" Interações de cenoura e tomateiro com espécies de Meloidogyne: Resistência genética e estabelecimento de metodologias de avaliação".
Meloidogyne spp.; Daucus carota; Solanum lycopersicum; Resistência genética, Metodologia de avaliação
Os nematoides-das-galhas (Meloidogyne spp.) representam um dos mais importantes grupos de patógenos radiculares devido aos danos induzidos em uma ampla gama de hospedeiras. O parasitismo por Meloidogyne spp. é um grande obstáculo na produção de cenoura (Daucus carota) em regiões subtropicais, causando perdas de produção e qualidade. No Brasil, as espécies com maior importância na cenoura são M. javanica e M. incognita. A cultivar ‘Brasília’ é a principal fonte de resistência contra estas duas espécies. No entanto, ainda não estão disponíveis sistemas de marcadores moleculares ligados aos fatores de resistência para as cultivares brasileiras de cenoura, que facilitaria o processo de seleção. O tomateiro (Solanum lycopersicum) também é severamente afetado por Meloidogyne spp. com especial destaque para M. enterolobii devido a sua recente expansão geográfica e pela capacidade de “quebrar” a resistência conferida pelo gene Mi-1.2. Todavia, fontes alternativas de resistência no tomateiro a M. enterolobii ainda não estão disponíveis. Ademais, novas metodologias de avaliação nematológicas são necessárias para os processos de seleção de plantas resistentes em ambas as hortaliças. Neste contexto, o presente trabalho objetivou estudar diferentes aspectos das interações de cenoura e tomateiro com espécies de Meloidogyne. Em cenoura, realizou-se um estudo com uma população F2 de 108 plantas da cultivar ‘Brasília #83147’ (que segrega para resistência contra M. javanica). Plantas foram inoculadas com 8000 ovos + eventuais J2 de M. javanica aos 30 dias após a semeadura. DNA total foi extraído de amostras foliares e avaliadas (via PCR) com marcadores do tipo SCAR/STS codominantes (SQ1850R / SQ1700S e SQ6650R / SQ6590S) previamente identificados em estreita ligação com um locus de resistência a M. javanica (Mj-1) em ‘Brasília’. Quanto as análises nematológicas, avaliou-se os sistemas radiculares de plantas individuais aos 120 dias após a inoculação (DAI) quanto ao fator de reprodução (FR = pf/pi) e a quantificação individual de galhas e massas de ovos. Raízes de plantas individuais contrastantes (resistentes e suscetíveis) foram vernalizadas e submetidas a autofecundação (geração S1). O bioensaio de inoculação em conjunto com a análise de marcadores confirmou que a resistência não está fixada nessa população, com muitos indivíduos suscetíveis sendo detectados. No entanto, foi possível identificar indivíduos com resistência extrema (resposta do tipo imunidade) e com a presença dos marcadores SCAR/STS codominantes. Esses indivíduos podem ser agora utilizados com parentais para facilitar estudos genéticos bem como o desenvolvimento de novas cultivares brasileiras de cenoura. Além disso, a escala proposta se apresentou mostrou uma ferramenta de interesse, sendo de fácil e rápida utilização para avaliação de germoplasma. Em tomate, foi avaliado o comportamento de 24 acessos do germoplasma sob diferentes níveis de inóculo de M. enterolobii. O potencial efeito residual do gene Mi-1.2 também foi estudado em ensaios comparativos empregando linhagens isogênicas (isolinhas) contrastantes para esse fator de resistência: ‘Rio Grande’ (mi-1.2/mi-1.2) versus ‘Nemadoro’ (Mi-1.2/Mi-1.2). A condição alélica de cada planta individual foi confirmada via utilização de marcadores moleculares ligados ao locus Mi-1.2. Esse marcador molecular também foi empregado para avaliar a utilização desse gene no panorama varietal brasileiro. Os acessos foram inoculados com quatro níveis de inóculo de M. enterolobii (1000, 2000, 4000 e 8000 ovos + eventuais J2s) aos 15 dias após o transplantio. Quanto as análises nematológicas, as raízes do tomateiro aos 45 dias após a inoculação foram avaliadas de acordo com o índice de galhas (IG), índice de massa de ovos (IMO), número de ovos por grama de raiz (NOGR) e o fator de reprodução (FR). Todos os acessos de tomateiro avaliados apresentaram respostas de suscetibilidade, sendo imprescindível conduzir avaliações mais amplas de coleções de germoplasma em busca de fontes de resistência contra esse patógeno emergente. Por sua vez, o gene Mi-1.2 não conferiu efeito residual significativo contra M. enterolobii, pois embora extremamente efetivo contra pelo menos 13 espécies de Meloidogyne, não se mostrou capaz de interferir no processo de infecção deste nematoide. No processo de inoculação de M. enterolobii, os níveis de inóculo mais adequados variaram de 1000 a 2000 ovos + eventuais J2 para a obtenção da máxima manifestação dos caracteres nematológicos. Diante da importância do tomateiro e da cenoura no Brasil, os resultados deste estudo contribuem substancialmente para os programas de melhoramento visando o desenvolvimento de cultivares resistentes as diferentes espécies de Meloidogyne.