Enquanto a importância de ações sindicais para o campo da saúde mental relacionada ao trabalho no Brasil é reconhecida, as relações entre trabalho sindical e processos de saúde e adoecimento de sindicalistas são negligenciadas enquanto objeto de investigação. O presente estudo busca explorar essa lacuna, e, nesse sentido, considera o contexto histórico do surgimento do novo sindicalismo e o cenário político e social marcado pela introjeção da racionalidade neoliberal nos trabalhadores, perpetrada por gramáticas sociais e morais que agenciam afetos. Adicionalmente, aborda o contexto cultural vinculado ao estilo de vida militante, que, conforme apontado pela literatura, revela indícios de sofrimento e adoecimento entre dirigentes sindicais, fenômeno denominado nesta dissertação como “sofrimento sindical”. Dessa maneira, tendo em vista a associação entre reestruturações produtivas e transições epidemiológicas, e levando em conta o contexto de múltiplas crises que atravessam o sindicalismo brasileiro, indaga-se: como estão os sindicalistas brasileiros? A partir dessa questão, esta dissertação teve como objetivo geral caracterizar o processo de sofrimento e adoecimento de militantes sindicais. Para alcançar esse objetivo, foi desenvolvida pesquisa qualitativa interpretativa baseada na abordagem da Teoria Fundamentada nos Dados Construtivista. Foram realizadas entrevistas intensivas com 25 lideranças sindicais, e os dados coletados foram submetidos a uma análise comparativa estruturada em quatro ciclos: codificação aberta, focalizada, axial e teórica. O modelo teórico sobre o fenômeno de interesse foi estruturado com base em eixos funcionais que descrevem como e por que o sindicalista experiencia o sofrimento atrelado ao trabalho sindical. Os eixos foram moldados pelas percepções dos militantes acerca do movimento sindical, do perfil do sindicalista, e da forma como a pauta da saúde mental é endereçada na agenda sindical. Identificou-se as contradições presentes no contexto sindical como uma temática transversal. Os resultados indicam um cenário de cansaço, estresse e sofrimento entre os militantes, evidenciado pelos assédios no contexto sindical relatados pelos sindicalistas. Os sindicatos emergem como arenas propícias ao conflito e à violência, em decorrência da dissolução dos laços cooperativos e de solidariedade no movimento. As contradições, por sua vez, evidenciam o lugar ambíguo e ambivalente ocupado pelo movimento sindical: entre os movimentos sociais e a institucionalização, os sindicatos foram caracterizados como organizações burocratizadas e hierarquizadas, que acabam por distanciar o sindicalismo da sua perspectiva contra-hegemônica. Dessa forma, emerge uma contradição central: o esvaziamento político de um movimento inerentemente político. Por fim, os achados oferecem uma visão privilegiada das transformações políticas, sociais e culturais da militância e os impactos na racionalidade dos seus membros e, alinhados à literatura acadêmica, provocam reflexões sobre potenciais indefinições teóricas e dinâmicas negociativas no campo da saúde mental relacionada ao trabalho.

A tese objetiva construir um modelo de avaliação de treinamento no nível do indivíduo, tendo como contexto um conjunto de treinamentos de comercialização de produtos bancários de varejo, disponível por meio de plataformas digitais que contemplam mobilidade. O modelo avalia o  impacto do treinamento no trabalho em amplitude e, para isso, utiliza um conjunto de 8 escalas que medem as variáveis motivação para transferir; suporte psicossocial à transferência (superiores e pares de trabalho); condições facilitadoras do acesso online aos conteúdos do treinamento; percepção de utilidade do acesso online aos conteúdos do treinamento; facilidade de uso dos conteúdos online do treinamento no trabalho,  características de treinamentos associadas a retenção de aprendizagem; e suas relações com a variável critério transferência de treinamento para o trabalho. O trabalho é composto por 3 manuscritos. O Manuscrito 1 é um ensaio teórico, com base na análise da literatura, que integra os achados das áreas em estudo, criando um framework teórico, expresso por 3 matrizes de referências, que objetiva dar suporte às ações de elaboração, análise e avaliação de intervenções instrucionais voltados aos modelos disponíveis em meios digitais com mobilidade. O resultado dá suporte às análises e à compreensão do contexto em exame. O Manuscrito 2 descreve a adaptação de uma escala de prontidão ao uso de tecnologia ao contexto de treinamento corporativo apoiado em recursos de mobilidade e a respectiva investigação de evidências de validade de conteúdo por juízes e de estrutura empírica por análise fatorial exploratória. Os resultados mostram que a estrutura empírica da escala possui evidências robustas de validade e confiabilidade. O Manuscrito 3 avaliou as relações de predição das variáveis do modelo proposto por meio de Modelagem por Equações Estruturais, confirmando os efeitos diretos positivos das variáveis percepção de utilidade do acesso online aos conteúdos do treinamento e percepção da qualidade do treinamento sobre a variável motivação para transferir, bem como das variáveis suporte a transferência de treinamento - pares de trabalho e motivação para transferir sobre a variável critério transferência de treinamento. Os resultados dos estudos trazem contribuições teóricas, metodológicas e práticas para o uso eficaz de recursos de mobilidade visando incrementar as taxas de transferência de treinamentos resultantes de intervenções instrucionais apoiadas em recursos móveis.

A cooperação é amplamente explorada em disciplinas como a Psicologia Social, Economia e Biologia. No entanto, os estudos recentes ainda pouco abordam as implicações morais dos comportamentos cooperativos, apesar da ligação íntima entre cooperação e moralidade. Com isto em vista, a presente tese tem como objetivo abordar essa lacuna explorando a teoria da Moralidade como Cooperação (MAC), uma estrutura emergente destinada a integrar esses domínios conexos. Para isto, foram desenvolvidos três estudos. O Estudo 1 teve como objetivo expandir e refinar o questionário já existente da MAC, e foram propostas três novas dimensões: Reciprocidade Indireta, Reciprocidade Negativa e "Standing,” que foram testadas em uma amostra de 360 participantes. No Estudo 2, o novo questionário MAC foi adaptado ao contexto brasileiro, com uma amostra de 543 participantes, onde também foi testada sua validade convergente com o perfil de valores de Schwartz, need for closure, e altruísmo autorrelatado. No Estudo 3, foi avaliado o poder preditivo das dimensões da MAC sobre comportamentos cooperativos em jogos econômicos e sua relação com os cinco grandes fatores de personalidade, utilizando uma outra amostra de 543 participantes. Foi encontrado que as dimensões de Deferência e de Equidade e Propriedade da escala de Relevância, assim como Extroversão, apareceram como preditores da cooperação. Juntos, esses três estudos ampliam teoricamente a MAC, oferecendo um instrumento adaptado para o Brasil, além de testar empiricamente suas dimensões em contextos simulados de cooperação, contribuindo para que se estabeleça a MAC como uma teoria mais robusta de moralidade.

Esta tese analisa como o discurso capitalista neoliberal produz significantes que estigmatizam o trabalho e contribuem para o adoecimento psíquico do trabalhador, especialmente no serviço público. Foram estudados o conceito de significante na obra de Lacan e a definição de trabalho, conforme previsto na lógica econômica e política do capitalismo neoliberal. Trata-se de uma pesquisa qualitativa fundamentada na perspectiva das teorias psicanalítica e da crítica, social, realizada por meio de três estratégias: estudo teórico, revisão sistemática de literatura e análise de caso. A pesquisa compreende o trabalho como um significante que, na cultura neoliberal, perde sua função sublimatória para se tornar fonte de gozo compulsivo e sofrimento. A partir da noção de que o inconsciente é estruturado como linguagem, argumenta-se que os discursos neoliberais colonizam a subjetividade e impõem ao sujeito um modelo de realização baseado na produtividade e no consumo. Tal lógica opera por meio de injunções superegóicas que promovem o silenciamento do desejo, favorecendo a emergência de sintomas. A tese propõe a Clínica Psicanalítica do Trabalho como um dispositivo que, por meio da escuta e da interpretação, permite ao sujeito ressignificar seu sofrimento, reposicionar-se diante do trabalho e sustentar o desejo como expressão de sua singularidade. Ao apontar o trabalho como sintoma social da racionalidade neoliberal, o estudo oferece uma crítica aos discursos normativos de gestão e ao ideal de desempenho que marcam o mundo do trabalho contemporâneo. Contribui, assim, para a compreensão dos efeitos subjetivos dessa lógica e para a construção de práticas clínicas sensíveis às condições de sofrimento psíquico do trabalhador.

O pano de fundo da tese foi a redução do interesse em cargos de liderança. A motivação para liderar (motivation to lead ou MTL), definida como um processo psicológico que direciona, energiza e sustenta comportamentos vinculados a objetivos autodeterminados de desenvolvimento de papéis de liderança, foi selecionada como variável de interesse para investigar esse cenário, dada sua centralidade para a emergência de líderes. Assim, o objetivo da tese foi analisar a relação entre a MTL e o desenho do trabalho (o conteúdo e a organização das atividades, tarefas, relacionamentos e responsabilidades associadas ao trabalho de um indivíduo), contribuindo com três grandes lacunas da literatura sobre MTL: baixa inserção de variáveis contextuais nos modelos, pouco foco nos mecanismos subjacentes ao constructo e pouca atenção às consequências negativas da liderança. O texto está estruturado em dois artigos, que compartilham a premissa central de que os indivíduos avaliam o desenho do trabalho de seus líderes, como forma de julgar se assumir essas posições acarretaria melhorias nas características de seu trabalho. No primeiro artigo, o foco esteve nos aspectos positivos (ganhos) advindos de papéis de liderança, com objetivo específico de analisar o impacto na MTL da percepção de que assumir papeis de liderança acarretaria enriquecimento do trabalho. O segundo artigo teve foco nos aspectos negativos (ameaças) advindos de posições de liderança, com objetivo específico de testar o papel mediador das preocupações sobre liderança na relação entre percepção de sobrecarga no trabalho de líder e MTL. Em ambos os artigos, os modelos teóricos propostos foram testados utilizando-se uma abordagem multi-método (correlacional e experimental). Os achados indicaram que o desenho do trabalho do líder tem impacto na MTL, por meio da eliciação de emoções antecipatórias (preocupações sobre liderança) e de alterações na valência dos cargos de liderança e na autoeficácia para liderar do indivíduo. A busca por cargos de liderança esteve atrelada ao desejo por posições de trabalho mais enriquecidas, associadas ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. A autonomia se destacou como um recurso importante para ampliar a atratividade dessas posições, ao passo que os níveis de sobrecarga e complexidade do trabalho atuaram como demandas que afastaram os profissionais. Além da contribuição teórica com as lacunas relatadas anteriormente, esta tese fornece subsídios para embasar o desenho de posições de liderança mais atrativas.

