Capitalismo ou neoliberalismo? As ressignificações e os deslocamentos das hierarquias sociais como limites e ameaças à democracia
Capitalismo; Classe; Democracia; Gênero; Hierarquias Sociais; Neoliberalismo; Periferia; Raça.
Esta tese tem como objeto a relação entre capitalismo, neoliberalismo e democracia. A fim de tensionar o debate crítico sobre neoliberalismo e crise democrática, propõe-se o conceito de hierarquias sociais – de classe, gênero, raça e da relação centro-periferia –como lente analítica dessa relação. A partir de uma elaboração teórica, empírica e historicamente orientada, argumenta-se que o processo de acumulação depende estruturalmente do deslocamento e ressignificação das hierarquias sociais, em razão das contradições produzidas pelos imperativos expansivos e regressivos do capital. Na história, esse processo foi sempre mediado política e moralmente. Nesse sentido, propõe-se o conceito de crises de status para se compreender como nas democracias capitalistas esses imperativos produzem contradições inescapáveis entre a exploração e extração do capital, por um lado, e a reconstrução de consensos, sempre exclusivos, por outro. Esses conflitos e contradições proporcionam um olhar crítico sobre lutas sociais e projetos políticos que disputam as mediações políticas na democracia. Do ponto de vista da dominação, propõe-se que o conceito de hierarquias sociais possibilita problematizar os interesses das classes e grupos dominantes, mas também do Estado, a partir da multidimensionalidade que constitui o processo de acumulação. Assim, argumenta-se que diante das crises de status, os interesses gerais da valorização da acumulação perdem precedência, desde que as hierarquias sociais sejam intensificadas e expressem os imperativos regressivos da acumulação. Do ponto de vista da opressão, as hierarquias sociais revelam limites que são internos às democracias, tendo como referência a igualdade e autonomia. Essa construção teórica possibilita situar, no capitalismo, o conceito de neoliberalismo como um projeto político hegemônico, o qual prioriza os imperativos regressivos da acumulação capitalista por meio das respostas e mediações políticas que realiza. Como projeto que busca retomar o passado para reconstruir o presente, as hierarquias são meios e fins da (re)construção da ordem hierárquica do capital que idealiza. São meios de conter a democracia e são reproduzidas como ameaça às democracias.