A VERDADE PÚBLICA SE CONSTRÓI NO CAMINHO: as comissões da verdade brasileiras como projeto originado na interação entre Estado a sociedade civil
comissões da verdade; comissão da verdade; verdade pública; vítima; vítima coletiva; desaparecimento; mortos e desaparecidos políticos.
Como as comissões da verdade brasileiras - em âmbito nacional e estadual - contribuíram para a construção da verdade pública a respeito do passado recente da ditadura militar? As análises presentes nesta tese partiram dos relatórios finais de 16 comissões da verdade brasileiras. Diante de um locus documental extenso, escolheu-se delimitar o foco da investigação sobre o enquadramento dirigido a uma questão nevrálgica no interior dessa modalidade de organismo: a questão das vítimas fatais e a construção de parâmetros que as definem. Dessa investida, concluiu-se que o fenômeno múltiplo de existência concomitante de comissões da verdade entre os anos de 2011 e 2021 no Brasil - que passou a ser denominado comissionismo - resultou em um relato polissêmico a respeito desse período. Assim, no que diz respeito às figuras de violência que protagonizam os relatórios, evidenciou-se que o mesmo tempo que essas comissões percorreram os caminhos já consolidados de reconhecimento de vítimas individualmente identificadas, agregaram novas e incontornáveis perspectivas que fomentaram a expansão do entendimento sobre essa categoria, abrindo espaço para as vítimas contempladas em seu caráter coletivo. Restou evidente, portanto, que a verdade pública que emergiu do comissionismo gerou-se a partir de múltiplos fatores demarcados pelas interações entre diferentes signos políticos, sociais e culturais, que definem a complexa relação Estado - sociedade.