Desde 1972, os sucessivos satélites da série Landsat têm apresentado melhorias nos seus modos de imageamento. O objetivo deste estudo foi comparar o potencial do sensor Operational Land Imager (OLI) a bordo dos satélites Landsat 8 (L8) e Landsat 9 (L9) para mapear as seguintes classes de uso e cobertura de terras da região de MATOPIBA: Mata de galeria; Cerrado típico; Cerrado ralo; Pastagens cultivadas; Resíduo verde de colheita; Palhada seca; e Solo exposto. Duas cenas consecutivas da estação seca do sul do estado de Piauí, obtidas pelos satélites L8 e L9 com diferença de oito dias, foram classificadas pelo método supervisionado de classificação de imagens denominado Random Forest. Os atributos de entrada da classificação foram seis bandas multiespectrais convertidas para reflectância de superfície; quatro índices espectrais; e cinco atributos espaciais derivados pela técnica de Gray Level Co-Occurrence Matrix (GLCM). As acurácias globais de classificação foram similares: 85,6% e 85,0% para L8 e L9, respectivamente. Apesar dessa similaridade, observou-se alguns altos erros de comissão e omissão em algumas classes, que alterou os resultados da classificação em 7,1% da área total das cenas. As principais discrepâncias ocorreram em áreas onde houve cicatrizes de queimada e onde as áreas de culturas agrícolas que apresentaram algum tipo de mudança na cobertura do terreno durante o intervalo de oito dias e em áreas com predomínio de classes de uso e cobertura de terras com elevada similaridade espectral. Os resultados obtidos sugerem que ambos os sensores dos satélites possuem potencial similar para o mapeamento das classes de uso e cobertura de terras de interesse na região do MATOPIBA.

Os peixes comercialmente valiosos enfrentam uma intensa pressão por parte da pesca de captura, visto que a procura por proteínas de peixe, seja de cultivo ou capturado na natureza, está crescendo globalmente. Consequentemente, a identificação da proveniência do peixe é cada vez mais vital para organismos reguladores, para os atores da cadeia produtiva e para consumidores. As limitações dos atuais métodos de proveniência do peixe podem ser ultrapassadas utilizando técnicas complementares. O presente estudo utilizou análises isotópicas e elementares para diferenciar indivíduos de Arapaima gigas, conhecido como pirarucu, provenientes de diferentes tipos de manejo (selvagem ou cultivado) e bacias hidrográficas do território brasileiro. Foram coletadas 79 amostras de tecido muscular de pirarucu, um dos peixes de água doce mais cobiçados no mercado nacional e internacional. Fragmentos de músculo dorsal foram extraídos de pirarucu proveniente de aquicultura em tanques e pirarucu capturado nas bacias dos rios Amazonas e Tocantins - Araguaia. A integração das duas metodologias analíticas permitiu a discriminação entre os dois grupos de pirarucu selvagem, os da bacia Amazônica e os da bacia do Tocantins-Araguaia. As concentrações elementares de césio e estrôncio, ambos elementos de origem geológica, apresentaram as diferenças mais significativas entre as duas bacias hidrográficas. Entre os isótopos, o δ13C apresentou as diferenças mais significativas entre as bacias. As análises elementares não foram capazes de diferenciar o pirarucu selvagem do cultivado, enquanto o uso combinado de δ13C e δ15N foi essencial para diferenciar a bacia do rio. Nossos resultados confirmam que esses métodos são ferramentas valiosas para a rastreabilidade e monitoramento do pirarucu, possibilitando a identificação das áreas de origem e das práticas de manejo empregadas no território brasileiro. Essas técnicas são promissoras para o combate à pesca ilegal e para o fortalecimento das ações de conservação do pirarucu, contribuindo significativamente para a sustentabilidade e preservação da espécie.

