O teletrabalho e a saúde mental em uma Instituição de Ensino Pública.
Palavras-chave: Teletrabalho, saúde mental, pandemia, instituição de ensino pública.
Este estudo analisou as influências do teletrabalho obrigatório na saúde mental dos servidores
técnico-administrativos da Universidade de Brasília durante a pandemia. Adotou-se o aporte
teórico-metodológico da psicossociologia do trabalho privilegiando suas vivências e narrativas
enquanto estudo de caso de abordagem qualitativa, de natureza descritiva e exploratória
mediante a análise de conteúdo de Bardin. Os resultados demonstraram o perfil
sociodemográfico dos 15 participantes da pesquisa composto como maioria do sexo feminino,
casados, brancos, residindo com a família próximo do trabalho, com média de 37,8 anos de
idade, 8 anos de trabalho na Universidade e todos com escolaridade superior. Durante a
entrevista a maioria estava trabalhando em modelo de revezamento híbrido e representando cada
decanato com a prevalência do Decanato de Assuntos Comunitários. Estes participantes
compreendem saúde mental a partir da percepção positiva do constructo bem-estar em suas
multidimensões relacionado ao estado de equilíbrio e ao suporte social e complementar ao
conceito de não saúde mental com base no desequilíbrio projetado (ou não) sobre os estados e
sintomas de estresse, ansiedade, depressão, disfuncionalidade e falta de autonomia. Assim,
tendo por base o conceito de saúde mental marcado pela não saúde junto à família e ao trabalho
como determinantes de suas trajetórias, bem como a pandemia enquanto fenômeno social
intrínseco ao teletrabalho, os participantes compartilharam influências negativas em sua maioria
(50%), seguidos de influências ambíguas, negativas e positivas (28%) e, por fim, influências
positivas (14%). O teletrabalho influenciou negativamente a maioria das experiências dos
participantes, tendo em vista a ausência de planejamento organizacional de gestão perante a
intempestividade do teletrabalho, a sobrecarga na sobreposição de papéis entre o trabalho e a
casa e a falta de interação social pelo isolamento e sentimento de solidão repercutindo na
ansiedade, na depressão, na solidão, na angústia e acarretando, em alguns casos, grave
adoecimento. Em seguida, as narrativas demonstram que alguns participantes perceberam uma
influência ambígua na saúde mental tanto negativa quanto positiva ou vivenciaram experiências
negativas para uns e positivas para outros, decorrente do teletrabalho na pandemia diante do
processo de adaptação organizacional, do uso das tecnologias de informação e comunicação e
da possibilidade de fuga de conflitos familiares e do trabalho promovendo ansiedade, estresse e
até adoecimento e/ou ânimo e tranquilidade, menos ansiedade e estresse. E, por fim, a influência
positiva do teletrabalho durante a pandemia para a saúde mental no que tange às condições e à
flexibilidade de trabalho vivenciada pela minoria das experiências dos participantes diante da
percepção de bem-estar, descanso, concentração, menos estresse, satisfação, motivação,
disciplina, liberdade, autonomia e empoderamento. Tendo em vista as influências do
teletrabalho para a saúde mental, as narrativas abrangeram os recursos, estratégias e
mecanismos a que os participantes da pesquisa recorreram para o cuidado integral de sua saúde
mental durante a pandemia como o atendimento em saúde mental, as atividades de lazer e
aprendizagem, as atividades físicas e de saúde, o uso de álcool, a mudança de perspectiva e o
distanciamento tecnológico. Os participantes indicaram sugestões para o autocuidado em saúde
mental como as atividades de saúde, os cuidados em saúde mental, as ações coletivas e o
trabalho híbrido. E a sugestão para o cuidado da Universidade com os servidores mediante o
apoio da gestão em divulgar e implementar lugar de escuta e voz na Universidade, assim como
estabelecer procedimentos de trabalho adequados aos servidores. Destaca-se a contribuição da
pesquisa na discussão do teletrabalho tendo em vista a complexidade do tema e sua pertinência
diante do interesse da instituição na mobilização das instâncias democráticas e inovadoras e na
escassez do tema no âmbito do setor público.