Los ciclones tropicales son los fenómenos naturales que más daño causan en Costa Rica, ya sea por inundaciones severas, marejadas, deslizamientos o cabezas de agua (flash floods). Si bien los ciclones tropicales se forman en el océano Atlántico, su mayor afectación se da en el Pacífico del país (Guanacaste, Puntarenas y San José), esto debido a la circulación de los vientos y al desplazamiento de la Zona de Convergencia Intertropical (ZCIT), lo cual lleva al aumento de la precipitación, la distribución de las lluvias y la intensidad del viento, lo que aunado a la topografía del país, las características de los suelos y al incremento de la población en las zonas costeras, genera un mayor riesgo ante amenazas hidrometeorológicas. En Costa Rica, en los últimos 15 años se ha observado un crecimiento exponencial en la afectación directa por eventos hidrometeorológicos extremos; siendo los más significativos los ciclones tropicales Alma (2008), Ida (2009), Tomas (2010), Patricia (2015), Otto (2016), Nate (2017), Eta e Iota (2020), los cuales tuvieron consecuencias sociales, económicas y biofísicas, afectando los patrones naturales de escorrentía e infiltración, causando grandes pérdidas humanas y económicas, daño en infraestructura y afectación de actividades productivas. El objetivo general de este trabajo es analizar la ocurrencia de eventos hidrometeorológicos extremos en Costa Rica e identificar los riesgos e impactos de las inundaciones en el país. Este trabajo presenta dos abordajes paralelos y complementarios, uno de naturaleza climatológica que analiza las precipitaciones en la cuenca del Río Tempisque en su temporalidad y espacialidad, analizando estadísticamente datos pluviométricos a través de análisis climatológicos; por otra parte, se investigan los riesgos asociados a eventos pluviales extremos y sus impactos durante los huracanes Eta e Iota en 2020, a través del análisis de datos biofísicos registrados por las estaciones meteorológicas pertenecientes al IMN, imágenes satelitales y mapas de precipitación, informes de la Comisión Nacional de Emergencias y la Municipalidad de Santa Cruz, registros de reportes realizados al sistema de emergencias 911 y noticias, que permiten identificar las principales vulnerabilidades de Santa Cruz frente a eventos hidrometeorológicos extremos.

As mudanças nas dinâmicas geopolíticas dentro dos espaços oceânicos no século XXI deram aos mares,
oceanos e territórios insulares novos significados, garantindo a potências regionais, como o Brasil, formas de
fortalecer o seu poder marítimo. Graças a sua localização estratégica no meio do Atlântico Sul e outras
características singulares, Trindade e Martim Vaz detém grande potencial como ferramenta de controle
territorial (geopolítico), acesso a recursos econômicos como pesca, recursos fósseis e minerais (econômico),
e militar (ponto de apoio distante a tropas), fortalecendo o poder marítimo brasileiro. Sendo assim, o objetivo
geral da dissertação é analisar de que modo a expansão das fronteiras marítimas de Trindade e Martim Vaz é
utilizada como estratégia geopolítica para o fortalecimento do Brasil como potência marítima em seu Entorno
Estratégico. Buscando apresentar os clássicos da geopolítica dos mares e o pensamento naval atual,
compreender as justificativas para a expansão das fronteiras marítimas da Amazônia Azul na região da Cadeia
Vitória-Trindade e analisar geopoliticamente e geoestrategicamente Trindade e Martim Vaz. Para isso, serão
realizadas nesta pesquisa as seguintes etapas metodológicas: um levantamento bibliográfico em diferentes  formatos de produção literária e científica; uma revisão de escopo em revistas nacionais e internacionais; análises documentais dos pedidos de expansão das fronteiras marítimas brasileiras e dos documentos de defesa nacionais; e realização de entrevistas, para compreender a importância das ilhas para o país e mudanças presentes entre os pedidos de 2004 e 2018. Esta pesquisa almeja também colaborar com a revalorização da geopolítica no Brasil, que atualmente se mostra bastante incipiente no ambiente acadêmico, estando quase que exclusivamente ligada às instituições militares.

O Licenciamento Ambiental (LA) e a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) são dois dos principais instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Por seu caráter antecipatório e preventivo, se mostram fundamentais para a modelagem preditiva de impactos de projetos de infraestrutura de transporte. O componente espacial do LA e da AIA pode ser constatado em recortes vinculados à área estudada (Área de Estudo - AE), nas áreas destinadas à sua implantação e operação (Área Diretamente Afetada - ADA) e no alcance dos impactos diretos e indiretos (Área de Influência Direta e Indireta – AID e AII). Utilizando-se das categorias analíticas de Espaço e Paisagem e orientando-se pelos pressupostos da Geografia Pragmática, foi desenvolvido um estudo documental exploratório em processos administrativos de licenciamento de projetos ferroviários e rodoviários avaliados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no período de 2008 a 2023. Previamente a uma revisão bibliográfica e normativa, utilizou-se de lista de verificação (check-list), com os dados sendo tabulados e analisados qualitativamente, com o objetivo de compreender o componente espacial, a partir da identificação dos critérios utilizados para definição desses recortes espaciais no âmbito da AIA e sua influência na tomada de decisão no LA. Nos 15 anos de processos avaliados, apesar de um claro aprimoramento administrativo na avaliação dos projetos apresentados, o componente espacial ainda tem uma importância secundária, apesar da potencialidade de auxiliar a AIA a ser mais objetiva e efetiva. Como melhorias procedimentais, propõe-se critérios mínimos a serem observados, evitando-se a mera sobreposição das áreas estudadas e de implantação, que são insumos à AIA, às saídas, materializadas na AID e na AII. Outra proposta é a incorporação do componente espacial enquanto uma instância formal da licença ambiental. Essa adequação pode facilitar avaliações integradas de projetos por meio da cumulatividade e sinergia de impactos, ao mesmo tempo em que permite uma modulação das áreas de influências, de acordo com o desenvolvimento do projeto. Dialogando com outras escalas de planejamento, essa providência permitiria também agregar informações de inúmeras bases geoespaciais, enriquecendo a análise técnica, e em sentido inverso, forneceria também informações valiosas em escala de projetos a análises no âmbito de políticas, planos e programas.

A climatologia geográfica é uma ciência de síntese, uma vez que é uma combinação de processos que ocorrem na atmosfera inferior, incluindo processos antrópicos e não apenas elementos climáticos considerados isoladamente. Estudos de climatologia local em áreas rurais e/ou protegidas ainda são incipientes quando comparados às análises de climatologia urbana, e podem auxiliar os gestores de unidades de conservação no planejamento e na tomada de decisões com um maior conhecimento do ritmo climático e dos tipos de sucessão climática nessas localidades. Este trabalho, dividido em três capítulos, busca realizar uma avaliação sob uma perspectiva integrada do clima, com uma análise de topoclimas e ritmo climático, geomorfologia e seu mapeamento, e também a influência que o comportamento do tempo/clima causa em uma comunidade tradicional e como é percebido por ela. A área de estudo é a bacia hidrográfica do Rio da Fazenda, situada no município de Ubatuba (estado de São Paulo), cercada pela montanha e planície costeira da Serra do Mar, inserida em duas Unidades de Conservação (Parque Estadual da Serra do Mar e Parque Nacional da Bocaína). O referencial teórico é baseado em estudos clássicos e modernos de climatologia brasileira, utilizando diferentes abordagens, conforme descrito anteriormente (MILANESI; GALVANI, 2011; FIALHO, 2012; MONTEIRO, 1971, 1973; SANT´ANNA, 2022; SARTORI, 2000). Uma análise topoclimática foi realizada no Capítulo I, onde foram utilizadas medições climáticas em escala local, com termohigrômetros ao longo da bacia, para entender a relação entre o relevo e o comportamento climático utilizando a metodologia de análise multicritério. Por meio dessa abordagem, a área foi dividida em unidades topoclimáticas, a fim de demonstrar o efeito chave que os atributos geográficos têm em relação à estrutura climática de uma localidade, o que pode ser útil para fins de planejamento ambiental e para pesquisas ecológicas. A topografia atua como um fator determinante na diferenciação topoclimática, daí a importância do mapeamento geomorfológico realizado no Capítulo II, com um conjunto de mapas produzidos no QGIS a partir do modelo digital de elevação (DEM) que demonstram a hipsometria, inclinação e orientação das encostas da área de estudo. A partir desse banco de dados geográfico, pretende-se chegar ao mapa índice de dissecação do relevo segundo a proposta de Ross (1994) e ao fluxo de drenagem do Rio da Fazenda. A importância desse tipo de estudo é para entender a evolução das paisagens e também detectar pontos com maior grau de risco de movimentos de massa, um evento comum na região devido às altas precipitações. No terceiro capítulo, o objetivo é analisar a percepção climática dos moradores da bacia, onde habita uma comunidade quilombola dentro do parque. Como base teórica são utilizadas as ideias de Sartori (2000) sobre percepção climática e a ideia de clima relacional formulada por Sant'Anna Neto (2022), onde o clima é analisado na perspectiva quilombola, principalmente em suas dimensões culturais, simbólicas, experiências e sociais. Estudos de percepção ambiental são valiosos para compreender as relações entre indivíduos e o ambiente e uma ferramenta para a administração dos gestores, incluindo as populações nas Unidades de Conservação que podem participar do processo de tomada de decisão nessas áreas. A metodologia será uma análise qualitativa por meio de entrevistas com aplicação de questionários e uma roda de conversa entre eles. Como resultado esperado da pesquisa, busca-se entender o clima, em aspectos de diferentes dimensões, mas que se conectam entre si, indo além da dicotomia físico-humana que acontece na ciência geográfica.

