Trabalho-jogo na Educação Ambiental Crítica: uma proposta ludo-política para o exercício de cidadania ambiental
Educação Ambiental Crítica. Trabalho-jogo. Gincana. Cidadania ambiental. Ensino Superior
A Educação Ambiental (EA) Crítica, por meio de seus processos formativos, se situa como uma educação política no enfrentamento das questões socioambientais. Trata-se de uma vertente de EA que considera a importância de uma formação crítica e transformadora da realidade, em que se almejam sujeitos participativos, reflexivos, engajados, de modo que possam envolver nessa educação outros atores sociais, a partir de ações políticas, numa esfera democrática de exercício de cidadania e na busca por justiça ambiental e social. Nesse sentido, a ludicidade a partir do trabalho-jogo se apresenta como uma metodologia capaz de corresponder às práticas de EA, na medida em que tem como compromisso desvelar os contextos sociais e ambientais, com suas assimetrias e contradições. Partindo do pressuposto que são inerentes aos jogos as tomadas de decisões, entende-se que o jogo pode suscitar decisões e ações em contextos socioambientais específicos. Desta forma, a pesquisa descrita nessa tese, ao associar a ludicidade à EA Crítica, buscou propor e analisar as dimensões formativas convergentes entre os dois campos, voltadas ao objeto de estudo, no sentido da problematização e da contextualização da realidade socioambiental, e à finalidade de ensino, na perspectiva da percepção crítica e da participação social como exercício de cidadania ambiental. Para isso, foi elaborado um jogo em formato de gincana e aplicado em turmas do curso de Ciências Ambientais da Universidade de Brasília, por quatro semestres, sendo três deles em formato remoto e o último no modo presencial. A estratégia da pesquisa se realizou por estudo de caso, tendo como instrumentos de coleta de dados: técnica de grupo focal adaptada com entrevistas semiestruturadas, questionários, diário de bordo, postagens dos estudantes nas redes sociais considerando suas descrições e mensagens, documentos expedidos e participações. Os dados contidos na pesquisa foram analisados por meio de técnica adaptada da análise de conteúdo de Bardin (1977). No âmbito do objeto de estudo, que diz respeito às problemáticas socioambientais, o jogo no sentido de trabalho-jogo suscitou diferentes alcances: compreensão dos diferentes aspectos e contextos sociais, políticos, econômicos, históricos, culturais que compõem as problemáticas; desenvolvimento de sentimento de pertencimento e coletividade; maior apreensão da realidade; aspecto interacional entre conhecimento acadêmico e realidade local; percepção sobre processos de omissão do Governo; aprendizagem por meios informais; novas reflexões e questionamentos sobre os problemas; compreensão de novos conceitos reveladores dos mecanismos de desigualdade socioambiental: injustiça ambiental e racismo ambiental. Quanto à finalidade de ensino, o trabalho-jogo trouxe outros alcances: compreensão das diferentes causas, manifestações e condicionantes que envolvem os problemas; processo de interpretação e compreensão de conceitos; estudo ativo com garantias de liberdade e autonomia para pensar e atuar; práxis como prática reflexiva; aprendizado interativo por meio do diálogo de saberes e transversalidades; ocupação de diferentes espaços institucionais e não governamentais e interação com diferentes movimentos; emancipação por meio da participação em diferentes esferas sociais e políticas; mobilização por justiça social; aprendizagem social e política através da organização e articulação política das ações; compreensão das políticas públicas; transformação pessoal na perspectiva da transição de uma postura passiva diante dos problemas para um postura ativa diante das soluções e, por fim, retorno social.