Esta tese tem como objetivo compreender os fatores que favorecem a manifestação do comportamento inovador no trabalho (IWB), com base na premissa de que ambientes organizacionais orientados para a inovação, sustentados por estruturas, práticas e relações específicas, promovem esse tipo de comportamento entre os trabalhadores. O IWB é entendido como um fenômeno complexo, composto pelas dimensões de geração, promoção e implementação de ideias novas e úteis, exigindo não apenas criatividade, mas também capacidade de articulação social, enfrentamento de riscos e superação de barreiras institucionais. A pesquisa foi realizada em uma organização pública brasileira e adota uma abordagem quantitativa, longitudinal e multinível. O modelo teórico proposto integra variáveis contextuais (ambidestria organizacional e ambidestria cultural, desdobrada em visão compartilhada e diversidade de perspectivas), relacionais (ambidestria da liderança e qualidade da relação líder-membro – LMX) e individuais (job crafting e estresse). A tese está estruturada em cinco manuscritos interdependentes. O primeiro apresenta uma revisão integrativa da literatura científica publicada entre 2023 e 2025 sobre o comportamento inovador no trabalho, identificando lacunas, avanços e tendências teóricas. O segundo manuscrito trata da adaptação e validação psicométrica da escala de ambidestria da liderança para o contexto brasileiro, considerando os repertórios comportamentais de abertura e fechamento. O terceiro manuscrito realiza uma avaliação longitudinal das propriedades psicométricas das escalas utilizadas, por meio de testes de invariância de medida e de modelos de curva de crescimento latente, permitindo observar a estabilidade ou variação dos construtos ao longo do tempo. O quarto manuscrito testa um modelo explicativo que articula as três dimensões da ambidestria (organizacional, cultural e da liderança) como preditores diretos e indiretos do comportamento inovador, utilizando modelagem multinível com dados coletados em três momentos distintos. O quinto manuscrito aprofunda a compreensão dos mecanismos psicossociais envolvidos, ao propor e testar um modelo de mediação sequencial que integra ambidestria da liderança, LMX, estresse, job crafting e IWB. Os achados dos cinco manuscritos indicam que a presença simultânea de práticas organizacionais ambidestras, lideranças responsivas e recursos psicossociais favorece a expressão sustentada do comportamento inovador ao longo do tempo, mesmo diante de contextos de estresse. A tese contribui teoricamente ao integrar múltiplas abordagens e níveis de análise em torno de um modelo explicativo robusto, e metodologicamente ao validar instrumentos e demonstrar estabilidade longitudinal de construtos em um contexto organizacional real. Do ponto de vista prático, os resultados oferecem subsídios para o desenvolvimento de estratégias de gestão voltadas à promoção da inovação, sobretudo no setor público, ao destacar a importância da cultura de inovação, da liderança flexível e do engajamento ativo dos trabalhadores com seu próprio trabalho. Ao final, a tese reafirma que o comportamento inovador é fruto de um sistema de relações que ultrapassa os limites do indivíduo, exigindo uma articulação constante entre ambiente, liderança e agência individual.

De acordo com pesquisas recentes, as pessoas conseguem perceber com mais facilidade a desigualdade quando expostas a exemplos concretos do cotidiano, em comparação com quando são questionadas sobre a diferença de renda mensal. Contudo, a interpretação dessas informações pode variar conforme a vivência de cada indivíduo. Um exemplo disso é como as pessoas de diferentes classes sociais demonstram categorizar as manifestações de desigualdade de maneiras distintas, resultando em várias representações mentais para dar sentido ao observado. Ao buscar por instrumentos psicométricos específicos para avaliar as representações de desigualdade econômica, não se identificaram escalas disponíveis. Por isso, a presente pesquisa buscou construir e apresentar evidências de validade de uma escala focada em representações mentais de desigualdade econômica. No Estudo 1, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com o objetivo de descrever de que maneira manifestações econômicas, culturais e sociais são empregadas para representar a disparidade econômica. A partir dessas, observou-se que as classes categorizaram a desigualdade de maneira distinta. No Estudo 2, foi construída uma escala psicométrica para padronizar as representações mentais de desigualdade, avaliando o seu conteúdo e a sua estrutura. Nessa etapa, os itens foram reduzidos e foi encontrada uma estrutura bifatorial para o instrumento. Entretanto, a amostra era de alta escolaridade e alta renda, por isso, foi realizada uma nova coleta. O Estudo 3 foi conduzido para replicar a estrutura de dois fatores observada no Estudo 2, mas com uma amostra maior. Adicionalmente, foi identificada a rede nomológica para as representações mentais e o poder preditivo do instrumento para prever o apoio à desigualdade. Os três estudos demonstram como as pessoas podem classificar as manifestações de desigualdade de maneiras diversas, ponto importante quando se busca entender as diferenças no julgamento da desigualdade.

O objetivo geral da dissertação foi contribuir para aplicação no Brasil da teoria de redesenho do trabalho de aproximação-evitação que integra as duas teorias dominantes. O Artigo 1 apresentou evidências iniciais de validade da Escala de Redesenho do Trabalho de Aproximação-Evitação (N = 260). O Estudo 1 adaptou a escala e coletou evidências de validade interna. Diferindo da teoria original de 8 fatores, a análise fatorial exploratória resultou em uma estrutura bifatorial: aproximação (α = 0,89) e evitação (α = 0,82), com 33 itens. O Estudo 2 reuniu evidências de validade por meio de medidas externas. A nova escala apresentou evidências de validade convergente e de critério. A dimensão aproximação correlacionou-se positivamente com engajamento (r = 0,557) e desempenho (r = 0,506), enquanto evitação mostrou associação negativa com engajamento (r = -0,089) e positiva fraca com desempenho (r = 0,119). O Artigo 2 desenvolveu e testou uma nova intervenção de acordo com a teoria de aproximaçãoevitação. Participantes foram convidados a pensar em como aumentar recursos e reduzir demandas tendo como base cada dimensão da teoria seminal (tarefas, relações, percepção). Objetivou-se aumentar comportamentos de aproximação, engajamento e desempenho e diminuir comportamentos de evitação em três sessões, totalizando 6 horas. O grupo intervenção foi composto por 25 trabalhadores e o controle por 27. A coleta ocorreu em três tempos. A intervenção não aumentou de forma significativa nenhuma das variáveis. No entanto, as avaliações de reação e as tendências observadas foram positivas, sugerindo que melhorias podem ser implementadas, como maior tempo de intervenção.

A educação é essencial para o progresso social, capacitando alunos com habilidades vitais para seu desenvolvimento e sucesso. A transição do ensino médio para o superior é um marco importante, refletindo as competências adquiridas pelos alunos e sua preparação para desafios acadêmicos e sociais. Este estudo investigou em que medida o ensino médio prepara adequadamente os alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), considerando a influência de fatores socioeconômicos no desempenho dos estudantes. Utilizando o modelo de diagnóstico cognitivo Generalized Deterministic Inputs, Noisy "And" Gate Model (GDINA), o estudo identificou uma discrepância entre as competências esperadas pelo ENEM e as habilidades efetivamente desenvolvidas pelos estudantes ao final do ensino médio, particularmente em participantes de baixa renda. Este estudo utilizou o questionário socioeconômico do ENEM para criar uma medida de nível socioeconômico, analisando diferenças de aprendizado entre grupos. Após a aplicação de uma Análise Fatorial Exploratória (AFE) e a exclusão de itens com baixas cargas fatoriais, uma Análise Fatorial Confirmatória (AFC) confirmou a estrutura fatorial, com índices de ajuste satisfatórios (CFI = 0,980, TLI = 0,978, RMSEA = 0,067 e SRMR = 0,068). O instrumento apresentou um índice de fidedignidade (λ2) de 0,91. Os escores fatoriais gerados foram usados para categorizar candidatos em quartis socioeconômicos, revelando diferenças significativas de aprendizado entre os níveis mais altos e mais baixos. A pesquisa revelou ainda que, apesar das altas correlações entre as competências, indicando uma possível unidimensionalidade das áreas do conhecimento avaliadas, a competência CN2 de Ciências da Natureza merece uma investigação adicional devido às suas baixas correlações com as demais competências de área. Além disso, o estudo aponta que a escolha da língua estrangeira no ENEM está associada à probabilidade de domínio das competências, com variações notáveis baseadas no nível socioeconômico. Por fim, os resultados indicaram um bom ajuste do modelo GDINA, que se mostrou eficaz para entender as competências dos estudantes.

Este estudo teve como objetivo caracterizar os trabalhos (im)possíveis do psicanalista fora do setting tradicional a partir de uma metodologia de pesquisa qualitativa. A prática analítica fora do consultório foi realizada em uma ONG e o método empregado foi a autoetnografia. Sendo assim, como idiossincrasia desse tipo de método, o principal participante da pesquisa foi o próprio pesquisador. O referencial teórico utilizado para analisar o trabalho autoetnográfico foi a Clínica Lacaniana do Trabalho proposta por Mendes (2018, 2022) e seu possível desdobramento em analisar o trabalho da e na psicanálise fora do setting tradicional. A discussão e os achados consistiram nas seguintes concepções acerca dos trabalhos (im)possíveis do psicanalista fora do setting: (1) o psicanalista precisa levar em consideração o contexto social em que se insere, entendendo que muitos dos fatores de sofrimento que se pretende tratar são sociogênicos e não psicogênicos; (2) é preciso também entender como iniciar o trabalho da psicanálise, uma vez que, em uma instituição, não são os analisandos que chegam até o psicanalista, mas este que vai até os analisandos - demandando uma postura mais ativa e cuidadosa do psicanalista para instituir a psicanálise; (3) a relação psicanalista-instituição deve ser manejada da melhor maneira possível para que a permanência do analista possa acontecer - há maneiras em que o analista pode contribuir com a instituição sem que um queira dominar discursivamente o outro.

Esta dissertação de mestrado visa contribuir com a aplicação da metodologia de análise de redes sociais (ARS) para entender o engajamento no trabalho no contexto organizacional brasileiro. O Manuscrito 1 realizou uma revisão de escopo sobre vínculos organizacionais e de trabalho, além do uso da ARS em organizações. Foram encontrados oito estudos até março de 2024 em seis bases de dados. Observou-se que a ARS é utilizada como antecedente para vínculos, mas há fragilidade na fundamentação teórica e uma lacuna relevante na literatura. O Manuscrito 2 investigou as redes sociais de uma organização financeira brasileira, utilizando dados de um sistema interno de contatos profissionais para calcular as medidas de ARS. Identificaram-se 83 unidades relevantes, principalmente de atuação negocial, destacando-se pelo acesso a informações privilegiadas. Por fim, o Manuscrito 3 analisou as redes sociais de comunicação da organização e suas associações com o engajamento no trabalho, utilizando dados de um sistema de informações profissionais e a aplicação do Utrecht Work Engagement Scale 9 (UWES 9). Foram analisadas 1.048.522 conexões e 10.635 questionários da UWES 9. A análise fatorial confirmatória mostrou adequação dos modelos uni e trifatorial. As correlações indicam que a posição privilegiada e próxima de uma unidade na rede social está positivamente relacionada ao engajamento no trabalho dos indivíduos, corroborando a literatura existente.