O mercúrio (Hg) é um elemento potencialmente tóxico com propriedades de bioacumulação e bioamplificação na cadeia alimentar. As plantas podem ser utilizadas para avaliar a contaminação ambiental por Hg, pois o absorvem do meio ambiente e o incorporam em sua estrutura física e, posteriormente, disponibilizam-o ao ambiente na formação da serrapilheira. Diferentes usos do solo nas áreas próximas à vegetação podem alterar a distribuição de Hg nesta interface, próximo a fontes poluidoras tende a conter mais Hg disponível a ser incorporado pelas plantas. No capítulo 1 realizamos uma revisão sistemática acerca do Hg na vegetação, analisamos publicações de 1994 a 2024, das quais 106 foram selecionados para integrar a pesquisa, seguindo o protocolo Prisma. Comparamos as concentrações de Hg nas diferentes partes das plantas, divididas em angiospermas e gimnospermas e de acordo com o uso do solo, áreas contaminadas (AC), ou seja, áreas próximas a fontes poluidoras, e áreas naturais (AN). Observamos maior acúmulo de Hg na vegetação próxima a áreas poluidoras, com maior acúmulo nas raízes e nas folhas. O Hg das raízes é correlacionado com o Hg contido no solo, enquanto nas folhas é correlacionado com o Hg atmosférico. No caule houve grande variação dos dados, decorrente da adsorção do Hg atmosférico do Hg e devido a translocação do Hg pelos tecidos condutores. Também apresentamos comparações de Hg em AC e AN para as espécies predominantes nos estudos e espécies vegetais com diferentes capacidades de lidar com a contaminação por Hg, incluindo excludentes, tolerantes, hiperacumuladoras e fitoextratoras. Verificamos que a poluição gerada não é apenas local, podendo ser transportada na atmosfera por até 2500 quilômetros. Portanto, a contaminação por Hg é um problema global e exige reflexão acerca do modelo de desenvolvimento vigente. No capítulo 2 realizamos uma análise da distribuição espacial da concentração de Hg na vegetação e no solo da Estação Ecológica Águas Emendadas (Esecae), considerando as rodovias como potenciais fontes de Hg. Além disso, estimamos a contribuição das folhas para o Hg da serapilheira. Coletamos folhas e amostras de solo em 34 pontos partindo das bordas em direção ao interior da Esecae. A quantificação do mercúrio total (HgT) nas amostras foi realizada por espectrometria de absorção atômica por decomposição térmica (TDAAS) com equipamento portátil RA-915+ acoplado a uma câmara de pirólise (Pyro-915+). Krigagem e cokrigagem ordinárias foram empregadas para produzir superfícies de tendência HgT no solo e na vegetação. Os níveis médios de HgT na vegetação da borda e a dois quilômetros das rodovias foram de 38,9 e 25,5 ng·g⁻¹, respectivamente. No solo HgT variou de 15,9 a 90,4 ng·g⁻¹. A análise de krigagem mostrou concentrações elevadas de HgT nos limites da estação. Na vegetação, o maior acúmulo em direção ao nordeste coincidiu com a direção predominante do vento e maior altitude. No solo, os valores mais elevados no interior da estação em relação à vegetação podem ser devidos à lixiviação e à maior mobilidade do Hg. A vegetação no interior da estação apresentou valores mais baixos possivelmente devido à vegetação atuar nos limites da estação como barreira à dispersão de Hg e reter quantidades significativas das estradas. Alternativamente, a vegetação contribui para o aumento do Hg no solo através da formação de serapilheira, com a média de 34,4 ng·g⁻¹ HgT nas folhas das estações, contribui anualmente com 13,04 µg·m⁻² HgT para a serapilheira. A vegetação retém parte do Hg atmosférico proveniente das rodovias para o interiro da estação, por isso recomendamos o plantio de árvores nas zonas tampão para filtrar a poluição atmosférica.

Os sistemas agroflorestais sintrópicos (SAS) são sistemas agrícolas concebidos para conciliar a produção agrícola com a conservação ambiental. Uma forma possível de tornar os sistemas agrícolas mais sustentáveis é imitar os ecossistemas naturais. Neste sentido, os sistemas agroflorestais sintrópicos são agroecossistemas que imitam, até certo ponto, a estrutura e a dinâmica natural das florestas. Nesta tese buscamos responder a duas perguntas, são elas: a infiltração da água e a penetração do solo são semelhantes nas linhas e entrelinhas do SAS? b)o microclima de um SAS é semelhante ao microclima de uma floresta tropical? Tais perguntas foram organizadas em dois capítulos sistematizados em formato de artigo científico. No primeiro capítulo, o objetivo foi caracterizar as propriedades físicas do solo nas linhas e entrelinhas de um sistema agroflorestal sintrópico - SAS. Considerando assim, que o comportamento físico do solo nas entrelinhas permanece desconhecido. A partir dos resultados encontrados concluímos que as linhas e entrelinhas de um SAS se comportam de forma semelhante em relação aos atributos avaliados. Isto demonstra que tais sistemas são altamente benéficos para a produção de alimentos, bem como para a manutenção das propriedades físicas do solo. Já no segundo capítulo, o objetivo foi investigar, variáveis climáticas como cobertura do dossel, umidade relativa do ar, temperatura do ar, temperatura do solo e iluminância medindo-as tanto em uma área de floresta tropical quanto em um sistema agroflorestal sintrópico adjacente. A partir dos resultados conclui-se que, apesar de se assemelhar a uma floresta tropical na aparência, os sistemas agroflorestais sintrópicos não apresentam condições microclimáticas semelhantes às florestas tropicais.

