PSICOESFERA CORPORATIVA E USO DO TERRITÓRIO COMO RECURSO: análises a partir da mineração do amianto crisotila e das terras raras em Minaçu-GO, Brasil.
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No tempo presente, o poder corporativo, plenamente alinhado à racionalidade instrumental capitalista, marca o meio geográfico em múltiplas escalas, mas se explicita de modo singular em localidades que passam a ser vertical e intencionalmente ajustadas ao interesse empresarial, a despeito dos anseios e das necessidades sociais. À luz do crítico pensamento miltoniano, a presente pesquisa trata de fatores contemporâneos atrelados aos processos de apropriação privada, uso e abuso do território, particularmente quando realizados por empresas do setor mineral. A investigação teve como recorte analítico o município goiano de Minaçu, que se encontra, atualmente, sob forte influência de duas grandes mineradoras: a SAMA Minerações Associadas S.A. e a Serra Verde Pesquisa e Mineração Ltda. (SVPM). A primeira delas comanda, desde a década de 1960, um dos maiores empreendimentos privados do mundo voltado à mineração do amianto crisotila, minério que foi utilizado de modo abundante por diversos setores produtivos ao longo dos séculos XIX e XX, especialmente nas localizações submetidas às dinâmicas do capitalismo industrial. A segunda, por sua vez, está implantando em Minaçu o que se acredita ser o principal projeto minerário do Hemisfério Ocidental de exploração de argilas iônicas portadoras de terras raras, matéria-prima crítica para a indústria tecnológica no atual período técnico-científicoinformacional. O objetivo da tese foi identificar e analisar, em uma perspectiva multiescalar, fatores e estratégias que fundamentam, no município, o uso corporativo do território por estas grandes empresas. A metodologia adotada envolveu levantamento e revisão bibliográfica e documental, pesquisa de campo, aplicação de questionários, realização de entrevistas, bem como sistematização e análise de dados e informações, inclusive via elaboração de elementos gráficos, mapas e tabelas. No decorrer da investigação, verificou-se que as referidas mineradoras encontram na escala local amplo apoio e incentivo de parcela majoritária da população e de representantes do Estado às suas práticas privatistas, inclusive no caso da SAMA, muito embora a exploração do amianto crisotila tenha sido judicialmente proibida – porém, não interrompida – no Brasil em novembro de 2017, devido aos sérios riscos que a exposição à matéria-prima representa à saúde humana. Nesta tese, entendeu-se que o fomento de agentes estatais e sociais à intensa adequação do território em favor de atividade mineradora de larga escala, pautada em modelo extrativo predatório e voltada ao atendimento de interesses essencialmente mercadológicos, decorre da ativação da psicoesfera corporativa e da contínua reiteração de seu conteúdo ilusório, constituído de discursos sedutores e de ações revestidas de caráter supostamente altruísta de agentes socioespaciais que tomam o território como mero recurso econômico.