Cuidado, militância e saúde mental: A produção coletiva de dignidade no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Cuidado; saúde mental, MST; Militância; Movimentos Sociais
Esta tese investiga as práticas de cuidado coletivo e concepções de saúde mental
desenvolvidas no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
analisando-as como elementos fundamentais para a sustentabilidade da luta política e
social. Através de pesquisa realizada entre 2020 e 2024 em diferentes espaços do
movimento no Ceará, Distrito Federal e na Rede de Saúde Mental, examino como
militantes constroem mecanismos de proteção e resistência frente aos desafios da
militância. A pesquisa demonstra que o MST desenvolveu um sistema contínuo de
cuidado que integra aspectos individuais e coletivos, onde a saúde é compreendida
como intrinsecamente ligada à capacidade de luta e transformação social. Argumento
que as práticas de cuidado no MST são simultaneamente terapêuticas e políticas,
criando um repertório próprio que responde às especificidades da vida militante e
constrói o militante como um modo específico de estar no mundo. A militância emerge
não apenas como potencial fonte de desgaste laboral e físico, mas como fator de
proteção e fortalecimento psicossocial, onde a vulnerabilidade compartilhada torna-se
base para a resistência coletiva. A tese aponta para como o MST implementou uma
"militância para dentro", - um cuidado voltado aos próprios integrantes - especialmente
visível na criação da Rede de Saúde Mental. Esta pesquisa contribui para os estudos
antropológicos sobre movimentos sociais ao evidenciar como dimensões emocionais e
afetivas são centrais para compreender o engajamento político, além de oferecer
diálogos para pensar modelos de atenção à saúde mental fundamentados na inserção
social e na transformação coletiva.