LER CONCEIÇÃO EVARISTO NO ENSINO DE LITERATURA: POR UM CURRÍCULO AMEFRICANO
literatura negra; Conceição Evaristo; amefricanidade; Lélia Gonzales; currículo antirracista.
A partir de um diálogo epistemológico entre o conceito de Amefricanidade de Lélia Gonzales (2008; 2022) e a obra literária de Conceição Evaristo (2011), essa pesquisa desenvolve estudos sobre ensino de literatura negra e currículos educacionais, tecendo críticas ao pensamento colonial, na tentativa de descortinar e desconstruir padrões eurocêntricos que acobertam práticas racistas e sexistas no processo de ensino aprendizagem (GOMES, 2001, 2017,2020); (CAVALLEIRO, 2001, 2021). As relações étnico-raciais no Brasil são permeadas pela sombra do mito da democracia racial, muito difundido no início do século XX, e a força da produção literária amplificou essa ideia, a qual foi convenientemente abraçada pela elite branca da época e até hoje encobre sutilmente o racismo. Na contramão dessa falácia de democracia racial, essa pesquisa revisita as políticas de formulação dos currículos (SILVA 1996, 2002, 2010), destrinchando o viés ideológico eurocêntrico presente em suas estruturas, o qual ainda direciona o ensino a uma aprendizagem excludente, privilegiando a branquitude (BENTO, 2002; 2022). Desse modo, mesmo com o trabalho contínuo do Movimento Negro para garantia do direito à educação, a perspectiva antirracista de ensino é constantemente obstaculizada por meio do silenciamento nas seleções das obras literárias e invisibilização da cultura negra. Sendo assim, a partir de um percurso sobre ideologias presentes nas formulações dos currículos e o poder da arte literária no ensino formal de jovens estudantes, esse trabalho reflete sobre a necessidade da construção de uma educação literária afrocentrada, ancorada nas especificidades do povo negro brasileiro, de modo que a história e cultura africana seja contemplada nas políticas curriculares, assim como já ocorre com a cultura europeia, amplamente difundida no ensino brasileiro.