A aprendizagem que ocorre no setting da modalidade de reabilitação interdisciplinar que envolve equinos, a equoterapia, pode contribuir para ampliação do desenvolvimento de pessoas com deficiência (PcD) ou outras necessidades específicas, sejam psicológicas, motoras, sensoriais, dentre outras. Estudar e analisar melhor o fenômeno da aprendizagem deste contexto específico, que coloca pessoas, cavalos e ambiente em integração constante e de modo interdisciplinar, a partir das proposições da Teoria Social Cognitiva (TSC) de Bandura, é relevante para fomentar o propósito da inclusão da PcD; e contribuir para reconhecimento técnico-científico da equoterapia e cenário da avaliação psicológica. Dessa forma, o principal objetivo desta dissertação foi apresentar um instrumento inédito, com propriedades psicométricas adequadas, capaz de aferir o fenômeno da aprendizagem na equoterapia, útil para este contexto e para pesquisa científica. Assim, dois estudos foram conduzidos de modo independente, mas interligados. Estudo 1 apresenta a construção, evidências de validade do conteúdo e da estrutura interna da Escala de Comportamentos Aprendidos na Equoterapia (ECAEQ). A estrutura fatorial do instrumento resultou em 25 itens, com três fatores sem cargas fatoriais cruzadas e índice de confiabilidade 0,92. Estudo 2, que apresenta: evidências de validade externa da ECAEQ verificada por meio das relações com outras medidas. Destacam-se correlações positivas e estatisticamente significativas, com funcionalidade (r = 0,67, 95% BCa IC [0.58, 0.75], p < 0,01) e qualidade de vida (r = 0,22, 95% BCa IC [0.06, 0.37], p < 0,01). Conclui-se que a ECAEQ apresenta evidências de validade e estimativa de precisão, podendo ser utilizada em pesquisas para avanço técnicocientífico da equoterapia e favorecendo processos de desenvolvimento e inclusão da PcD.

A dinâmica acelerada do ambiente organizacional contemporâneo impõe às empresas a necessidade constante de adaptação e mudança. Neste cenário, a prontidão para mudança emerge como um fator crítico para o sucesso organizacional. O Manuscrito 1 apresenta uma revisão sistemática da literatura que buscou identificar estudos de prontidão para mudança no contexto organizacional no período de 2018 a 2023. Evidenciou-se uma maior presença de pesquisas preditivas e de validação de instrumento, tanto em nível individual quanto organizacional, com uma concentração ignificativa na área de saúde. Nos estudos correlacionais, as variáveis mais frequentemente associadas à prontidão para mudança foram o sucesso na implementação da mudança e o apoio da liderança. Também foram identificadas importantes lacunas na literatura, como a falta de abordagem multidimensional, limitações na contextualização cultural, escassez de estudos longitudinais e desafios na  mensuração. O Manuscrito 2 buscou identificar indícios de validade para o instrumento de prontidão para mudança em nível individual e grupal. Foram conduzidas Análises  Fatoriais Exploratórias (AFE) e Análises Fatoriais Confirmatórias (AFC) com amostras  independentes. Os dados revelaram bons índices de ajuste e demonstraram que a  estrutura fatorial composta por 4 fatores é adequada para a medida no contexto  brasileiro. Essa validação é essencial para garantir a confiabilidade e a precisão do  instrumento em diferentes contextos organizacionais. Por fim, o Manuscrito 3 propõe o  teste do modelo de predição entre Práticas Organizacionais, Comportamento do Líder,  Prontidão para Mudança e Bem-Estar por meio de equações estruturais. Os resultados  sugerem que a comunicação dos líderes pode exercer influências substanciais na relação entre práticas de gestão da mudança e prontidão para mudança. Essa descoberta aponta  implicações sobre o papel dos líderes na preparação das equipes para mudanças  organizacionais. Em conjunto, os três manuscritos representam uma contribuição  significativa para a expansão do conhecimento científico nessas áreas, oferecendo uma  ferramenta validada para a avaliação da prontidão para mudança em contextos  organizacionais complexos e dinâmicos. Essas descobertas não apenas enriquecem a  compreensão teórica sobre a prontidão para mudança, mas também fornecem entendimentos  práticos para gestores e líderes que buscam promover e gerenciar mudanças eficazes nas organizações. 

A presente tese como objetivo principal verificar o impacto que o capital cultural, adquirido a partir as interações que ocorrem no ambiente familiar, tem no desempenho acadêmico dos alunos. Para alcançar esse objetivo foi necessário também elaborar e obter evidências de validade de um instrumento criado para esse propósito específico. O instrumento foi construído a partir de duas dimensões do capital cultural: Capital Cultural Estático (CCE) e Capital Cultural Relacional (CCR). No processo de construção e busca de evidências de validade com base no conteúdo, o instrumento foi submetido a análise de juízes, onde estes classificaram os itens de acordo com a relevância e pertinência em cada dimensão. Também foram realizadas análise semântica e com o público-alvo. Dos 26 itens que compunham o instrumento, 16 passaram por algum tipo de revisão, buscando sempre a melhoria do instrumento como um todo. A etapa seguinte foi verificar se havia evidências de validade com base na estrutura interna. A Análise Paralela indicou os dois fatores previstos: CCE e CCR. Para verificar a consistência interna de cada dimensão, foi calculado o lambda 2 de Guttmam assumindo os valores de 0,702 e 0,845, respectivamente. Calculamos os índices UniCO = 0,787, ECV = 0,669 e MIREAL = 0,318. Fizemos uso da Análise Fatorial Exploratória e Análise Fatorial Confirmatória Parcial. Os índices de ajustes CFI = 0,946 e TLI = 0,935, e o índice de resíduo RMSEA = 0,053, as análises de consistência interna, de determinância e replicabilidade dos escores fatoriais nos indicaram evidências de validade para a utilização da Escala de Capital Cultural nas Interações Familiares. O instrumento foi aplicado, de forma eletrônica, a 11.795 do 5° ano do Ensino Fundamental que pertenciam a uma rede de escolas presente em todas as 05 grandes regiões do Brasil. Junto com a escala de capital cultural, os alunos realizaram uma avaliação de conhecimentos em língua portuguesa e matemática e responderam a um questionário sociodemográfico. Os alunos foram classificados pelo nível de capital cultural que possuíam em cada dimensão. As categorias foram: níveis de capital cultural, em cada uma das duas dimensões: G1 – Crítico, G2 – Baixo, G3 – Médio e G4 – Alto. Análises estatísticas como ANOVA, teste t de Student e delineamento fatorial mostraram o impacto do capital cultural na combinação dos diferentes grupos com as disciplinas de língua portuguesa e matemática. Os resultados nos levaram a concluir que: 1) o capital cultural, em ambas as dimensões, impactam no desempenho acadêmico dos alunos, tanto em língua portuguesa, F(3, 11764) = 9,516, com p < 0,001 e η2 = 0,002, F(3, 11764) = 42,349, com p < 0,001 e η2 = 0,011, quanto em matemática, F(3, 11764) = 13728, com p < 0,001 e η2 = 0,003, e F(3, 11764) = 28,138, com p < 0,001 e η2 = 0,007, e; 2. que o capital cultural relacional impacta linearmente no rendimento dos alunos à medida que é aumentado o capital cultural estático, F(9, 11771) = 1,869, com p = 0,052 e η2 = 0,001. Finalmente, consideramos o capital cultural de forma coletiva, comparando o impacto do capital cultural entre as escolas participantes da pesquisa. Para isso, realizamos uma análise de regressão multinível. Os resultados mostraram que o capital cultural relacional coletivo respondeu por 9,4% da variância no desempenho de matemática e 9,2% do desempenho de língua portuguesa. O estudo ainda constatou que quando adicionamos na equação outras variáveis contextuais, como sexo, escolaridade dos pais, o fato dos pais morarem com os filhos e o tempo em que o aluno já estudava na escola, a variância do desempenho passou a ser 18,2% e 13,5% em matemática e em língua portuguesa, respectivamente. Assim, percebemos que o capital cultural coletivo, associado às variáveis contextuais respondem por uma parte do desempenho acadêmico dos alunos. Dessa forma, concluímos que o capital cultural a partir das interações familiares exerce um impacto no desempenho acadêmico dos alunos.

Tendo em vista a valorização do conhecimento como ativo organizacional, há crescente interesse de acadêmicos e práticos por operacionalizar os processos das empresas que se relacionam com os conhecimentos. Nesse sentido, o Sistema de Memória Transacional (SMT), que tem o foco em utilizar e integrar as especialidades distribuídas na equipe, é um conceito especialmente apropriado para a compreensão de como se pode otimizar o valor do conhecimento individual dentro de uma equipe. Assim, torna-se importante conhecer seus preditores. O esforço intencional da organização em alavancar o conhecimento por meio da adoção de práticas de Gestão do Conhecimento (GC) e um clima propício a aprendizagem são duas variáveis de contexto que, na teoria, contribuem para a promoção de comportamentos de aprendizagem de equipes que, por sua vez, ao trabalhar com a construção coletiva do conhecimento, podem influenciar na formação de cognições compartilhadas como o Sistema de Memória Transacional. O objetivo da presente tese de doutorado foi identificar preditores do Sistema de Memória Transacional relacionados à Gestão do Conhecimento e aprendizagem de equipes, considerando a natureza do trabalho com relação a sua complexidade e necessidade de conhecimentos. Para isso, a partir da delimitação dos construtos a serem estudados, e, após a construção de instrumentos necessários, foi realizado estudo com empregados de uma empresa pública por meio de questionários eletrônicos. Para a análise dos dados, foram utilizadas regressões, após processo de emersão dos dados das respostas individuais. Como principais resultados, observou-se que os comportamentos de aprendizagem de equipes, o clima para aprendizagem (principalmente facilitação e valorização), e práticas de Gestão do Conhecimento relativas à Transferência, Criação e Aplicação constituem os principais preditores do SMT. A tese apresenta como contribuição, além da identificação desses preditores, a discussão sobre conceitos relacionados à aprendizagem de equipes e ao conhecimento coletivo, bem como o desenvolvimento de medidas com boas evidências de validade.

