordagem qualitativa e quantitativa e objetivo descritivo. Sobre aos procedimentos técnicos na coleta de dados, será realizada pesquisa observacional não-participante e entrevistas semi-estruturadas. Os dados serão analisados por meio de Análise de Conteúdo e Programas de estatistica. Com isto, espera-se identificar possíveis cadeias de produção relacionadas às plantas medicinais na região e identificar os principais desafios e oportunidades para o desenvolvimento sustentável deste mercado. Além disso, valorizar o conhecimento local, e contribuir com o meio acadêmico de forma que estimule a pesquisa e inovação sobre plantas medicinais e fitoterápicos.

A qualidade nutricional na alimentação escolar e agricultura familiar são importantes segmentos de políticas públicas, sendo que o foco do primeiro segmento recai sobre a qualidade de refeições ofertadas e consumidas, com vistas ao suprimento de necessidades nutricionais e melhoria do rendimento escolar, e, a ênfase do segundo aborda a garantia de renda e qualidade de vida de pequenos agricultores com trabalho predominantemente familiar. Internacionalmente a agricultura familiar tem fornecido, em especial, hortifrutis in natura para contextos escolares, contribuindo para a melhoria da qualidade da alimentação dos alunos. A qualidade é um conceito subjetivo, socialmente construído a partir das experiências, percepções e representações compartilhadas pelos atores em seus grupos de referência. Diferentes convenções de qualidade coordenam a atividade econômica no setor agroalimentar e, diante da sua acentuada importância por parte dos atores econômicos, instiga maiores esforços de pesquisas sobre as convenções de qualidade que coordenam as compras locais da agricultura familiar para a alimentação escolar. Este estudo teve como objetivo analisar como as percepções de diferentes atores sobre a qualidade dos alimentos fornecidos pela agricultura familiar local ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em um grande centro urbano, o Distrito Federal (DF), influenciam a coordenação dessa atividade econômica. Para tanto, optou-se pelo formato multipaper, desvelando, inicialmente, o estado da arte sobre a temática em tela, na esfera internacional e, por fim, o estudo de caso. Realizou-se uma análise bibliométrica de 2.042 artigos recuperados da Web of Science, utilizando o software CiteSpace versão 5.7.R2, além de uma revisão sistemática da literatura publicada nas bases Web of Science e Scopus, utilizando o protocolo Methodi Ordinatio, com um total de 30 artigos no portfólio analisado, e por fim de um estudo de caso no Distrito Federal, Brasil, com 35 atores da alimentação escolar. No estudo de caso realizou-se a análise de conteúdo das entrevistas com o apoio do software Iramuteq, à luz da teoria das convenções. Os resultados da literatura mostraram que a abordagem nutricional ainda é atual nas pesquisas, mas tem cedido espaço para outros aspectos. Quanto ao delineamento das pesquisas examinadas, adquirem especial relevância os estudos longitudinais, assim como a relação das compras locais da agricultura familiar para a qualidade da alimentação escolar, esta, mais concentrada na região Sul do Brasil. A literatura também aponta que as compras locais da agricultura familiar contribuem para a qualidade da alimentação escolar com alimentos nutritivos, frescos e pela proximidade produção-consumo, enquanto as aquisições dessa categoria geram renda para agricultores familiares, favorecendo o desenvolvimento local. No DF, as convenções de qualidade promoviam a democracia alimentar, conciliando várias perspectivas de coordenação, que, tanto mantinham, quanto modelavam as normas de qualidade do PNAE, acolhendo e negociando as percepções de múltiplos atores no processo de qualificação. Os elos produtor e consumidor compartilhavam mundos de coordenação em comum, mas os princípios evocados nem sempre eram iguais. Esta dissertação avançou na discussão ao identificar e analisar o estado da arte em âmbito internacional e, posteriormente, abordar as percepções de diferentes nós dessa cadeia curta, adotando a teoria das convenções, que ainda não havia sido aplicada com este objetivo. Adicionalmente, esta fornece subsídios aos planejadores do PNAE, além de apontar para uma agenda de pesquisas futuras, podendo ser relevante a leitura por agricultores, gestores públicos e das organizações da agricultura familiar, pesquisadores e estudantes.

