O presente estudo aborda os impactos vivenciados pelos profissionais de saúde durante a pandemia da Covid-19 e como esses impactos influenciaram nos níveis de saúde mental desses profissionais, que tanto cuidaram daqueles que necessitavam de auxílio e assistência à saúde. Assim, destaca os efeitos ocasionados não somente na saúde pública, mas também na qualidade vida desses profissionais. Ademais, a pandemia elevou o risco de adoecimento da equipe de saúde e do desenvolvimento de transtornos mentais. Mesmo nesse cenário catastrófico que foi a pandemia, esses profissionais foram incansáveis no atendimento dos pacientes infectados. Tem-se como objetivo de pesquisa analisar os níveis de ansiedade, estresse e depressão e a sua relação com a qualidade de vida em profissionais de saúde da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SESDF). Os objetivos específicos incluíram a análise do perfil sociodemográfico dos profissionais e a correlação dos níveis de depressão, ansiedade e estresse com aspectos da qualidade de vida. Trata-se de um estudo de abordagem descritiva, longitudinal, quanti-qualitativa (Barroga et al., 2023). A pesquisa foi composta por 239 participantes que fazem parte do corpo de saúde da SESDF que prestaram atendimento a pacientes com diagnóstico de Covid-19, durante a pandemia. A coleta de dados foi conduzida de acordo com as diretrizes éticas e realizada por meio de um questionário eletrônico. Os profissionais de saúde responderam a um questionário que abordava o perfil sociodemográfico, construído pela própria pesquisadora, além de Escala de depressão, ansiedade e estresse (DASS-21) e o Instrumento de avaliação da qualidade de vida (WHOQOL-BREF). A análise estatística dos dados foi empregada a fim de obter os resultados dos objetivos da pesquisa e explorar as correlações entre os níveis de depressão, ansiedade e estresse e aspectos da qualidade de vida. Vale salientar que, os riscos associados à participação da pesquisa foram mínimos, enquanto os benefícios são de importante contribuição para a sociedade, proporcionando uma compreensão dos impactos da pandemia para a saúde mental dos profissionais. O presente estudo identificou que condições ambientais influenciam na qualidade de vida e contribuem para o aumento significativo de estresse. Esses resultados evidenciam a necessidade de melhorar os ambientes de trabalho para promover melhores condições a fim de minimizar os impactos na saúde mental dos profissionais envolvidos no combate a pandemia. Foi verificada a adesão positiva a vacinação, refletindo a percepção da necessidade de prevenção contra a doença respiratória e que mesmo com a imunidade proporcionada pela vacinação e pela imunização de rebanho, os impactos na saúde mental dos profissionais perduraram após fim da pandemia da Covid-19, ressaltando a necessidade de políticas públicas direcionadas às categorias de profissionais, a fim de promover um ambiente de trabalho saudável para as relações sociais. Dessa forma, futuras pesquisas poderão explorar com mais profundidade o impacto da pandemia na saúde mental por categoria profissional e propor estratégias específicas para a melhoria do bem-estar físico, emocional e mental desses profissionais.

A punição altruísta também denominada de punição por terceiros é um mecanismo de controle para diminuição de comportamentos que envolvem riscos sociais. É definida como um comportamento individual que visa diminuir a frequência de comportamentos desertores, com custo de resposta para aquele que apresenta o estímulo punidor. Contingências comportamentais entrelaçadas (CCEs) na emissão por consenso da punição altruísta (PA), em metacontingências, promovem o comportamento de cooperação entre os membros do grupo – neste caso, ao aplicarem o procedimento de punição, ou não, em uma simulação na qual atuam como terceiros, avaliando o comportamento de dois personagens. O objetivo deste estudo foi investigar: (i) o controle de consequências culturais em metacontingências com pares de crianças, sem a programação de reforçamento individual; (ii) a produção de culturantes em episódios sociais de equidade e inequidade; (iii) culturantes recorrentes (CCEs→PAs) emitidos por indivíduos de diferentes nacionalidades, com a função de punição altruísta e (iv) a ocorrência de molduras de coordenação em escolhas emitidas por crianças, em contextos com o conceito de justiça e condições de distribuições iguais e desiguais entre personagens. Oitenta e quatro crianças brasileiras e norueguesas participaram de dois experimentos com delineamento experimental de reversão, com esquema de reforçamento composto, ABAC/ACAB e BCBC/CBCB, utilizando o Jogo da Punição Altruísta. Duplas de personagens foram apresentadas às crianças participantes do estudo, em cenários com distribuições iguais ou desiguais de moedas entre os personagens. Em cada uma das 64 tentativas, cada participante da dupla deveria classificar a distribuição observada como justa ou injusta, e escolher se puniria o comportamento do distribuidor ou não. Se punisse, deveria doar uma moeda individual, caracterizando o custo da resposta da punição por terceiros. Essas escolhas compuseram culturantes específicos e recorrentes (CCEs→PAs ) (e.g., consenso por não punir/punir distribuições desiguais/iguais entre os personagens), definindo os culturantes de punição altruísta para distribuições em metacontingências, e que resultariam em consequência cultural (CC) em forma de moedas de grupo, para a dupla de participantes (metacontingências: [CCEs→PAs]→ CCs). As condições A, B e C foram: (A), CCs contingentes à emissão de qualquer culturante de consenso; (B) CCs contingentes ao consenso para punir distribuição iguais ou não punir distribuições desiguais; e (C), o inverso de (B), CCs para o consenso de punir distribuições desiguais e não punir distribuições iguais. Resultados de experimentos anteriores foram replicados, com controle das metacontingências programadas (B) e (C), sem reforço individual programado, nos Experimentos 1 e 2. Em geral, houve replicação dos dados entre Brasil e Noruega. Observou-se maior emissão de culturantes C, seguidos de culturantes B, mesmo em condição sem reforço diferencial (Condição A). No Experimento 2 foi observado maior número de respostas insensíveis às contingências programadas. Na variação do responder das duplas de ambas as nacionalidades, observou-se a (a) emissão indiscriminada de culturantes C, (b) emissão exclusiva de punição e (c) emissão exclusiva de não punição. Os dados obtidos mostraram baixas frequências de desacordos para as duplas norueguesas e brasileiras no Experimento 1 e 2. Observou-se um padrão de emissão de molduras de coordenação entre (in)justiça e (in)equidade similar nos dois experimentos. Foi identificado que, pelo menos 60% das duplas emitiram a moldura de coordenação em alta frequência no transcorrer das quatro condições, com menores frequências nas Condições B, do Grupo 2, Noruega. Esses resultados apontam para alta viscosidade social (aderência de um grupo a normas semelhantes). A viscosidade social, assim como a punição altruísta, tem importância para manter a cooperação em larga escala. O conceito de metacontingência é útil para compreender práticas culturais, incluindo a cooperação e a punição altruísta. Assim como outros procedimentos de punição, a punição altruísta tem utilidade prática em um sistema comportamental. Destaca-se o valor de interfaces da Análise do Comportamento, com a perspectiva culturo-comportamental, em diálogos com outras áreas do conhecimento, em campos tais como a economia, educação e saúde, favorecendo inovações em pesquisas e intervenções. Diferentes tipos de pesquisa básica, aplicada e translacional, nesta abordagem evolucionista com o modelo de seleção por consequências, contribuem para a solução para problemas sociais de alto impacto socioeconômico, e visando a preservação de sistemas ecológicos responsáveis pela sobrevivência de diferentes espécies.