O Teletrabalho é o trabalho  realizado em um local alternativo, em vez do local de trabalho convencional, por meio de dispositivos eletrônicos e TICs. Tendo um contexto no mundo do trabalho de muitas transformações, uma delas não foi diferente: a pandemia causada pela COVID-19. A pandemia proporcionou diversas mudanças no cenário em que o mundo se encontra hoje, dentre elas uma aceleração por parte das organizações na migração do trabalho para ambientes virtuais e na realização de atividades de maneira remota. Com isso, muitas questões relacionadas às vantagens e desvantagens associadas ao teletrabalho são levantadas, dentre elas a relação que essa modalidade apresenta sobre bem-estar. O bem-estar, conceituado neste estudo como a prevalência de emoções positivas no trabalho que englobam aspectos afetivos, relacionados a afetos positivos e afetos negativos (Paschoal & Tamayo, 2008), é abordado nesse estudo pautando-se em diversas pesquisas que se embasam na Teoria da Psicologia Positiva e Teoria de Trocas Sociais, ao verificar a relação das variáveis de Bem-Estar com Capital Psicológico e Suporte Social (especialmente suporte gerencial), respectivamente. Essa pesquisa teve como objetivo principal analisar como o capital psicológico e o suporte social, especialmente de gestores, se relacionam com bem-estar. Como objetivo específico, essa pesquisa também pretendia identificar se existia diferença significativa na percepção de teletrabalhadores em relação às variáveis estudadas quando comparados a trabalhadores presenciais. A amostra coletada foi composta por 1.256 participantes de organizações públicas do Brasil, sendo que 84% são trabalhadores presenciais e 61% pertencem ao sexo feminino. Foram calculadas estatísticas descritivas para a caracterização da amostra e estatísticas inferenciais para a realização dos testes das hipóteses e verificação dos objetivos da pesquisa, incluindo a realização de Análises Fatoriais Confirmatórias para a obtenção de evidências de validade dos instrumentos e uma Modelagem por Equações Estruturais, na qual foram testadas as relações existentes entre as variáveis: capital psicológico, suporte gerencial, afeto positivo e afeto negativo. Os resultados indicaram que as três escalas utilizadas apresentaram boas evidências de validade da estrutura interna considerando a aplicação na amostra brasileira. Ainda, os resultados da Modelagem por Equações Estruturais demonstraram que o capital psicológico e o suporte gerencial possuem relações positivas com afetos positivos, enquanto possuem relações negativas com afetos negativos. Portanto, o presente estudo trouxe contribuições teóricas, metodológicas e práticas ao se aprofundar na investigação de temas relevantes ao teletrabalho, as quais permitem sugerir que o capital psicológico dos indivíduos e o suporte gerencial sejam considerado por organizações que pretendem implantar o regime de teletrabalho ou aprimorar um programa vigente, de modo a possibilidade um contexto favorável ao bem-estar desses teletrabalhadores.

O engajamento no trabalho é um tema de grande interesse acadêmico e organizacional. Assim, a busca por variáveis que podem se relacionar e, até mesmo, predizer engajamento no trabalho, também se tornou de interesse de pesquisa. Neste estudo, foram investigadas as relações entre comportamento do líder voltado para mudança, job crafting, restauro e engajamento no trabalho, além das influências entre estas variáveis sobre engajamento. Dessa forma, o primeiro estudo tratou-se de uma revisão sistemática da literatura acerca de restauro nos últimos cinco anos. O segundo manuscrito levou-se em conta a comparação da percepção de comportamento do líder, job crafting, restauro e engajamento frente aos contextos laborais de teletrabalho, híbrido e presencial para verificar se haveriam diferenças. O terceiro manuscrito baseou-se no modelo JD-R para testar um novo modelo em que comportamento do líder voltado para mudança, job crafting e restauro funcionariam como variáveis preditoras para engajamento no trabalho e, além disso, também foi verificado se a variável restauro funcionaria como mediadora entre líder e job crafting com engajamento. Os resultados das pesquisas aqui desenvolvidas demonstraram que a variável restauro tornou-se relevante para ser estudada nos últimos cinco anos e é relacionada com variáveis como bem estar, desempenho. Os contextos laborais alteram a percepção dos colaboradores acerca de apoio do líder, criação, restauro e engajamento. E, por fim, o modelo testado demonstrou bom ajuste e trouxe que o apoio do líder, possibilidade de reinvenção no trabalho e restauro influem no engajamento no trabalho. Este estudo traz resultados interessantes para o arcabouço teórico das variáveis e para organizações como um todo.

O objetivo geral desta dissertação foi adaptar a Interpersonal Generosity Scale (IGS) ao contexto brasileiro e obter evidências iniciais de validade e fidedignidade da escala adaptada. A versão original da IGS consiste de 26 itens, dos quais 14 formulados de forma positiva e 12 de forma negativa. A IGS foi desenvolvida para medir o construto de generosidade interpessoal que é o grau em que as pessoas se envolvem em atividades que buscam melhorar o bem-estar dos outros. A dissertação existe de dois estudos. No primeiro foi realizada a adaptação da IGS seguindo as etapas de tradução, síntese, avaliação por experts e tradução reversa. A escala traduzida para português foi nomeada a Escala de Generosidade Interpessoal (EGI). No segundo estudo foram obtidas evidências de validade e fidedignidade da EGI em uma amostra composta por 305 sujeitos brasileiros (69% feminino), com média de idade de 34,7 anos (DP = 11,8). A EGI foi aplicada nesta amostra junto com a Escala de Satisfação de Vida (ESV), a Escala de Afetos Positivos e Negativos (EAPAN) e a Escala Reduzida de Cinco Grandes Fatores de Personalidade (ER5FP) e um questionário de variáveis sociodemográficas. Com base nos resultados de análise fatorial exploratória a EGI foi reduzida de 26 para 15 itens. O coeficiente de fidedignidade lambda 2 de Guttman da EGI reduzida foi de 0,87. Evidências de validade da EGI foram obtidas através de correlações significativas e positivas (0,21 > r < 0,35) com vários indicadores de bem-estar. A correlação com o indicador Afetos Positiva da EAPAN foi a mais elevada. Evidências de validade adicionais da EGI foram obtidas com base das correlações positivas e significativas (0,17 > r < 0,49) com as cinco fatores da ER5FP (extroversão, conscienciosidade, amabilidade, estabilidade emocional e abertura para novas experiências). Como esperado, a correlação entre a EGI e o fator amabilidade da ER5FP foi a mais alta. Na predição de bem-estar usando regressão linear múltipla a generosidade interpessoal entrou como preditor significativo mesmo depois da entrada das variáveis: rendimento, religião e quatro dos cinco fatores de personalidade. O valor preditivo adicional da EGI na predição do bem-estar dá mais um indicativo da validade do instrumento adaptado. Os resultados da pesquisa fornecem evidências iniciais satisfatórias da validade fidedignidade da EGI.

Essa dissertação tem por objetivo geral: construir e avaliar a eficácia de uma intervenção pautada no ensino da cultura africana e afro-brasileira no aumento da identidade social e da autoestima em crianças negras e na conscientização sobre o racismo em crianças brancas e negras. A intervenção será realizada com base no Currículo em Movimento do Distrito Federal, que inclui conteúdos relacionados a história e cultura negra. Intervenções antirracistas são de extrema importância para o processo educacional brasileiro, porém, infelizmente, ainda é um tem pouco estudado e desenvolvido no Brasil. Pensar em intervenções que possam ser replicadas em escolas, é um grande passo para uma melhor qualidade de vida dos estudantes negros e para o combate ao racismo no Brasil. Os objetivos específicos incluem: I) Construir uma intervenção multicultural pautada no ensino da cultura africana e afro-brasileira; II) Avaliar o efeito da intervenção pautada no ensino da cultura africana e afro-brasileira na identificação racial e na autoestima em crianças negras; III) Avaliar o efeito da intervenção pautada no ensino da cultura africana e afro-brasileira na percepção de preconceito racial em crianças brancas e negras. Contou-se com a participação de 53 estudantes matriculados em duas turmas do quinto ano do ensino fundamental I em uma instituição do Distrito Federal. Os estudantes informaram idades variando entre 10 e 12 anos (M = 10,6; DP = 0,6), sendo a maioria do gênero feminino (50,9%), e heteroidentificados como sendo 55,6% pardos/negros e 44,4% como brancos. Os participantes foram alocados a duas condições em um delineamento experimental entre sujeitos com pré e pós-teste, sendo que uma das turmas (selecionada por sorteio) recebeu a intervenção (grupo experimental) e a segunda turma foi alocada como grupo controle. Os participantes responderam, pré e após a intervenção, a três escalas, que mensuravam a percepção de racismo na escola, o grau de identidade racial e a autoestima. Ademais, após a intervenção, os alunos foram entrevistados sobre a intervenção. Os resultados quantitativos indicaram que não houve diferenças significativas entre o grupo que recebeu a intervenção e o grupo controle, mesmo tendo em conta a cor da pele dos participantes. Esses resultados, embora não significativos, devem ser observados com cautela, dado o número reduzido de participantes da pesquisa, o que reduziu o poder de encontrar um resultado significativo. Os resultados qualitativos apontaram que ter acesso a conteúdo positivos sobre a cultura africana e afro-brasileira aumentou a consciência dos participantes sobre suas atitudes raciais, levando a uma maior reflexão sobre tais comportamentos no convívio escolar, e aumentou a identificação positiva das crianças negras com sua etnia.

