ESTADO NUTRICIONAL E DESFECHOS CLÍNICOS DE PACIENTES COM DOENÇA DE CROHN DE ACOMETIMENTO PERIANAL FISTULIZANTE
Doença de Crohn; fístula anal; estado nutricional; desnutrição; cirurgia colorretal.
BAAM (Alves Martins, Bruno Augusto). Estado nutricional e desfechos clínicos de pacientes com doença de Crohn de acometimento perianal fistulizante. 2025. Número de folhas: 97. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília, 2025.
Introdução: o acometimento perianal é frequente nos indivíduos com doença de Crohn (DC), ocorrendo em até 50% dos pacientes ao longo da vida. Dentre as manifestações da doença perianal, as fístulas representam o tipo mais comum de envolvimento. Apesar do manejo clínico-cirúrgico, muitos pacientes evoluem com refratariedade e cerca de 10 a 20% necessitam de derivação do trânsito intestinal, e, em última instância, realização de proctectomia com estoma definitivo. Um dos fatores que pode influenciar o prognóstico de pacientes com DC é o estado nutricional, entretanto, essa relação ainda é pouco esclarecida no contexto do acometimento perianal fistulizante. Esse trabalho objetiva analisar o impacto do estado nutricional nos desfechos clínicos de pacientes com DC perianal fistulizante. Métodos: trata-se de estudo de coorte retrospectivo. Os dados clínicos foram coletados dos prontuários médicos de pacientes com DC de acometimento perianal fistulizante, que foram submetidos a abordagem cirúrgica para posicionamento de sedenho em trajetos fistulosos, em dois centros de referência em tratamento de DIIs, de janeiro de 2010 a dezembro de 2022. A triagem de risco nutricional foi realizada de acordo com o Nutrition Risk Screening-2002 (NRS-2002). Os pacientes com NRS-2002
≥ 3 foram avaliados de maneira retrospectiva quanto ao diagnóstico de desnutrição de acordo com os critérios definidos pela Global Leadership Initiative on Malnutrition (GLIM). A prevalência de desnutrição e sua associação com o risco de desfechos clínicos negativos foi analisada. Resultados: 64 pacientes foram incluídos no estudo, com 17 (26,6%) apresentando diagnóstico de desnutrição. A mediana do tempo de seguimento foi de 53 meses. O grupo de pacientes com desnutrição teve prevalência maior de proctite (100% vs 78,7%, p=0,038), menores valores médios de albumina sérica (3,47 vs 3,97 g/dL, p=0,002) e hemoglobina (10,9 vs 12,5 g/dL, p=0,003). Além disso, o grupo de pacientes com desnutrição era mais jovem ao diagnóstico (24,2 vs 30 anos, p=0,046), apresentava menores IMCs (19,7 vs 24,9 Kg/m², p<0,001), índice de Harvey-Bradshaw mais elevado (10 vs 5, p<0,001) e uso mais frequente de corticoterapia (29,4% vs 4,3%, p=0,012). Os pacientes com desnutrição apresentaram menor proporção de cicatrização das fístulas anorretais durante o acompanhamento (17,6% versus 44,7%; p = 0,048),
maior frequência de proctectomia (47,1% versus 14,9%; p = 0,007) e maior chance de serem submetidos a abordagens cirúrgicas abdominais para tratamento da DC (70,6% versus 61,7%; p = 0,002). A análise multivariada revelou que desnutrição foi fator de risco independente para necessidade de proctectomia (OR 7,7; IC 1,2-48,3; p = 0,03) durante o seguimento. Conclusão: desnutrição, conforme definida pelos critérios GLIM, foi fator de risco independente para necessidade de proctectomia na coorte analisada. Estudos prospectivos, com amostras maiores e multicêntricos, são necessários para validar esses resultados e fortalecer a base de evidências para a adoção de estratégias nutricionais sistemáticas no cuidado de pacientes com DC perianal fistulizante.