As comunidades que sustentam a agricultura (CSAs) têm um papel importante na redução das emissões de carbono no planeta, na promoção da biodiversidade e na reconexão das pessoas com a produção dos alimentos que consomem. A recuperação de áreas degradadas e a produção orgânica ou agroecológica são parte dos princípios fundamentais de funcionamento das CSAs em todo planeta. O modelo, baseado nos princípios da agricultura agroecológica, economia comunitária e preservação do meio ambiente, se constitui como uma alternativa inovadora aos métodos convencionais de produção agrícola. As CSAs são compostas por pequenos agricultores familiares e coagricultores (consumidores) que assumem um compromisso mútuo em torno de princípios preconizados pelas comunidades ao longo de décadas e em vários países. O objetivo geral da tese foi analisar como as práticas culturais relacionadas à preservação do meio ambiente e ao fortalecimento da agricultura familiar são transmitidas e mantidas nas Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSAs), e como contribuem para a solução de problemas sociais, como a melhoria da saúde de produtores e consumidores, equilíbrio ambiental e renda na agricultura familiar. O Estudo 1 consistiu em uma revisão sistemática da literatura sobre pesquisas comportamentais relacionadas às CSAs, e um estudo etnográfico para investigar as interações complexas entre as pessoas, o ambiente e seus processos comportamentais. A revisão sistemática identificou estudos nas ciências sociais aplicadas, humanas, agrárias, ambientais e da saúde, relacionados a práticas de solidariedade, consciência e consumo colaborativo. A pesquisa etnográfica, realizada em cinco CSAs do Distrito Federal, utilizou observação participante e entrevistas para coletar dados sobre os sistemas comportamentais nessas comunidades. A análise lexical dos dados coletados, feita com auxílio do software IraMuTeQ, e a análise funcional identificaram padrões de comportamento e valores compartilhados, como a importância da interação, do ambiente, do manejo sustentável, da participação, da preservação e da saúde. O Estudo 2 analisou como práticas culturais, valores e princípios influenciam comportamentos e estabelecem metacontingências que contribuem para a sustentabilidade do sistema. A CSAES Bindu foi estudada como um sistema socioecológico, utilizando o Social-Ecological System Framework (SES) de Elinor Ostrom. A pesquisa identificou contingências comportamentais entrelaçadas (CCEs) em torno de objetivos comuns e individuais, demonstrando que as CSAs oferecem um contexto social que promove valores e práticas relacionadas à alimentação, saúde, meio ambiente e justiça social. As análises funcionais dos relatos verbais revelaram operantes verbais e operações motivadoras que influenciam o engajamento nas CSAs. O Estudo 3 investigou as contingências para a ocorrência de comportamentos pró-sociais, pró-ambientais e pró-saúde que podem contribuir para o engajamento em CSAs no Brasil. Um questionário online, respondido por consumidores de alimentos naturais não industrializados convencionais, consumidores de alimentos orgânicos e/ou agroecológicos e membros ativos de CSAs, avaliou a importância, a concordância e a probabilidade de adesão a práticas e valores relacionados às CSAs. Os resultados indicaram que os consumidores de orgânicos e agroecológicos apresentaram maior probabilidade de adesão a uma CSA, e que os membros ativos das CSAs demonstraram um forte compromisso com os princípios e valores das comunidades. Em síntese, a pesquisa demonstra que as CSAs se configuram como um modelo de sistema alimentar que promove a preservação de recursos comuns, a solução de problemas sociais na agricultura familiar e a adoção de práticas alimentares mais sustentáveis. As práticas culturais, os valores e os princípios que regem essas comunidades contribuem para a criação de ambientes que reforçam comportamentos para preservação ambiental, apoio à agricultura familiar e consumo consciente de alimentos. Os resultados da tese podem contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas que promovam comportamentos sustentáveis relacionados à alimentação e para o desenvolvimento de intervenções comportamentais voltadas para a construção de comunidades resilientes e ecologicamente conscientes. A análise culturo-comportamental das CSAs oferece insights valiosos para a compreensão e promoção de sistemas alimentares alternativos que priorizam a saúde, a justiça social e a sustentabilidade ambiental.

Mitos sobre estupro colaboram para a culpabilização de vítimas, para a não responsabilização de agressores e para um baixo número de denuncias. O paradigma de equivalência de estímulos tem se mostrado uma possibilidade para estudos envolvendo transformação de função com estímulos socialmente relevantes. O objetivo do presente trabalho foi replicar o estudo de Freitas (2019) sobre reorganização de classes de equivalência do comportamento de culpabilizar vítimas de estupro, diminuindo o procedimento a partir da retirada de uma medida de pré e pós teste utilizada para aferir atitudes implicitas (IRAP). Participaram do estudo 50 homens universitários. Metade da coleta foi realizada por experimentador homem e metade por experimentadora mulher. Na primeira sessão os participantes responderam a dois formulários de pré teste contendo uma escala de mitos sobre violência sexual (AMMSA) e vinhetas com descrições de histórias de estupro e sexo consensual. 13 participantes culpabilizaram pelo menos uma vítima nas vinhetas de estupro e foram selecionados para realizar o procedimento de formação de duas classes de equivalência com três estímulos em cada. A Classe 1 era formada pelas palavras responsável e duas pseudopalavras. A Classe 2 pela palavra vítima, uma pseudo palavra e o nome da mulher culpabilizada em uma das vinhetas. Na primeira sessão foram realizados os treinos de linha de base e teste de simetria. Na segunda sessão foram realizados testes de equivalência. No teste AC3 o nome do homem presente em uma das vinhetas, substituia uma das pseudopalavras da Classe 1 como estímulos de comparação. Por fim, os participantes respondiam aos mesmos formulários do primeiro dia. 20% e 32% dos participantes que passaram pelas sessões respectivamente com uma experimentadora mulher e um experimentador homem culpabilizaram a vítima em alguma vinheta. Isso demonstra que o balanceamento de gênero dos experimentadores foi importante para controlar o viés de desejabilidade social. Não foram observadas diferenças significativas entre os resultados do questionário AMMSA a depender do gênero do experimentador. No procedimento de formação de classes, sete dos dez participantes formaram classe de equivalência. No teste AC3, a relação entre a palavra responsável e o nome do homem emergiu para seis de dez participantes, indicando que houve transferência de função. De nove participantes que responderam ao pós-teste, sete deixaram de culpabilizar a vítima cujo nome estava presente no teste de relações de simetria e equivalência, porém quatro deles passaram a culpabilizar a vítima em vinhetas nas quais não haviam culpabilizado antes. Isso indica que o comportamento não se generalizou para além dos nomes que foram treinados e aponta para uma limitação do presente estudo. Os resultados replicam os dados de Freitas (2019), com exceção dos resultados de pré e pós teste do AMMSA, em que não foi encontrada diferença estatisticamente significativa. Hipotetiza-se que essa diferença entre os estudos pode ter relação com a retirada do IRAP.

