Uma experiência italiana: da descoberta de um Gramsci visionário ao encontro com a política criada e protagonizada por mulheres
Antonio Gramsci; Filosofia da práxis; Experiência; Luce Irigaray; Feminismo da diferença italiano.
O trabalho apresenta a relação de Gramsci com algumas das mulheres que passaram por sua vida e deixaram marcas em sua formação intelectual e moral e em sua práxis revolucionária; bem como em suas categorias, que puderam ser desenvolvidas e/ou aprofundadas em função dos frutos das relações com elas. A partir dessa perspectiva, mapeamos o movimento de construção de seu pensamento sobre as mulheres, capaz de antecipar, em certa medida, o percurso que o próprio movimento de mulheres tecerá para si, em especial na segunda metade do século XX. Propõe-se inicialmente uma reflexão sobre a formação juvenil de Antonio Gramsci na Sardenha e as razões de possuir referências femininas tão marcantes. Em seguida, explora-se a reflexão de Gramsci sobre a peça Casa de Bonecas de Ibsen, destacando-se seu interesse pela transformação moral e intelectual das mulheres. Ao colocar foco sobre as companheiras de militância (e também de afetos) de Gramsci, a investigação exibe relações mais horizontais entre o sardo e as mulheres, apresentando suas influências nas criações políticas e intelectuais do pensador, para enfim conectá-las com as três irmãs Schucht, as russas cujas histórias se entrelaçam com a dele, destacando a perspectiva do amor como potência criadora. Em linhas mais gerais, penso a dinâmica complexa da relação entre feminismo e marxismo nos séculos XIX e XX, para, em seguida, explorar a reflexão gramsciana sobre as mulheres em suas obras do cárcere, considerando que suas categorias subalternidade e hegemonia são caminhos fecundos e atuais para aproximar a obra do sardo com o feminismo. Em busca dessas ligações, investigo a importância da rebeldia para a luta política das mulheres, na Europa e, em particular, na Itália, a partir do século XIX, uma rebeldia que levou à construção das duas culturas políticas das mulheres italianas – o emancipacionismo e o neofeminismo. Conecto-as, por fim, ao feminismo da diferença italiano – em especial da Libreria delle Donne di Milano e da comunidade filosófica feminina Diotima, que trabalham a criação da diferença ou a efetivação do sentido livre da diferença – culminando na Carta delle Donne, um projeto coletivo de conciliação entre tais culturas.