Da diplomacia à gestão: uma proposta de capacitação para as primeiras chefias do Itamaraty
orientação empreendedora (OE), gerência média, capacitação, diplomacia, gestão
O cumprimento da missão institucional é um desafio permanente das organizações públicas. Trata-se de objetivo premente e complexo diante das cada vez mais rápidas e profundas transformações sociais e econômicas nas esferas nacional e internacional e do crescente escopo das demandas da sociedade. A capacitação das chefias intermediárias é um dos fatores que podem contribuir para o nível de desempenho das organizações públicas. No caso do Ministério das Relações Exteriores, a capacitação de diplomatas da classe de Primeiro-Secretário, ainda não implementada, encontra-se prevista na Lei nº 11.440 (2006), que institui o regime jurídico dos servidores do Serviço Exterior Brasileiro. A partir da identificação da autopercepção dos diplomatas brasileiros quanto às dimensões do construto de orientação empreendedora (OE) no Itamaraty e de como veem a instituição, a pesquisa apresenta uma reflexão e subsídios para a proposta de um inédito programa de curso piloto de capacitação para a média gerência formada por Primeiros-Secretários já ocupando ou em vias de ocupar suas primeiras chefias. A pesquisa de caráter descritivo e explicativo desenvolveu-se em três fases: uma análise textual da literatura, um survey com 144 respondentes e treze entrevistas semiestruturadas com especialistas diplomáticos sêniores e juniores. As entrevistas semiestruturadas revelaram que as transformações no cenário internacional impactam o trabalho diplomático e justificam a capacitação dos Primeiros-Secretários. O survey, por sua vez, indicou que das cinco dimensões do construto de OE, a proatividade foi a mais bem avaliada enquanto a autonomia e a agressividade competitiva foram as menos. O estudo identificou a necessidade de aprimoramento da gestão da informação, da adoção de novas formas de trabalho colaborativo e da formação institucional de chefias no MRE. Os diplomatas consideram que o forte senso de hierarquia e a cadeia comando verticalizada do Itamaraty não constituem impeditivos 2 suficientes para que a organização siga aprimorando seu modelo de gestão e elevando o seu nível de desempenho. O estudo abre a possibilidade de oferecimento de uma proposta de capacitação gerencial inédita para a média gerência do Itamaraty, baseada na transmissão de conhecimento formal e visando o preenchimento da lacuna legal existente. O potencial de replicação da proposta em outras organizações públicas é alto por, ao menos, três razões: todas as organizações possuem um mandato institucional a cumprir; contam com uma média gerência que pode contribuir para este objetivo; e os fundamentos da teoria gerencial de Mintzberg e do construto de orientação empreendedora podem ser constatados no trabalho da alta e da média gerência e utilizados para orientar o atingimento da missão institucional. A limitação da pesquisa refere-se a ter examinado uma única organização pública, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). O trabalho pode estimular o estabelecimento de novas linhas de pesquisas que incluiriam o estudo da relação entre treinamento gerencial e mecanismos de progressão funcional no serviço público, assim como de que maneira as distintas dimensões de OE impactam o Itamaraty e poderiam embasar cursos de capacitação sob medida para servidores da média gerência do Ministério, mas que também poderiam ser replicados em outras organizações públicas, feitos os devidos ajustes.