Este estudo explorou a eficácia do método LuDiCa, uma abordagem à leitura dialógica baseada em funções narrativas, para aprimorar a compreensão da violência de gênero entre adolescentes autistas do sexo feminino. A pesquisa utilizou um desenho de sujeito único em três grupos escalonados, por meio da leitura do romance gráfico "Desconstruindo Una" de Una para promover discussões sobre violência de gênero. O método LuDiCa (Leitura Dialógica para a Compreensão Profunda) incorpora convites dialógicos estratégicos com base em funções narrativas identificadas dentro da história, com o objetivo de aprofundar a compreensão dos participantes sobre questões relacionadas a gênero. Os principais objetivos foram avaliar se esse método poderia ajudar os participantes a entender melhor as contingências que sustentam a violência de gênero e reduzir a aceitação de "soluções restritivas" - respostas que infringem os direitos individuais. Em vez disso, o estudo visava promover "soluções positivas" que enfatizam a ação coletiva e a mudança estrutural. As avaliações iniciais envolveram discussões em torno de tirinhas curtas retratando várias formas de violência de gênero para avaliar a compreensão inicial e o reconhecimento de funções narrativas. Os resultados indicaram que, embora os participantes pudessem identificar com precisão a violência de gênero desde o início, melhorias significativas foram observadas na compreensão das contingências subjacentes a essa violência durante a intervenção. O método LuDiCa facilitou um diálogo e análise mais ricos, deslocando o foco de medidas individuais para soluções sociais mais amplas.

A capacidade de utilizar a cognição para avaliar e modificar a própria cognição, ou pensar sobre o pensar, é uma capacidade fundamental para que os seres humanos possam compreender melhor seus próprios atributos mentais, possibilidades e limites. Assim sendo, a presente pesquisa visou avaliar o efeito da estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) e da força de associação semântica no monitoramento metamnemônico. A ETCC consiste na estimulação elétrica do córtex cerebral, aumentando ou diminuindo a excitabilidade, capaz de gerar modulação em processos cognitivos, sobretudo na memória. Para verificar a influência da ETCC na metamemória, foi escolhida a região do córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) para ser estimulada, dado que esta região está relacionada com a capacidade de monitoramento metamnemônico. Além da ETCC, buscou-se verificar se há influência da força de associação semântica (fraca ou forte) na metamemória. Assim sendo, participaram da presente pesquisa 40 participantes, adultos entre 18 a 35 anos e saudáveis, os quais foram submetidos à ETCC, anodal ou sham, enquanto realizam uma tarefa de metamemória de cerca de 20 minutos com duas condições intrasujeito (associação semântica fraca e associação semântica forte). Os resultados demonstram que não houve efeito da ETCC na metamemória, assim como não houve efeito de interação entre ETCC e força de associação semântica. Entretanto, foi demonstrado efeito na força de associação semântica na condição de associação semântica fraca, demonstrando que nessa condição os participantes apresentarem melhor acurácia metamnemônica. Posteriormente, foi analisado os efeitos da ETCC e da força de associação semântica na performance de recordação com pista dos JOLs, que demonstrou efeito da ETCC na recordação com pista no grupo anodal, assim como o efeito da força de associação semântica na condição de associação semântica forte. Os resultados sobre a ineficácia da ETCC no monitoramento metamnemônico corroboram estudos anteriores, assim como o efeito demonstrado da ETCC e da força de associação semântica na performance de recordação com pista. Por fim, são sugeridas novas pesquisas para verificar a influência da ETCC e da força de associação semântica na metamemória.

Resumo: A detecção de mentiras é uma área de estudo de grande relevância, dada a importância da confiança e da integridade nas interações humanas. Este estudo busca analisar a capacidade de profissionais de inteligência na detecção de mentiras, diante de vídeos-estímulo, comparando-a com a de estudantes universitários sem treinamento específico. A pesquisa avaliou a capacidade dos participantes de analisar a veracidade das respostas, com destaque para a medição da confiança em seus julgamentos. Os resultados indicaram uma taxa média de acertos próxima de 50%, reiterando a complexidade e o desafio inerentes à detecção de mentiras, sem diferenças significativas de desempenho entre homens e mulheres. O estudo concluiu não apenas que os comportamentos verbais e não verbais são cruciais para a detecção de mentiras, como também que a precisão dos profissionais da inteligência é comparável à encontrada na população geral, sem treinamento, sugerindo a universalidade e as limitações das técnicas de detecção de mentiras humanas.

Resumo: Embora a ansiedade seja adaptativa, pode adquirir caráter de queixa clínica a depender da intensidade e duração dos sintomas. O Brasil apresenta o maior número de pessoas com transtornos de ansiedade do mundo. Autores analistas do comportamento propõem o estudo da ansiedade a partir do paradigma da equivalência de estímulos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a formação e manutenção de classes de equivalência e de transferência de função entre estímulos em população com e sem sintomas de ansiedade a partir de uma replicação sistemática de Zapparoli (2021). Todos os participantes responderam à Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21). Depois disso, 48 pessoas que relataram sintomas de ansiedade foram alocadas nos grupos Experimental 1 (GE1) (n 25) e Controle 1 (GC1) (n 23) e 34 pessoas que não relataram sintomas de ansiedade, alocadas no Experimental 2 (GE2) (n 17) e Controle 2 (GC2) (n 17). Os GE1 e 2 passaram por um procedimento para formação de três classes de equivalência com quatro membros cada. Os estímulos A eram fotografias de faces de medo (Classe 1), felicidade (Classe 2) e neutralidade (Classe 3), e os outros conjuntos de estímulos eram figuras abstratas (B, C e D). Depois, avaliaram os estímulos D no diferencial semântico e responderam a um IRAP contendo estímulos D das classes de medo e felicidade e adjetivos do diferencial semântico. O grupo controle avaliou estímulos A e D no diferencial semântico. Ao fim do procedimento todos receberam um material psicoeducativo sobre os transtornos de ansiedade. 56% dos participantes do GE1 e 88,24% dos participantes do GE2 formaram classes de equivalência. Resultados do diferencial semântico mostraram que houve melhor transferência de função para a classe de felicidade para os GE 1 e 2, e a transferência de função da classe de medo foi melhor para o GE2 do que para o GE1. Dados do IRAP mostraram um efeito significativo no responder relacional para os dois tipos de tentativas relacionadas aos estímulos abstratos da classe de felicidade para GE1 e para os dois tipos de tentativa com os adjetivos positivos para o GE2. A classe de felicidade manteve-se mais estável do que as outras classes para o GE1. A manutenção da transferência de função da classe de felicidade foi melhor do que das outras classes para ambos os grupos. Para a classe de medo, a manutenção da transferência de função parece ter sido melhor do que para o GE2 do que para o GE1. Este trabalho indicou que pessoas com ansiedade apresentaram maior dificuldade para formação de classes de equivalência e que a classe de felicidade apresentaram melhor transferência de função. A estabilidade dessa classe também parece ser melhor para o GE1 em comparação às outras classes. Este trabalho replicou e estendeu a literatura sobre transferência de função para população com sintomas de ansiedade.

