“RACIONALIZAÇÃO FEMINISTA” EM TORNO DO PROBLEMA PÚBLICO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS DE APLICATIVOS CÍVICOS DE APOIO A MULHERES VÍTIMAS DE AGRESSÕES
ciberativismo feminista; violência de gênero; ESCT; feminismos; estudos de gênero
A violência de gênero permanece como um problema persistente e alarmante em todo o mundo, e no Brasil não é diferente. O reconhecimento enquanto questão pública resulta de décadas de mobilização dos movimentos feministas. Apesar dos avanços normativos como a Lei Maria da Penha (2006) e a Lei do Feminicídio (2015), persistem lacunas no serviço de apoio às vítimas.
Esta tese em andamento parte de uma perspectiva teórico-metodológica que articula os Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia (ESCT) e Estudos de Gênero, com objetivo de compreender como os aplicativos feministas enquanto tecnologias sociais são apropriadas como instrumentos de empoderamento e acesso à informação. A análise recai sobre as trajetórias, experiências e dinâmicas de organização dos atores envolvidos na concepção, funcionamento e uso dos aplicativos Penhas e Todas por Uma. A investigação se ancora na concepção de racionalização democrática de Feenberg e no que denomino “racionalização feminista”, formulada a partir de contribuições de Donna Haraway e Judy Wajcman, cuja proposta parte da reorientação ético-epistemológica no processo de desenvolvimento de tecnologias, com o objetivo de subverter a lógica hegemônica de produção tecnológica.
Quanto aos procedimentos metodológicos, pretende-se realizar entrevistas semiestruturadas com atores envolvidos no processo de desenvolvimento e manutenção dos aplicativos, além de análise de conteúdo dos materiais disponibilizados e das interações entre usuárias e assistentes. A análise será realizada mediante triangulação entre percepção e representações da ação dos sujeitos envolvidos, orientada pelo modelo de justificações de Boltanski e Thévenot (2020), que busca identificar valores e justificações morais mobilizadas nos relatos.