Psicanálise, Mulheres e Dinheiro: Interseções e Perspectivas
mulher, dinheiro, psicanálise, intersecções, W. Bion
Esta dissertação, estruturada em três artigos, buscou compreender, por meio da psicanálise, os atravessamentos do dinheiro na dinâmica psíquica das mulheres, considerando as barreiras econômicas, culturais e psíquicas que perpetuam esquemas de dependência e invisibilidade feminina. Cotidianamente, escutamos e reproduzimos frases tais como: “mulher não sabe lidar com dinheiro” ou “dinheiro é coisa de homem”. Estas frases perpetuam a caracterização da mulher como uma pessoa dependente, frágil e incapaz de tomar decisões por si própria, mesmo quando é autônoma e independente financeiramente. Nesse sentido, no primeiro artigo discutimos como, historicamente, a mulher, atravessada por construções socioculturais e econômicas, vem sendo apartada de uma relação direta com o dinheiro. Apesar do trabalho produtivo e de prover o próprio sustento, a mulher continua presa a teias sociais e psíquicas nas quais ela permanece abaixo do homem. Em seguida, no segundo artigo, partimos de uma revisão narrativa da obra de Freud, em que abordamos suas concepções sobre o dinheiro e sexualidade feminina. Apresentamos que a apropriação do dinheiro, por parte da mulher, como ato simbólico, desafia a lógica falocêntrica e abre novas possibilidades de subjetivação. Concluímos este momento destacando a importância de expandir a perspectiva psicanalítica, desconstruindo narrativas limitantes e promovendo narrativas que fortaleçam a posição das mulheres no mundo. Para finalizar, no terceiro artigo, tendo a teoria continente-conteúdo de Wilfred Bion como lente teórica principal, propomos um modelo de como o dinheiro atravessa a dinâmica psíquica das mulheres. Propomos que o dinheiro, enquanto conteúdo emocional carregado de significados sociais, culturais e históricos, frequentemente chega às mulheres como elementos beta, ainda não metabolizados pelo aparelho psíquico devido a um continente social rígido e patriarcal. A psicanálise clínica é apresentada como um continente capaz de oferecer ressonância e legitimação para novas experiências emocionais. Argumentamos que a ampliação da escuta psicanalítica pode abrir espaço para novas narrativas que subvertem padrões normativos e promovam mais espaço psíquicos e sociais de autonomia, e não de dependência. Concluímos sugerindo que a transformação da relação das mulheres com o dinheiro depende tanto de mudanças culturais quanto de escutas psicanalíticas que possibilitem a abertura de espaços psíquicos e sociais que sustentem metabolização de experiências financeiras recursos psíquicos que fortaleçam as mulheres.