A Análise do Comportamento tem se voltado ao estudo de atitudes preconceituosas, como a homofobia, a partir do referencial da Equivalência de Estímulos. Portanto, esta pesquisa teve como objetivos: (1) verificar a formação de classes de equivalência entre fotos de casais homossexuais idosos e atributos positivos em estudantes universitários que apresentem viés homofóbico ou homonegativo; e (2) avaliar a transferência de funções entre estímulos. Os 50 estudantes que apresentaram viés homonegativo foram divididos em dois Grupos Experimentais e dois Grupos Controle. O Grupo Experimental 1 (GE1) realizava tarefa de MTS e respondia ao IRAP; o Grupo Experimental 2 também fazia tarefa de MTS e depois respondia ao FAST. O Grupo Controle 1 respondia apenas ao IRAP e o Grupo Controle 2 apenas ao FAST. Resultados mostraram que 23 estudantes (GE 1 e GE 2) que realizaram MTS formaram classes de equivalência. Os participantes do Grupo Experimental 1, que realizaram IRAP, apresentaram um viés pró casais homossexuais idosos respondendo mais rapidamente aos blocos inconsistentes. Quanto ao FAST, os participantes do Grupo Experimental 2, apresentaram maior curva de aprendizagem, e fluência, principalmente nos blocos inconsistentes. Dados sugerem que houve transferência de função.

A internet transformou as campanhas eleitorais com mensagens direcionadas, análise de dados e segmentação de público. As mídias sociais amplificam o impacto do comportamento verbal, criando comunidades verbais online e novas formas de contracontrole sobre instituições de poder em forma de práticas culturais, que podem ser estudadas pela Análise do Comportamento. O presente estudo investiga a eleição presidencial de 2022 no Brasil no Twitter, mídia social X, avançando a partir do trabalho pioneiro de Fonseca (2012), que analisou a eleição de 2010 sob a ótica da contingência tríplice e metacontingências na mesma plataforma. Foram realizadas investigações de categorias temáticas abordadas pelos candidatos em suas postagens, assim como operantes verbais, molduras
relacionais, macrocontingências e metacontingências, nas interações verbais dos candidatos Bolsonaro, Ciro Gomes e Lula com suas audiências no transcorrer de 103 dias de campanha, 20 de julho a 30 de outubro de 2022. Foram coletadas 4.821 postagens – C. Lula (n = 2.435); C. Ciro Gomes (n = 1.489); C. Bolsonaro (n = 897). A postagem mais comentada de cada dia foi selecionada para análise temática (n = 309 mensagens), e a de destaque a cada 10 dias, junto a três respostas, para a análise funcional (n = 120 mensagens). O estudo revelou que, embora o C. Lula tenha postado com mais alta frequência, o C. Bolsonaro obteve maior engajamento por postagem, e o C. Ciro teve a postagem com o maior número de respostas. Ações de Campanha geraram mais engajamento que Propostas deGoverno para os três candidatos, mostrando que a audiência reforça a visibilidade imediata, quando comparado a debates sobre propostas de governo. O C. Bolsonaro usou mais de mídias [o quer vc quer dizer com isso? Diferentes mídias ou mais recursos da mídia Twitter?] como recurso e de ironias em suas postagens mais respondidas, enquanto o C. Ciro apresentou maior frequência de mandos e mandos disfarçados. A audiência do C. Bolsonaro mostrou mais alta frequência do uso de ironia e de reforço social positivo, enquanto a audiência do C. Ciro usou em maior frequência o procedimento de punição. A audiência do C. Lula apresentou maior uso da moldura de distinção e de mandos. O estudo destacou o impacto da polarização nas interações enquanto prática cultural, não tendo sido registrado na mídia social X debates sobre propostas governamentais de candidatos em campanha eleitoral presidencial. Os dados obtidos sugerem novas abordagens que podem destacar o Brasil na forma como se utiliza mídias sociais em processos eleitorais, considerando estratégias que podem motivar e evocar interações verbais que contribuam para o voto informado, enfraquecendo tendências nacionais e internacionais de polarização em campanhas políticas. Tudo isso tem impacto sobre a sociedade, garantindo que os novos governantes mostrem seu comprometimento com temas urgentes como as mudanças climáticas e eventos extremos em alta probabilidade de ocorrência, a saúde pública e campanhas de vacinação, a diminuição de inequidade social, em uma sociedade com extrema desigualdade social, valorizando a carreira de professores no país.

Este estudo examina a aplicação do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) pelo Poder Judiciário brasileiro em casos de capacitismo no ambiente escolar, especificamente no Distrito Federal. O capacitismo, definido como práticas e crenças discriminatórias contra pessoas com deficiência, se manifesta em escolas por meio de atitudes como a recusa de matrículas, ausência de adaptações curriculares e falta de suporte adequado, o que compromete o direito à educação inclusiva. A pesquisa analisou uma amostra de 100 acórdãos do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, focando nas decisões judiciais que abordam demandas de alunos neurodivergentes por monitoria especializada, adaptações escolares e combate à discriminação. Foram aplicadas análises quantitativas e inferenciais para identificar as teses jurídicas mais utilizadas, como a “tese da reserva do possível” e a “tese da independência dos poderes”, além da relevância de provas documentais, como laudos médicos, para comprovação de necessidades dos alunos. Os resultados indicaram uma aplicação inconsistente da Lei nº 13.146/2015, com variações nas decisões e na frequência de punições, particularmente nas escolas particulares, que apresentam maior resistência às adaptações solicitadas. Constatou-se que a argumentação jurídica e a documentação apresentada influenciam substancialmente o desfecho dos processos. Este trabalho destaca a importância da uniformidade nas decisões judiciais e a necessidade de aprimoramento na aplicação de políticas inclusivas no ambiente educacional, de modo a garantir que a legislação de proteção aos direitos das pessoas com deficiência seja efetivamente implementada nas instituições de ensino.

