A maternidade é política: mobilização da maternidade por candidatas (2021-2022).
Maternidade, Mães na Política, Feminismo materno, Feminismo matricêntrico, gênero e política
A tese discute o uso da maternidade como recurso político, tendo como corpus de análise os perfis de oito candidatas, a diferentes cargos, de diferentes partidos e unidades da federação, nas eleições brasileiras de 2022. Historicamente, a maternidade foi invisibilizada na esfera pública, como consequência da ausência das mulheres destes espaços. De fato, a responsabilidade por cuidar de uma criança parecia incompatível com a dedicação total que se exigia de um representante político. Agora, porém, a maternidade é exibida e reivindicada por muitas mulheres na política, o que responde ao esforço de identificação com o eleitorado – ao compartilhar de uma experiência que é comum a muitas mulheres, ela mostra ser “gente igual à gente”. Muitas vezes, o discurso incorpora também elementos de afirmação da superioridade moral das mães, associadas a valores altruístas e de cuidado com os mais frágeis, de maneira que se aproxima da corrente teórica do “pensamento maternal”. No entanto, a visibilidade da maternidade raras vezes leva à apresentação de propostas de políticas públicas que reduzam o fardo das mulheres que são mães e, muito menos, a uma desromantização do papel materno. Pelo contrário, está muito presente a ideologia da compatibilização entre a prioridade dada ao maternar, mantida como necessária e indiscutível para qualquer mulher, e a atividade pública. Para a análise do material empírico, a tese se apoia na teoria do feminismo matricêntrico de Rich e O’Reilly.