A dinâmica dos padrões espaciais e da estrutura da comunidade biológica pode ser mais bem compreendida por meio da teoria da metacomunidades. Essa abordagem avalia os efeitos dos processos locais e regionais. Adicionalmente, a diversidade beta pode ser usada de forma complementar para entender como esses diferentes processos causam alterações nas comunidades biológicas. Planícies de inundação são ambientes dinâmicos, controlados principalmente pelo pulso de inundação, que promove a homogeneização das características físicas e químicas dos corpos hídricos, e inclusive das comunidades biológicas. Dentre essas comunidades, o fitoplâncton se difere por ser um grupo polifilético que tem como característica principal a capacidade de realizar fotossíntese e viver na coluna d’água. Este grupo pode ser influenciado por fatores ambientais e pela capacidade dispersiva de seus indivíduos. Em relação a dispersão, ela ocorre de forma passiva, em que os organismos são carreados principalmente pelo fluxo d’água, vento ou preso em animais. Para o sucesso destes eventos dispersivos é fundamental que exista conectividade entre as manchas de habitats. Diante do exposto o objetivo desta tese é avaliar os preditores da comunidade fitoplanctônica e da diversidade beta em lagos da planície de inundação do Rio Araguaia e, por fim, avaliar a ação dos remansos na calha principal do rio Araguaia como stepping stones para a dispersão do fitoplâncton. Para avaliar a influência dos preditores ambientais e espaciais na comunidade fitoplanctônica, utilizamos a Teoria de Metacomunidades com a abordagem de partição da variânciaIn order to analyze beta diversity and its relationship with the different predictors, we performed redundancy analyses based on distance matrices. Finally, to understand how the backwaters impact on phytoplankton dispersal, we compared the backwaters with the river channel and the opposite bank, using the Friedman test for repeated samples and paired t and Wilcoxon tests. O preditor espacial foi o principal preditor da comunidade fitoplanctônica e encontramos um valor de diversidade beta de 0.34 e 0.22 para os dados taxonômicos e grupos funcionais, respectivamente. Por fim, os remansos não foram diferentes nem em densidade quanto em riqueza dos outros tipos de ambientes avaliados. Os nossos resultados destacam a importância de se ter uma análise integrada de diversos preditores e teorias para uma melhor compreensão da dinâmica do fitoplâncton.

Queimadas prescritas são maneiras de manejar a quantidade de material combustível em ecossistemas. No entanto, o efeito de tal prática sobre as propriedades físicas do solo ainda precisa ser melhor compreendido, especialmente na savana neotropical brasileira. O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da queimada prescrita sobre algumas variáveis físicas do solo de uma savana neotropical. Para tanto, amostrou-se hidrorrepelência, capacidade de infiltração e resistência do solo à penetração em parcelas situadas em regiões contíguas sujeitas e não sujeitas ao fogo prescrito. Observou-se que não houve diferenças significativas do fogo prescrito sobre nenhuma das variáveis. Portanto, além dos efeitos claros no tocante a inflamabilidade do ecossistema, demonstra-se que a queimada prescrita não altera significativamente propriedades físicas do solo. Isso demonstra um aspecto de manutenção do solo mesmo quando submetido a queima prescrita.

As savanas são ecossistemas que desempenham funções ecológicas importantes para os ecossistemas terrestres e, ao mesmo tempo, para agricultura e segurança alimentar da população mundial. Sabe-se que o clima influencia diretamente os processos ecohidrológicos nesses ecossistemas e, em contrapartida, a compreensão desses processos ainda é limitada devido à falta de observações em campo. Dentre os fatores ecohidrológicos, a hidrorepelência se destaca por receber pouca atenção em pesquisas e publicações científicas. Esse fenômeno é definido como a capacidade do solo em repelir a água devido à presença de moléculas hidrofóbicas que revestem as partículas do solo. Apesar de sua ocorrência em diferentes biomas e climas ao redor do mundo, incluindo as savanas, estudos específicos sobre hidrorepelência na savana neotropical brasileira são escassos. Além disso, por essa região apresentar considerável sazonalidade climática, sua influência sobre a hidrorepelência ainda permanece desconhecida. Dessa forma, o objetivo dessa pesquisa é abordar as seguintes questões: a) Há hidrorepelência na savana neotropical brasileira?; Se sim, b) há sazonalidade para tal fenômeno?; c) A infiltração é influenciada por esse fenômeno? Espera-se que a hidrorepelência seja mais persistente em períodos secos e que, com o incremento das chuvas, diminua gradualmente.

