A longa espera: o processo de deslocamento das vítimas de guerra em em Cabo Delgado - Moçambique
deslocamento; guerra em Cabo Delgado; território; território da espera
O presente projeto visa o estudo do processo de deslocamento de vítimas de guerra na Província de Cabo Delgado, em Moçambique, iniciada em 2017. O estudo analisa o trajeto desde os seus distritos, o que denomino territórios de origem, até ao centro de acomodação, de princípio temporário, no Distrito de Nicoadala, Posto Administrativo de Licuar – Província da Zambézia -, aqui chamado de território da espera. Busco conhecer as estratégias que os deslocados usam para construção de territórios no centro de acomodação de Mutchessane, Posto Administrativo de Licuar, Distrito de Nicoadala, Província da Zambézia. A pesquisa tem uma abordagem qualitativa, baseando-se em técnicas como entrevista semiestruturada, observação participante; como forma de perceber as territorialidades praticadas pelos deslocados, o uso da cartografia social será útil, visto que permitirá a representação do ponto de vista dos deslocados em relação ao território. O uso de conceitos como território, desterritorialização, reterritorialização,territórios da espera e retorno serão essenciais para analisar o processo de deslocamento. Numa análise preliminar dos dados, foi possível perceber que, por um lado, o processo de deslocamento é mais do que movimento, é uma luta por um novo território, por uma nova vida, por estabilidade. É, assim, o início de um processo de busca de um novo espaço para a reterritorialização, que seria caracterizado por todo o processo de deslocamento que iria culminar com a chegada no centro de acomodação em Licuar. Mas essa busca por um território não se dá automaticamente, os deslocamentos acontecem às expensas de lutas, choques, perdas e mudanças, por vezes profundas, nas vidas dos deslocados. Por outro lado, no centro de acolhimento, a construção do território é feita num contexto em que, quanto mais o tempo se arrasta, na expectativa de um retorno, situações inesperadas vão surgindo, as quais precisam de solução e são solucionadas de acordo com os recursos e meios disponíveis e possíveis. É nesse âmbito que se vai construindo o território, portanto, num processo de territorialização contínua e, ao mesmo tempo, se vão praticando as territorialidades, as quais estão fundamentadas na dimensão económica do território.