A carne mais barata do mercado é a carne negra: identidade, empreendedorismo e política neoliberal
Afroempreendedorismo; Consumo; Identidade; Negritude; Neoliberalismo; Neoliberalismo meta-progressista;
Este trabalho analisa como o neoliberalismo apreende e ressignifica a identidade negra, transformando-a em objeto de consumo e controle social. Inicialmente marginalizadas, as identidades sociais passaram a ser incorporadas pelo mercado sob uma lógica que Nancy Fraser denomina como vertente progressista do neoliberalismo. No Brasil, essa dinâmica assume a forma de um neoliberalismo meta-progressista, no qual elementos conservadores e progressistas coexistem. A pesquisa, de abordagem bibliográfica e documental, evidencia que essa ideologia emergiu a partir da influência de organizações internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, e foi apropriada por entidades nacionais, como o Instituto Ethos, o Global Entrepreneurship Network, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, para promover políticas de diversidade e inclusão. No entanto, tais políticas operam como estratégias de controle social, gerenciando conflitos e reforçando a ideia de que o capitalismo pode mitigar desigualdades. Nesse contexto, a figura do afroempreendedor não representa o reconhecimento da produção negra, mas sim um meio de superexploração e precarização, justificadas pelo discurso meritocrático. A lógica neoliberal transfere para os indivíduos a responsabilidade por superar barreiras raciais, apresentando o fracasso como consequência da falta de habilidades. Assim, embora celebre a ascensão de alguns negros, o neoliberalismo meta-progressista reforça a exclusão da maioria, consolidando sua ideologia de controle e conformação social.