Pessoas têm nomes: estudante autista com diagnóstico tardio de TEA no percurso escolar do Ensino médio à Universidade
Estudante no Espectro Autista. Inclusão Escolar. Subjetividade. Diagnóstico Tardio. Produções Subjetivas.
Este estudo tem como objetivo compreender produções subjetivas de estudante com diagnóstico tardio de Transtorno do Espectro Autista (TEA), no recorte de sua história de escolarização do Ensino Médio à Universidade. A investigação insere-se no contexto da educação brasileira, marcada por tensões entre os princípios da inclusão escolar, as políticas e diretrizes legais e práticas institucionais que subordinam a acessibilidade dos estudantes à apresentação de diagnósticos médicos. Neste sentido, a inclusão escolar é uma provocação às instituições ao trazer para dentro de seus espaços, pessoas anteriormente excluídas e suas singularidades, mas também por apontar aquelas que já estavam em seus espaços e se acham invisibilizadas. Entre estes, as pessoas no espectro autista, cuja presença nas instituições educacionais concorre com o diagnóstico. O referencial teórico adotado é a Teoria da Subjetividade na perspectiva histórico-cultural de González Rey, pela qual foi possível compreender o autismo e a pessoa autista por uma nova lente: a subjetividade, que não se limita aos aspectos intrapsíquicos de um mundo interior, mas favorece a compreensão da pessoa autista produzindo subjetivamente na integração entre emoções e processos simbólicos e na relação intrínseca entre o individual e o social. A pesquisa adota a metodologia construtivo-interpretativa, orientada pelos princípios da epistemologia qualitativa, que concebe a produção de conhecimento orientada pelo valor que a singularidade e a dialogicidade apresentam no processo de construção de conhecimento. Participaram da pesquisa estudantes autistas diagnosticados ou durante a transição ou durante a graduação na Universidade, no entanto, nesta dissertação, devido à complexidade da construção interpretativa, priorizou-se a apresentação de um estudo de caso. Foram utilizados como instrumentos: dinâmicas conversacionais, produções escritas, pictóricas e diário de pesquisa. A partir do estudo de caso, as análises evidenciaram que o participante produzia a respeito de seu percurso escolar do Ensino Médio a Universidade sentidos subjetivos associados a sentimentos de não pertencimento, de exclusão, de solidão, de sofrimento, de dificuldades de aprendizagem e pouco engajamento ao ambiente escolar relacionados à ausência de suporte, baixa valorização e desconfiança de suas capacidades. No entanto, também foi observado o desenvolvimento de recursos subjetivos como autorreflexão, autorregulação e produção de voz própria. Conclui-se que a inclusão escolar exige mais do que adaptações estruturais ou técnico-pedagógicas, mas mudança na cultura das instituições e acessibilidade aos estudantes com princípios de equidade e convivialidade; demandando o reconhecimento das subjetividades, das singularidades, compreensão de aprendizagem para além dos aspectos cognitivos e intelectuais e o rompimento com práticas homogeneizantes e universalizantes. A pesquisa contribui para ampliar a compreensão do autismo como fenômeno humano complexo e propõe práticas educacionais mais dialógicas, afetivas e inclusivas.