As florestas ripárias são importantes no contexto da relação paisagem e água, especialmente, quando esses ambientes são pressionados por processos como a urbanização, o qual cria áreas não permeáveis ao longo da vertente. Logo, há a necessidade de investigar como é o comportamento da água precipitada em florestas ripárias e das águas que fluem da área urbana para a floresta ripária. Diante disso, o objetivo geral da tese foi caracterizar os processos ecohidrológicos e erosivos em floresta ripária adjacente a área urbana. Para isso, os objetivos específicos foram (i) caracterizar a partição de chuva e o nível do lençol freático em floresta ripária tropical situada nos domínios da savana brasileira (Cerrado); (ii) comparar a repelência de água no solo e a capacidade de infiltração em duas estações climáticas (chuvosa e seca) em uma floresta ripária e; (iii) compreender a efetividade da floresta ripária em proteger o corpo d’água quando elas recebem o escoamento superficial da área urbana. Os resultados indicaram que (i) a partição de chuva e o nível do lençol freático avaliados tiveram os seguintes valores: precipitação, precipitação interna e, interceptação do dossel foram, respectivamente, 1685 mm, 1440 mm (85,5%) e, 245 mm (14,5%), e o nível médio do lençol freático foi de 33,4 cm; (ii) no período úmido, a repelência de água no solo é praticamente inexistente ao passo que no período seco a repelência é predominante. Com isso, a capacidade de infiltração é maior no período úmido e menor no período seco e; (iii) as áreas que recebem escoamento superficial da área urbana estão sujeitas à maior frequência de escoamento superficial em relação àquelas que não recebem. Eventos pluviais que superaram 25,1 mm provocam a conectividade hidrológica (área urbanizada-rio). Ou seja, nessas condições a floresta ripária não consegue absorver o escoamento superficial da área urbana. Assim, os processos hidrológicos avaliados na floresta ripária percorreram dois sentidos, o vertical e o horizontal. No primeiro, a precipitação atinge o dossel da floresta ripária até alcançar o lençol freático e, no segundo, a precipitação que incide sobre a área urbana atinge a floresta ripária através do escoamento superficial e, na maioria das vezes alcança o córrego gerando erosão do solo. Tais resultados indicam que as florestas ripárias estão sujeitas a alta pressão oriunda do processo de urbanização.

A energia hidrelétrica é considerada uma fonte de energia renovável e limpa, e é a principal fonte de energia na matriz energética brasileira. No entanto, a expansão do setor hidroelétrico na região amazônica exige uma avaliação cuidadosa dos possíveis impactos ambientais decorrentes dessa atividade. Durante a manutenção das unidades geradoras, a manobra operacional de parada da turbina pode resultar em baixa vazão, levando ao acúmulo de peixes dentro do tubo de sucção. Para minimizar o confinamento e os possíveis riscos à ictiofauna, diversas estratégias de repulsão foram desenvolvidas. Este estudo investigou os efeitos de três estratégias de repulsão de peixes. A primeira estratégia foi o procedimento operacional desenvolvido pela Usina Hidrelétrica de Jirau, que consiste na elevação da velocidade do fluxo hidráulico devido à redução da área de descarga do tubo de sucção. Os resultados da avaliação da manobra indicam uma redução de 87% na movimentação da ictiofauna após o aumento da vazão hidráulica. Esse procedimento de manutenção, associado ao monitoramento em tempo real no tubo de sucção, impacta positivamente na conservação da ictiofauna e nos custos econômicos com a parada da unidade geradora. A segunda estratégia avaliada foi a manobra operativa de dissuasão da ictiofauna pela dispersão de bolhas. O procedimento de dispersão de bolhas foi feito utilizando o sistema de injeção de ar comprimido embutido no tubo de sucção das Unidades Geradoras da UHE Jirau, no rio Madeira, Rondônia. Os resultados mostram uma redução de cerca de 42% na movimentação da ictiofauna após o procedimento de dispersão de bolhas, possibilitando inferir uma considerável diminuição no confinamento da ictiofauna no tubo de sucção. A terceira estratégia investigada foi a barreira acústica. Para o desenvolvimento desse método, foi necessária a caracterização da paisagem sonora aérea e subaquática nas proximidades da UHE Jirau. Os resultados indicaram que a interferência dos sons gerados pela usina na paisagem sonora da região ocorre somente em áreas muito próximas a ela, ou seja, com pouco impacto ambiental. Para complementar a investigação, foram realizados testes no vertedouro da Usina de Jirau para avaliar o impacto de quatro diferentes configurações de ruído: rosa, trovão, de tiro e um com componentes tonais bem definidos, monitorando a movimentação dos peixes antes e durante a exposição ao som. Os resultados indicam que todas as configurações de ruído têm o potencial de aumentar a movimentação dos peixes, mas com diferentes níveis de desempenho. O som com componentes tonais, por exemplo, aumentou em 57% a movimentação dos peixes, enquanto o ruído de trovão apresentou um aumento de 43%, seguido pelo ruído de tiro, com um aumento de 37%, e pelo ruído rosa, que apresentou um aumento de 29%. De forma geral, as três estratégias avaliadas de mostraram eficazes na minimização de possíveis os impactos a fauna aquática decorrentes da geração de energia hidrelétrica na região amazônica.