No Brasil, a agricultura familiar possui extrema relevância, tanto pelo volume, como pela destinação de sua produção. Contribui sobremaneira para a segurança alimentar, tanto por atender parte significativa do mercado interno, quanto para o desenvolvimento social, ao proporcionar que as pessoas se mantenham no campo em na manutenção do emprego. Contudo, tal segmento tem estado às margens do desenvolvimento observado no campo, passando por dificuldades que ameaçam sua existência. Nesse contexto, vale destacar a adoção da produção orgânica como importante alternativa para a agricultura familiar, possibilitando maiores ganhos, devido ao maior valor agregado dos produtos certificados. Por conseguinte, o acesso às políticas de crédito representa condição fundamental para que os agricultores familiares possam converter sua produção para o sistema orgânico e mantê-la competitiva – o que demanda investimento, conhecimento e assistência técnica especializada. Para incentivar a adoção do sistema orgânico de produção e ofertar a devida competitividade aos produtores familiares, em 2003, foram criadas as linhas de crédito do PRONAF Verde. Não obstante à criação destas linhas, aparentemente tão vantajosas aos produtores, o acesso pelos produtores familiares orgânicos ainda é pouco utilizado. Assim, entender o processo de concessão de crédito para os produtores familiares orgânicos e os motivos que os levam a não acessar as referidas linhas de crédito se mostra extremamente importante, podendo subsidiar eventuais revisões de suas normas, formulações de políticas públicas e implementação de ações governamentais. Diante do exposto, o presente estudo teve por objetivo analisar o processo de obtenção de crédito rural sob a ótica dos produtores rurais orgânicos, verificando a adequação das linhas de crédito, o perfil de endividamento, as dificuldades e os facilitadores, buscando identificar os motivos que justificariam a não adesão dos produtores por estas linhas. A metodologia utilizada na construção da pesquisa foi a do modal multipaper, onde cada capítulo tem seu próprio objetivo, revisão de literatura, método de pesquisa, resultados, discussões e conclusões. Percebeu-se que as associações e cooperativas podem desempenhar importante papel como promotoras de segurança para o processo de crédito, influenciando positivamente na análise dos pretensos interessados, facilitando o acesso ao crédito por parte dos agricultores familiares e orgânicos e que grande parte dos produtores orgânicos desenvolvem suas atividades de produção com recursos próprios. Os motivos de maior relevância para a não contratação de crédito estão ligados ao processo de concessão do crédito – notadamente, a falta de conhecimento das linhas e de assistência técnica para elaboração dos projetos. Constatou-se ainda a necessidade de maior aproximação dos produtores junto às instituições de apoio à agricultura orgânica com vistas a aprimorar no aprendizado, diversificar e aprimorar a produção, bem como a relevância destas para auxiliar na melhoria do processo de obtenção de crédito por parte dos produtores, em especial, na divulgação das linhas e desenvolvimento de projetos. Concluiu-se pela necessidade de ação eficiente e articulada do Estado e demais entidades participantes no processo de concessão de crédito para a agricultura familiar orgânica, no sentido de divulgar as linhas de crédito disponíveis, seus procedimentos de obtenção e documentação exigida, além da urgência na capacitação e disponibilização de assistência técnica especializada para a confecção dos projetos e acompanhamento; e ainda, percebeu-se a necessidade da revisão das linhas em comento, tornando-as negocialmente mais atrativas para os produtores, além de menos burocráticas, considerando as particularidades dos produtores orgânicos e do sistema de produção orgânica.

As políticas públicas no Brasil exercem papel fundamental no desenvolvimento do setor rural. Esta dissertação trata do Fundo Garantidor Solidário (FGS), instituído pela Lei 13.986 de 2020, conhecida como a Nova Lei do Agro. Defendido como uma alternativa às garantias tradicionais do crédito rural e indutor de novas possibilidades para o financiamento privado, o estudo objetivou investigar o seu processo de elaboração. Buscou-se identificar ainda as ações dos grupos de interesse, os desafios para implementação e a perspectiva de adesão a essa nova forma de garantia por parte do público-alvo. Para tanto, realizou-se revisão de literatura a fim de verificar os estudos existentes sobre o tema, pesquisa documental, manifestação na Plataforma Integrada de Ouvidoria e Acesso à Informação do Governo Federal (Fala.BR) e coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturadas. Os resultados demonstram que esta política pública foi percebida como inviável pelos entrevistados devido às exigências de composição do Fundo, ao modelo operacional complexo e à falta de informação por parte daqueles que seriam os beneficiários, o que acarretou na sua não utilização e consequente alteração da Lei dois anos depois, em 2022.

O conhecimento agropecuário brasileiro e as tecnologias sustentáveis para o setor são temas de grande interesse tanto do mercado nacional, quanto do mercado internacional, em virtude do desenvolvimento econômico do país. Adiciona-se, ainda, as expectativas da sociedade científica acerca dos investimos, no desenvolvimento em ciência e tecnologia (C&T), necessários ao alcance de resultados satisfatórios à conservação ambiental e ao desenvolvimento social e econômico. Desta forma, o presente trabalho refere-se à evolução do conhecimento inovativo do setor agropecuário brasileiro, o qual avança em um ritmo acelerado, tornando imprescindível a incorporação de tecnologias sustentáveis no processo produtivo, bem como o exame de tendências tecnológicas que o setor apresenta atualmente e sob perspectivas. Por meio de uma análise evolutiva conceitual acerca da inovação e seus reflexos, sob a perspectiva de desenvolvimento econômico, mapeamento das tecnologias desenvolvidas pela maior empresa nacional de pesquisa agropecuária, Embrapa, e análise dos resultados obtidos do questionário prospectivo de cenários aplicado à especialistas do setor, vislumbra-se as tendências tecnológicas sustentáveis que serão prioritárias de desenvolvimento e implementação em um futuro próximo