Os efeitos da frequência e da magnitude dos reforços sobre a acurácia de discriminações condicionais originais e revertidas e resistência à mudança das relações condicionais e emergentes originais foram avaliados em dois experimentos, com estudantes universitários. Na Fase 1, foram ensinadas discriminações condicionais originais (Etapas 1 a 3) com um MTS simultâneo (SMTS) e estímulos abstratos, e posterior teste para a verificação de formação de classes de equivalência (Etapa 4). Na Fase 2, um treino de reversão (OD) de todas as discriminações originais, ensinadas na Fase 1, foi realizado (Etapas 5 a 7), seguido pelo teste para verificar a reorganização das classes de equivalência (Etapa 8). A contingência do treino de reversão estabeleceu extinção para as discriminações condicionais originais, operação disruptiva (OD) utilizada. A resistência à mudança das discriminações originais foi avaliada pela comparação das etapas 5 e 6, e a resistência à mudança das relações emergentes originais foiavaliada na Etapa 8.

O baixo nível de cuidado que tipicamente se observa com relação aos bens e uso de espaços públicos sugere que o valor subjetivo de um bem diminui com o aumento no número de pessoas que compartilham o seu uso. O presente estudo investigou se e como o compartilhamento com outras pessoas do uso ou posse de bens influencia o valor subjetivo desses bens. Para isso adotou-se um arcabouço análogo ao de desconto temporal, no qual o valor subjetivo de um bem seria função de um número crescente de pessoas com quem o bem seria compartilhado. No Estudo 1, 33 participantes responderam um questionário, no qual foram solicitados a indicar as vantagens e desvantagens associadas ao uso compartilhado de quatro bens (casa, piscina, quarto de hotel e carro), suas experiências anteriores de uso compartilhado desses bens e sua propensão de usar tais bens de forma compartilhada. Os resultados indicaram que a economia de custos foi apontada como a principal vantagem de compartilhar um bem com outras pessoas. No Estudo 2, 33 participantes foram solicitados a estimar o valor de quatro bens (casa de praia, piscina, quarto e lavadora) em situações nas quais deveriam compartilhar cada um dos bens com um número variado de pessoas. Buscou-se avaliar se o valor reforçador de um bem ou serviço apresenta um desconto sistemático com o aumento no número de pessoas (de uma a sete pessoas) com quem o bem deve ser compartilhado. Os resultados indicaram que o valor subjetivo de um bem reduz sistematicamente com o aumento no número de pessoas com quem o bem deve ser compartilhado e que tal redução é mais acuradamente descrita por uma função exponencial (taxas constantes de decréscimo) do que uma função hiperbólica. O parâmetro obtido pela função exponencial poderia ser adotado para estimar o decréscimo do valor subjetivo em função do nível de compartilhamento e avaliar efeitos de possíveis intervenções.

Revisar sistematicamente ensaios clínicos randomizados sobre a eficácia do treinamento cognitivo nas funções executivas em idosos saudáveis. Métodos e medidas: Este estudo foi registrado no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO) com o código de identificação CRD42021237057 e conduzido de acordo com as recomendações descritas pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalyses (PRISMA). As medidas de desfecho foram relacionadas ao controle inibitório, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. Resultados: Trinta e um ensaios foram incluídos na síntese qualitativa (i.e., revisão sistemática) e treze ensaios na síntese quantitativa (i.e., metanálise). Na análise geral, o treinamento cognitivo melhorou o controle inibitório quando medido pela tarefa Stroop (p < .001) e a memória de trabalho quando medida pela tarefa Corsi Block (p = .002). Foi encontrada uma significância marginal para a memória de trabalho na tarefa Digit Span – Forward (p = .06). No entanto, o treinamento cognitivo não aumentou o controle inibitório quando medido pela tarefa Go/No-Go (p = .76), a memória de trabalho quando medida pelo Digit Span – Backward (p = .72) e N-Back (p =. 10) e flexibilidade cognitiva quando medida pelas tarefas Trail Making – Parte B (p = .08) e Fluência Semântica (p = .49). Conclusão: Nosso estudo mostrou que as intervenções de treinamento cognitivo podem ser eficazes para melhorar ou manter a função executiva em idosos saudáveis. Evidências mistas foram encontradas para controle inibitório e memória de trabalho; flexibilidade cognitiva não mostrou nenhuma evidência de melhora.

A partir de uma perspectiva behaviorista, os vieses podem ser entendidos como padrões de
comportamento sob controle de determinadas generalizações de controle de estímulos. Entre
os tipos de manifestações de vieses conhecidos, é possível inserirmos a xenofobia,
caracterizável pela emissão de comportamentos violentos, preconceituosos ou discriminatórios
contra pessoas consideradas estrangeiras ou estranhas ao meio em que se encontram inseridas.
Atualmente, cerca de 103 milhões de pessoas vivem forçosamente deslocadas de sua origem,
de acordo com os números mais recentes do Alto Comissariado da Organização das Nações
Unidas para Refugiados (ACNUR), inseridas em diferentes regiões onde são consideradas
estranhas ao meio. Deste contingente, 32,5 milhões estão reconhecidamente sob a condição de
refugiado, no que a Organização das Nações Unidas considera a maior crise humanitária do
século. Contando aproximadamente 5,6 milhões de pessoas, os cidadãos venezuelanos formam
hoje o segundo maior grupo de refugiados sob assistência da ACNUR no mundo. Em um
movimento desorganizado e marcado pelo desamparo institucional, essas pessoas têm buscado
distribuir-se e estabelecer-se pelos países vizinhos, o que por vezes implica em reações
adversas das populações locais. Com frequência se percebe a rejeição dessas pessoas por
nacionais, e comportamentos xenofóbicos na interação com elas ou simples alusão às mesmas.
A investigação desse fenômeno se torna cada dia mais importante, para que se desenvolva um
diagnóstico conciso do cenário e se possam propor intervenções voltadas a evitar a emergência
de tal aversão e o agravamento dos comportamentos xenofóbicos. O presente estudo explora
atitudes explícitas e implícitas relacionadas à xenofobia, de 102 indivíduos brasileiros,
classificados de acordo com a cidade em que residem. A medida de atitudes explícitas foi obtida
por auto relato, por meio da aplicação de um questionário versando sobre impressões e
comportamentos na menção ou interação com imigrantes. A medida de atitudes implícitas foi
extraída pela exposição dos indivíduos a uma tarefa de Functional Acquisition Speed Test
(FAST), ferramenta computadorizada desenvolvida para medir as curvas de aprendizagem de
novas relações entre estímulos, pela observação da taxa diferencial de resposta dos indivíduos
ante a apresentação desses estímulos. Além das curvas de aprendizagem obtidas, o estudo
examina outras medidas adicionais e se é possível a correlação dessas medidas com o resultado
do questionário, comparando os estratos de participantes.

