Causa mortis: Racismo.
Violência obstétrica e o dispositivo de racialidade na morte materna evitável brasileira.
A presente pesquisa se estrutura em três capítulos, trazendo um quadro da mortalidade materna no Brasil dos anos 80 até o ano pandêmico de 2021, principais causas de morte materna e do modelo de atenção obstétrica do SUS, fazendo uma análise da dificuldade com os dados, especialmente aqueles desagregados por raça/cor. Aborda a violência obstétrica enquanto categoria analítica estratégica para que as mulheres possam enunciar suas dores, detalhando as formas conhecidas de violência nos serviços obstétricos e a resistência dos profissionais de saúde em reconhecer o termo, negando as práticas violadoras reiteradas. Traz uma análise do dispositivo de racialidade no atendimento obstétrico (da gestação ao puerpério e situações de abortamento) que marcam ou matam mulheres negras cotidianamente numa lógica da instrumentalização, controle e do extermínio dos corpos negros e precarização programada pelo mercado, onde a identidade/filiação étnico-racial determina o modelo do atendimento, demonstrando que a violência obstétrica revela a perversidade engenhosa do estado na gestão da dor e da morte de um determinado grupo populacional, permitindo confirmar a hipótese que deu título ao presente trabalho, CAUSA MORTIS: RACISMO, e demonstrando a importância da transversalidade de raça/etnia na saúde como estratégia de prevenção de violência obstétrica que impactará nos índices de mortalidade materna, ressaltando a necessidade de interseccionar as políticas de saúde com as políticas de equidade de raça e etnia, com o enfrentamento ao racismo como pressuposto da formação e atuação em saúde.