"Estratégias ecofisiológicas de Arundo donax L. às condições ambientais do Cerrado: Uma análise das respostas hídricas e fotossintéticas."
Arundo donax L.; espécie invasora; fotossíntese; relações hídricas; Cerrado antropizado; Ttocas gasosas; curva pressão-volume; aclimatação sazonal
Arundo donax L. é uma espécie de Poaceae exótica invasora, sendo considerada um problema mundial. Atualmente áreas urbanas e Unidades de Conservação do Distrito Federal e do Centro Oeste estão sendo afetadas pelo avanço desta espécie de difícil manejo. O objetivo deste estudo foi de caracterizar o desempenho fotossintético e as relações hídricas de A. donax em áreas de cerrado antropizado, para avaliar se apresentaria mudanças em seu comportamento no decorrer das estações e entre os horários analisados. Foram utilizados um IRGA 6400XT e uma bomba de Scholander para gerar curvas fotossintéticas de resposta à luz e ao CO₂, além de curvas de pressão-volume das folhas. As coletas ocorreram em três locais no Campus Universitário Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília, incluindo áreas próximas ao Departamento de Artes, ao CRAD e ao Instituto de Biologia, à medida que o local escolhido era impactado pelo controle mecânico por roçada realizado pela prefeitura do campus da UnB em uma tentativa de erradicar a espécie do campus ou a realização de obras. As coletas de dados ocorreram nos meses de fevereiro, março e abril (considerados estação chuvosa) e de maio a setembro (estação seca). Em cada local, foram analisadas folhas de 3 perfilos distintos, sendo uma folha por perfilo para as trocas gasosas e medidas de potencial hídrico e geração das curvas de pressão-volume. As análises das trocas gasosas mostraram que A. donax ajusta sua fotossíntese e relações hídricas conforme as variações sazonais e diurnas, pois foram identificadas diferenças estatísticas por meio do teste de ANOVA distribuída no tempo. Durante a estação chuvosa, os valores da taxa de assimilação líquida de CO2 (A), condutância estomática (gs) foram mais altos, enquanto na estação seca, essas taxas diminuíram, refletindo o impacto das condições de menor disponibilidade hídrica e maior demanda evaporativa da atmosfera. As curvas de resposta à luz indicaram uma saturação na taxa de assimilação líquida (Aₙ) com o aumento da intensidade luminosa com saturação ocorrendo por volta de 1000-1200 µmol m-2 s -1 de densidade de fluxo de fótons. Os valores de respiração, ponto de compensação de luz e taxa fotossintética na saturação de luz variaram entre as horas do dia e entre as estações chuvosa e seca. As curvas de resposta ao CO₂ demonstraram variações significativas nos entre estações e horários do dia. A velocidade máxima de carboxilação (Vcmax) e a taxa máxima de transporte de elétrons (Jmax) atingiram seus valores mais expressivos no meio da estação seca, resultando em uma razão Jmax / Vcmax mais elevada nes período. A constante de Michaelis-Menten (Km) apresentou os maiores valores no final da estação chuvosa, indicando variações significativas na afinidade da Rubisco pelo CO₂ entre os períodos. A utilização de triose fosfato (TPU) também apresentou os valores máximos no final da estação chuvosa. Foi observada uma tendência geral de redução nos parâmetros fotossintéticos extraídos das curvas de resposta ao CO2 ao longo do dia, As curvas de pressão-volume revelaram alta rigidez mecânica da parede celular (ε) e capacidade de retenção de água (C FT) e uma variação sazonal na pressão osmótica na saturação, sugerindo que a planta possui mecanismos eficientes de ajuste hídrico, particularmente na estação seca, onde foram observados valores mais negativos de potencial hídrico no ponto de perda de turgor (ΨTLP). Desta maneira, apesar de uma grande diminuição do potencial hídrico ao meio dia (Ψmd) na estação seca, Ψmd - ΨTLP > 0 em todas as épocas do ano, indicando a capacidade da planta de manter o turgor foliar mesmo após cinco meses sem precipitação. Os valores de potencial hídrico foliar ao amanhecer (Ψpred) mostraram um pequeno decréscimo durante a estação seca, de -0,3 MPa na estação chuvosa para -0,6 MPa na estação seca.-. Esta pequena faixa de variação no Ψpred sugere que A. donax deve ter acesso a camadas mais profundas do solo, que permanecem úmidas ao longo do ano. Esses resultados indicam que A. donax foi capaz de regular suas funções fisiológicas para manter o balanço hídrico e a capacidade fotossintética frente às variações ambientais sazonais em uma área de cerrado antropizado.