O que o jornal pensa: media populism nos editoriais dos jornais Folha de S. Paulo, d’O Globo e d’O Estado de S. Paulo sobre o Governo Bolsonaro
Populismos; media populism; enquadramento; editoriais; quality papers.
Tendo como referência a ascensão da extrema direita na política brasileira na última década, também resultado de um movimento global, esta pesquisa busca identificar a ocorrência do media populism (Mazzoleni, 2008) na cobertura editorial dos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo sobre o governo de Jair Messias Bolsonaro (2019-2022). Para isso, utilizamos como fundamentação teórica os debates sobre o populismo (Mudde; Kaltwasser, 2017; Laclau, 2003), bem como autores que entendem o fenômeno a partir das perspectivas de estilo de comunicação (Jaggers; Walgrave, 2007) e como estratégia de comunicação política (Vreese et. al., 2018). Partindo de uma reflexão sobre o cenário de crise política, econômica e de confiança nas instituições no Brasil, discutimos os impactos desse contexto na eleição de Bolsonaro, bem como identificamos elementos do populismo radical na estratégia retórica e política do ex-presidente (Tanscheit, 2023; Guazina, 2021; Rodrigues, 2021; Mudde, 2019). Buscamos entender os reflexos do cenário nos quality papers do país (Hallin; Mancini, 2004) e analisamos o papel político dos editoriais e a relação entre os veículos de comunicação brasileiros e a defesa das agendas das elites do país (Azevedo, 2003; Albuquerque, 2010). Em um corpus de 681 editoriais publicados em 300 dias do Governo Bolsonaro (100 primeiros dias; 100 dias na pandemia da Covid-19; e os 100 últimos dias de governo), aplicamos a metodologia de análise dos enquadramentos editoriais (Entman, 2004; Firmstone, 2019; Gamson; Modigliani, 1989; Guazina; Araújo; Prior, 2018). A análise de conteúdo foi realizada com auxílio do software SPSS. Como resultado, identificamos que a ocorrência do media populism nos principais jornais brasileiros é minoritário, mas estratégico, uma vez que o uso dos enquadramentos populistas, referenciados nas retóricas de apelo ao povo, reforço ao discurso “nós x eles” e reforço ao sentimento antielites não é aleatório e busca padrões que reflitam as identidades editoriais dos veículos analisados e contribuam para a defesa de suas agendas de interesse. Os resultados indicam que a ocorrência do media populism nos períodos analisados também está vinculada à defesa das agendas de interesse dos veículos. Revelam, ainda, a variação na ocorrência do fenômeno nos três períodos analisados, sugerindo que os meios adaptam o uso da retórica de acordo com o contexto político. Por fim, a análise tornou possível observar padrões distintos na adoção de elementos e estratégias discursivas que merecem observação, principalmente porque a ocorrência do media populismo nos veículos de comunicação pode ter sido adotada como resposta ao cenário de um governo alinhado à extrema direita radical.