A violência sexual sofrida por mulheres é um problema de saúde pública. Segundo a Organização das Nações Unidas(World Health Organization [WHO/OMS], 2013), estima-se que um terço das mulheres no mundo jáforam vítimas de violência, sendo observados extensos efeitos deletérios em várias esferas da vida da mulher vítima (emocional, cognitiva, sexual, interpessoal, biológica).Objetivos:Compararosefeitosdaviolênciasexualentremulheresvítimas(Grupo Sobreviventes) e não vítimas (Grupo Controle) através de escalas e questionários visando identificar o perfil das vítimas, histórico de agressão, estados emocionais (depressão e ansiedade), respostas somáticas, cognições e atitudes em relação à violência sexual, aspectos da vida sexual e rastreamento de disfunções sexuais. Também são objetivos a condução de um estudo quase-experimental para avaliar os efeitos da violência sexual sobre a memória episódica e um estudo correlacional entre as mediadasaferidas.MateriaiseProcedimentos:Paraessamensuraçãoforamutilizadosos paradigmas“Que-Onde-Quando” (QOQ) e“Que-Onde-Qual contexto”(QOCc), contextualizados em um Quase-Experimento conde se testou a hipótese de que as mulheres vítimas teriam pior performance nas tarefas de memória episódica (QOQ e QOCc), emrelação ao controle. Também foram adotados em uma fase de estudos exploratórios os instrumentos para rastreio da função sexual com o teste Female Sexual Function Index-FSFI, a existência de Transtorno de Estresse Pós Traumático (Posttraumatic Stress Disorder Checklist-PCL-C) a Escala de Aceitação do Mitos de Estupro (IRMA), Escala de Imobilidade Tônica (TIS), Lista de Qualidade de vida (LEC-5), os inventários de depressão de ansiedade de Beck e 4 questionários idealizados para identificar o perfil socioeconômico das
participantes, identificar mudanças no comportamento sexual das vítimas antes e depois da agressão e coletar dados sobre a agressão sexual. Os procedimentos incluíram seis blocos seriais de coleta de dados, onde foram distribuídos os instrumentos e protocolos descritos, sendo que os inventários de depressão e ansiedade assim com a escala FSFI foram aplicados em dois momentos distintos. Todo o procedimento foi conduzido em ambiente virtual através da Plataforma Google Forms, sendo o quase experimento programado no Psychopy e hospedado em site para coleta on-line.Resultados:No Quase-Experimento não foram identificadas diferenças significativas entre as médias globais de acertos entre grupos. Por outro lado, efeitos parciais foram identificadospelo teste não paramétrico de Mann-Whitney para uma das tarefas do QOQ, o fator “INTEGRAÇÃO” (U=7,000, p>0,001, com tamanho de feito grande (r=0,67)), e para “QOQc” (U=9,00, p<=0,05) e significância moderada para o fator “QUE” (U=14,500, P>=0,05). Não foram encontradas correlações significativas entre o FSFI e os paradigmas de memória, embora outras correlações fortes tenham sido identificadas.Conclusão:A violências sexualé acompanhada de moderadas a severas alterações emocionais, com forte indicativo de TEPT; foi observada a presenças de mitos sobre o estupro, disfunção sexual, respostas somáticas ao estresse, cognições negativas sobre o self. Os efeitos parciais sobre a memória episódica sugerem uma relação entre violência sexual e pior desempenho emtarefas com o paradigma QOQ e QOQc, entretanto novos estudos devem ser conduzidos com amostras maiores. Em relação às diferenças entre grupos, via de regra e em números absolutos, as mulheres vítimas tiveram pior desempenho em todas as avaliações.

O presente trabalho busca trazer, através da ótica da Psicologia Evolucionista, análises críticas e associações relativas à relação entre coerção sexual e apego adulto em relacionamentos íntimos. O primeiro capítulo do trabalho apresenta um capítulo publicado sobre orgasmo e vinculação de pares. O segundo capítulo tem o objetivo de levantar algumas questões metodológicas referentes à literatura da área, principalmente por conta de seus resultados divergentes. O terceiro capítulo tem como objetivo o teste da associação entre a coerção sexual, o apego adulto e a satisfação no relacionamento em uma população brasileira, trazendo dados de casais (díades) e indivíduos em um relacionamento. Por fim, busca-se trazer a importância desse estudo para o combate dessa forma de violência em relacionamentos.

Memória autobiográfica é a memória de uma pessoa sobre sua própria experiência de vida. Já as memórias autobiográficas específicas se referem a experiências e eventos em particular, que possuem localizações temporal e espacial definidas e que não duraram mais que um dia (e.g., “o show que fui com meus amigos na viagem de faculdade”). A dificuldade de lembrar memórias autobiográficas específicas, chamada de memória autobiográfica supergeneralizada ou reduzida especificidade de memória autobiográfica, é conhecida não apenas como uma característica do estado de humor deprimido, mas também como um marcador cognitivo estável de depressão e um marcador potencial de sensibilidade para depressão futura. A memória autobiográfica supergeneralizada está associada ao aumento da frequência de episódios depressivos e a tentativas de suicídio. Além disso, a supergeneralização da memória pode indicar a progressão da depressão, incluindo recaídas. Finalmente, descobriu-se que a memória autobiográfica supergeneralizada é um traço estável de depressão, mesmo em pacientes em remissão. Estudos prévios demonstraram que passar por um programa de Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT) pode aumentar a especificidade das memórias autobiográficas em participantes deprimidos. No entanto, poucos estudos investigaram os possíveis efeitos da MBCT sobre a especificidade da memória autobiográfica de participantes saudáveis. Os objetivos do presente estudo foram os seguintes: avaliar os efeitos da intervenção MBCT sobre a especificidade da memória autobiográfica de adultos saudáveis (sem histórico de depressão) e, posteriormente, avaliar os efeitos combinados da MBCT e de um procedimento de indução de humor sobre a especificidade da memória autobiográfica da mesma amostra. A amostra final foi composta por 71 adultos (56 mulheres) com idade entre 18 e 50 anos (M = 35, DP = 8). Este estudo foi dividido em duas fases. A fase 1 (N = 71) avaliou os efeitos de um programa MBCT sobre a especificidade da memória autobiográfica de adultos sem histórico de depressão por meio em um experimento fatorial misto 2 2 com participantes aleatoriamente designados para condição MBCT (n = 35) ou condição controle (n = 36). Conforme previsto, os indivíduos do grupo MBCT, mas não os do grupo controle, experimentaram aumento da especificidade da memória autobiográfica após o grupo MBCT de 8 semanas. Apesar das pontuações semelhantes de memória autobiográfica específicas no início do estudo, o grupo MBCT obteve memórias significativamente mais específicas pós-tratamento do que o grupo controle. Já na Fase 2, um estudo fatorial 2 2 2 foi conduzido para avaliar os efeitos do treinamento combinado de MBCT e um procedimento de indução de humor na especificidade da memória autobiográfica da mesma amostra. No entanto, apesar da manipulação do humor ter se mostrado bemsucedida, a memória autobiográfica foi maior para o grupo MBCT somente quando comparado ao grupo controle e nenhum outro efeito principal ou de interação alcançou significância estatística. Como previamente mencionado, a Fase 2 teve como principal limitação uma linha de base não similar entre os grupos, portanto a interpretação desta fase deve ser feita com cautela. Em conclusão, esses achados dão suporte aos resultados de estudos anteriores sugerindo que o treinamento de MBCT aumenta a especificidade das memórias autobiográficas recuperadas. Além disso, o presente estudo estende os resultados dos estudos anteriores a uma amostra sem histórico de depressão, apoiando a ideia de que a especificidade das memórias autobiográficas pode ser treinada com a MBCT. Embora intrigantes, devido às limitações metodológicas, para compreender os resultados da segunda fase serão necessárias novas pesquisas que investiguem a possível relação entre MBCT e procedimentos de indução de humor sobre a especificidade da memória autobiográfica. Futuros estudos nesta área aparentam ser promissores, uma vez que os marcadores cognitivos da depressão podem revelar como os indivíduos assintomáticos, porém vulneráveis à depressão, processam conteúdos emocionais de maneira diferente de indivíduos não deprimidos.

