Caracterização do ambiente alimentar escolar e sua relação com a obesidade em adolescentes do Distrito Federal
“ Ambiente alimentar; ambiente alimentar escolar; alimentação saudável; alimentos ultraprocessados; obesidade_”
“Introdução: O ambiente alimentar escolar compreende os espaços, estruturas e situações dentro e ao redor da escola onde alimentos são disponibilizados, vendidos ou consumidos, influenciando as escolhas e o estado nutricional dos escolares. Objetivo: Caracterizar o ambiente alimentar interno e o entorno de escolas públicas e privadas do Distrito Federal (DF) e analisar sua relação com a obesidade entre adolescentes, considerando a presença de desertos alimentares e pântanos alimentares. Metodologia: Foram selecionadas, por amostragem probabilística, 18 escolas urbanas (9 públicas e 9 privadas) do DF com turmas de 9º ano. Artigo 1: a caracterização do ambiente alimentar foi dividida em: (i) Entorno das escolas – identificação de estabelecimentos de venda de alimentos com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), auditados via Google Street View, geoprocessados em buffers de 250m, 400m e 800m e classificados como “saudáveis” ou “não saudáveis” conforme o perfil predominante de produtos; e (ii) Ambiente interno – entrevistas com gestores escolares sobre comercialização de alimentos, presença de cantina e nutricionista, tempo destinado às refeições e ações de educação alimentar e nutricional (EAN). A partir dos alimentos relatados como ofertados nas cantinas e no entorno escolares, calcularam-se o Índice de Saudabilidade (IS) e as proporções de itens in natura/minimamente processados e ultraprocessados. As análises consideraram o Índice de Vulnerabilidade Social (baixo; médio/alto) e o tipo de escola. Artigo 2: 499 estudantes responderam questionário sociodemográfico e passaram por avaliação antropométrica. O desfecho foi obesidade (escore-Z do Índice de Massa Corporal/idade > +2) e as exposições foram as situações de deserto (1º quartil da densidade de estabelecimentos saudáveis em 250m) e pântano alimentar (4º quartil da densidade de estabelecimentos não saudáveis em 250m). Resultados: Artigo 1: No entorno das escolas, identificaram-se 911 estabelecimentos em 800m, dos quais 40,2% vendiam majoritariamente ultraprocessados e 49,4% foram classificados como não saudáveis. Em 250m, 77,8% das escolas tinham ao menos um ponto não saudável e 38,9% não possuíam ponto saudável. Áreas de baixa vulnerabilidade social apresentaram maiores densidades de estabelecimentos saudáveis (p = 0,01) e não saudáveis (p < 0,01), e as escolas privadas concentraram mais pontos, sobretudo em 800m. Apenas escolas privadas possuíam cantinas, com IS mediano de 38,5 e predominância de ultraprocessados; o entorno apresentou IS mediano de 50,0. Ações de EAN estavam presentes em cerca de metade das escolas. Nas cantinas, bebidas açucaradas foram o item ultraprocessado mais frequente (75%) e todas as escolas privadas com cantina ofertavam ao menos um item vedado pela norma vigente. Artigo 2: A prevalência de obesidade foi de 4,1%. A exposição a desertos (250 m) associou-se positivamente à obesidade (OR = 2,87; p = 0,03), mesmo após ajustes; pântanos (250 m) não apresentaram associação significativa. Conclusão: O ambiente alimentar escolar do DF ainda favorece práticas não saudáveis e reflete desigualdades socioespaciais, com maior concentração de estabelecimentos nas proximidades de escolas privadas e de menor vulnerabilidade social. A associação entre a presença de desertos alimentares e a obesidade reforça a necessidade de políticas públicas que ampliem o acesso e a conveniência de alimentos saudáveis, articuladas a estratégias intersetoriais de promoção da saúde.”.