A guerra civil na Síria, iniciada em 2011, vem constituindo uma das mais graves crises internacionais no século XXI. Na sua análise, estudamos a gestão do poder sobre o território durante o conflito armado por parte dos atores estatais e não estatais envolvidos. A tese defendida neste trabalho é a de que as intervenções de poderes regionais e globais na Guerra Civil da Síria ajudaram na escalada do conflito, na deterioração do regime de Assad e na destruição de grande parte do território do país e dificultaram o desfecho dela. Assim, o objetivo da pesquisa foi estabelecer as relações entre o domínio territorial e a Guerra Civil Síria, à luz dos acontecimentos geopolíticos recentes, da atuação dos atores nas diversas escalas (nacional, regional e global) e das teorias geopolíticas sobre poder territorial. Para isso, os instrumentos metodológicos principais utilizados foram: i) a narrativa histórica analítica; ii) a sistematização e análise de autores geopolíticos e de documentos oficiais; e iii) a aplicação do nosso método de análise de domínio territorial a partir dos modelos dos autores pesquisados. Concluímos que a fraqueza do regime de Assad se refletiu na ascensão de domínios territoriais diversos dentro da Síria. Ademais, constatamos que, a partir de 2020, não houve grandes mudanças na distribuição do domínio territorial entre os atores principais, até os recentes acontecimentos que determinaram a queda do presidente Assad.

A tese aborda a gestão integrada de resíduos sólidos urbanos na bacia hidrográfica do Rio São Francisco, analisando os desafios e as oportunidades para incentivar práticas sustentáveis que estejam em consonância com as especificidades territoriais. A tese está organizada em três artigos científicos, sendo que o primeiro discute o contexto atual da sustentabilidade e sua relação com as políticas públicas municipais. O segundo artigo apresenta uma abordagem matricial para analisar a governança municipal no tocante à gestão de resíduos sólidos, ressaltando elementos como instrumentos técnicos e estratégicos de planejamento, disposição final dos resíduos e consórcios intermunicipais. O terceiro artigo utiliza a metodologia OKR como uma ferramenta estratégica para melhorar o planejamento municipal e alinhar as ações locais às metas ambientais. Os resultados revelam que a articulação entre governança participativa, indicadores regionais e abordagens inovadoras pode aprimorar as políticas públicas, mitiga

O trabalho de campo é reconhecido como atividade clássica no ensino de Geografia, mas seu uso como estratégia pedagógica pura e simples não garante que a aprendizagem ativa e significativa seja alcançada pelos sujeitos. Essa foi a questão trabalhada pelo investigador ao longo da dissertação de mestrado, pesquisa que foi ampliada no decorrer do Doutoramento e que propõe o amadurecimento da categoria denominada Unidade Territorial de Aprendizagem (UTA), em que o espaço geográfico escolar sirva como revelador dos territórios de estudantes, de modo a compreender o uso das situações geográficas na condução dos conhecimentos cotidianos aos conhecimentos científicos durante a formação escolar. A pesquisa de orientação qualitativa utiliza o levantamento bibliográfico sobre Geografia Escolar; Situação Geográfica; Geografias das Crianças e Juventudes; a categoria Território; e o uso do Trabalho de Campo para a construção do referencial teórico, os quais foram selecionados de anais de congressos, de periódicos científicos, de livros e da base de dados Web of Science. Ademais, utiliza-se entrevista semiestruturada com professor de Geografia de uma escola pública, no recorte espacial do Distrito Federal. A justificativa da pesquisa envolve: o reconhecimento das Geografias dos estudantes para delimitar e utilizar as UTAs em contexto de aprendizagem, sob a demanda dos próprios escolares; agregar à discussão acadêmica sobre o Ensino de Geografia quanto ao trabalho de campo pela via do território; além da formação continuada do pesquisador, que também é professor na Educação Básica e buscou a pós-graduação como caminho para sanar lacunas ainda da formação inicial. Os dados obtidos foram analisados para avaliar o contexto de aprendizagem dos sujeitos e verificar a potencialidade do uso das situações geográficas na categoria espacial proposta pela tese, voltada a confirmar a suposição de que a mediação didática dos professores é indispensável à construção dos conhecimentos, tendo o território estudantil como fio condutor da aprendizagem significativa e da ativação da identidade com o espaço.

Esta tese investiga a percepção ambiental como instrumento para o desenvolvimento socioambiental no distrito de Luzimangues (TO), localizado na Área de Proteção Ambiental (APA) do Lago de Palmas. O estudo parte do pressuposto de que o rápido crescimento populacional e a expansão imobiliária desordenada têm gerado impactos ambientais significativos, agravados pela falta de conscientização da população sobre a importância da conservação. Utilizando uma abordagem fenomenológica, a pesquisa analisa como os moradores percebem e interagem com o ambiente, identificando os principais fatores que influenciam sua relação com a APA. Os resultados revelam que a maioria dos residentes desconhece as normas de proteção da APA, devido à escassa divulgação de informações ambientais, à falta de sinalização territorial e à ausência de campanhas educativas contínuas. Esse desconhecimento contribui para a degradação ambiental, uma vez que os moradores, muitas vezes, não reconhecem os limites da área protegida nem as restrições de uso do solo. Além disso, a pesquisa constatou uma atuação insuficiente dos órgãos públicos na fiscalização e gestão do território, enquanto o setor imobiliário avança sem o devido controle, priorizando interesses econômicos em detrimento da sustentabilidade. Diante desse cenário, o estudo defende a implementação de um modelo integrado de gestão, baseado em quatro eixos principais: (1) educação ambiental permanente, adaptada ao contexto local; (2) ordenamento territorial participativo, com zoneamento claro e inclusivo; (3) fortalecimento da fiscalização e dos mecanismos de governança; e (4) criação de espaços democráticos para a participação comunitária nas decisões ambientais. A tese conclui que a percepção ambiental é um elemento-chave para políticas públicas mais eficazes, capazes de conciliar desenvolvimento urbano conservação, não apenas em Luzimangues, mas em outras APAs sob pressão antrópica.

A Conferência Rio+20 destacou os benefícios sociais, econômicos e ambientais do Manejo Florestal Sustentável (MFS) como parte dos esforços em direção ao desenvolvimento sustentável (ONU, 2012). Uma análise realizada por Putz et al. (2012) revela que florestas bem manejadas retêm reservas substanciais de biodiversidade, carbono e madeira e devem ser avaliadas como um caminho intermediário entre o desmatamento e a proteção integral. No entanto, é crucial que haja capacidade de monitoramento para garantir sua adequada implementação. As clareiras florestais são consideradas bons indicadores para a avaliação do impacto da atividade madeireira, pois estão relacionadas a processos ecológicos essenciais, todavia, não é fácil mapeá-las. As florestas sob MFS apresentam um mosaico complexo de ambientes, tornando desafiador o monitoramento dessas mudanças por meio de sensores orbitais. Esta pesquisa tem como objetivo, por meio da classificação supervisionada de imagens Cbers 4A WPM, PlanetScope e Sentinel-2 MSI, avaliar a capacidade desses sensores em mapear clareiras florestais, logo após o término da atividade madeireira, em área sob concessão florestal na Floresta Nacional de Altamira. Foram empregadas diversas combinações de bandas espectrais e processamentos, incluindo o cálculo do NDVI, fusão espectral, reamostragem de resolução espacial e técnicas de mapeamento Pixel a Pixel e Análise Baseada em Objetos Geográficos (Geobia), resultando em 16 conjuntos de dados distintos. Cada um foi classificado por meio dos algoritmos baseados em aprendizagem de máquina: Adaptive Boosting (Adaboost), Decision Tree (DT), K-Nearest Neighbors (K-NN), Random Forest (RF) e Support Vector Machine (SVM), totalizando 80 mapeamentos. Foram realizadas três formas diferentes de validação dos resultados: (1) validação baseada no método Out-of-bag (OOB); (2) taxa de detecção da infraestrutura instalada; e (3) validação baseada em mapeamentos realizados com dados Lidar aerotransportado. As médias dos resultados de F-Score pelo método OOB foram de 99% para o sensor Cbers 4A WPM e 97,8% para os sensores PlanetScope e Sentinel-2 MSI. A taxa média de detecção dos pátios de estocagem superou os 99%, alcançando, em média, 63,9% para as estradas principais e 39,94% para as secundárias. A área total de clareiras mapeadas com os sensores ópticos abrangeu, em média, 10,62% da área total em estudo. No entanto, os quantitativos das clareiras mapeadas apresentaram diferenças significativas entre os sensores ópticos. Os resultados das métricas de validação com dados Lidar foram significativamente baixos, confirmando a complexidade em mapear essas feições. Os valores mais elevados obtidos para cada uma dessas métricas ficaram abaixo de 35% para Precisão e Recall e abaixo de 20% para F-Score. Todavia, ao restringirmos a validação com dados Lidar às clareiras sobrepostas à infraestrutura instalada, os resultados foram, em média, 150% superiores