Esta dissertação é composta por três estudos sequenciais, complementares e interdependentes. O estudo 1 apresenta uma revisão narrativa da literatura acerca de treinamentos ofertados a profissionais de saúde em habilidades técnicas de atendimento a pacientes críticos acometidos por COVID-19. Foram selecionados 36 artigos que permitiram caracterizar os temas abordados e habilidades ensinadas, os desenhos instrucionais dos cursos (principais estratégias, métodos, recursos e tecnologias instrucionais) e evidências de eficácia desses treinamentos. O estudo 2, de abordagem qualitativa, avaliou a qualidade do desenho de um treinamento em habilidades técnicas de cuidado a pacientes críticos com COVID 19, ofertado para profissionais de hospitais universitários brasileiros. O treinamento avaliado foi ofertado na modalidade autoinstrucional, com 10 horas de duração, elaborado para capacitar profissionais de saúde no atendimento ao paciente crítico com Síndrome Respiratória Aguda Grave, causada por COVID-19. O curso foi a principal estratégia adotada pela gestão dos hospitais universitários federais brasileiros para capacitar um grande número de profissionais que não atuavam em Unidades de Terapia Intensiva nas habilidades técnicas necessárias ao enfrentamento da pandemia. A avaliação qualitativa desse treinamento embasou-se nos achados do estudo 1, que permitiram elencar critérios de avaliação de treinamento, construir e aplicar um roteiro de avaliação adaptado ao contexto pesquisado. O terceiro estudo, de abordagem mista, qualitativa e quantitativa, sequencial, exploratória e inferencial objetivou construir e investigar as evidências de validade de três escalas para a avaliação de impacto do treinamento no trabalho, elaboradas a partir dos objetivos instrucionais do curso analisado. As duas primeiras medem a transferência de habilidades de Intubação Orotraqueal e de Atendimento ao Paciente Crítico com COVID19 e a terceira avalia o suporte à transferência de treinamento para o trabalho. As três escalas, foram submetidas a análises fatoriais exploratórias e semi confirmatórias que demonstraram estruturas empíricas unifatoriais e adequados índices de fidedignidade e confiabilidade em todos os instrumentos. Os resultados dos três estudos, discutidos à luz da literatura científica, serão interpretados em suas implicações práticas para a ampliação da oferta e a melhoria da educação permanente de profissionais em habilidades técnicas de assistência a pacientes acometidos por Síndrome Respiratória Aguda Grave, para profissionais de saúde que não atuam, ou não são especialistas, em unidades de terapia intensiva. O roteiro de avaliação qualitativa e os três instrumentos construídos nestes estudos podem ser utilizados para avaliar demandas de capacitação, facilitar o desenho, a oferta e a avaliação de treinamentos com maior potencial de sucesso, pois propiciam a adoção de instrumentos válidos e confiáveis. A pandemia do COVID-19 expôs a insuficiência de profissionais de saúde capacitados para o atendimento aos cuidados intensivos por doenças respiratórias, em especial, durantes as crises sanitárias. Para a análise da relevância da pesquisa deve-se considerar a possibilidade de novas ocorrências similares futuras e a necessidade de ofertas de capacitação constantes para amplo número de profissionais de saúde. Deve-se pensar na necessidade de uma política de educação permanente em saúde que atue ativamente na preparação profissional para o enfrentamento a crises sanitárias causadas por doenças respiratórias virais.

O respeito aos direitos humanos e a paz social dependem parcialmente de uma eficiente resolução de litígios, o que pode não ocorrer quando há um volume crescente de processos judiciais. Para enfrentá-lo, existem opções autocompositivas – apoiadas em mediadores ou conciliadores judiciais capacitados. Hipotetizou-se que o desenvolvimento profissional (DP) dessas pessoas está positivamente associado a singularidades formais e informais de aprendizagem. Participaram da pesquisa egressos de cursos de formação em mediação e conciliação judiciais, que responderam perguntas sobre variáveis demográficas e três escalas de medida referentes ao impacto desses cursos e a como seus egressos utilizam estratégias para aprender enquanto atuam e a sua percepção de DP. Evidências de validade foram verificadas para essas escalas. As de impacto e de DP são unifatoriais e a de estratégias tem dois fatores, relativos às buscas de ajuda externa (social, com pares) e interna (cognitiva e solitária). Análises de Regressão Múltipla não foram significativas para a variável critério Percepção Evolutiva do Desenvolvimento Profissional (PEDP); mas o foram com os escores de Percepção de “Preparo atual” da mesma escala. Essa percepção é predita por escolaridade, sexo, tempo após o curso e seu impacto e estratégias de aprendizagem de busca de ajuda interna. Ofereceram-se contribuições teóricas, metodológicas e subsídios para decisões sobre o desenvolvimento de competências visando à melhoria na qualidade dos serviços realizados. Essas decisões devem considerar que a aprendizagem que apoia essa qualidade não está somente baseada no curso obrigatório inicial. Ela ocorre e deve ser promovida durante a subsequente atuação de seus egressos.

 A proposta deste estudo é analisar como a confiança em perfis de twitter, especialmente vinculados à temas políticos, podem influenciar a crença em notícias falsas. Para isto o estudo contou com 435 participantes acima de 18 anos separados em 3 grupos (grupo I – controle; grupo II – perfis alinhados à direita e grupo III – perfis alinhados à esquerda) que foram submetidos a 4 perfis de twitter diferentes para cada grupo e que continham duas informações verdadeiras e duas falsas, porém com o mesmo conteúdo em todos os grupos. Para a realização desta pesquisa foram conduzidas análises por meio da ANOVA 3x3 para medir os níveis de confiança na fonte, bem como a regressão logística binária a fim de comparar os resultados da ANOVA com os dados de discernimento entre informações verdadeiras e falsas, assim como com as escalas de autoestima e necessidade de fechamento. Ao comparar os grupos percebeu-se diferença significativa entre pessoas mais alinhadas à direita e à esquerda especialmente nos critérios de confiança na fonte. O discernimento das notícias também foi afetado pela confiança na fonte, mostrando-se uma variável importante para compreender o que leva pessoas a serem enganadas por notícias falsas.

Uma educação sexual inclusiva,que debata questões de diversidade sexual, é uma forma efetiva de combate ao preconceito sexual. Porém, este tipo de medida sofre rejeição por parte da população brasileira e de movimentos políticos. O presente trabalho teve como objetivo investigar os efeitos do autoritarismo de direita e da orientação à dominância social no apoio à educação sexual inclusiva, e o possível papel da percepção de ameaça frente a homossexuais nestes efeitos. Considerando que ainda não havia uma escala de percepção de ameaça frente a homossexuais validada no Brasil, o primeiro artigo apresenta um estudo que investigou a validade de uma medida deste construto e queencontrou evidências de validade convergente, discriminante, de critério,e baseada na estrutura interna da escala, além de bons índices de confiabilidade. No segundo artigo, dois estudos testaram a relação entre as variáveis investigadas. No Estudo 1, o autoritarismo de direita predisse o apoio à educação sexual inclusiva, com a mediação da percepção de ameaça simbólica e realista, enquanto apenasa ameaça realistamediou oefeito da orientação à dominância socialnesse apoio. No Estudo 2, foi manipulada a percepção de uma maior inclusão social de pessoas LGBTQIA+ na sociedade brasileira. Pessoas com maior autoritarismo de direita e orientação à dominância social se sentiram mais ameaçadas independentemente de a inclusão estar sendo reforçada ou não, e essa ameaça, por sua vez, predisse um menor apoio à educação sexual inclusiva.Assim, o trabalho apresenta uma escala que poderá ser utilizada em estudos futuros investigando o papel da percepção de ameaça no preconceito sexual no Brasil, e aponta como intervenções buscando promover medidas de inclusão para minorias sexuais precisam levar em consideração o papel da ameaça e das atitudes ideológicas dos indivíduos.

O objetivo deste estudo foi testar um modelo explicativo para o engajamento em ações coletivas em defesa de políticas públicas que visam o bem-estar social, especificadamente o Sistema de Saúde, Ações Afirmativas e Transferência de Renda. Para atingir esse objetivo, foram realizados dois estudos para a adaptação do Inventário de Crenças Neoliberais (ICN) para o Brasil. Os Estudos 1 e 2 demonstraram evidências de precisão do ICN, por meio de análises fatoriais exploratória e confirmatória, respectivamente, evidências de validade convergente do ICN com o autoritarismo de direita, a orientação à dominância social e a crença no mundo justo, a validade preditiva do ICN nas atitudes frente à arma de fogo e a validade de critério entre grupos políticos. No Estudo 3, o modelo testado apresentou índices de ajuste aceitáveis e que as medidas utilizadas de motivações epistêmicas, existenciais e relacionais, embora parcialmente, predizem o autoritarismo de direita e a orientação à dominância social, que, por sua vez, predizem uma autoidentificação política simbólica mais conservadora, o que tende a explicar maiores níveis de crenças neoliberais. As crenças neoliberais mediaram parcialmente apenas a relação entre autoidentificação ideológica simbólica e ação coletiva para os programas de transferência de renda, e a autoidentificação ideológica simbólica explica a ação coletiva para ações afirmativas, independente das crenças neoliberais. Diante dos achados, destaca-se a presença forte da polarização política, da ideologia política e uma influência curiosa das crenças neoliberais relacionadas a tais políticas, o que pode comprometer com a consolidação e fortalecimento do sistema de proteção social.

O mundo do trabalho passou por profundas alterações nos últimos 50 anos que modificaram a forma como as pessoas se relacionam no ambiente laboral. As violências no trabalho ganharam novos contornos, um deles é o assédio moral no trabalho (AMT). O objetivo dessa dissertação e da pesquisa que a compõe foi investigar a gênese, produção e manutenção do assédio moral no trabalho no contexto das relações interpessoais de um órgão público do Poder Judiciário no Brasil. A ancoragem teórica está na abordagem estruturalista de Pierre Bourdieu e na Ergonomia da Atividade ambas interessadas no protagonismo do trabalhador nos processos sociais e organizacionais, respectivamente. Participaram do estudo 38 trabalhadores, sendo 14 terceirizados(as), 11 servidores(as), 6 magistrados(as) e 7 estagiários(as). Realizou-se grupos focais com trabalhadores divididos por vínculo empregatício com a instituição. O tratamento dos dados foi feito por meio do software IRaMuTeQ e identificou-se os núcleos temáticos estruturadores do discurso. Resultados mostram que gênese do AMT está na presença da hierarquia simbólica que marca as relações socioprofissionais no contexto estudado e contribui para comportamentos de abuso de poder, diferenciações entre trabalhadores, gestão inadequada e disputas internas. Por meio das sugestões levantadas no grupo focal foi possível construir um conjunto de possíveis ações para a prevenção do AMT em curto, médio e longo prazos. Os achados têm grande importância pois a gênese do AMT na instituição é fruto de mecanismos simbólicos propulsores de malestar no trabalho e apontam para a vulnerabilidade à violência simbólica, subsídios valiosos para a organização que explicitam o caráter aplicado da investigação e sua contribuição para a prevenção do AMT.

