A experiência dos povos indígenas, após as invasões de 1500, no território que hoje é compreendido como Brasil, é marcada por uma série de violações contra suas vidas e territórios. As práticas instauradas ao longo desses 525 anos assumiram múltiplas formas, mas compartilharam um mesmo propósito, o genocídio dos povos indígenas. A ditadura civil-militar brasileira (1964–1985) perpetrou um genocídio que resultou em milhares de mortes, invasão de terras, destruição de aldeias, remoções forçadas, tortura e assassinato de povos originários. A Comissão Nacional da Verdade, criada pela Lei nº 12.528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012, teve como objetivo apurar as graves violações de direitos humanos praticadas pelo Estado brasileiro entre 1946 e 1988, com foco especial nos 21 anos do período ditatorial. No entanto, a CNV não reconheceu os indígenas mortos durante a ditadura como mortos políticos. Compreender a resistência indígena diante da ditadura como um ato político é fundamental para refletir sobre as formas de reparação possíveis aos povos afetados. Os Waimiri Atroari foram um dos dez povos com casos investigados pela CNV e sofreram, durante a ditadura, um processo genocida que resultou na morte de 2.650 pessoas. No tempo presente, as continuidades e os recrudescimentos do autoritarismo ainda ecoam e impõem desafios à efetivação de uma justiça de transição plena para os povos indígenas.