As mudanças no uso da terra afetam os ecossistemas, gerando impactos desde o nível local até o global. Essas mudanças ocorrem tanto pela expansão urbana quanto rural. Nos últimos anos, a magnitude desses impactos tornou-se cada vez mais evidentes. O padrão de ocupação do Distrito Federal (DF) caracteriza-se por apresentar uma grande extensão de áreas urbanas consolidadas e em expansão, principalmente a partir do início da década de 1990. Muitas dessas áreas em expansão são irregulares, notadamente, invasões de áreas públicas e parcelamento para fins urbanos de áreas originalmente destinadas para ocupação rural. Essa ocupação desordenada têm causado diversos impactos ambientais negativos. O objetivo desta tese é analisar o padrão histórico das ocupações urbanas no DF a partir de dados de sensoriamento remoto, identificando padrões, vetores, impactos e tendências. Complementarmente, foi analisada uma nova tecnologia de sensoriamento remoto orbital para identificar e monitorar áreas de vegetação nativa e áreas rurais do DF. Esta tese é composta por dois capítulos organizados na forma de artigo, com introdução, metodologia, resultados, discussões e conclusões próprios para serem submetidos em periódicos científicos de maneira individualizada. O primeiro capítulo apresenta a evolução espacial da mancha urbana do DF nos últimos sessenta anos, seus principais vetores, padrões e impactos na paisagem. O segundo capítulo apresenta uma análise do potencial de identificação de diferentes coberturas vegetais no bioma Cerrado a partir de dados obtidos por uma constelação de nanosatélites de alta resolução espacial (mosaicos do satélite PlanetScope - PS), tendo, como estudo de caso, o DF. Dessa forma, o primeiro capítulo tem foco maior na área urbana e o segundo capítulo, na área rural e na vegetação nativa do DF. Os resultados do primeiro capítulo mostraram que o DF ainda está em plena expansão urbana, não havendo sinais de desaceleração. Os principais fatores que direcionam a forma da mancha urbana e limitam seu crescimento, são os ambientais, seguidos dos topográficos e depois, dos normativos, demonstrando que as métricas de paisagem são um método eficiente de analisar a evolução urbana. Já o segundo artigo demonstrou que os mosaicos mensais do PS são eficientes para identificar diferentes tipos de uso e cobertura de terras. Além disso, são capazes de identificar as mudanças sazonais da cobertura do solo decorrentes das atividades agrícolas.

