FAZER ANTROPOLOGIA AO FABRICAR O ESTADO: conhecimento especializado e ação estatal na salvaguarda do patrimônio cultural imaterial
Etnografia das instituições. Patrimônio Cultural Imaterial. Antropologia Aplicada. Estado.
Nesta tese, analiso a relação entre o conhecimento especializado e a prática da
antropologia com as ações estatais por meio da atuação de antropólogas e cientistas sociais na
administração pública brasileira e, em particular, na construção e implantação das políticas de
salvaguarda do patrimônio cultural imaterial no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan), autarquia federal responsável pela preservação do patrimônio desde 1937. O
objetivo geral é compreender o processo de institucionalização de prática profissional de
antropólogas e cientistas sociais em relação ao processo de institucionalização de ações,
discursos e práticas de uma política pública voltada para a valorização da diversidade cultural
brasileira. O contexto em foco é o momento no qual a administração pública passa a recrutar
antropólogas e cientistas sociais para suas carreiras, o porquê do investimento nesses
profissionais e como eles transitam nas esferas decisórias, construindo com isso uma relação
entre conhecimento especializado e ação estatal. Desta forma, realizei uma etnografia de
instituições e das relações e práticas de poder, considerando o Estado não como uma entidade
monolítica e reificada, mas uma construção social heterogênea em permanente (trans)formação
e realizada por meio de dimensões performáticas, ações simbólicas e relações de poder que
fazem o Estado (CASTILHO, SOUZA LIMA, TEIXEIRA, 2014); e permeada por relações
políticas e ideológicas (ABRAMS, 1988). Ademais, busco refletir sobre as estratégias estatais
para legibilidade da realidade social (SCOTT, 1999) e a construção de definições fluídas e
porosas das fronteiras entre Estado e sociedade (MITCHELL, 1991; 1999). Para tanto, realizei
observação participante em reuniões públicas, entrevistas com servidores, análise de
documentos e legislações, além de recuperar minha própria memória e trajetória como Técnica
em Antropologia no Iphan desde 2010, quando ingressei por meio de concurso público.