Eugenia e higienismo na educação brasileira: estudo das políticas curriculares para o ensino de ciências
Ensino de Ciências. Política Curricular. Relações étnico-raciais
O presente trabalho tem como passo inicial minha prática docente como professor de Educação Básica das disciplinas Ciências Naturais e Biologia, prática esta, na qual sempre procuro ter o ensino de Ciências e Biologia como instrumento de questionamento e subversão de uma educação que favorece a manutenção das estruturas sociais no Brasil, estruturas sociais que são historicamente e evidentemente racistas. Sou um professor negro que, em todas as escolas que ministrei aulas, observei que algumas práticas, como a de homogeneização de turmas, se faziam presentes, e ao estudar a origem da implementação desse tipo de prática, vi que os movimentos Eugenista e higienista foram quem disseminaram tais práticas na educação brasileira. Ao perceber os entrelaçamentos entre esses ideários e a formação da educação, em especial a escola pública brasileira, procurei pesquisar, analisar e entender mais sobre isso, e assim cheguei a seguinte questão: os ideários eugenistas e higienistas ainda se fazem presentes nas dinâmicas educacionais atuais? Essa questão me levou a outros três questionamentos: 1 – A estrutura social brasileira alicerçou e alicerça a entrada de teorias científicas como essas nos diversos campos do conhecimento? 2 – Em que medida o ideário eugenista e higienista fundamenta, referenda e permanece nas Políticas Curriculares para o Ensino de Ciências? 3 – Quais os seus desdobramentos no Ensino de Ciências? A fim de investigar essas questões, foi realizado uma pesquisa bibliográfica de autoras e autores que tratam do tema, como: Antunes (2012), Bonfim (2017), Faggion e Boarini (2018), Gebrim (2002), Goés (2015), Manssanera e Silva (2000) e Souza (2016). Pretendo aqui, utilizando o percurso metodológico do Materialismo Histórico Dialético, apoiar-me em categorias como reprodução, hegemonia e escola unitária trabalhadas por Antônio Gramsci, para analisar e discutir as relações entre o currículo e a sociedade, e discorrer sobre como as políticas curriculares, como o currículo em movimento e a Base Nacional Comum Curricular, podem ainda hoje sofrer ingerências dos ideários eugenista e higienista. Espero que ao analisar os documentos curriculares e organizá-los em categorias a partir dos próprios dados, seja possível explicitar as disputas de interesses existentes em suas formulações e que sejam apreendidos os possíveis entrelaçamentos entre a educação brasileira e os ideários eugenista e higienista.