A Coordenação da pandemia de Covid-19, apresentou desafios de grandes proporções para líderes políticos. A larga utilização de mídias sociais foi uma característica que merece investigações de seus impactos na gestão de uma crise sanitária. E, a comunicação de risco é uma área que pode receber contribuições da Análise do Comportamento. O objetivo desta pesquisa foi analisar as relações entre dados epidemiológicos, decretos e a utilização de mídia social pelo governador do Distrito Federal. Contingências e metacontingências foram interpretadas a partir de dados secundários obtidos pelo número de óbitos, alguns decretos selecionados, dados econômicos, mobilidade urbana e publicações no perfil oficial do Facebook do governador do Distrito Federal, de 26 de fevereiro a 2020 a 26 de agosto 2021. Este período correspondeu, em geral, do início da pandemia em 2020 ao início da vacinação em 2021. Os resultados mostraram que as publicações no Facebook priorizaram informações relacionadas à doença no DF, com foco no comportamento de proteção não farmacológico do uso de máscaras. Entretanto, os decretos determinaram a abertura progressiva do comércio e serviços, independente do cenário epidemiológico. A Coordenação da pandemia de Covid-19 pelo governador foi consistente com o plano nacional do Ministério da Saúde. A comunicação de risco não envolveu contínuas práticas voltadas para o controle da pandemia, tais como apoio a grupos minoritários, informações periódicas sobre os cenários epidemiológicos e as medidas adotadas. A abordagem científica do comportamento humano tem o potencial de contribuir, em equipes interdisciplinares, em crises sanitárias de forma a considerar variáveis que impactam sobre o controle e previsão de intervenções, junto a diferentes grupos em espaços urbanos, foco deste estudo.

A adolescência e o início da vida adulta são marcos de vida importantes para o início de traços e comportamentos antissociais e a teoria da história de vida poderia explicar as razões para o surgimento desses comportamentos em pessoas que estiveram expostas a contextos severos e imprevisíveis. Nesse estudo, foi avaliado se adolescentes expostos a determinadas pistas de imprevisibilidade e severidade ambientais, como a morte de pessoas próximas e a mudança constante de residência, desenvolvem comportamentos antissociais em maior frequência e maiores níveis de psicopatia e agressão. Oitenta e dois adolescentes que residem no Brasil, de 15 a 19 anos, responderam a um conjunto de instrumentos que incluíam imprevisibilidade e severidade ambientais, agressão, psicopatia e delinquência. A delinquência foi prevista por ambas as condições ambientais no último ano. Um dos fatores identificados no questionário de agressão, denominado reatividade, foi previsto pela severidade ambiental no último ano. A psicopatia e o fator da agressão, denominado desacordo, não se relacionaram com nenhuma das variáveis ambientais. Os resultados são discutidos com base na teoria da história de vida e nas críticas feitas à abordagem psicométrica e suas limitações para a identificação de fatores ambientais do desenvolvimento. Os dados apresentam relevância para compreender possíveis relações entre as experiências mais recentes dos adolescentes e as estratégias adotadas para lidar com conflitos. São apresentadas perspectivas futuras para a construção de novas hipóteses na área.

Este estudo investigou o efeito do controle discriminativo temporal sobre a impulsividade e demanda. No Experimento 1, o controle temporal foi estabelecido por meio do procedimento de bissecção (Condição Sem Viés). Manipulações na probabilidade do reforço prejudicaram esse controle, produzindo viés para o modelo longo (Condição Viés Longo) e para o modelo curto (Condição Viés Curto). No Experimento 2, o esquema FI e tentativas de pico foram usados para estabelecer e avaliar o controle temporal (Condição FI). Para alterar esse controle, reforços independentes e irregularmente apresentados foram adicionados de acordo com um esquema misto (Condição FI VT). A impulsividade e a demanda foram avaliadas no início de cada experimento e após cada condição. O controle temporal estabelecido pelos procedimentos de bissecção e de pico não afetou a impulsividade (escolhas impulsivas), mas aumentou a demanda (breakpoint) . No Experimento 1, o viés para modelos longos diminuiu a impulsividade e a demanda, enquanto o viés para modelos curtos aumentou a impulsividade, mas não afetou a demanda sistematicamente. No Experimento 2, o esquema misto não alterou sistematicamente o controle temporal, e nem a impulsividade, mas houve diminuição na demanda. Não foi observada uma relação sistemática entre impulsividade e demanda. Diferenças procedimentais podem ter contribuído para as falhas de replicação observadas nesta pesquisas. Os resultados também foram analisados com base nas hipóteses da discriminação temporal e da aversão ao atraso.

