O Riso da Gaivota. Escrituras femininas e feministas no Teatro Contemporâneo
Escrituras cênicas, escrituras de palco, escritura feminina, escritura feminista, dramaturgia contemporânea, direção feminina.
Este trabalho investiga a escritura cênica feminina e feminista no teatro contemporâneo como lugar de emancipação feminina e de desarmamento de sistemas de opressão e assimetria de gênero. A primeira parte dividi-se em dois movimentos. O primeiro, orientado por teóricos(as) como Bernard Dort, Joseph Danan, Sílvia Fernandes e Bruno Tackels, consiste em uma análise historiográfica e teórico-conceitual do conceito de dramaturgia, explorando a evolução e expansão do mesmo para além da morte do drama (Hans-Thies Lehmann), constituindo-se como prática de um teatro emancipado da literatura dramática, chegando a definição dos termos, escritura e escritor(a) de palco. Em seguida, exploro a escritura de palco na prática da Companhia Setor de Áreas Isoladas, de Brasília – a qual integro há 17 anos – fazendo uma análise crítica e reflexiva sobre as produções de sua primeira fase, quando trabalhávamos em sistema de criação coletiva e sob direções masculinas. O segundo movimento, orientado pela mesma metodologia, trata do conceito de escritura feminina, a partir de Hélène Cixous e Virgínia Woolf para defender a ideia de uma tradição de escritura feminina como poética em construção e lugar de emancipação. Opondo os mitos de Narciso e Medusa, trato da escritura feminina sob uma tradição de escrita masculina, para em seguida recolher e expor as pistas e rastros deixados por Cixous e Woolf para a construção de uma tradição feminina de escritura que quer impor-se como escritura da diferença (Derrida). Volto-me então, novamente, para uma análise crítica e reflexiva da atividade da Companhia Setor de Áreas Isoladas, durante sua segunda fase, a partir da qual eu assumi a direção e a dramaturgia e passamos a trabalhar em sistema de processo colaborativo. A segunda e terceira partes referem-se à cartografia dos meus percursos enquanto escritora de palco, atriz, produtora e gestora da companhia S.A.I, re-escrevendo as obras do dramaturgo russo Anton Tchekhov a partir de uma leitura de gênero. Desta maneira, em diálogo com as autoras Valeska Zanello, bel hooks, Virginie Despentes, Conceição Evaristo e Elena Ferrante, opero relatando e analisando os processos de criação do coletivo, expondo episódios de opressão de gênero vividos no e pelo grupo e as crises internas na gestão e manutenção do mesmo. A segunda parte tem o objetivo de demonstrar como a minha afirmação de uma voz feminista dentro deste coletivo – e através desta pesquisa – impactaram-no diretamente, provocando crises e novos rumos. Na terceira parte, cartografo o processo de criação do espetáculo, Júpiter e a Gaivota. É impossível viver sem o teatro!, resultado prático desta pesquisa, dividindo-o em dois movimentos. Um primeiro que o explora a partir das relações interpessoais no grupo, com o objetivo de demonstrar como sistemas de misoginia internalizada e opressão de gênero operaram e foram desarmados neste processo e um segundo que trata do meu percurso na criação dramatúrgica como a construção de uma poética que evolui sob o desejo de escrever para a cena como mulher.