O problema da perversão: a gênese do conceito no primeiro alienismo
francês e o paradoxo da abordagem freudiana
perversão sexual, monomania, monstruosidade, alienismo, Freud
A presente tese se propõe a discutir o percurso de formação do conceito de perversão
sexual em dois momentos decisivos: em sua gênese no alienismo francês (na primeira
metade do século XIX) e em seu ocaso e paradoxal retomada nos Três ensaios sobre a
teoria da sexualidade, de Freud. O percurso se inicia com a apresentação de duas das
principais condições conceituais da perversão: o conceito psiquiátrico de instinto e o
conceito de monomania (loucura parcial). O primeiro, oriundo da clínica asilar de Phillipe Pinel e da análise de Étienne-Jean Georget dos casos dos grandes monstros criminosos do século XIX, faz surgir, ao lado de uma concepção naturalista do instinto, uma figura da irresistibilidade relativa aos atos sem razão (incompreensíveis para o sujeito), fazendo da perversão um objeto perenemente atravessado pela perversidade e pelo imaginário da monstruosidade. Já o conceito de monomania de Esquirol é o que permite conceber a perversão enquanto uma patologia funcional do instinto sexual, definição que perdura ao longo do século XIX e somente será contestada por Freud. Por último, mostramos que, apesar do ato revolucionário que destrói, em 1905, as condições conceituais da perversão, Freud, de modo paradoxal, ainda insiste em operar com o conceito de perversão em seu sentido patológico.