Eu venho da floresta, mas broto no Cerrado: cultivo de jagube (Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton) e rainha (Psychotria viridis Ruiz & Pavon) em casas de ayahuasca do Distrito Federal
mariri; chacrona; etnobotânica; Santo Daime; conservação on farm
A ayahuasca é uma bebida enteógena com efeitos alteradores de consciência, preparada a partir da decocção das plantas, jagube (Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) Morton) e rainha (Psychotria viridis Ruiz & Pavon). É utilizada há séculos por diversos povos indígenas da Amazônia, e, no século XX, surgiram, na Amazônia, três religiões cristãs sincréticas que fazem uso da ayahuasca, fora de seu contexto indígena: o Santo Daime, a União do Vegetal e a Barquinha. A globalização da ayahuasca é um processo em curso, já percebido por adeptos, jornalistas e pesquisadores, e, nas últimas décadas, a ayahuasca tem sido mundialmente procurada, criando ampla demanda nacional (centros urbanos) e internacional, inclusive em países nos quais figura como droga proscrita, o que pode impactar os ecossistemas Amazônicos e seus povos. Isso suscita diversas questões sobre a sustentabilidade socioambiental dessa expansão, já que é ilegal na maioria dos países e que o cultivo das espécies é uma lacuna no acúmulo teórico sobre a ayahuasca construído nas últimas décadas. No contexto regional, o Distrito Federal é um dos primeiros estados brasileiros a ter casas de ayahuasca fora da Amazônia (desde a década de 1980), sendo que o número de casas tem aumentado nos últimos anos. Neste sentido, é necessário a sistematização e avaliação das técnicas de cultivo das plantas que compõem a bebida, no intuito de atenuar a pressão sobre o agroextrativismo dessas espécies, e, também, fornecer informações que possam beneficiar casas no alcance da autossuficiência na produção de ayahuasca. Assim, essa pesquisa pretende coletar, sistematizar e avaliar dados sobre o cultivo B. caapi e P. viridis em casas de ayahuasca do Distrito Federal, identificando práticas concernentes ao plantio, adubação, manejo, controle de plantas espontâneas, podas, colheita e armazenamento. essa pesquisa pretende contribuir para o avanço científico sobre a ayahuasca, bem como fortalecer a sustentabilidade ambiental e responsabilidade social das comunidades adeptas da ayahuasca, das quais faço parte, pois é minha religião há 11 anos.