imagem; álbum de família; arquivo doméstico; fabulação;
A presente pesquisa compreende a análise de um álbum de fotografia de família. Sua autora, Glenda Earl, chegou ao Brasil, mais precisamente no oeste da Bahia, nos anos 1970, na esteira de uma migração que trouxe milhares de famílias norte-americanas ao país atraídas pela possibilidade de terras baratas e produtivas. Este movimento ocorreu no contexto da ditadura militar, que, indiretamente, incentivou os processos de grilagem de terras como parte de um projeto expansionista de ocupação do interior do Brasil.
As imagens do álbum de fotografia de Glenda abarca uma temporalidade de quase 30 anos (1973-2000) quando ela registrou a jornada de sua família no país, atravessando vários episódios históricos importantes. Este trabalho busca compreender as propriedades destas imagens domésticas a partir da constituição de um arquivo heterogêneo que nos dá a ver a partir dele inúmeros relevos. Primeiro, como ele se constitui enquanto prática doméstica de arquivamento; segundo, como nos dá a ver também uma denúncia política da ocupação e colonização deste território que se tornará numa das maiores zonas de monocultura do mundo. Por último, e mais fundamental, a pesquisa se volta para tentar perceber a historicização não dos eventos, mas do corpo que experiência os acontecimentos, bem como sua condição de produção das imagens.
Por fim, a pesquisa busca encarar o álbum de família de Glenda Earl, bem como o suporte do álbum de uma forma geral, como prática de uma história produzida pelas mulheres fundamentada em um sistema posicional capaz de criar novas ontologias de arquivo. Este arquivo, como prática de uma topologia doméstica, de mulheres, já não estaria circunscrita a uma ideia de imaginário doméstico como relação de precariedade e ausência. Ao contrário, o que se procura, no percurso dessas imagens, é o de mapear sentidos de potencialidades