A Turquia passou por uma grande transformação na sua atuação geopolítica a partir da chegada do Partido da Justiça e do Desenvolvimento- AKP -ao poder seguindo as linhas propostas pelo intelectual (e posteriormente membro do partido e do governo) Ahmet Davutoğlu de que a Turquia tinha características essenciais para se tornar uma potência regional e mesmo ter influência global. De uma política externa mais preocupada com a segurança interna e a unidade do Estado, a Turquia começou a se movimentar com mais desenvoltura no cenário internacional em várias frentes em busca da concretização de sua imagem de potência, que em parte é baseada numa reelaboração da leitura de sua geografia como um estado central. Sob a justificativa de laços históricos, geográficos e culturais, a Turquia ampliou sua atuação na região dos Bálcãs, Ásia Central, Cáucaso, Oriente Médio e África. A pesquisa empreendeu uma análise de discurso sobre a transformação da imagem da Turquia nos artigos das publicações do Center of Strategic Research- SAM, um think-tank que pertence ao Ministério das Relações Exteriores turco, durante o período de 2009 a 2016. Esse think-tank possui três publicações, uma revista acadêmica quadrimestral, Perceptions; a série de ensaios do intelectual Ahmet Davutoğlu quando de sua passagem como Ministro das Relações Exteriores agrupados sob o nome de Vision Papers e artigos avulsos sobre a geopolítica turca e mundial que estão sob a rubrica de SAM Papers. O período escolhido diz respeito aos anos em que Ahmet Davutoğlu foi Ministro das Relações Exteriores e Primeiro-Ministro da Turquia. Como marco teórico foi utilizado a corrente da Geopolítica Crítica, disciplina que foca na análise dos discursos geopolíticos que constroem geografias imaginativas e legitimam as ações dos Estados na política mundial. Como metodologia, usou-se a análise de discurso. Para realizá-la, empreendeu-se uma análise qualitativa dos artigos das publicações, selecionando apenas os que continham a palavra-chave “Turquia”. Com o apoio de software de análise de dados qualitativos, efetuou-se uma codificação indutiva das passagens que continham a palavra-chave. Posteriormente, esses códigos foram interpretados, resultando na descoberta de narrativas geopolíticas no corpus. Em seguida, fez-se uma análise frequencial das narrativas geopolíticas encontradas para estabelecer qual era a de destaque e quais compunham o papel de narrativas auxiliares. Assim, encontrou se como a grande narrativa geopolítica a de que a Turquia seria uma potência média em ascensão. Por fim, foi engendrada uma análise das narrativas geopolíticas encontradas no SAM.

A prática de atividade física (AF) possui uma série de benefícios à saúde física e mental. Além disso, há um corpo de evidências científicas consideravelmente robustas apontando para uma relação entre o ambiente, tanto construído como natural, e a prática de atividade física. As investigações apontam que o ambiente para atividade física pode agir como motivador ou barreira para a atividade física e pode estar ligado com outras características locais. Dessa forma, buscou-se investigar se o perfil socioeconômico das Regiões Administrativas (RAs) do Distrito Federal (DF) possuía alguma relação com o ambiente para AF através de diferentes metodologias de análise espacial. As análises demonstraram que o perfil socioeconômico das RAs foi capaz de explicar, com certa confiança, a variação de variáveis qualitativas do ambiente construído e natural, porém o mesmo não foi verdade para variáveis quantitativas. Além disso, identificou-se que há uma tendência de que as RAs de perfil socioeconômico de maior renda ofereçam um ambiente de mais fácil acesso à espaços públicos de lazer (EPL) se comparadas com as RAs de menor renda. Por fim, acredita-se que o ambiente do DF seja consideravelmente favorável à atividade física, apesar de apresentar inequidades na distribuição e no acesso aos EPLs.

 Brasília, ao longo de sua construção e consolidação como capital da república, vive um processo de metropolização importante, em razão de seu crescimento populacional e da urbanização intensa e dispersa. A região do Entorno do Distrito Federal, têm sido uma grande receptora do contingente populacional que é deslocada de dentro dos limites do quadrilátero, sobretudo em razão da renda e dos valores dos imóveis presentes no DF e que são mais baixos e acessíveis nos municípios do seu entorno, pertencentes ao Estado de Goiás. Estes municípios goianos tiveram seu crescimento e desenvolvimento impulsionados pela construção de Brasília, e sofreram grandes alterações em suas configurações territoriais, mas sem a mesma capacidade institucional de planejamento e ordenamento que o Distrito Federal possui, em razão da economia dependente de Brasília e pouco desenvolvida dentro dos limites municipais. O Distrito Federal, ao abrigar Brasília, capital do Brasil, detém amplas responsabilidades políticas no fornecimento de uma estrutura que mantenha Brasília, como a capital administrativa nacional, tendo recursos extraordinários para a criação e execução de políticas públicas, em função de sua baixa diversidade econômica. Dentre elas a gestão deste território, o que justifica a amplitude de dispositivos legais e técnicos para o auxílio à gestão, como o Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF, A Lei de Uso e Ocupação do Solo, entre outros dispositivos legais. Os municípios goianos escolhidos, Valparaíso de Goiás e Cidade Ocidental, que tiveram um expressivo aumento de população entre 2010 e 2022, mantém fortes relações com Brasília, mas não dispõem dos mesmos recursos técnicos para a elaboração e acompanhamento de normas, e capacidades atenuadas na organização de seus territórios, carência de dispositivos legais territoriais que tenham efetividade, resultando em uma gestão precária da urbanização e de outros fenômenos espaciais nos municípios. Enquanto que regiões administrativas do DF que estão próximas dispõem de níveis melhores na oferta de bem estar a sua população. A população destes municípios, em especial a de origem afro-brasileira, inserida nos problemas sociais ocasionados por esta iniquidade entre DF e municípios do entorno, sofre com as consequências da desigualdade na distribuição e da oferta de infraestrutura Busca - se por meio da análise de dados da operação censitária realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nos anos de 2010, observar a evolução da espacialidade da população afro brasileira nestes 2 municípios e em 2 regiões administrativas do DF, Gama e Santa Maria, estabelecer parâmetros e sua situação espacial nestes territórios, por meio da cartografia e análise geográfica. 

A dissertação explora a dinâmica urbana e a infraestrutura de transporte no Setor Central de Goiânia, com foco nas transformações espaciais e econômicas que moldam a cidade desde sua concepção até os dias atuais. A dissertação explora as reconfigurações do Setor Central, e regiões adjacentes, destacando as dinâmicas sociais, econômicas e culturais influenciadas pelo planejamento inicial de Atílio Corrêa Lima, que visava uma organização urbana funcional e harmoniosa. Utilizando a teoria dos circuitos econômicos urbanos de Milton Santos, o estudo investiga a coexistência e interação dos circuitos superior e inferior na economia urbana. As feiras livres, por exemplo, são destacadas como componentes vitais do circuito inferior, oferecendo produtos acessíveis e promovendo a socialização e integração comunitária. As transformações urbanas no Setor Central, observadas ao longo do dia, refletem a importância deste espaço como um hub de transporte e atividade econômica. A análise revela que a mercantilização do espaço urbano e as intervenções subsequentes alteraram significativamente o desenvolvimento do setor. Destaca-se a necessidade de uma diversidade urbana equilibrada, para criar um ambiente dinâmico e sustentável.

Zonas úmidas ou wetlands é um termo que abrange uma grande diversidade de ambientes e oferecem uma ampla variedade de serviços ecossistêmicos, contudo, apesar de sua importância para a biodiversidade global, a degradação ambiental é uma realidade nas últimas décadas. Dentre as grandes wetlands brasileiras o Pantanal se destaca como a maior planície alagável do mundo e uma das wetlands mais biodiversas do planeta, sendo considerado patrimônio nacional do Brasil. Entre os sistemas fluviais presentes no bioma, destaca-se o rio Cuiabá por sua grandeza, segundo maior sistema deposicional do bioma, proximidade com a capital do estado Mato Grosso e por ser um sistema diretamente impactado pelo reservatório de Manso. Este estudo examina as transformações da paisagem no Megaleque do Rio Cuiabá, em seus compartimentos geomorfológicos e na sua bacia de contribuição entre 1985 e 2022. A pesquisa, baseada em dados orbitais, hidrológicos e climáticos, utilizou práticas de sensoriamento remoto para avaliar os impactos das atividades humanas sobre a região, no contexto das transformações do bioma Pantanal. Os resultados revelam uma expansão significativa de áreas dedicadas à agropecuária, com o aumento de pastagens em detrimento da vegetação nativa, particularmente nas formações florestais e savânicas da BAP. No Megaleque, esse processo de conversão resultou na perda de corpos d’água e áreas de campos alagados, além de um crescimento expressivo da classe formação campestre em todos os compartimentos geomorfológicos, especialmente nas planícies desconfinadas. A pesquisa destaca ainda o papel que a presença de hidrelétricas possui ao afetar a dinâmica de cheias e secas, agravando a perda de áreas úmidas. Além disso, o estudo observou uma crescente incidência de queimadas no megaleque, com destaque para os anos de 2020 e 2021, quando eventos de seca extrema resultaram em incêndios inéditos e devastadores na região. Esses eventos estão associados a condições climáticas adversas, como secas prolongadas e aumento das temperaturas, verificados nos últimos anos da série histórica. As análises junto com demais trabalhos consultados sugerem que o Megaleque do Cuiabá, assim como o bioma Pantanal, enfrentam um cenário crítico em decorrência das forçantes antropogênicas, com a possibilidade de perdas irreversíveis de seus serviços ecossistêmicos, biodiversidade e regime hidrológico.

