EFEITOS DO CHÁ DE AYAHUASCA (BANISTERIOPSIS CAAPI E PSYCHOTRIA VIRIDIS) EM TUMORES
Ayahuasca, Câncer, B16F10, MCF7, U87MG, NIH3T3, C57/BL6
“O câncer é a principal causa de morte e uma importante barreira para o aumento da expectativa de vida em todos os países do mundo. Os tratamentos convencionais apresentam efeitos adversos consideráveis, sendo necessárias pesquisas para o desenvolvimento de novas terapias, e, é exatamente nesse panorama, que o chá de ayahuasca tem se destacado. A investigação de plantas psicoativas e seus mecanismos de ação têm fornecido insights sobre a neuroquímica de muitas doenças. A ayahuasca é uma infusão vegetal psicoativa da Amazônia que desde tempos imemoráveis é preparado e tomado pelos índios como instrumento espiritual e ritual, de proteção e cura em diversas regiões do mundo. O chá de ayahuasca consiste, em geral, na combinação de duas plantas, feito por meio da decocção e infusão do cipó Banisteriopsis caapi (“mariri”) e das folhas da Psychotria viridis (“chacrona”). Sua composição química fundamental contém as β-carbolinas harmina (HRM), harmalina (HRL) e tetrahidroharmina (THH) presentes no mariri, enquanto a chacrona contém o alcalóide principal, o N, N-Dimetiltriptamina (DMT), substância molecular semelhante ao neurotransmissor serotonina (5-HT), com propriedades alucinógenas. Sendo assim, esse trabalho teve por objetivo investigar os efeitos da exposição ao chá ayahuasca em linhagens tumorais in vitro e em modelo experimental de tumor in vivo. Nos testes in vitro, os resultados de viabilidade celular após incubação por 24 horas com chá de ayahuasca em diferentes doses, para a linhagem não-tumoral NIH3T3, promoveu aumento na viabilidade celular quando as células foram tratadas com as menores doses de tratamento que foi revertida a partir da dose de 1 mg/mL e iniciou-se uma acentuada redução na viabilidade celular. A linhagem tumoral U87MG apresentou tendência de redução da viabilidade nas menores doses de tratamento, que foi significativa nas doses de 0,5; 1; 2,5 e 3,5 mg/mL. A linhagem tumoral MCF7 houve redução significativa da viabilidade celular nas doses de 1; 3,5 e 5 mg/mL. A linhagem tumoral B16F10 apresentou redução da viabilidade celular dependente da dose de tratamento que se tornou significativa a partir da dose de1 mg/mL, esse grupo celular se mostrou mais sensível ao tratamento, já que, na maior dose apresentou menor viabilidade (29%). A partir dos resultados dos testes de viabilidade celular foi calculado o IC50 de cada tipo tumoral, para NIH3T3 e MCF7 o IC50 é 2,5 mg/mL, para U87MG o IC50 é 1,5 mg/mL e para B16F10 IC50 é 1 mg/mL. Nos testes in vivo, após a inoculação e crescimento do tumor de melanoma, os animais receberam oralmente as doses de 1X, 2X e 5X, uma vez ao dia, por 10 dias consecutivos. A partir do 13° dia de experimento, houve redução significativa do peso animal quando comparamos os grupos controles e o grupo de maior dose de tratamento, no 19° dia de experimento essa redução significativa da média dos pesos atingiu todos os grupos tratados com ayahuasca. Não foram significativas as diferenças na variação do volume tumoral, nas análises do leucograma e plaquetograma. No eritrograma os resultados revelaram diferenças significativas em relação à MCH entre o grupo controle negativo e 5X e em relação à RDW entre o grupo controle positivo e 1X. Nas análises bioquímicas houve redução acentuada e significante nos níveis de AST entre os animais sem tumor e sem tratamento e os animais tratados com 2X a dose do chá de ayahuasca. O peso dos órgãos: pulmão, estômago, intestino e o tumor não apresentaram diferenças significantes entre os grupos experimentais. O cérebro apresentou um aumento de peso significativo entre o grupo controle positivo e o grupo de animais sem tumor e sem tratamento. O timo apresentou uma diminuição significativa de peso entre os animais do grupo controle positivo e sem tratamento. Notou-se uma diminuição significativa do peso do rim entre os grupos sem tumor e a maior dose do chá de ayahuasca. No que diz respeito ao peso do fígado, todos os animais portadores de tumor apresentaram aumento do peso deste órgão, que foi significativo quando comparamos os animais sem tratamento e o grupo que recebeu a dose usual do chá. O órgão que apresentou maior variação significativa dos resultados foi o baço. Ainda que os resultados in vitro para a linhagem tumoral de B16F10 tenham sido promissores não se refletiram em cura animal. Sendo assim, mais estudos são necessários para a complementação dos dados apresentados em busca de doses que possam efetivamente apresentar efeito terapêutico in vivo.”