O uso de agrotóxicos e fertilizantes na agricultura do Cerrado brasileiro é intenso e quantidades excessivas desses compostos podem afetar e alterar a qualidade da água. O objetivo deste estudo foi avaliar a presença desses insumos em recursos hídricos, bem como desenvolver métodos analíticos e analisar a qualidade da água na Unidade Hidrográfica do Alto Rio Jardim (UHARJ). Fósforo total, pH e íons dissolvidos de nitrato (NO₃^-), nitrito (NO₂^-), amônio (NH₄⁺), fosfato (PO₄³-) e potássio (K⁺) foram medidos em 207 amostras de água subterrânea (2014/2015 e 2019/2020) e 23 amostras de água superficial (2019/2020) coletadas na UHARJ. No geral, um menor número de amostras positivas para os íons analisados foi encontrado nas amostras de água subterrânea do período 2014/2015, mas com níveis médios mais altos de NH₄⁺ (0,463 e 0,454 mg L^-1, estação seca e chuva, respectivamente) quando comparado a 2019/2020 (0,199 e 0,176 mg L^-1). Os níveis de NH₄⁺ em amostras de água superficial foi maior na seca (0,106 mg L^-1) que na estação chuvosa (0,59 mg L^-1). Um método para análise de glifosato, AMPA e glufosinato foi validado no LC-MS/MS com um LOQ de 0,0025 μg L⁻¹ (após liofilização), 90 amostras de água superficial e 52 de água subterrânea coletadas na BHRP em 2021/2022 foram analisadas. Todas as amostras de água subterrânea foram positivas para glifosato (até 1,5868 μg L⁻¹, seca) e AMPA (até 0,2751 μg L ⁻¹, seca). Um total de 27 amostras de água superficial foram positivas para glifosato (até 0,0236 μg L ⁻¹) e 31 amostras para AMPA (até 0,0086 μg L ⁻¹), das quais mais de 70 % coletadas na estação seca. Glufosinato foi detectado em cinco amostras, quatro de água subterrânea (até 0,0256 μg L^-1). Um método multirresíduos (liofilização/UHPLC-MS/MS) foi desenvolvido para determinação de 78 agrotóxicos, e aplicado para análise de 68 amostras coletadas na UHARJ (2021/2022), sendo 27 de água subterrânea e 7 de água superficial. Atrazina e seus metabólitos, carbendazim e fipronil foram os pesticidas mais detectados nas amostras e 2,4-D o pesticida encontrado no maior nível (1,045 µg L^-1; água subterrânea, seca). Os níveis encontrados nas amostras são muito inferiores aos níveis máximos estabelecidos pela legislação brasileira. No entanto, é necessário um monitoramento constante, exigindo métodos sensíveis que permitam detectar os níveis muito baixos desses agrotóxicos na água.

O Cerrado, bioma que ocorre no Planalto Central do Brasil, ocupa cerca de 24% do território nacional. Aspectos locais, como a topografia e classes de solo, contribuem para formação de um mosaico de quatorze fitofisionomias. Nesse contexto paisagístico, há ocorrência dos Campos de Murundus, cuja origem permanece controversa. As hipóteses de formação dos Campos de Murundus são controversas e alguns estudos associam a sua ocorrência a elementos da paisagem. Porém, essa associação ainda não foi investigada sob uma análise mais ampla da paisagem em que ocorrem. Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo avaliar as hipóteses de formação dos Campos de Murundus por meio de métricas da ecologia de paisagens. Para isso, 197 locais de ocorrência de Campos de Murundus no Distrito Federal (DF) foram identificados e a área de cada campo foi vetorizada ao longo de suas bordas. A associação entre esses ambientes e ordens de solos, unidades geomorfológicas, geologia, declividade e hipsometria foi investigada por meio do cálculo de razão das frequências. Empregou-se a álgebra de mapas para se obter o mapa de ocorrência potencial de Campos de Murundus no DF. As alterações entre 2009 e 2019 do número de Campos de Murundus, área e configuração foram avaliadas por meio de métricas de análise da paisagem. Adicionalmente, as estruturas de quatro Campos de Murundus foram levantadas por meio de perfilamento a laser (LiDAR). As técnicas utilizadas permitiram avaliar a compatibilidade entre as características estruturais e de configuração de Campos de Murundus e as hipóteses existentes para a sua gênese. Os 197 Campos de Murundus estudados se associaram majoritariamente a solos hidromórficos, a terrenos com declividade plana a suavemente ondulada, a áreas de platôs e platôs dissecados e altitudes superiores a 1.200 m. Observou-se que entre 2009 e 2019, houve supressão de 993 ha de Campos de Murundus no DF, sem haver, entretanto, a redução do seu número na paisagem distrital. A degradação de alguns Campos de Murundus estudados expõe esses ambientes a um maior efeito de borda. A configuração e as estruturas dos campos investigados refutam a hipótese da ação de térmitas para a sua origem ao mesmo tempo que corroboraram a hipótese da erosão hídrica diferencial como o provável mecanismo responsável por sua gênese.