O presente estudo tem como propósito analisar a relação entre os elementos da cultura neoliberal e o discurso sobre teletrabalho, o que será feito, por meio de matérias publicadas alguns portais de notícias nacionais, no período de tempo compreendido entre 2020 e 2023. Ainda, como parte da tarefa, serão identificados elementos discursivos neoliberais inseridos nessas reportagens, bem como analisaremos de que modo os valores do neoliberalismo, como doutrina político-econômica, são naturalizados por meio desses textos selecionados. Foram escolhidos 03 (três) portais de notícias de âmbito nacional: o G1, as revistas Você S.A e Você R.H. Assim, para o portal G1 foram selecionados 35 (trinta e cinco) reportagens, 19 (dezenove) para a revista Você S.A e 08 (oito) para a revista Você R.H, totalizando como resultados válidos para os fins da pesquisa o número de 62 (sessenta e dois).A análise dos textos foi feita, por meio de um software, o IRAMUTEQ, que é um programa informático que viabiliza diferentes tipos de análise de dados textuais, desde aquelas bem simples, como a lexicografia básica (cálculo de frequência de palavras), até análises multivariadas (classificação hierárquica descendente, análises de similitude). Os resultados da análise, que levou em consideração o período marcado pela pandemia da Covid-19 em nosso país, demonstraram que há um discurso enviesado nos textos relacionados à modalidade de teletrabalho. Assim, os resultados decorreram da análise lexical, que foi feita a partir de cálculos efetuados sobre a ocorrência de palavras em segmentos de texto, buscando distinguir classes de palavras que representem formas distintas de discurso sobre o teletrabalho. Também, contribuiu para os resultados a análise de conteúdo, que aponta a diversidade de temas na totalidade dos textos, e pondera a frequência desses temas no conjunto. Assim, o estudo demonstrou que há um evidente processo de naturalização dos valores e princípios do neoliberalismo nos textos que foram objeto da análise. Por fim, embora esse estudo tenha contribuído para o enriquecimento de uma discussão acerca do tema proposto, é importante destacar a necessidade de mais pesquisas, especialmente levando em consideração que o teletrabalho é algo recente e inovador no contexto laboral.

O objetivo da tese foi avaliar os efeitos de treinamentos de habilidades socioafetivas (HSA) sobre a aprendizagem de residentes (médicos e não médicos) no contexto multiprofissional em saúde. Foram realizados seis manuscritos sequenciais e interdependentes para alcançar o objetivo proposto. O primeiro manuscrito apresenta, por meio de uma revisão de literatura, um panorama da educação interprofissional em saúde e da aprendizagem de HSA. O segundo manuscrito apresenta, por meio de outra revisão de literatura, as mudanças na estrutura e no trabalho colaborativo das equipes de saúde durante a pandemia da covid-19 e as ações de treinamento de HSA adotadas especificamente nos programas de residência. O terceiro manuscrito identifica lacunas de aprendizagem de HSA em uma amostra de residentes médicos e não médicos, por meio da análise de incidentes críticos relatados por preceptores e residentes. O quartomanuscrito mostra a construção e a obtenção de evidências de validade de testes de julgamento situacional (TJS) utilizados para avaliar a aprendizagem. O quintomanuscrito descreve o planejamento e a implantação de dois treinamentos de HSA no trabalho colaborativo multiprofissional de residentes, com base em teorias de desenho instrucional e resultados de estudos empíricos, bem como os materiais instrucionais. Por fim, o sexto manuscrito utiliza uma abordagem mista, com uma etapa qualitativa, que descreve a elaboração de treinamentos, materiais instrucionais e TJS para avaliar a aprendizagem, e uma etapa quantitativa, que apresenta um quase experimento, com comparação de escores de aprendizagem entre dois grupos experimentais e em três momentos no tempo (T1 – antes do treinamento, T2 – imediatamente após e T3 – um mês após o treinamento). Os 17 residentes médicos e não médicos inscritos na intervenção de treinamento focam alocados em um dos grupos experimentais, conforme disponibilidade. O residente do Grupo experimental 1 participou de um treinamento de HSA online, com duração de 1 hora e 30 minutos, baseado em discussão de casos reais vivenciados por uma equipe multiprofissional, enquanto o do Grupo experimental 2 participou de um treinamento sobre o mesmo tema e carga horária, porém com método baseado na transmissão de informação teórica e, em seguida, discussão de casos reais. Os resultados dos três TJS sugeriram um aumento dos escores de aprendizagem dos residentes de ambos os grupos experimentais após o treinamento (T2), e um decaimento desses escores um mês após a intervenção (T3). Os resultados apontaram, também, escores mais elevados no pós-teste (T2) dos residentes que participaram do treinamento que combina duas estratégias instrucionais, transmissão de informação e discussão de casos. Embora a amostra final de participantes nos grupos experimentais tenha sido pequena, os resultados de aprendizagem podem fornecer informações valiosas aos desenhistas instrucionais e gestores de programas de residência em saúde para futuras ações de educação em saúde. Os TJS, construídos e aplicados nesta pesquisa, podem ser utilizados tanto para avaliar a aprendizagem quanto para compor o material instrucional de treinamentos de HSA com objetivos semelhantes. Espera-se que a pesquisa seja uma oportunidade de avanço na educação interprofissional em saúde, motivando novos esforços dos residentes e profissionais de saúde em direção a práticas colaborativas, apoiadas em conhecimentos científicos sobre HSA, psicologia instrucional e educação interprofissional em saúde. 

Inventários e escalas de personalidade são utilizados para avaliação em diversos contextos sociais, entre outros, em avaliações compulsórias. No entanto, a observação dos estudos sobre os índices de escolaridade da população brasileira, evidencia que, mesmo alfabetizada, uma parcela considerável da população tem dificuldades de compreensão na leitura de textos. Itens verbais demandam capacidade de leitura e compreensão do que está sendo lido. Esta condição é contrastada com os índices de analfabetismo (6,6%) e analfabetismo funcional (29%) na população brasileira. Como proposta da presente tese, foi construído um instrumento verbal e não verbal baseado nos cinco grandes fatores, mais especificamente, utilizando a dimensão neuroticismo que é parte deste modelo. O instrumento foi submetido à uma amostra de 599 participantes com idade variando entre 18 e 82 anos (M = 33,5, DP = 15,19). Foram encontradas evidências de validade do instrumento que permitiu mensurar de forma equivalente em indivíduos com diferentes escolaridades, escores de neuroticismo. Isto pode contribuir para a avaliação da personalidade de uma parcela da população brasileira, potencialmente não atendida por instrumentos atualmente disponíveis.

Em seguida à invasão portuguesa, dois projetos civilizatórios se somaram às civilizações originárias do território brasileiro. O projeto ocidental, que se tornou hegemônico e o projeto dos povos africanos. Enquanto os ocidentais difundiram os seus cuidados em saúde mental por universidades, os africanos e seus descendentes os preservaram em comunidades tradicionais. Devido a assimetria social gerada pelo racismo, um derivado do colonialismo, as tradições de matrizes africanas no Brasil são relegadas à margem e sempre inferiorizadas. Essa tese oferece uma visibilidade acadêmica para o sistema terapêutico do candomblé de angola. O conhecimento foi gerado desde uma pesquisa de campo em parceria com a comunidade do Tumba nzo A’na Nzambi Junsara, usando-se a observação participante com atenção à corporeidade, e dinâmicas conversacionais visando a construção colaborativa. Foram realizados sistemas de inteligibilidades a partir da relação entre indivíduo e cultura, propondo-se assim um hibridismo entre a Teoria da Subjetividade, a Antropologia Sensorial e a Etnopsiquiatria. A pesquisa acessou que o conceito de saúde e cuidados da comunidade se expandem para além da dimensão individual, gerando resultados que apresentam: A casa de candomblé como um território tradicional bantu; Que a iniciação é um dispositivo terapêutico, e visa a africanização; O transe como uma técnica corporal que promove saúde; Que o jamberessu é um livro vivo, uma linha encarnada de transmissão da tradição bantu; A compreensão da tradição desde os seus dispositivos terapêuticos; A percepção de que na sociedade brasileira, que é hibrida e multicultural, os cuidados em saúde mental do candomblé e da psicologia são complementares, e são potencializados quando a psicoterapia inclui o referencial de pertencimento.

Este trabalho teve como objetivo adaptar um teste de IE para uma amostra brasileira e para um método de administração computadorizado e adaptativo. Foram adaptados os Testes Situacionais de Inteligência Emocional de Entendimento Emocional (STEU) e de Gerenciamento Emocional (STEM). O primeiro manuscrito estabelece a perspectiva teórica adotada que serviria base para os procedimentos de adaptação que são descritos no decorrer da tradução e retradução, no segundo manuscrito, no qual também são analisadas as evidências de validade dos testes adaptados extraídas dos dados de 668 participantes. Neste estudo, os participantes também responderam o Teste de Satisfação com a Vida (SWLS) e o Teste Reduzido dos Fatores de Personalidade (TRFP). Os resultados revelam que as versões finais dos testes adaptados com 32 (STEU) e 30 itens (STEM) obtiveram bons índices de ajuste globais e por item nas modelagens de variável latente 3PL e de créditos parciais. Os coeficientes de correlação com o SWLS e os cinco fatores do TRFP fundamentam as evidências de validade com base em relações com outras variáveis. No terceiro manuscrito, simulações de administração adaptativa, nos mesmos dados de resposta dos participantes do segundo manuscrito, demonstraram a capacidade de algoritmos de seleção de itens (ISA) baseados na maximização da informação coletada de obter níveis equivalentes de erro padrão com a administração de um número consideravelmente menor de itens. Estabelecendo uma diferença de erro padrão aceitável de 0.01, os ISAs alcançaram média de EP aceitável até 15 itens antes do término do teste no STEU, e até 6 itens antes no STEM para o participante médio. Mesmo mantendo o mesmo exato erro padrão, 40.12% dos participantes teriam este benefício. Estes resultados sugerem adequação psicométrica dos testes e demonstram a viabilidade de sua administração como testes adaptativos em amostras brasileiras.

: A presente pesquisa tem como objetivo geral mensurar o modelo estrutural que tem os valores humanos como preditores de metas de compaixão e autoimagem e estas do bem-estar subjetivo (BES) de policiais militares do Distrito Federal, sendo esta relação moderada pela percepção de suporte social no trabalho; identificar elementos institucionais que podem ser geradores de bem-estar; e propor perspectivas organizacionais e acadêmicas para incremento deste fenômeno psicológico na instituição. A pesquisa é desenvolvida em método quantitativo e qualitativo, com o estabelecimento de um robusto referencial teórico das variáveis que compõe o modelo e sua aplicabilidade à atividade de segurança pública, o teste de quatorze hipóteses relacionadas aos constructos e a identificação qualitativa de potenciais fatores geradores de bem-estar policial. A fase qualitativa foi composta da construção do referencial teórico e da identificação de elementos geradores de BES no âmbito da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e a quantitativa por meio de pesquisa survey que contou com a participação de 1080 policiais militares do DF. Os resultados da pesquisa indicaram a confirmação parcial do modelo estrutural e dentre as hipóteses estabelecidas, seis foram totalmente suportadas, sete parcialmente corroboradas e somente uma totalmente rejeitada. Os resultados podem confirmar conclusões não somente acadêmicas, como a confirmação desses constructos como antecedentes de bem-estar subjetivo, em especial no âmbito da segurança pública, as evidências de validade de escalas psicométricas existentes e a possibilidade de construção de uma escala específica para bem-estar na segurança pública, mas também institucionais, com a disponibilização de um rol de elementos organizacionais que possam ser trabalhados para incrementar os índices de BES na PMDF. Ao final são apresentadas as limitações da pesquisa e perspectivas futuras.