O objetivo central da pesquisa é estabelecer uma interpretação, com base em pressupostos da hermenêutica filosófica, dos estudos acadêmicos sobre Brasília de autoria de geógrafos(as) urbanos(as) e urbanistas professores(as) da UnB - Universidade de Brasília, verificando se e como incorporam em seus discursos espaciais-urbanos elementos dos utopismos patrimoniais pela América Latina, pensados por ideias aproximadas. A tese se concentra na obra escrita produzida entre 1970 e 2023, de autoria de docentes da UnB, atuantes em Geografia Urbana, desde o Departamento de Geografia, e em Urbanismo, desde a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. O debate tem por objetivo a identificação, em um recorte proposto de autores(as) e obras(as), dos elementos que preconizam utopismos patrimoniais pela América Latina, noção apresentada originalmente por E. Costa, de fundamento dialético-existencialista-decolonial, e que busca restaurar ao sujeito o protagonismo na construção e recuperação da história dos territórios no continente. 

Este estudo objetivou compreender o uso do espaço público latino-americano diante da violência da desapropriação – fenômeno que decorre de ações do poder público que visam definir tipos específicos de uso do espaço público. Para este estudo, foram elegidos os espaços públicos da Rodoviária do Plano Piloto de Brasília (Brasil) e da Alameda Central da Cidade do México (México). Ambos locais integram sítios urbanísticos reconhecidos como patrimônios da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 1987). A Rodoviária do Plano Piloto foi o primeiro local a ser construído da capital federal brasileira de Brasília na década de 1960. Este espaço público, com base no projeto de Lúcio Costa, serviria para integrar as diferentes partes do Brasil com a capital federal. A expectativa era de que a rodoviária se assemelhasse a outros espaços cosmopolitas no mundo, como a Champs Elyseé de Paris, e a Picadilly Circus de Londres (ArqDF, 1991; Rossetti, 2010). Mas o uso popular se impôs e deu o tom da apropriação deste espaço público (Costa, 1989). Trabalhadores informais utilizam a Rodoviária do Plano Piloto como principal local de trabalho, devido a presença constante de passageiros. O poder público, no entanto, considera a presença de trabalhadores informais um problema, e adota diversas estratégias para a remoção deste tipo de apropriação. Apesar disso, os trabalhadores informais continuam usufruindo do local para garantir seu sustento. Situação semelhante ocorre na Alameda Central da Cidade do México. A alameda surgiu em 1592 como um local destinado ao ócio e recreio da classe mais abastada da capital da Nova Espanha. Este espaço público possui, portanto, quatro séculos de existência, e foi utilizado de diferentes formas especialmente pela classe mais pobre. Sobretudo no final do século XX, o trabalho informal passa a ser o principal tipo de uso do local, devido a integração que possui com o Centro Histórico da Cidade do México. A presença constante de pessoas neste passeio público inspira visibilidade a estes trabalhadores, o que proporciona condições favoráveis para o comércio de mercadorias e oferecimento de serviços. Mas o poder público não os reconhece como usuários legítimos do espaço público e insiste em expropria-los. Neste sentido, estes locais são representativos da violência da desapropriação e da resistência a mesma. A permanência dos trabalhadores informais e suas formas de cooperação nos inspira a releitura da temática dos espaços públicos, especialmente na América Latina. Pelas resistências também se pode vislumbrar alternativas e o reconhecimento inconteste da importância destes atores para a ativação popular destes lugares (Costa, 2016), e minimização das desigualdades no continente.     

Este trabalho tem como objetivo principal compreender o processo de produção do espaço urbano da cidade Palmas –TO e a implantação das políticas públicas para Habitação de Interesse Social - HIS na cidade e examinar especificamente a implantação do Programa do programa MEU TETO no ano de 2007. Trata-se de um programa de Habitação de Interesse Social implantado pela prefeitura municipal de Palmas em parceria com o governo Federal, financiado com recursos do PAC. A tese discutida é a de que Palmas desencadeou um processo complexo de exclusões sociais e a Habitação de Interesse Social é ineficiente para atender sua demanda, as políticas públicas para habitação nos âmbitos federal, estadual e municipal não conseguiram solucionar os diversos problemas do seu des(controlado) crescimento. O estudo constatou que a produção do espaço urbano de Palmas ocorreu de forma dispersa, o governo do estado o seu maior detentor de terras, logo no início da formação da confinou os migrantes de baixo poder aquisitivo à margem do Plano Urbanístico inicial, resultando em um processo de urbanização descontínuo e um desenvolvimento socioeconômico desigual que aumentou a concentração das terras no centro da cidade, acumulação do capital e apropriação do mercado imobiliário. Consequentemente a expansão periférica se fortaleceu e o avanço rápido de população gerando demanda por moradia popular. A HIS em Palmas é incipiente, até 2005 a cidade contou com apenas três programas de habitação popular, o Movimento Nacional de Luta pela Moradia –MNLM teve papel importante nas conquistas. Foi abordado o Programa de HIS MEU TETO que foi dividido em 10 (dez) metas, visando atender 1001 famílias, em situação socioeconômica vulnerável com recorte espacial para os conjuntos habitacionais Copa Cabana, Leblon, e Barra da Tijuca, localizados na Área Residencial Sudeste – ARSE, nas quadras 131, 132 na região ambos inseridos no Sul Plano Diretor de Palmas. Nesses empreendimentos foram atendidas 392 famílias. Foram realizadas revisão bibliográfica, pesquisa documental, levantamento de dados junto aos órgãos de habitação, pesquisa de campo, observações e entrevistas. A pesquisa evidenciou que cidade de Palmas, apesar de sua juventude apresenta os antigos problemas de habitação das cidades anteriores a ela, e necessita avançar na política de habitação social, de fato as políticas públicas de habitação implantadas no município nos âmbitos federal, estadual e municipal não conseguiram solucionar os diversos problemas de seu crescimento.

Este trabalho tem o propósito principal de compreender e analisar a restruturação produtiva do nordeste do estado do Tocantins a partir das diferenças, semelhanças e relações entre as frentes de exploração pastoril (que no passado impeliu-se contra o povo Krahô) e do agronegócio (que hoje cerca o Território Indígena) naquela região. Abordar a questão dos indígenas no Brasil atual implica discutir a rica diversidade de povos que são os habitantes originários das terras que agora conhecemos como o continente americano. Tais populações já ocupavam estas regiões há milênios, muito antes da chegada e invasão dos colonizadores europeus. A formação territorial do Brasil é um reflexo da complexa e desigual interação entre os povos indígenas e os processos colonizadores. O contato com os europeus resultou em deslocamentos forçados e alterações significativas nas estruturas sociais e territoriais das comunidades indígenas. Nesse contexto, o Sul do Maranhão e o Nordeste do Tocantins foram palco de um fenômeno muito recorrente desde que aqui chegaram os colonizadores portugueses, que é o deslocamento populacional indígena em resultado do avanço das frentes de exploração econômica e populacionais não-indígenas. Ainda na primeira metade do século XIX, a expansão das frentes pastoril e agrícola causaram o movimento migratório do povo indígena Krahô. Uma série de políticas governamentais foram colocadas em prática pelo Estado brasileiro para viabilizar a expansão no agronegócio pelo cerrado, tais como: POLONOROESTE, POLOCENTRO, PRODECER, MATOPIBA, entre outros. É percebido, desse modo, uma atuação contínua e aplicada dos agentes do Estado em prol do setor agroindustrial e em desfavor dos grupos indígenas, quilombolas, camponeses, posseiros etc. Para desvendar os “mitos” e desatar os “nós” do agronegócio e a fim de produzir uma Geografia sobre a produção do espaço no nordeste do Tocantins pelos Krahô e pelas frentes de exploração econômica, recorremos ao materialismo histórico e dialético como método de interpretação da realidade, a partir da abordagem qualitativa.

A Amazônia foi historicamente incluída nos planos e estratégias governamentais com o único objetivo de explorar seus recursos. Essas práticas efetivaram um dos maiores projetos de exploração mineral na Amazônia. Mas também introduziram fluxos, atores e processos que transformaram territorialmente de maneira irremediável. Na parte oriental da Amazônia, mais especificamente ao longo do eixo logístico mais importante da mineração, muitas dessas transformações podem ser verificadas, sobretudo em razão das formas-conteúdos que passaram a convergir no seu entorno. Para melhor compreensão desses movimentos do território utilizamos conceitos chaves da geografia miltoniana como território usado, formas-contéudos e configuração territorial. Também assumimos que a região de Carajás é uma região arte-fato, na acepção de Haesbaert (2004), e que em razão disso é mais ampla e mais complexa do que a literatura considera. Periodizamos essas incursões analíticas a partir de três marcos significativos: (i) A intervenção Federal na Amazônia: da delimitação da Amazônica Legal ao surgimento do Projeto Ferro Carajás (1952- 1979); (i) Os desdobramentos da implantação da Estrada de Ferro Carajás (1980-1996) e (iii) A síntese de uma região (1997-2017) que mostra como a Vale fez da Amazônia Oriental seu reduto de poder e riqueza ocupando os espaços que o governos (federais e nacionais) deixaram abertos quando invisibilizaram a região. Esses processos são ventilados, tendo como pano de fundo as estratégias dos diferentes governos para intervir na Amazônia e com isso contribuem com o principal objetivo do trabalho que é compreender o papel das políticas públicas (federais e estaduais) nas transformações territoriais da Amazônia Oriental.

