ASPECTOS HISTÓRICOS, INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS E OPERACIONAIS DA VIGILÂNCIA DE EPIZOOTIAS EM PRIMATAS NÃO HUMANOS NO PERÍODO DE 1999 A 2025.
Febre Amarela, Primatas, Vigilância, Biodiversidade, Uma Só Saúde
A febre amarela (FA) permanece como uma das arboviroses mais relevantes das Américas, cujo complexo ciclo epidemiológico envolve a interação entre mosquitos vetores, primatas não-humanos (PNH) e seres humanos. O Brasil, país de maior diversidade de primatas do mundo, incorporou em 1999 a vigilância de epizootias em PNH como ferramenta estratégica para detecção precoce do vírus e prevenção de surtos humanos, consolidando um modelo de vigilância integrada e intersetorial. Esta tese apresenta uma análise retrospectiva e descritiva da série histórica de epizootias em PNH de FA entre 1999 e 2025, com o objetivo de compreender os padrões espaço-temporais da doença, identificar os gêneros taxonômicos envolvidos e propor indicadores estratégicos para o aprimoramento da vigilância. Foram notificadas 35.496 epizootias, totalizando 43.062 indivíduos, dos quais 4.673 pertencentes a 3.203 epizootias foram confirmados para FA. Observou-se forte correlação entre epizootias de PNH e casos humanos (r=0,72; p<0,001), com antecipação dos eventos em PNHs no período de julho a novembro, configurando um importante período para a intensificação das ações de vigilância. O gênero Alouatta foi o mais afetado, seguido por Callithrix e Sapajus, com predomínio nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Pampa. A vigilância apresentou avanços significativos na coleta de amostras e identificação taxonômica, mas persistem desigualdades regionais e limitações, especialmente na Amazônia. Os resultados reforçam o papel dos PNHs como sentinelas ecológicos e evidenciam a importância da abordagem Uma Só Saúde na prevenção de surtos, na proteção da biodiversidade e na integração entre saúde, meio ambiente e conservação. Por fim, são propostas recomendações estratégicas e indicadores operacionais voltados ao fortalecimento da vigilância integrada da FA no Brasil, com vistas à detecção precoce, resposta oportuna e sustentabilidade das ações intersetoriais.