Aristocracia e processos de sacralização política (Castela, século XV)
sacralização política; aristocracia cristã; cerimônias nobiliárquicas, tratados nobiliárquicos; crônicas medievais; Castela; Idade Média.
Esta tese propõe um estudo acerca do processo de sacralização da aristocracia cristã por meio dos discursos e das cerimônias de corte, durante o reinado de Juan II de Castela (1405-1454). Partimos do pressuposto de que as cerimônias nobiliárquicas eram parte essencial de um modelo político legitimado como natureza divina e experenciadas como cultura política. Entretanto, o período selecionado corresponde a uma fase de turbulência política que a historiografia costuma configurar como momento de transição rumo à definitiva centralização do poder régio contra as forças centrífugas da nobreza. A riqueza e a diversidade das tipologias documentais produzidas na corte de Juan II, sobretudo as crônicas e os tratados de nobreza, que serviram para a construção do corpus que sustenta esta tese, permitem vislumbrar um cenário distinto em que a profusão de cerimônias pretendia sacralizar o poder das ordens superiores da sociedade, das quais, naturalmente, o monarca também fazia parte. A intensidade dessas manifestações literárias e rituais evidencia cenários dinâmicos em torno do controle das instâncias de poder que têm na estratégia da sacralização política importante instrumento de luta. Nesse sentido, a trajetória do famoso privado de Juan II, Álvaro de Luna, permite observar de modo detalhado um “processo” de sacralização e de dessacralização política, cujo desfecho fortalece a posição de superioridade da aristocracia cristã.