Como todo campo científico, a Geografia tem seus modos de modelar e de avaliar fenômenos construídos segundo perspectivas filosóficas (esses modos poderiam ser condicionados por visões sobre mudança e complexificação, por exemplo). Nesta Tese, sugerimos a possibilidade de certas metateorias vinculadas ao pensamento sistêmico (sobre "complexidade" e "emergência", em particular) instruírem, filosoficamente, a definição de um novo subcampo de estudos em ciência geográfica: o da "Geografia Sônica". Neste sentido, enunciamos como sendo nosso problema-guia a seguinte indagação: o fenômeno Som, tendo se manifestado em etapas sucessivas da evolução do Cosmos, pode constituir-se como entidade que colaboraria a efetivar a histórica pretensão da Geografia - qual seja, a de tratar, de modo integrado, aspectos compreendidos como sendo "físicos" e "humanos"? Entendemos que a procura por uma resposta a este objeto de reflexão se justifica por duas razões. Primeiramente, por embutir uma tentativa de trazer para o campo geográfico filosofias que não costumam ser tão aproveitadas pelos epistemólogos de ciências sociais (talvez, devido a um preconceito contra perspectivas entendidas como naturalistas). Em segundo lugar, pensamos que se justifica por advertir a comunidade geográfica sobre a condição do fenômeno sonoro ser ainda um dado subexplorado na análise das paisagens (negligenciando-se seu poder de revelar, justamente, o caráter híbrido e conectivo da natureza). Por isso, os objetivos de nosso ensaio reflexivo terminam cobrindo duas respectivas intenções (ambas, contudo, de caráter teórico - pois não chegamos à fase dos estudos aplicados): [1. na escala ontológica] atribuir ao Som o papel de entidade que narra a complexificação do Cosmos (dados científicos demonstrariam sua ressurgência em dimensões sucessivas e emergentes - física, biológica e cultural, no caso); e [2. na escala epistemológica] conferir à Geografia uma possibilidade alternativa a que realize seu ideal secular (pois, sob uma forma de "espelho" daquelas dimensões emergentes, "Paisagens Sonoras" concentrariam a sobreposição de aspectos materiais, orgânicos e sociais). O pressuposto de base é que esse eventual subcampo "sônico" constituído seria, no fim, uma espécie de Geografia Cultural de alta complexidade - singular, mas sem abrir mão de ser subministrada por dados tanto acústicoambientais (dimensão física do Som), quanto fisiológico-perceptivos (dimensão biológica do Som). No plano do método, executamos o estudo empreendendo o desafio intelectual de compatibilizar literaturas de várias procedências. O desenvolvimento da ideia de uma ciência geográfica que, historicamente, está em busca de métodos fiéis ao desígnio de estudar a Terra como estrutura integrada precisou, por exemplo, ser antecedido por uma história metafísica da própria Terra - etapa preliminar em que, precisamente, procuramos proceder à demonstração de que ela terminou sendo palco para que o fluxo evolutivo do Som fosse encontrando contextos de manifestação cada vez mais complexos: da atmosfera à biosfera; da biosfera à sociosfera. Embora reconhecendo que não foi, propriamente, "testada" uma hipótese implícita (a do valor de uma Geografia Sônica como reconstituinte do antigo propósito filosófico da disciplina), entendemos ter sido possível concluir o seguinte: para não restar na mera retórica de uma ciência diferenciada por ser conectiva, cabe à produção de conhecimento geográfico de fato examinar a constituição multidimensional de seu objeto. E não sucumbir à tentação de ver no humanismo o maior grau possível de complexidade. A dimensão do humano, a chamada realidade sociocultural, não está assentada em processos de todo autonômicos. E o Som seria um fator a demonstrar-nos que os sistemas espaciais de comunicação humana estão associados a processos fisiológicos também verificados em alguns outros sistemas vivos, tanto como permanecem dependentes de processos físicos ligados a sistemas materiais.

A pesquisa traz um estudo da sub-rede urbana de Barra do Garças, cidade média do estado de Mato Grosso com localização geográfica que a configura, conforme o IBGE (2018), como arranjo populacional de três municípios: Barra do Garças e Pontal do Araguaia no estado do Mato Grosso e Aragarças no estado de Goiás. Objetivou-se, portanto, compreender a composição do papel desempenhado pela cidade de Barra do GarçasMT enquanto nó da rede urbana na mesorregião nordeste de Mato Grosso. Buscamos responder ao seguinte problema que direcionou nossas investigações: diante da atual configuração da cidade de Barra do Garças, como acontece e qual seria o seu atual papel no contexto das articulações regionais enquanto cidade média no estado de Mato Grosso? Verificamos que as consequentes reestruturações regionais desencadeadas a partir, principalmente, do final da década de 1970, muito influenciaram na configuração socioespacial dessa sub-rede urbana, que aos poucos se sustentou pelas interações espaciais intensificadas com o surgimento de novos municípios na mesorregião nordeste do estado, desmembrados do território originário de Barra do Garças. O caminho metodológico foi estruturado de modo a assegurar ou refutar a tese de que, as políticas públicas nacionais condicionaram a gênese da centralidade da cidade de Barra do Garças, e a geopolítica estadual promoveu a configuração da tríade centralidade-nodalidadeconectividade presentes no arranjo das funções urbana e de seu papel na rede de cidades. Evidenciamos, portanto, ocorrência de centralidade induzida condicionada por fatores associados a uma construção social do território regional e forte atuação do Estado, que a posição relativa dos sítios urbanos foram condições para a construção de centralidade, que o processo de urbanização foi influenciado de forma significativa pelo avanço da fronteira agrícola e pelas alterações na produção econômica e divisão territorial do trabalho ocasionadas pelo agronegócio. Há, sobretudo, na composição dessa sub-rede urbana, complementaridade nas relações cidade-campo que caracteriza o papel e a estrutura dos espaços urbanos. Também percebemos que a temporalidade no contexto da formação socioespacial e das territorialidades na mesorregião nordeste revelam as desigualdades postas na reprodução do capital, e por fim, novos reordenamentos na circulação e usos dos territórios apontam tendências de alterações no nível hierárquico dos centros desse subsistema urbano.

A presente tese aborda a temática da governança de Turismo e ordenamento do território e está
ligada à linha de pesquisa de Gestão Ambiental e Territorial. O objetivo da pesquisa é analisar
a criação da Instância de Governança Regional (IGR) Serras Gerais, dentro da política Nacional
do Programa de Regionalização do Turismo e seus desdobramentos no ordenamento do
território e no desenvolvimento turístico regional e local das cidades envolvidas. Tal análise
visa identificar os resultados iniciais provocados com a instauração desta IGR na organização
do território e no desenvolvimento da região turística das Serras Gerais, no sudeste do Estado
do Tocantins, a partir das políticas de governança do turismo nessa região, instituída pelo
Ministério do Turismo. A questão posta na tese relaciona-se a como foi a organização dessa
governança, se foi estimulada ou natural e como se encontra a sua estrutura organizacional
dentro dos padrões que ordenam o território do turismo, de modo que entender essas nuances
do território permitirá, a partir do resultado, uma contribuição prática de providências à
organização dessa região. A metodologia utilizada é a análise descritiva dos materiais que
envolvem a IGR, a observação participante e acompanhamento das atividades que acontecem
diretamente e indiretamente com a instância de governança. A pesquisa possui abordagem
qualitativa e tem como recorte espacial a região turística das Serras Gerais, localizada no
Sudeste do Estado do Tocantins. No que se trata da análise, esta acompanha a escala local e
regional a partir das configurações políticas estaduais e federais. O recorte temporal está entre
2014, quando se inicia os projetos voltados para o Turismo nas Serras Gerais e vai até ao
momento atual (2024). As categorias de análise são: Formação de governança de turismo
(legislação e relação de membros); Relação do Governo Estadual com a IGR; Envolvimento
dos atores com o desenvolvimento da IGR; Atuação da IGR pelo olhar dos membros, da
sociedade civil e do Governo; Estadual; IGR como ordenamento do território e Benefícios da
IGR para o turismo regional. A partir destas categorias, esta tese identifica a efetividade da IGR
e responde como a IGR tem impactado no desenvolvimento turístico regional e local das
cidades envolvidas. Para isso, considera o panorama de como os municípios estavam antes e
depois da IGR e como o ordenamento territorial tem acontecido.

A presente dissertação visa problematizar a Geografia escolar e o Ensino de Geografia regiões periférias, tomando como recorte uma periferia recém consolidada do Distrito Federal, o Sol Nascente. O Ensino de Geografia e a Geografia escolar vêm de um contexto posterior a consolidação dessa enquanto ferramenta estratégica de Estado. Ao longo de muitos anos o Ensino de Geografia se deu de forma a escamotear a sua importância, se consolidando como uma disciplina que prezava por decoração de conteúdos sobre lugares distantes ou baseado em decoração de aspectos naturais de um determinado território sem reflexão alguma sobre as ações intencionais dos seres que configuras o espaço, os seres humanos. Nos novos manuais, normativas e currículos da educação básica a Geografia já aparece com uma nova roupagem, mais crítica, dando enfoque na produção espacial e nas relações que os seres humanos estabelecem com os territórios. Contudo, o lugar, categoria das relações sensoriais e afetivas com o espaço, e espaço de vivência dos estudantes, não é abordado como forma de aproximá-los dos conteúdos, fazendo com que a Geografia siga com o caráter descritivista e decorativo, na percepção dos estudantes, como em outras épocas. O recorte da periferia se dá em razão de uma percepção da pesquisadora de que nesse lugar as aulas de Geografia pareciam cada vez mais sem sentido e afastada da realidade do estudante. A pesquisa e problematização desse fato se fizeram necessárias para compreender como se dá a relação do sujeito estudante de uma periferia com o lugar e como as aulas podem ser instrumentos emancipadores da realidade sócioespacial excludente que gera a periferia. Foram feitas análises sobre os objetivos do Ensino de Geografia na BNCC e no Currículo em Movimento do Distrito Federal, bem como entrevistas com professores e profissionais do corpo gestor e pedagógico de duas escolas que atendem aos estudantes do Sol Nascente com o intuito de avaliar como se davam a percepção do lugar periferia entre os estudantes, como os conteúdos eram aproximados para terem significado naquele contexto e como a reflexão sobre o lugar como início e fim do processo de ensino e aprendizagem em Geografia podem se tornar, não só um instrumento para tornar as aulas mais interessantes, mas também um instrumento para modificar as estruturas que configuram e excluem a periferia.

