“Estão tendo que engolir a gente": uma análise psicodinâmica do trabalho de bombeiras militares
gênero, trabalho feminino, militar, psicodinâmica do trabalho
Esta dissertação investiga a realidade de trabalho de mulheres inseridas em uma instituição militar, considerando possíveis desafios oriundos do encontro entre a subjetividade das trabalhadoras e a lógica masculina predominante neste tipo de organização. Para isso, foram desenvolvidos três estudos: O primeiro estudo desenvolve um debate teórico acerca do ingresso de mulheres em forças militares a partir dos estudos feministas e da psicodinâmica do trabalho feminino, considerando as questões históricas e socioculturais que caracterizam o funcionamento destas instituições. A análise empreendida possibilita evidenciar a divisão sexual do trabalho como elemento crucial desta problemática, revelando conflitos entre a organização do trabalho e os modos gendrados de subjetivação de homens e mulheres. A centralidade da virilidade enquanto ideologia defensiva que caracteriza a cultura militar é apontada como um dos principais obstáculos à plena inclusão das mulheres nestas instituições. O segundo e o terceiro estudos trazem dados obtidos a partir da análise qualitativa de entrevistas semi-estruturadas realizadas com bombeiras militares do Distrito Federal. Quatro categorias léxicas referentes à percepção das bombeiras sobre sua rotina e seu ambiente de trabalho são analisadas à luz da psicodinâmica do trabalho feminino. Entre os principais resultados, salientam-se: a baixa compatibilidade da maternidade com a escala de serviço operacional, a desvalorização da feminilidade, a ambivalência entre vivências de prazer e sofrimento, e o impacto negativo que a cultura machista impõe sobre a integração destas trabalhadoras na organização. A cooperação entre as mulheres desponta como possibilidade de enfrentamento. Os três estudos se complementam para fornecer uma visão ampla sobre os desafios enfrentados por mulheres militares na busca por pertencimento e reconhecimento. Os resultados obtidos reforçam a importância da implementação de políticas institucionais voltadas à promoção de equidade de gênero, destacando a necessidade de transformação no cerne da cultura militar a fim de possibilitar a real abertura destas organizações às mulheres.