Obtenção da Anisotropia Elétrica de Componentes Tectônicos do Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental a partir de Dados Magnetotelúricos Complexos: Contribuições para os Eventos de Amalgamação do Gondwana Ocidental.
Imageamento elétrico profundo; Sistema orogênico Neoproteorozoico; Tensor magnetotelúrico; Orógeno Araçuaí; Modelo de Resistividade elétrica; Amalgamação do Gondwana Ocidental.
O enfoque do presente estudo é direcionado ao imageamento da anisotropia elétrica da crosta e do manto superior, utilizando a inversão das curvas das componentes complexas do tensor magnetotelúrico e da função de transferência geomagnética do campo vertical. Na primeira etapa, foram invertidos os dados de 15 estações magnetotelúricas de longo tempo de aquisição, distribuídas ao longo de uma transecta NW-SE de aproximadamente 202 km, projetada sobre os componentes tectônicos do Cráton São Francisco e da Faixa Araçuaí. Os dados foram adquiridos em períodos variando de 0,00007 a 13.107 segundos, com espaçamento de 15 km nas extremidades e 10 km nas áreas de maior interesse ao longo do perfil. O código de inversão aplicado resolve a estrutura de resisitividade em profundidade por meio de métodos de diferenças finitas e um algotimo de grandiente conjugado não linear para convergir para um modelo. Embora um único perfil magnetotelúrico (MT) não seja ideal para uma inversão 3-D, a predominância de distorções nos dados, causadas por influências de estruturas tridimensionais, levou-nos a considerar todas as componentes complexas da matriz impedância e da função de transferência geomagnética do campo vertical, com 56 períodos computados e distribuídos logaritmicamente entre 0,0001 e 10.000 segundos. Testes preliminares de inversão foram realizados com os elementos complexos em conjunto e separados, além de diferentes modelos de resistividade testados (50 Ω.m, 100 Ω.m e 1.000 Ω.m). O modelo que apresentou o menor desajuste foi obtido após 66 iterações, com um RMS de 9%. A partir do cortes bidimensionais horizontais e transversais do modelo final de resisitividade, examinamos aspectos da evolução do sistema orogênico Araçuaí – Congo Ocidental e das adjacências do Cráton São Francisco, que se mostraram consistentes com estudos anteriores. O modelo revelou quatro principais macrofeições elétricas, interpretadas como R1, R2, R3 e C1. Destaca-se aqui o C1, uma forte assinatura condutiva em nível crustal (1-10 Ω·m), posicionada sob a zona de cisalhemento Abre Campo, considerada uma descontinuidade geofísica que marca a existência de uma paleosutura. Essa evidência reforça a hipótese de alojamento de remanescentes ofiolíticos, possivelmente derivados do fechamento do fundo oceânico da Bacia Macaúbas. Sugere-se que parte da litosfera oceânica foi empurrada para a crosta continental em ambiente típico de colisão, após o fechamento do ramo terminal do oceano Adamastor durante a amalgamação do Gondwana Ocidental no Ediacarano e início do Cambriano. De modo geral, o modelo revelou duas litosferas distintas: uma antiga e estável, e uma outra mais jovem e dinâmica, caracterizada por eventos intrusivos. Para a segunda etapa da pesquisa, propomos a aquisição de 22 novas estações magnetotelúricas ao longo de um perfil de aproximadamente 350 km, localizado ao norte do primeiro perfil. O objetivo é continuar o imageamento da estrutura elétrica da crosta e do manto superior nas zonas de transição entre o Cráton São Francisco e a faixa Araçuaí. Além disso, buscamos investigar a continuidade das principais estruturas elétricas identificadas no primeiro perfil e verificar como essas estruturas se estendem e se comportam no segundo perfil. Por fim, a inclusão de outros dados, como gravimetria, magnetometria e anomalias de geóide, nesta segunda etapa permitirá o refinamento do modelo inicialmente proposto. Espera-se que essas novas fontes de dados revelem as diferentes respostas físicas associadas à mesma fonte geológica.