O TRAÇO, A PERDA, O RESTO: A FIGURAÇÃO DO ÁLBUM DE FAMÍLIA NA OBRA FOTOLITERÁRIA DE AUTOFICÇÃO A CENA INTERIOR-FATOS, DE MARCEL COHEN
Intermidialidade. Fotoliteratura. Autoficção. A cena interior-fatos, de Marcel Cohen.
A presente dissertação objetiva analisar a figuração do álbum de família na obra fotoliterária de autoficção A cena interior-fatos (2017), de Marcel Cohen. Para tanto, entendemos que a organização da obra se dá com o engendramento entre palavra e imagem que produz o efeito estético de leitura como se dispusemos de um álbum. Isso se configura na narrativa a partir do intento de Marcel, um autor turco judeu, de reconstituir um convívio em família, uma vez que aos cinco anos e meio de idade, durante a Segunda Guerra Mundial, presenciou boa parte de seus familiares serem deportados para Auschwitz, quando ainda residiam no bulevar de Courcelles, em Paris. Nesse sentido, essa obra, aqui considerada como fotoliterária, é composta de fatos coletados ao longo da vida do autor-narrador, bem como reproduções e descrições de fotografias de seus familiares e de objetos referentes ao seus pais. A narrativa, assim, emerge pela relação de reciprocidade entre escrita e imagem, diante também do tremeluzir das lembranças de Marcel, que ao rememorar oscila entre realidade e ficção, o que ao nosso entender margeia o gênero autoficção, pois ele, na ausência de um momento vivido com seus familiares, põe-se a fabular um cotidiano e uma vida em família. As páginas marcadas pelo bruxulear da retrospecção e o peso da perda amparam-se no traço da escrita e da fotografia e compõem o álbum de família A cena interior-fatos. Para além de exigir o direito à memória da família Cohen, nesse livro impera o desejo de Marcel de viver uma vida com seus entes queridos, ainda que no espaço limitado da obra.