FOGO E MOVIMENTO: uma abordagem tecnológica sobre a agricultura indígena na Amazônia
Agricultura; Amazônia; Etnologia indígena; Antropologia da técnica.
Esta dissertação faz uma revisão e sistematização de dados etnográficos acerca das agriculturas indígenas realizadas na Amazônia, por meio da abordagem da antropologia da técnica. Os dados sobre fenômenos técnicos presentes na agricultura se organizam em dois sistemas distintos, porém, interdependentes, quais sejam: corte-e-queima, na sequência de ações desde a abertura da roça até o seu abandono; e abandono-retorno, que reúne formas de deslocamento entre diversos espaços e seus efeitos para a agricultura. A construção desse par de estratégias deriva do uso de métodos da antropologia da técnica, dos quais se destacam três: [1] a cadeia operatória, para relacionar a sucessão curta e média de ações; [2] a classificação de alternativas opostas de ação, para sistematizar as escolhas feitas em cada etapa técnica, indicando suas concomitâncias ou incompatibilidades; [3] e os itinerários técnicos, para ordenar a sucessão longa de ações que concretizam o calendário agrícola. Tais métodos permitem verificar uma unidade amazônica fundamentada na articulação espacial e na alternância temporal entre, de um lado, um conjunto de ações técnicas de interações constantes, pouco intervaladas entre si e efetuadas diretamente sobre os vegetais e sobre a terra e, do outro, interações esparsas, de longos intervalos e exercidas mediante o jogo de manutenção e supressão dos fluxos de movimento que conectam os meios de desenvolvimento vegetal. Estes dois conjuntos estão atrelados entre si, formando um modo de ação que caracteriza a agricultura indígena na Amazônia.