O Bioma Amazônia possui a maior cobertura florestal da Terra, desempenhando um papel fundamental para a sequestro de carbono, conservação da biodiversidade e regulação do clima. No entanto, nas últimas décadas, a conversão de áreas de vegetação natural em áreas agrícolas, desmatamento seletivo e efeitos de mudança climáticas tem induzido o aumento de eventos de queimadas. Essa pesquisa possui como objetivo analisar modelos baseados em métodos de aprendizagem de máquina para prever as áreas mais vulneráveis à ocorrência de incêndios na região da floresta amazônica brasileira. Os métodos de aprendizagem de máquina testados foram o Random Forest (RF), Extreme Gradient Boost (XGB), Multilayer Perceptron (MLP). O processamento de dados utilizou diferentes feições da paisagem que condicionam a variação espacial da ocorrência de incêndios, incluindo: áreas desmatadas, cidades, estradas, bordas de florestas e dados climáticos (temperatura média da superfície terrestre e precipitação média). A análise de precisão usou a curva Receiver Operating Characteristic (ROC), comparando os resultados dos modelos de aprendizado de máquina e a área queimada fornecida pelo bando de dados do Mapbiomas Fire. A otimização dos hiperparâmetros dos modelos considerou os valores de acurácia, objetivando a aprimoração dos modelos na obtenção dos melhores resultados. Apesar dos modelos apresentarem desempenho semelhantes, o melhor modelo foi o RF com valores de AUC (0,88) seguido do MLP e XGB (0,84). No entanto, modelagem considerando a inserção de estradas planejadas no modelo evidencia uma maior variação usando o método MLP. Os resultados evidenciam a interferência humana na indução das queimadas. Trabalhos futuros devem ser desenvolvidos para o aprimoramento da metodologia proposta, principalmente inserido outras variáveis ambientais e antrópicas e comparando com outros métodos de inteligência artificial.

Os processos erosivos são, muitas vezes, originados pelas ações antrópicas que modificam os caminhos da drenagem original, ocasionando alterações na distribuição do fluxo de água. O objetivo desta dissertação é identificar como as modificações da rede de drenagem alteram o fator topográfico e, consequentemente, a perda de solo em uma bacia de drenagem utilizando modelos com alta resolução espacial gerados por sensor LIDAR. A metodologia desenvolvida é dividida nas seguintes etapas: a) Elaboração dos Modelos Digitais de Terreno (MDT) e Superfície (MDS) representando o relevo pré e pós urbanização; b) Determinação e análise do fator topográfico nos dois períodos; e c) Determinação e análise da erosão laminar potencial na bacia hidrográfica do Ribeirão Taboca empregando a Equação Universal de Perda de Solo (EUPS) nos dois períodos. Os resultados demonstraram o aumento dos valores de erosão potencial no período pós-urbanização localizados principalmente nas áreas de encosta. Essa metodologia permite localizar as áreas de maior fragilidade e tem a vantagem de orientar ações voltadas para evitar o acúmulo de fluxo a partir do conhecimento da drenagem original. Assim, a utilização dos modelos com alta resolução espacial foi essencial para detecção das áreas de maior fragilidade à perda de solo retratando com maior precisão a realidade da bacia.

Tendo como referência o entendimento do sistema de transporte como técnica basilar ao desenvolvimento de variadas mobilidades surgidas das relações do ser humano com o espaço, o trabalho busca compreender como ocorreu a organização espacial das estruturas de transportes, bem como a organização da mobilidade no Distrito Federal (DF). Entendemos que, ao longo da história, estes fatores passaram por modificações atribuídas as necessidades humanas, realizando grandes transformações estruturais na cidade. Na realidade brasileira, essas estruturas representam grande relevância social; contudo, configura-se um serviço demasiadamente precarizados e que necessita ser reconsiderados para em conformidade as necessidades da população. O mesmo considera-se para o DF, que abriga a capital do país cuja idealização surgiu para atender o automóvel e, por conseguinte, desvalorizou o sistema público de transporte com diversas problemáticas agregadas ao seu território. Os procedimentos metodológicos fundam-se em levantamento bibliográfico de temáticas diversas como produção do espaço geográfico, totalidade e movimento, formação urbana do Distrito Federal, além de relatórios técnicos referentes a temática do estudo. A construção do arcabouço teórico, sustentado no pensamento da Geografia e movimento, possibilitou o desenvolvimento da produção cartografia, etapa essencial na analise territorial ao longo de 1950 e 2022, sobretudo na evolução rodoviária deste período. Notamos que as estruturas viárias, na escala do estudo, seguiram a lógica de um sistema voltado ao rodoviarismo, com grandes armações e constantes reformulações com intenção de objetivar o automóvel como cerne da mobilidade urbana. Ao concluir esta etapa, buscamos entender a formação do sistema de ações do transporte público, divididos entre os modos rodoviário e metroviário. Após análise, chegamos à conclusão de uma organização viária alicerçada ao veículo particular, com forte controle duopolista do sistema público rodoviário, além de baixo interesse do governo na participação deste serviço, assim como no processo de sucateamento do metrô. Esse contexto inspirou uma análise voltada a criação de uma mobilidade urbana solidaria e coerente aos reais interesses da população, partindo de um pensamento utópico na busca de alcançar um espaço de esperança. Ao todo, a redação desta pesquisa divide-se em seis capítulos, sendo o primeiro constituído pelos percursos metodológicos e o estado da arte; o segundo voltado ao entendimento de uma Geografia e movimento e a sua base conceitual; o terceiro descreve a produção do espaço urbano do DF; já o quarto e o quinto capítulos retratam a construção dos sistemas de objetos de transportes e os sistemas de ações de mobilidade, enquanto o último apresenta as considerações finais do estudo.

A Geografia afrobrasileira tem sua historiografia marcada pela invisibilidade, desinformação, preconceito e discriminação. O contínuo desenvolvimento de estudos étnico-raciais no Brasil é uma das formas de impulsionar a plena inserção das matrizes africanas na sociedade brasileira. Com o intuito de promover e fortalecer o debate sobre as políticas de ações afirmativas e da questão étnicorracial brasileira, a pesquisa tem como objetivo analisar a dimensão espacial da implementação do feriado do 20 de novembro em território nacional brasileiro. O trabalho utiliza a representação cartográfica como instrumento e considera o conceito de Consciência Negra como produtor de territorialidade afrobrasileira. Deste modo, analisamos os papéis desempenhados pelo Movimento Negro brasileiro para estabelecer Zumbi dos Palmares como símbolo e marco referencial na história da nação brasileira, que resultaram na Lei n° 12.519 de 2011, demarcando nacionalmente a data de 20 de novembro como “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”, sem determinação de um feriado nacional para a data. Foram identificadas e mapeadas unidades federativas que instituíram, por meio legislativo próprio, a efeméride do 20 de novembro, constituindo territorialidade no calendário institucional oficial. O estudo, ao examinar o Projeto de Lei do Senado (PLS) n° 482 de 2017, que declara o 20 de novembro feriado nacional, e a Lei n° 12.519/2011, identificou a existência de lacunas nas questões jurídicas e legislações municipais e estaduais que servem de entraves para que o 20 de novembro seja efetivamente territorializado. Além disso, esta dissertação contribui para revelar a dimensão espacial atual do 20 de novembro, refletir sobre as contradições das legislações nacionais, estaduais e municipais e propor possíveis melhoramentos que dialoguem com os objetivos de criação da efeméride nacional.

O estudo desenvolvido tem como objetivo apresentar as contribuições de um conjunto de autores em Epistemologia e Filosofia da Ciência, destacando suas produções como possíveis recursos para aprofundar estudos desse cunho na Geografia. Com base nessa rede de autores – composta por Ludwik Fleck, Ian Hacking, Ronald J. Johnston, Peter Galison, Lorraine Daston, Otávio Bueno, Luca Sciortino e Terry Eagleton – foi construído um instrumento analítico para avaliar a diversidade de abordagens na Geografia. Os fios condutores na produção dessa ferramenta foram o “Estilo de Pensamento” e o “Estilo de Raciocínio”, conceitos de Fleck e Hacking, respectivamente. Eles fundamentaram nossa identificação de “Estilos” na Geografia, mas com o auxílio complementar de algumas ideias capturadas em Johnston, Galison, Daston, Bueno, Sciortino e Eagleton. Essa etapa preliminar buscou definir Estilo mais sistematicamente – sendo que a base bibliográfica colaborou a elabora-lo em dois aspectos: um estrutural e outro contextual. O primeiro compreenderia Epistemologia, Ontologia e Metodologia, assim como os Conceitos Organizadores que regeriam a prática científica. Concomitantemente, o aspecto contextual compreenderia a Circunstância Histórica e a Ideologia, que também dariam substrato a cada Estilo. Em uma segunda etapa, que teve um caráter de “teste-piloto”, o modelo proposto de Estilo é aplicado à análise de oito artigos: quatro circunscritos à corrente geográfica chamada Teorético-Quantitativa e mais quatro pertencentes à Crítico-Radical. Dentro de cada quarteto de artigos, dois foram de cunho teórico-reflexivo e os outros de dimensão mais aplicada. A conclusão do estudo é que o conceito de Estilo detém boa potencialidade para viabilizar exercícios analíticos de contraste entre correntes de pensamento na ciência geográfica. Apesar do exame ter se baseado em uma amostra bibliográfica pequena, entende-se que o teste demonstrou que a ferramenta é especialmente vantajosa por contemplar os aspectos lógicos e sociológicos da prática científica.