A perda e desperdício de alimentos é uma problemática que afeta o desenvolvimento sustentável, ocorrendo em toda a cadeia alimentar. O desperdício de alimentos vem a acontecer na fase final da cadeia onde o consumidor é protagonista neste processo, sendo muitas as variáveis que levam ao desperdício nos domicílios. A presente pesquisa teve como objetivo analisar quais as variáveis que mais induzem os consumidores do Distrito Federal (DF) a desperdiçarem alimentos. Trata-se de uma pesquisa aplicada, de caráter exploratório e descritiva, de abordagem quantitativa com a utilização de questionário como instrumento de pesquisa, aplicado através de plataforma online. Utilizou-se de análises estatísticas, como teste Qui-quadrado, Coeficiente de Pearson, Mean Item Score, para análise dos dados. Dentre os principais resultados, os consumidores alegam que preferem comida saudável, fresca e sem desperdício de alimentos. A maior parte dos respondentes são mulheres. Os consumidores fazem lista de compras e tem o costume de aproveitar as sobras, mas muitos ainda alegam deixarem sobras de alimentos na geladeira por muito tempo, o que leva ao desperdício. Em relação ao descarte, o lixo orgânico é o caminho mais comum, o que demonstra um comportamento contrário, ao seguido pelos europeus, por exemplo, que contam com uma hierarquia de gestão dos resíduos. Os consumidores apresentaram comportamentos sendo possíveis dividi-los em dois clusters. Pode-se concluir que a problemática é complexa, e ainda são necessários estudos mais aprofundados, pois mitigar o desperdício nos domicílios é difícil e complicado. Entretanto, os consumidores do DF tendem a ter a intenção de não desperdiçar alimentos, sendo este um comportamento importante para evitar o desperdício. 

As formas complexas de organizações que foram surgindo no agronegócio sustentam o foco de análise nas empresas ou organizações e nas suas relações sociais e comerciais, baseadas em produtos específicos. Evidencia-se, nesta pesquisa, a inclusão dos atores e suas interações, demonstrado na utilização do conceito de redes, baseadas em confiança. O objetivo da pesquisa foi identificar a influência da confiança nas relações entre os cooperados da COOPERORG/DF, bem como entre os cooperados e a gestão da cooperativa, com o intuito de contribuir para o fortalecimento da cooperativa e impulsionar sua expansão no mercado. A pesquisa é caracterizada como exploratória, aplicada, qualitativa e nos moldes de estudo de caso. Ao caracterizar o perfil demográfico e socioeconômico dos cooperados, observou-se características importantes como a influência do gênero feminino na produção e seu destaque no processamento e beneficiamento de produtos orgânicos no DF; a compreensão sobre as relações de confiança destacada entre os cooperados e a dimensão menorizada para com a gestão da cooperativa. Os cooperados desconhecem as normas e regulamentos da cooperativa, mesmo a maioria possuindo graduação. Não foram observadas lideranças na cooperativa. O conselho administrativo não consegue influenciar os atores. A lacunas na gestão da cooperativa apresentadas nesta pesquisa demonstram a importância das redes intraorganizacionais para o desenvolvimento das organizações. O grande destaque são as relações informais entre os cooperados. Entretanto, essas relações não se sobressaem nas dinâmicas organizacionais. Embora a literatura destaque que grupos menores, homogêneos e com normas internas possuem maior confiança e reciprocidade, obtendo maior capital social na organização, esta pesquisa relatou um panorama inverso, de desvalorização do capital social. As principais contribuições deste estudo estão relacionadas à apresentação da evolução das pesquisas sobre o tema, a indicação da confiança para a análise da rede intraorganizacional e o sucesso de ações coletivas, bem como a identificação de fatores que convergem para o papel da confiança na construção e desenvolvimento do capital social.  

O Programa Vendas em Balcão (ProVB) tem por finalidade o acesso por parte dos pequenos produtores aos estoques públicos de milho do Governo Federal a preços subsidiados. O referido programa tem um custo operacional representativo,  e reduzir esse custo através da otimização do fluxo de distribuição do milho a partir de uma região produtora utilizando armazéns intermediários é a proposta do presente estudo. Pouco estudo foi encontrado sobre o fluxo de grãos dentro do território nacional para atendimento do mercado interno. Nesse sentido, esse trabalho propõe um modelo de programação matemática linear para a apoio à decisão sobre o melhor fluxo de milho para atendimento ao ProVB. Foram feitas extrações de dados junto à órgãos governamentais, tabulados, aplicados ao modelo matemático e analisados os resultados. Como resultado final, vários cenários foram analisados e apresentados.