Investigação de marcadores moleculares relacionados à recaída e estudo do microambiente tumoral em leucemias linfoblásticas agudas de células B com alterações recorrentes de prognóstico favorável.
Leucemia linfoblástica aguda de células B; Remissão; Recidiva; Biologia Molecular; Expressão gênica.
A leucemia linfoblástica aguda de células B (LLA-B) é a neoplasia maligna mais comum na população pediátrica, caracterizada pela proliferação descontrolada de precursores linfoides imaturos. Dentre os subtipos de LLA-B, os classificados como de bom prognóstico, especialmente aqueles com as alterações genéticas ETV6::RUNX1, alta hiperdiploidia e TCF3::PBX1, apresentam desfechos clínicos favoráveis. Entretanto, a recaída ainda ocorre em uma parcela significativa desses pacientes, indicando a necessidade de melhor compreensão dos mecanismos moleculares subjacentes à progressão da doença. O presente estudo teve como objetivo caracterizar clinicamente e molecularmente uma coorte pediátrica de pacientes com LLA-B com alterações de bom prognóstico, investigando alterações genéticas secundárias e perfis de expressão gênica associados à recaída, além de analisar a composição do microambiente medular e seu possível impacto no desfecho clínico. Para tanto, foram avaliadas amostras de pacientes submetidos a protocolos terapêuticos padronizados, utilizando técnicas de sequenciamento de RNA (RNA-seq) para análise diferencial de expressão gênica entre amostras de diagnóstico e recaída, bem como entre amostras do momento do diagnóstico de pacientes em remissão e aqueles que apresentaram recaída, além da pesquisa de fusões e chamada de variantes. Adicionalmente, foi realizada caracterização do microambiente medular por citometria de fluxo, com enfoque nas populações celulares estromais, endoteliais e mesenquimais. Os resultados evidenciaram diferenças significativas na expressão gênica entre diagnóstico e recaída em subtipos específicos, destacando genes associados a vias proliferativas, metabólicas, imunológicas e de interação com o microambiente, sugerindo mecanismos moleculares complexos envolvidos na progressão da LLA-B. Foram identificadas alterações genéticas secundárias relevantes, como deleções em IKZF1, PAX5 e CDKN2A/B, além de variantes patogênicas em CREBBP e alterações na região PAR1, que podem contribuir para a resistência terapêutica e pior prognóstico. A análise do microambiente medular indicou uma tendência, ainda que não estatisticamente significativa, de associação entre maior proporção de células endoteliais e pior desfecho clínico, tendo como ponto de corte um valor maior que 14,15% de células endoteliais no compartimento de estromais. Não foram observadas diferenças expressivas na expressão gênica do microambiente entre os grupos com células endoteliais aumentadas e com níveis normais. Este estudo reforça a complexidade biológica da LLA-B de bom prognóstico e a importância do monitoramento genético contínuo para a identificação precoce de marcadores de risco. Apesar das limitações relativas ao tamanho amostral e à heterogeneidade dos dados, os achados destacam a necessidade de abordagens integrativas e individualizadas para aprimorar a estratificação de risco e o manejo terapêutico, contribuindo para a melhoria dos desfechos clínicos em pacientes pediátricos com LLA-B.