O trabalho parte de verificar como se desenvolveu a relação entre as dinâmicas territorial e urbana que explique a degradação ambiental do Ribeirão Sobradinho. Como objetivo geral, pretende-se compreender e analisar a relação entre as dinâmicas territorial e urbana envolvida nessa degradação bem como determinar e analisar as ações dos agentes/atores que intervêm nas dinâmicas territorial e urbana de Sobradinho 1 e 2. Pretende-se também analisar a percepção da população de Sobradinho sobre o Ribeirão Sobradinho e seu processo de degradação ambiental. Para tal, partiu-se da hipótese que a relação entre as dinâmica territorial e urbana, considerada na escala local e regional, promoveu a degradação ambiental do Ribeirão Sobradinho ao longo do tempo. Essa relação desdobra-se em três processos: (i) o de ‘segregação planejada’ preservando o ‘Plano Piloto’ de Brasília (CAMPOS, 1988), em detrimento da sua periferia, através da promoção da seletividade espacial (FERREIRA, 2010); (ii) o da apropriação da terra pública por agentes particulares (PELUSO, 2003) através da fragmentação do espaço urbano da periferia de Brasília, e no parcelamento das Áreas de Proteção Ambiental - APA e das áreas rurais, transformando-as em condomínios privados para as classes média e alta em áreas urbanas (PENNA, 2003); (iii) e o de controle do uso do solo através de instrumentos de gestão urbana e tecnológicos (BEZERRA, 2015). Assim, a relação entre as dinâmica territorial e urbana expressa a apropriação e transformação do território nos seus componentes ambientais e sociais pelas relações desenvolvidas na interação de seus agentes/atores ao longo do tempo, em diferentes escalas.

O termo “gentrificação”, proposto pela socióloga Ruth Glass em 1964, procura analisar e explicar os condicionantes do desenvolvimento urbano dos bairros de Londres após o pós-guerra, onde a renovação urbana e a ativação econômica destes escondem o deslocamento das populações proletárias. Estabelece-se uma relação intrínseca entre renovação espacial e gentrificação, denunciando o deslocamento populacional segregador, onde o Estado de4sempenha um papel primordial no estabelecimento desses processos dentro do desenvolvimento urbano. O conceito ganha força a partir do século XXI, onde sua denúncia social ajuda a tornar visíveis os processos que o desenvolvimento urbano esconde. A partir das diversas abordagens utilizadas por alguns autores, estabelece-se uma relação entre gentrificação e políticas públicas de revitalização urbana, políticas que buscam uma renovação econômica e da paisagem de um espaço degradado, especialmente nos centros históricos, nosso contexto latino-americano. Situação de nosso estudo de caso, Avenida W3 Sul localizada no Plano Piloto da cidade de Brasília, Patrimônio Mundial da Humanidade. Avenida que atualmente está sob intervenções em sua infraestrutura, projeto que tenta recuperar o espaço que a partir do ano 2000 iniciou um processo de degradação espacial. Política pública  executada entre os anos de 2019-2021, que visa articular  uma renovação da infraestrutura e  paisagem da Avenida a favor da reativação econômica do espaço. Este estudo analisa o papel do Estado na estruturação de processos de gentrificação e a implicação de suas políticas públicas como estruturantes de uma gentrificação política em territórios latino-americanos, para a recuperação de imaginários coletivos de territórios gentrificados como lugares de coesão econômica e social.

A urbanização é parte dos processos de transformações espaciais, representando aspectos da relação sociedade e natureza. Para compreender as implicações socioambientais desse processo justifica-se um recorte espacial representativo para investigação. Este estudo tem o objetivo geral analisar a relação do plano de desenvolvimento urbano com a gestão da drenagem das águas pluviais no Gama/DF - RAII. A partir do levantamento bibliográfico e documental, trabalho de campo e técnicas de geoprocessamento, busca-se mapear os condicionantes urbanos para implementação de medidas de controle dos alagamentos considerando os cenários de expansão urbana. Analisa-se os fatores que contribuem para os impactos socioambientais na drenagem urbana da cidade. Apesar de a existênca de técnicas alternativas de infraestruturas, a gestão da drenagem urbana ainda são focadas no modelo tradicional, de curto prazo, que apenas transferem os problemas de um para outro ponto da cidade. O estudo busca revelar que apesar da existência de condicionantes urbanos na cidade, a política de drenagem urbana desarticulada com outras políticas espaciais agravam as implicações socioambientais identificados na cidade. O estudo de caso estima que os problemas podem ser mitigados a partir da aplicação de técnicas compensatórias em drenagem em áreas de concentração dos alagamentos. É o desafio que se impõe às ações de planejamento urbano e execução das políticas territoriais e ambientais no Brasil.

A preocupação com o transporte de poluentes através de condutos cársticos tem crescido significativamente devido aos impactos ambientais irreversíveis, como a perda da biodiversidade aquática e a contaminação dos recursos hídricos subterrâneos. Na região cársica do nordeste goiano, observasse um cenário de mudanças aceleradas na paisagem. Essas transformações são caracterizadas pela substituição do bioma Cerrado por áreas destinadas ao manejo de pastagens e atividades agrícolas. Desse modo, este trabalho, tem por objetivo principal estudar a dinâmica de circulação da água subterrânea através da rede de condutos cársticos presentes na Gruta da Tarimba, localizada em Mambaí, Goiás. A metodologia adotada para alcançar tais objetivos consistiu em duas etapas. Primeiramente, foi realizada uma revisão bibliográfica que resultou na elaboração do artigo intitulado: "Uso de Traçadores Corantes Fluorescentes na Identificação de Rotas de Fluxo Subterrâneas em Sistemas Cársticos: Panorama de Estudos no Brasil". Na segunda etapa foi feita a investigação das rotas de fluxo que alimentam a gruta da tarimba em Goiás e cavidades adjascentes, envolvendo a seleção dos pontos de injeção e monitoramento, a escolha do tipo de traçador, os métodos de amostragem e a aquisição dos materiais e instrumentos necessários para o monitoramento. A aplicação dos testes com traçadores corantes fluorescentes baseou-se em métodos qualitativos, com o objetivo de identificar a direção da drenagem e as conexões subterrâneas. Além disso, foram utilizados métodos quantitativos que, com base nos dados gerados pela curva de concentração (BTC), permitiram uma caracterização detalhada da estrutura da rede de condutos e das propriedades hidrodinâmicas das rotas de fluxo. Como resultado, foi possível estabelecer nove conexões hidrológicas entre os sistemas cársticos estudados (Tarimba, Matadeiro e Saruê) e constatou-se a caverna Extrema como o local de descarga de todo sistema cársticos estudado. Por outro lado, os ensaios quantitativos mostraram uma baixa recuperação de massa evidenciando a possbilidade de perda para outros sistemas cársticos ou aquíferos.

Os livros didáticos, mesmo na era da internet, ainda são a principal fonte bibliográfica dos estudantes. A necessidade de um livro didático que contribua para o desenvolvimento do pensamento espacial e do raciocínio geográfico, auxiliando o professor a propor estratégias e caminhos para a emancipação do pensamento dos estudantes se faz primordial para o exercício da cidadania e do pensamento crítico. Por isso, esta pesquisa procurou contribuir para o Ensino de Geografia, com olhar atencioso, junto ao rigor científico, para entender o processo de mobilização do raciocínio geográfico. O objetivo desse estudo é analisar a eficácia da cartografia para a mobilização do raciocínio geográfico desenvolvido a partir dos livros didáticos de Geografia do 9° ano do Ensino de Fundamental. Dessa forma, considerando essas questões e o objetivo proposto, esta pesquisa foi desenvolvida pela abordagem qualitativa por meio de pesquisa bibliográfica e análise documental. A análise de dados foi fundamentada pela análise de conteúdo. A fundamentação teórica se respaldou na discussão da cartografia escolar, dos conceitos e princípios da Geografia amparados pela Geografia Escolar, pensamento espacial e raciocínio geográfico. A pesquisa documental foi realizada na Base Nacional Comum Curricular com o intuito de identificar as orientações para o trabalho com a linguagem cartográfica nos livros didáticos Araribá Mais e Expedições Geográficas, ambos da editora Moderna, do 9º ano do Ensino Fundamental, juntamente com análise das orientações metodológicas proposta pelos autores dos livros didáticos de forma que os estudantes alcancem o raciocínio geográfico. Há de se reconhecer que houve avanços quanto às propostas pedagógicas e metodológicas que permeiam a construção do livro didático. Entretanto, mesmo com as normativas preconizadas pela BNCC e alguns estudos realizados sobre a mobilização do raciocínio geográfico anteriores à elaboração dos livros didáticos, foram notadas algumas limitações procedimentais para análise espacial, para o estímulo do processo cognitivo. O que foi percebido nos livros é, em sua maior parte, a subutilização dos mapas, com atividades pedagógicas orientadoras aquém do proposto para o 9º ano do Ensino Fundamental.