Normas sociais são padrões compartilhados sobre comportamentos (in)aceitáveis. Elas podem apresentar variações em sua intensidade, caracterizando os contextos como mais tight (normas fortes) ou mais loose (normas fracas). De acordo com o modelo de Gelfand et al. (2011), tightness-looseness é um fator cultural e, como tal, influencia o desenvolvimento de características contextuais, bem como de processos psicológicos e comportamentais. Esta pesquisa teve como o objetivo geral investigar a força das normas sociais no contexto brasileiro, assim como sua relação com normas pró-sociais, confiança e tomada de decisão. Para isso, foram desenvolvidos quatro estudos empíricos numa abordagem multimétodos. No Estudo 1 (n = 348) buscou-se quantificar a percepção de tightness no país e identificar o suporte em relação à essa orientação. Também foi testada a replicabilidade da Escala Tightness-Looseness (TL), buscando evidências de validade para o contexto brasileiro. Os resultados endossam a caracterização do país com normas sociais flexíveis (loose), apresentando variações intra-país e aumento dos níveis de tightness em relação a estudos prévios. Foi identificada uma leve tendência à avaliação positiva da cultura tightness. Também foram encontradas limitações psicométricas da escala original, com evidências parciais de validade e fidedignidade. No Estudo 2 (n = 425) investigou-se o processo de resposta no julgamento dos itens, utilizando um delineamento qualitativo. Análises de conteúdo revelaram a existência de nove domínios de normas sociais como referência para a avaliação da escala, constatando-se ainda limitações na compreensão dos itens. Com base nesses resultados foram propostas alterações que visam superar problemas apontados na literatura, viabilizando o Estudo 3. Neste estudo (n = 380) investigou-se a relação entre percepção de características culturais tightness e confiança interpessoal, testando a influência da confiança nas instituições e da força das normas pró-sociais na cultura brasileira como fatores explicativos dessa relação. Os resultados indicaram que se trata de um modelo explicativo plausível, coerente com o sentido macro-micro cultural do modelo TL e interligados Ao considerar que os níveis de tightness se relacionam com o quanto as normas influenciam a tomada de decisão, no Estudo 4 (n = 380) testou-se sua capacidade preditiva sobre comportamentos pró-sociais. De forma específica, foi avaliado se esse efeito difere em função dos custos da ação, comparando comportamentos de gentileza (baixo custo) e cooperação (alto custo) a partir de dilemas experimentais (Tarefa Social Mindfulness e Dilema do Prisioneiro). Os resultados indicaram que a norma de cooperação é mais forte, quando comparada à norma de gentileza. A percepção das normas sociais e a força das normas apresentaram maior poder preditivo sobre o comportamento de cooperação, o que a teoria TL especifica para contextos tight. Em conjunto, os estudos permitem concluir que a força das normas sociais é fundamental para compreender (e promover) confiança e pró-socialidade. Ainda, aprimoram a mensuração da força das normas sociais, que se torna mais robusta quando considerados contextos específicos de análise. Por fim, esta tese discute as diferentes formas de operacionalização do conceito e de sua aplicação, bem como de suas limitações.

O objetivo geral deste projeto de pesquisa foi adaptar o Brief DSM-5 AUD Assessment (DSM-5 AUD) para o Brasil e obter evidências iniciais de validade e fidedignidade para uma amostra da população brasileira. A dissertação envolveu dois estudos. O primeiro tratou sobre a execução das etapas de tradução, síntese, avaliação por experts, avaliação pelo público-alvo, tradução reversa e estudo piloto, e apresentação de dados preliminares da consistência interna do instrumento. Os resultados apontaram que a escala apresentou indicadores positivos de validade de conteúdo, assim como um coeficiente satisfatório de fidedignidade dos escores (λ2 = 0,85). O segundo estudo objetivou obter evidências de validade da versão adaptada (DSM-5 AUD-BR) baseadas na estrutura interna e nas relações com medidas externas, como o Short Alcohol Dependence Data (SADD) e a Escala Reduzida de Cinco Grandes Fatores de Personalidade (ER5FP). Participaram neste estudo 192 pessoas, compostas entre servidores públicos do Governo do Distrito Federal e usuários atendidos em serviços especializados no tratamento para transtornos por uso de álcool. A análise fatorial semiconfirmatória indicou uma estrutura unidimensional para o DSM-5 AUD-BR, com adequados índices de ajuste (RMSEA = 0,043; CFI = 0,997 e TLI = 0,997) e consistência interna (λ2 = 0,95). Verificou-se um índice de validade convergente forte entre a escala e o SADD (r = 0,87).  Em relação à ER5FP, os fatores de extroversão e amabilidade se apresentaram como preditores estatisticamente significativos para explicar o surgimento de comportamentos relacionados ao consumo de álcool. Esses resultados sugeriram que o DSM-5 AUD-BR apresentou evidências de validade e fidedignidade para o contexto brasileiro. 

O objetivo da presente pesquisa consistiu na compreensão da realidade da Diversidade e Inclusão (D&I) em contextos organizacionais brasileiros. Portanto, foram realizados três estudos:

1) Revisão sistemática da literatura científica, desenvolvida a partir de duas bases bibliográficas; uma primária (Scielo, Pepsic e Spell) e outra secundária (banco de dados de literatura científica nacional em Comportamento Organizacional). Os resumos de 81 artigos foram analisados por meio de técnicas lexicométricas com o auxílio do pacote informático IRAMUTEQ. Os resultados apontam uma predominância do método qualitativo (49,38%) e predominância de estudos sobre Gênero, Pessoas com Deficiência, LGBTQIA+, Idade e Cargos. Constatou-se uma falta consistente seja de definições a respeito do construto de D&I, seja de procedimentos metodológicos rigorosos que considerassem a interseccionalidade entre determinantes socioculturais e variáveis contextuais.

2.) O segundo estudo, de caráter quali-quantitativo, foi divido em duas partes. A primeira investigou como se consolidam e mantêm as políticas regionais voltadas ao atendimento da população trans e travesti, com uma amostra de profissionais da saúde que atuam na rede hospitalar pública do DF. A segunda previu a participação de pessoas trans e travestis que relataram da própria experiência como demandantes dos serviços da saúde ofertados pelos hospitais públicos no DF. As entrevistas foram analisadas por meio de procedimentos lexicométricos do software IRAMUTEQ. Os achados apontaram uma sobrecarga de atendimentos nos centros da saúde e a falta de capacitação profissional, além de insumos insuficientes para garantir tratamentos clínicos eficazes e adequados. Já as/os participantes trans e travestis relataram da falta de serviços e profissionais capacitados para responder as suas demandas, resultando muitas vezes em comportamentos e atitudes conotados à trans/travestifobia.

3.) O terceiro estudo, de caráter prevalentemente quantitativo, objetivou identificar relações entre escores das escalas de Abertura Universal ao Diverso (UDO), Experiência de Inclusão e Comportamento Inclusivo com as variáveis sociodemográficas de 100 profissionais da saúde que atuam em hospitais públicos no DF. O software estatístico SPSS - 21.0 foi utilizado para análises descritivas e inferenciais. Em relação à gênero, emergiram diferenças estatisticamente significativas nas médias das três dimensões da Escala UDO em relação à variável independente Gênero, reivindicado pelos participantes. Especialmente no fator “Conforto com a Diferença”, as mulheres trans demonstraram médias inferiores (M = 2,400; DP = 0,688), comparado com outras categorias de gênero. O fator “Experiência de Inclusão” apresentou um grande impacto nos níveis de “Comportamento Inclusivo”, evidenciando 71,1% do desfecho (𝛽 = 0,845, t = 15,623, p < 0,001). Enfim, uma análise qualitativa de breves comentários incluídos nos questionários, traz percepções dicotômicas sobre o ambiente de trabalho. Enquanto 67,21% dos participantes que responderam às perguntas denunciam a presença de preconceito e situações discriminatórias, 32,78% apontam nunca terem vivenciado.

Discute-se a complementariedade dos resultados e a contribuição dos três estudos para a compreensão da complexa realidade da D&I no DF e no contexto brasileiro em geral. Ainda, foram identificadas relevantes prospetivas sobre futuras pesquisas na área e são fornecidos insumos para a revisão ou possível melhoria de políticas públicas e organizacionais.

A pandemia do coronavírus colocou a sociedade em medidas de isolamento e distanciamento, promovendo elevados níveis de estresse na população mundial. O presente estudo compôs-se por duas pesquisas transversais que buscaram medir a presença do estresse, identificando as principais estratégias de enfrentamento da população brasileira, no intervalo de um ano. Via Surveymonkeyaplicou-se o Inventário de Sintomas de Estresse em Adultos da Lipp e o Brief Cope de Carver. Na primeira pesquisa foram coletados dados de abril a junho de 2020, com 704 respondentes válidos conforme os seguintes requisitos: ter mais de 18 anos e residir no Brasil durante o período de combate à pandemia. A segunda pesquisa – entre março e junho de 2021 – contou com 324 respondentes válidos, seguindo os mesmo critérios na articulação da amostra. Análises de tabela de contingência, análises de resíduos padronizados ajustados e análises de razão de chance foram adotados para comparar a presença do estresse com diferentes variáveis sociodemográficas. Mulheres, pertencentes à geração Z, com nível médio de escolaridade, solteiras e desempregadas apresentaram níveis maiores de estresse na primeira pesquisa. Na segunda pesquisa, a presença do estresse obteve duas vezes mais probabilidade de ser aferida entre os participantes do que na primeira. Entretanto, não foi possível determinar o perfil sociodemográfico mais propenso ao estresse na segunda pesquisa, pois seu crescimento não secorrelacionou às variáveis sociodemográficas levadas em consideração.As estratégias de copingresultaram constantes em ambas as pesquisas, sendo o planejamento e o enfrentamento ativo as estratégias mais adotadas e a negação, o desinvestimento comportamental e o uso de substâncias como álcool ou medicamentos as menos utilizadas. Políticas públicas efetivas atendendo prioritariamente as categorias sociodemográficas mais afetadas poderiam auxiliar na contenção do estresse na população. Com a permanência da crise sanitária, a abrangência às demais categorias aumentariam a efetividade dessas políticas. A ampla difusão de informações confiáveis e a promoção de uma melhor acessibilidade econômica também são essencial para a manutenção da saúde mental populacional. 

