EVENTOS GRAVES SUPOSTAMENTE ATRIBUÍVEIS À VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19: ESTUDO DE COORTE MULTICÊNTRICO EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE - SEVACOV - BRASIL
Vacina Covid-19; Vacinação; Evento adverso; Reação adversa a medicamentos; Trabalhadores de saúde; Vigilância sentinela.
Introdução: A pandemia de COVID-19 impulsionou o desenvolvimento e a introdução emergencial de múltiplas vacinas em um período sem precedentes. Embora ensaios clínicos de fase III tenham demonstrado perfis de segurança favoráveis, a vacinação em larga escala evidenciou a necessidade de monitoramento contínuo para identificar eventos adversos raros ou graves. No Brasil, diferentes plataformas vacinais foram utilizadas — CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer/BioNTech e Janssen — alcançando ampla cobertura entre profissionais de saúde, grupo prioritário devido à elevada exposição ocupacional ao SARS-CoV-2. Este estudo teve como objetivo descrever e analisar os Eventos Graves Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (ESAVIg) em uma coorte multicêntrica de profissionais de saúde acompanhados pelo estudo SEVACOV-PRO.
Métodos: Foram incluídos 4.908 participantes vacinados, totalizando 19.149 doses administradas. A coleta de dados envolveu entrevistas presenciais e remotas, além da revisão de registros clínicos, com registro padronizado na plataforma REDCap. Os ESAVIg foram definidos segundo critérios internacionais e submetidos a processo rigoroso de validação. A tese foi estruturada em três artigos científicos, cada um abordando uma dimensão específica: Artigo 1 – Revisão sistemática: características dos ESAVIg associados às vacinas contra COVID-19 utilizadas no Brasil. Artigo 2 – Estudo descritivo: descrição dos ESAVIg e das características sociodemográficas, clínicas e vacinais dos participantes que relataram esses eventos durante o seguimento. Artigo 3 – Série de casos: ESAVIg com intervalo temporal de até 30 dias após a vacinação e eventos de interesse especial (EVADIE) definidos pela OMS, independentemente do tempo decorrido após a imunização; foram avaliados sinais e sintomas, evolução dos casos e vacina administrada.
Resultados: Durante o acompanhamento, identificaram-se 222 ESAVIg, correspondendo a uma incidência global de 11,6 por 1.000 doses. A maioria dos eventos ocorreu em mulheres (4,5%), com maior frequência nas faixas etárias de 30–34 anos e 70–74 anos. Profissionais com comorbidades imunológicas ou condições crônicas apresentaram maior proporção de ESAVIg. Entre os eventos mais frequentes, destacaram-se aborto (17,6%), pielonefrite (5,0%), nefrolitíase (4,5%), dengue (4,5%) e apendicite (3,6%). Entre os eventos ocorridos nos primeiros 30 dias após a vacinação, identificaram-se desfechos agudos — como aborto, convulsão, síndrome HELLP, trombose, embolia pulmonar, reação vacinal e crise hipertensiva — que se enquadram como EVADIE.
Discussão: Os resultados reforçam evidências prévias de ampla segurança das vacinas contra COVID-19 empregadas no Brasil. Ainda assim, apontam a necessidade de sistemas robustos de vigilância ativa, capazes de monitorar a segurança vacinal em condições reais de uso e em períodos mais longos do que aqueles contemplados em ensaios clínicos, além da importância de realizar análise individual de causalidade dos ESAVI. Este estudo contribui para a caracterização do perfil de segurança das vacinas utilizadas no país, fornecendo subsídios para decisões regulatórias, fortalecendo a confiança pública e apoiando estratégias futuras de comunicação e imunização.