Qualidade de Vida no Teletrabalho (e-QVT): Representações de Servidores Públicos e Transformações Necessárias
Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho (EAA_QVT), Qualidade de Vida no Teletrabalho (e-QVT), teletrabalho, trabalho remoto, serviço público.
Considerada a maior crise sanitária humana desde a Segunda Guerra Mundial, a COVID-19 foi classificada como pandemia no dia 11 de março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para contenção e combate, a OMS recomendou o isolamento social e a quarentena, tornando o trabalho remoto compulsório no âmbito global. Sem aviso prévio e sem os devidos preparos técnicos e aportes materiais, o trabalhador precisou improvisar: o trabalho, repentinamente, mudou-se para a casa, colocando em risco a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. Como reflexo das reestruturações de capital, trabalho e mercados, a virtualização nos processos comunicacionais já estava em pleno desenvolvimento. Não obstante, a pandemia inseriu o teletrabalho na agenda de discussão internacional e após o fim das medidas restritivas, diversas organizações deliberaram pela continuidade do trabalho remoto. Com a Administração Pública brasileira não foi diferente. Todavia, a gestão do teletrabalho se sustentou, em inúmeros casos, no modelo emergencial implementado durante a pandemia. De tal modo, a investigação referente à Qualidade de Vida no Teletrabalho (e-QVT) no contexto do serviço público é primordial e impostergável, tanto para os ambientes organizacionais, quanto acadêmico-científicos. Para isto, 35 servidores de um órgão do Ministério Público sediado em Brasília foram entrevistados por meio da técnica de grupo focal. As informações coletadas foram submetidas à análise de conteúdo no aplicativo IraMuTeQ (Ratinaud, 2009) e, posteriormente, diagnosticadas sob a ótica da Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho (EAA_QVT). Os achados indicam quatro fatores vivenciados pelos trabalhadores com predomínio de mal-estar no contexto virtual: “Condições de Trabalho e Suporte Organizacional”, “Organização do Trabalho”, “Reconhecimento e Crescimento Profissional” e “Uso da Informática”. Apenas dois aspectos revelam a primazia das fontes de bem-estar no teletrabalho: “Saúde e Sentimentos no Trabalho” e “Elo Trabalho-Vida Social”. Os demais fatores, “Relações Socioprofissionais” e “Práticas de Gestão do Trabalho”, estão na zona de coabitação entre bem-estar e mal-estar no teletrabalho, um estado de alerta, e podem indicar inclinação às vivências de mal-estar no arranjo virtual. Por fim, os achados revelam que a e-QVT no órgão investigado pode estar comprometida e apontam aprimoramentos necessários para transformar o contexto virtual vigente, gerando subsídios para uma gestão focada em eQVT.