A adoção de tecnologias por organizações públicas (ou digitalização) vem crescendorapidamente, o que traz ganhos, mas também implica em muitos desafios antes, durante e depois doprocesso de implementação. O manuscrito 1 desta dissertação relata uma revisão sistemática que avaliouartigos sobre adoção de novas tecnologias publicados entre 2017 e 2022, especialmente no tange àsvariáveis utilizadas, resultados alcançados, limitações e oportunidades de avanço no campo pesquisa.Identificou-se que ainda há muito espaço para explorações relacionadas à adoção e uso de tecnologias,seja em novas amostras, novos contextos ou proposição de novas variáveis. O manuscrito 2 relata estudoempírico cujo objetivo foi identificar fatores relacionados à intenção e ao relato de uso da tecnologia emorganizações públicas, considerando os participantes do Programa de Digitalização de Serviços Públicos. Aexpectativa de desempenho e a influência da liderança foram preditoras da intenção comportamental.Além disso, a relação entre expectativa de desempenho e a intenção de uso foi moderada pelo sexo dosusuários, assim como a idade e experiência moderaram a relação entre influência da liderança e a intençãocomportamental. A influência da liderança aparece também como preditora do uso, acompanhada dainfluência dos colegas de trabalho e da percepção de adoção de práticas de gestão da mudança. Alémdisso, a relação entre influência da liderança e uso relatado foi moderada pela experiência dos usuários.Limitações e oportunidades de pesquisa são abordadas ao fim de cada manuscrito e na seção de discussãogeral.

A liderança, em qualquer nível na organização, constitui valioso ativo, capaz de transpor as informaçõesrecebidas da equipe para as diferentes partes da gestão, com a liderança para a mudança não é diferente. Énesse contexto que este estudo, com dois manuscritos, se insere. O primeiro manuscrito objetiva retratar o estadoda arte ao apresentar revisão sistemática da literatura sobre comportamento de liderança para a mudança,realizada nas Bases de Periódicos da Capes e Web of Science, com as palavras-chave e operadores booleanos:“Change leader”AND “leadership behavior” AND “organizational change”. O segundo manuscrito objetiva adaptar everificar as evidências de validade da estrutura interna de um inventário que visa avaliar dimensões doscomportamentos do líder voltados para a mudança para o contexto brasileiro, ao contemplar análise fatorialexploratória seguida de confirmatória, em amostras independentes, além da análise de validade convergente. Osresultados encontrados reforçam o argumento da necessidade eminente de se desenvolver uma teoria maisconsistente, e com definições mais precisas sobre o papel da liderança em contexto de mudança, sejam asmudanças estruturais, sejam as mudanças dinâmicas de um universo organizacional com vários níveis, e integradoà uma rede digital dinâmica, além de contribuir com versão replicável do inventário do comportamento do líder paraa mudança, ajustada à realidade nacional e com alinhamento teórico consolidado.

Esta tese tem como objetivo geral analisar os riscos psicossociais e suas implicações para a inter-relação das causas de afastamento pelo trabalho, tanto por adoecimento quanto por acidentes, e como objetivos específicos caracterizar os riscos psicossociais relacionados ao trabalho, analisar as causas dos afastamentos, identificar os riscos psicossociais que estão na base das inter-relações com adoecimento e acidente de trabalho, e, apresentar a abordagem dos riscos psicossociais que inclui os fatores da organização do trabalho, do estilo de gestão e funcionamento organizacional, sofrimento patogênico e danos, estabelecendo relações com os afastamentos. Este estudo justificou-se dada a variabilidade de conceitos existentes a respeito dos riscos psicossociais e suas implicações para o adoecimento mental e físico do trabalhador, fato que contribui para confusão conceitual e invisibilidade desses riscos, e dado o cenário de afastamentos do trabalho no Brasil. Para se chegar a essa temática foi realizada pesquisa bibliográfica que resultou como causas dos acidentes de trabalho os riscos de natureza tangível, tais como riscos físicos, químicos e ergonômicos, e como causas dos Transtornos Mentais e Comportamentais (TMC) os riscos psicossociais. Poucas pesquisas relacionam os riscos psicossociais a afastamentos por doenças de ordem física, em geral esses riscos se relacionam com psicopatologias. Essa atribuição conceitual linear de causa e efeito faz parecer que há uma separação na relação entre os riscos e suas consequências, contudo, a organização do trabalho também está na gênese dos acidentes de trabalho e do adoecimento, mesmo doenças de ordem física. Assim, essa tese defende a ideia de que as condições físicas fazem parte da própria organização do trabalho, caracterizando, assim, um risco psicossocial que pode gerar tanto acidentes quanto adoecimento de qualquer tipo, seja físico ou mental, uma vez que a base comum dessas doenças é uma só: o trabalho. O método se configurou em um estudo empírico de perspectiva qualitativa, composto por pesquisa bibliográfica, análise de conteúdo dedutivo categorial e Memoriais de Histórias do Trabalho. A amostra foi do tipo não probabilística e por conveniência composta por sete trabalhadores acometidos por doenças comprovadamente originárias no ambiente de trabalho, de setores público e privado. Esta tese evidenciou que os riscos psicossociais funcionam nas organizações de forma conjunta a outros riscos ocupacionais, tais como os biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e outros, e eles agem de forma simultânea em um movimento complexo e caótico, e não linear como difundido na literatura. Sobre os ambientes organizacionais existe ainda a influência de fatores externos, que também contribuem ou não para o surgimento, manutenção ou mitigação desses riscos, tais como o contexto político, econômico, social e histórico-cultural, uma vez que esses fatores influenciam diretamente no arcabouço legal que protege o trabalhador. Uma reflexão foi feita a respeito do quanto a Psicologia Organizacional contribui para a manutenção da invisibilidade e colonialidade dos riscos psicossociais nas organizações, dificultando sua prevenção, uma vez que esses riscos são criados pelos modelos de gestão do cenário macroeconômico capitalista da sociedade de dominação.

Comportamentos violentos (extra)letais intencionais (CVELI) são ações propositadamente calculadas para causar efeitos adicionais à já crueldade de qualquer morte. Embora apresentem uma frequência relativamente menor, têm o potencial de atingir simbolicamente parentes das vítimas, amigos e a sociedade como um todo, sobretudo quando são homicídios intencionalmente registrados (HIR). Modelos diagnósticos na psicopatologia e medidas de personalidade, como a tríade sombria, são claramente relevantes, mas insuficientes para explicar o fenômeno, cada vez mais evidente na criminalidade brasileira. Nesta tese foram desenvolvidos, em uma abordagem mista qualitativa e quantitativa, quatro estudos empíricos para se compreender preditores da CVELI, sua dinâmica de ocorrência psicossocial e seus efeitos. O Estudo 1 buscou identificar mecanismos de desengajamento moral de Bandura nas falas do perpetrador de um feminicídio, com base em autos processuais. Os resultados revelaram maior uso de argumentos morais e de culpabilização da própria vítima como estratégias de justificação e de redução das consequências no julgamento. No Estudo 2 foi desenvolvida a adaptação (n = 478) da Escala Reduzida de Impulsos Sádicos (ERIS), como medida de prazer com o sofrimento alheio. Modelos de equação estrutural exploratória revelaram a mesma organização unidimensional da escala original, além de maiores escores de sadismo entre mulheres. O Estudo 3 representou a análise de um triplo homicídio, como primeiros testes sistemáticos de um método aqui desenvolvido. Análises de conteúdo das filmagens revelaram objetivos de propaganda criminosa, desindividuação e manutenção de normas sociais. Finalmente, o Estudo 4 tomou com base vídeos amadores, processos judiciais e reportagens jornalísticas para criar um protocolo de tratamento de dados de CVELI em casos de HIR. Em conjunto, os estudos da tese revelam um papel preponderante do que se qualifica comosinergia da maldade, resultante fundamentalmente de fenômenos grupais que justificam e perpetuam esse tipo de crime. Além de inovações conceituais e metodológicas, a tese apresenta propostas de identificação do CVELI e de enfrentamento do HIR, com aplicações acadêmicas e legais (animus necandi) para o contexto brasileiro

Mais do que as próprias ocorrências criminais, o medo do crime exerce enorme influência direta nas (in)ações dos indivíduos. Como problema de segurança pública, exige portanto ferramentas que possam não somente discrimina-lo, como produzir soluções para sua mitigação. O modelo da prevenção criminal pelo design do ambiente (CPTED - crime prevention through environmental design) se destaca como um conjunto de estratégias fundamentais, mas com frequência suas dimensões são tratadas de modo disperso, inconsistente ou sem instrumentação adequada. Nesta tese foram desenvolvidos cinco estudos, com uma abordagem multi-metodológica, voltados para a teoria, a metodologia, a psicometria, a análise e a aplicação do modelo a espaços públicos urbanos e rurais. O Estudo 1 promoveu a extensão e o teste do Inventário CPTED para Espaços Públicos (ICEP), assim como da Escala de Medo Situacional do Crime para Espaços Públicos (EMSCEP) (Senna, 2017). Agentes de forças de segurança foram treinados na racional da CPTED para aplicação dos instrumentos para avaliação de duas praças de uso misto (comercial e residencial) para uma amostra de 102 entrevistados, com o emprego adicional de técnicas de pesquisa pessoa-ambiente e da análise de eventos criminais. Os resultados revelaram consistência nas avaliações e reuniram evidências de validade das medidas, mesmo em diferentes modalidades de aplicação. No Estudo 2 foram revisados os métodos de pesquisa pessoa-ambiente, tradicionais e inovadores, que podem contribuir para a CPTED, com destaque para entrevista caminhada, mapeamento comportamental e georreferenciamento. Já no Estudo 3 foi desenvolvido um curso de CPTED para o cenário nacional, como solução para níveis micro e macro em políticas públicas. No Estudo 4 descreve-se a implantação de um programa de segurança rural desenvolvido com base nas dimensões da CPTED. Finalmente, no Estudo 5 testou-se o efeito das dimensões da CPTED no medo do crime em 55 ambientes públicos distintos do Distrito Federal em 2020 (n = 1.630) e em 2021 (n = 1.590). Além de reforçar a estrutura unidimensional da EMSCEP e seu emprego em outras pesquisas, distingue-se da literatura internacional por tratar o medo do crime em sua dimensão situacional. A tese produziu elementos que aprimoram a organização conceitual das dimensões previstas. O teste do ICEP no Brasil deve gerar insumos para garantir invariância da medida, retroalimentando a teoria da CPTED. A relevância parece ainda mais imediata quando se consideram os índices de criminalidade no Brasil (e em outros países). Sobretudo, a pesquisa mostrou como gerar intervenções simples e de baixo custo que possam romper com o ciclo desordem-medo-criminalidade, ao invés de focar em mudanças estruturais ou ações no plano legal que são dificilmente mensuráveis e gerenciáveis.