Recuperar informações da memória (i.e., prática de lembrar) é uma estratégia de aprendizagem que, em média, melhora a retenção a longo prazo—um fenômeno conhecido como efeito de prática de lembrar. Contudo, a prática de lembrar não beneficia todos os aprendizes igualmente. O objetivo geral desta tese é investigar os efeitos diretos e indiretos da inteligência fluida (gF) sobre a magnitude do efeito de prática de lembrar. A tese está dividida em três manuscritos principais. O primeiro manuscrito consiste em uma revisão de literatura sobre as diferenças individuais no efeito de prática de lembrar. Embora estudos te-nham examinado traços de personalidade e habilidades cognitivas, vínculos consistentes entre diferenças individuais e o efeito da prática de lembrar permanecem incertos. A análise é complicada pelos procedi-mentos heterogêneos utilizados nesses estudos. Alguns resultados indicam que o impacto de uma variável de diferenças individuais na magnitude do efeito da prática de lembrar pode depender de outras diferenças individuais ou fatores contextuais. O segundo manuscrito apresenta os resultados de um experimento (N = 144) delineado para expandir os achados de Minear et al. (2018) e para apresentar um novo conjunto de análises. Observamos que o efeito da prática de lembrar e o desempenho durante a fase de prática depen-deram da gF e da dificuldade do item. Além disso, observamos correlações positivas entre gF e a quanti-dade de novos itens que os participantes se recordaram durante a fase de prática nos Ciclos 1–3. Adicio-nalmente, encontramos um efeito indireto da gF sobre o efeito da prática de lembrar, mediado pelo de-sempenho durante a fase de prática. O terceiro manuscrito explora o arcabouço teórico de memória dual (Rickard & Pan, 2018), que foi utilizado para derivar dois modelos simples: o modelo de limiar fixo e o modelo de limiar aleatório. Esses modelos foram testados com os dados coletados no experimento descrito no segundo manuscrito. O modelo de limiar aleatório produziu uma estimativa pontual mais próxima do valor empírico que obtivemos do que o modelo de limiar fixo, embora o intervalo de confiança empírico tenha se sobreposto às estimativas de ambos os modelos. Com base nesses três manuscritos, propomos uma agenda de pesquisa, que inclui, mas não se limita a: explorar se o impacto das diferenças individuais no efeito da prática de lembrar depende de outras diferenças individuais (p.ex., o uso espontâneo de estra-tégias de codificação) e fatores contextuais (p.ex., prática estendida); testar se as diferenças individuais afetam o efeito da prática de lembrar de forma indireta através da habilidade dos aprendizes de gerar e recuperar mediadores, e de monitorar e modificar mediadores após tentativas de lembrar malsucedidas; e testar diferentes modelos derivados do arcabouço teórico de memória dual com diversos pontos de dados.

Acredita-se que modo de processamento abstrato leva a mais generalização do que
concreto e que depressão modera essa relação para generalização negativa, enquanto
autoestima desempenha esse papel para generalização positiva. Porém, nenhum estudo
produziu uma condição controle para modo de processamento, então não tem sido
possível determinar se a generalização é especificamente influenciada por processamento
abstrato ou concreto. Adicionalmente, procedimentos estatísticos utilizados em estudos
anteriores para avaliar moderação são questionáveis. Dois estudos foram delineados para
resolver essas questões. O Estudo 1 foi um levantamento que coletou as situações mais
comuns do cotidiano universitário, para criar a tarefa de generalização do Estudo 2.
Situações majoritariamente encaixaram-se em áreas acadêmicas ou sociais. Resultados
são úteis para estudos similares em amostras de diferentes universidades do Brasil. O
Estudo 2 foi um experimento que manipulou modo de processamento a três níveis
(abstrato, controle, concreto) e valência da generalização a dois (negativa, positiva),
mensurando os efeitos dessas variáveis sobre a generalização. Depressão e autoestima
foram avaliadas para testar efeitos de moderação. Processamento concreto levou a uma
diminuição significativa em generalização positiva. Nenhum efeito significativo de
moderação foi encontrado. Implicações teóricas dos achados são discutidas e é teorizado
um modelo envolvendo depressão, autoestima e generalização.

A percepção de tempo é um mecanismo essencial para execução de inúmeras tarefas relevantes em diferentes contextos, especialmente o contexto social, onde há o envolvimento de pistas perceptuais que auxiliam em diferentes interações humanas, como as expressões faciais emocionais, que têm significativa relevância no comportamento social humano. A literatura existente acerca da percepção de tempo, indica que expressões faciais emocionais podem causar efeitos de prolongamento ou encurtamento na duração percebida de uma determinada face. O presente estudo teve como objetivo investigar a possibilidade de inibição dos efeitos de distorção temporal causado por expressões faciais emocionais utilizando uma tarefa de bissecção temporal com diferentes cargas de memória de trabalho. Foram coletados dados de 36 estudantes universitários com idades entre 18 e 30 anos. Os resultados sugerem que um aumento na carga na memória de trabalho foi capaz de inibir o efeito das distorções temporais para as emoções alegria, raiva e medo, onde a alegria passa a apresentar um prolongamento na percepção da sua duração, a raiva apresenta um encurtamento na percepção das suas durações e o medo apresentou um achatamento da curva psicométrica. A análise psicofísica dá suporte aos resultados, pois as curvas psicométricas sugerem inibições e/ou interferências nas distorções temporais.

Com fundamentação em Modelos Sóciocognitivos e da Psicologia Positiva, esta pesquisa
pretende identificar fatores de agenciamento pessoal e do ambiente socioeducativo e
emocional, que possam ter impato na reabilitação. A amostra inclui 195 jovens do sexo
masculino, em centros de detenção juvenil do Distrito Federal, que preencheram
voluntariamente o Questionário de Dados Pessoais e Comportamentos Aditivos, e as
Escalas: Objetivos e Sentimentos de Futuro, Percepção do Ambiente, Multidimensional
de Autoeficácia Percebida, Desenvolvimento e Bem-Estar, Controle Sociopolítico para
Juventude e Ansiedade e Depressão de Beck. Ainda participaram 52 profissionais dos
Centros de Internação, que responderam à Escala de Percepção dos Servidores. No
conjunto dos resultados, destacam-se os indicadores de que as emoções, os
relacionamentos positivos dos contextos socioeducativos e familiares têm impacto no
bem-estar, controle sócio-político e autoeficácia dos jovens. Ainda se salienta a
associação entre níveis de bem-estar e envolvimento sociopolítico dos jovens e a
motivação intrínseca dos profissionais. Por outro lado, e em congruência às
características da população, as associações entre consumo de álcool e ansiedade, entre
consumo de drogas e controle sociopolítico e entre autoeficácia e autoavaliação do
desempenho académico (negativa) alertam para fatores risco, que podem incentivar a
perpetuação do crime. No mesmo sentido, as médias dos jovens em ansiedade e
depressão são superiores às da população normativa do Brasil, sendo inferiores em
bem-estar e autorregulação, comparativamente às dos jovens em liberdade. Na
discussão, é focada uma tendência sistemática dos resultados, que indica que o
ambiente relacional positivo, os espaços sociais de tempos livres e o sentimento positivo

de futuro assumem um papel crucial na confiança e bem-estar dos jovens. Estes fatores

são críticos no sucesso da reabilitação e inserção social. Nas conclusões, salienta-se que
a natureza da intervenção socioeducativa deve incluir componentes de bem-estar, saúde
mental e inserção social e profissional, e envolver educadores, adolescentes e
comunidade, sem esquecer a população em geral, tal como preconizado pelas teorias
ecológicas e de empoderamento social.