O início dos anos 2000 foi marcado por uma reorientação político-institucional de feição “desenvolvimentista-social”. Esta buscou retomar a formulação e implementação das políticas públicas nacionais e recuperar as capacidades do Estado de investir e aplicar recursos em prol do desenvolvimento econômico-social. Todavia, o atual panorama econômico-produtivo brasileiro tem sido caracterizado por uma aceleração da desconcentração produtiva regressiva, pelo avanço da desindustrialização precoce e pela intensificação da reprimarização da economia nacional. Isso tem aprisionado o país em uma situação conhecida como “armadilha da renda média”, que atrasa o desenvolvimento e dificulta o combate às desigualdades socioespaciais. Diante desse cenário, a presente tese busca investigar, por meio de uma abordagem histórico-estruturalista, qual foi o efetivo papel das diferentes políticas públicas, espaciais, setoriais, sociais e econômicas, formuladas e implementadas no período pós-2000, na consolidação desse panorama. Elas conseguiram, de alguma forma, se contrapor e atenuar o avanço desse panorama ou elas acabaram intensificando ainda mais esse movimento de reestruturação regressiva da economia nacional? Após responder essa pergunta a tese debaterá novas perspectivas para a atuação do Estado na busca do desenvolvimento.

Este trabalho faz o levantamento e análise dos processos de fechamento e abertura de escolas no campo no Brasil, pois, entende-se que ambos são importantes e acontecem vinculados as transformações alicerçadas na reconfiguração do espaço rural brasileiro. E embora a Educação no campo seja um direito garantido constitucionalmente, sabe-se que ela tem sido comprometida, seja quando comparamos a desigual distribuição de escolas nos cenários urbanos e rurais e principalmente a discrepância deste rural sobre a quantidade de fechamentos e aberturas de escolas a partir dos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) entre os anos de 1999 a 2019. Foram um total de 112.308 processos de fechamentos, que tem representado mais do que o simples fechar de portas, é um atentado à sobrevivência dos povos do campo, águas e florestas, uma vez que a existência e funcionamento das escolas repr esenta muito além de um ambiente de ensino, são espaços que proporcionam a integração política e social. Diante da realidade complexa e conflituosa do meio rural brasileiro, destacamos ainda 48.042 processos de aberturas que por outrora revelam muito mais do que a resistência e luta dos povos do campo de manter suas escolas em funcionamento. A partir deste contexto empreendeu-se esta pesquisa com o objetivo de analisar o processo de fechamento e abertura de escolas no campo a partir do contexto de difusão do agronegócio no país e as dinâmicas regionais subjacentes. Considerando esses pressupostos iniciais, que buscou construir uma pesquisa de caráter qualitativo, e os dados quantitativos são fundamentais para elucidar a abordagem a partir da consulta direta em banco de dados em sites oficiais (o IBGE e o INEP), bem como o levantamento de trabalhos (teses, artigos, dissertações e relatórios), diários, fichas, notícias que estiveram relacionados ao fechamento e abertura de escolas pelas regiões, estados e microrregiões do Brasil. Estruturalmente, a pesquisa vem organizada em 4 capítulos, além da introdução metodologia e conclusão. Essa organização buscou articular as principais categorias discutidas ao longo do trabalho (região, território, Estado, povos do campo, águas e florestas, escola no/do campo e educação no/do campo) e a partir destas compreender mais do que o cerne da investigação, compreender a sua complexidade e necessidade de discussão. Como resultados da pesquisa, percebemos nas regiões centro oeste, sul e sudeste do país tem ocorrido de fato uma extinção das escolas no campo. São regiões que já possuem poucas escolas e elas continuam diminuindo. Enquanto que nas regiões norte e o Nordeste são as regiões que concentram boa parte das escolas no campo do Brasil, em contrapartida com quantidades assustadoras de fechamentos de escolas todos os anos. Nesse cenário desolador concluímos que o fechamento de escolas se baseia em um projeto de educação e sociedade subserviente a uma classe dominante e o Estado é cumplice ao consentir por seus arranjos políticos. Com o propósito de evidenciar essa realidade e contribuir de algum modo nesta luta, o presente trabalho se pauta na defesa da terra e educação, ambos motores para produção e manutenção do trabalho e da vida.

A detecção automatizada e precisa de florestas de mangue é crucial para estratégias de conservação e tomada de decisões ao longo da extensa costa brasileira. Embora a técnica aqui utilizada, o PDCA-ST tenha sido bem-sucedida em testes anteriores, sua aplicação em áreas de mangues ainda é pouco estudada. Este estudo tem como objetivo criar um conjunto de dados de floresta de mangue para processamento com PDCA-ST/MNF, avaliar o modelo com diferentes filtros de eliminação de speckle e determinar o número ideal de imagens para uma detecção mais precisa. O objetivo principal desta pesquisa é propor um conjunto metodológico para a identificação e monitoramento de florestas de mangue na faixa que engloba a Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, utilizando imagens SAR Sentinel-1 e imagens ópticas Sentinel-2. A pesquisa se concentra em dois capítulos principais: (a) Classificação de florestas de mangue através de imagens do sentinel-1 utilizando o histograma de frequência do PDCA (análise de componentes de densidade de probabilidade), neste sentido, foram utilizadas imagens Sentinel-1, sendo que as polarizações intercaladas obtiveram melhores resultados, e um ano de imagens foi transformado em dados de frequência. Na classificação, foram usados RF e KNN, com precisões de 89,43% e 88,29%, respectivamente. O método de janela deslizante com passo de 7x7 pixels se mostrou o mais eficaz. Os resultados obtidos demonstram que a técnica PDCA-ST/MNF tem grande potencial para monitorar os padrões de mangues ao longo do tempo e apoiar seu monitoramento em áreas com alta cobertura de nuvens. (b) Avaliação das imagens de satélites sentinel-2 para mapeamento das florestas de mangue na planície deltaica do rio Parnaíba. Neste estudo foi avaliado a precisão dos métodos Random Forest (RF), K-Nearest Neighbor (KNN) e Support Vector Machine (SVM) ao utilizar dados da missão Sentinel-2 para classificar a área de mangue da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, e localizar os bosques mais valiosos para a conservação, utilizando técnicas de geoprocessamento e teledetecção remota. O software QGIS 3.18.1 e o Abilius foram utilizados para criar um cubo de imagens Sentinel-2 em linha temporal, preservando todas as bandas, e posteriormente classificar as amostras de treinamento (ROI), que foram obtidas a partir de cartas de uso e ocupação do solo e do inventário florestal nacional. Os resultados foram validados usando o Índice Kappa e o método McNemar para as três classificações utilizadas. Os resultados indicaram que o método RF obteve a maior acurácia (96,78%) e é o mais indicado para a identificação dos limites do mangue. O estudo realizado apresentou uma metodologia eficiente para a detecção de mangue como também permite a classificação de outras feições terrestres, utilizando dois tipos de imagens SAR e Ótica, proporcional uma comprovação da eficiência do método inicial. A metodologia desenvolvida neste estudo, robusta, pode ajudar a simplificar o processo de detecção, economizando tempo e recursos. Essa abordagem pode ser aplicada em outras regiões onde a cobertura de nuvens não permite uma precisão temporal, tornando-se uma ferramenta valiosa.

O objetivo da presente tese é identificar e mapear os raizeiros e raizeiras do Distrito Federal, analisando suas relações na dinâmica urbana e seu conhecimento tradicional construído e compartilhado em seus espaços de cura, e as subjetividades que ameaçam a perpetuação de seus saberes através de seu ofício. A Ressignificação do ofício tradicional das raizeiras ocorre através do ingresso na modernidade que se processa de várias maneiras: da rede de produção, comercialização e divulgação dos produtos naturais. Os saberes (conhecimentos adquiridos e experimentados) e fazeres (as experimentações e receitas dos preparados tradicionais) presentes na medicina ancestral não se estabelecem somente pela identificação das plantas, antes retratam o aprimoramento dos usos medicinais a partir dos relatos de cura partilhados entre todos da comunidade. Considerar que o conhecimento tradicional sobre as propriedades terapêuticas das plantas medicinais, ervas e seus usos, expressão do ofício de raizeiros e raizeiras, tem tido grande procura não só pelo baixo custo no tratamento, mas pela tradição. Foram selecionados 6 entrevistados, residentes em diferentes regiões administrativas do Distrito Federal, detentores dos saberes ancestrais, notoriamente conhecidos pela comunidade local como erveiros, sujeitos que concordaram em fazer parte da pesquisa e assim contribuir com a ampliação da partilha de seus conhecimentos. O conhecimento tradicional dos raizeiros no Distrito Federal tem sido ressignificado assim como a própria evolução da sociedade, segundo os raizeiros intensificou-se a procura por xaropes, garrafadas de saúde, produtos e especiarias para aumento da imunidade e diversos males característicos da modernidade como a depressão e ansiedade.

A pesquisa teve como objetivo identificar, mapear e mensurar as áreas de vulnerabilidade intrínseca da alta bacia hidrográfica do Rio Corrente, localizada no nordeste do Estado de Goiás. Para viabilidade do estudo, utilizou se o método COP que é propicio ao mapeamento da vulnerabilidade dos ambientes cársticos. Os ambientes cársticos, em específico os aquíferos cársticos, desempenham função importantíssima no abastecimento de água potável no mundo inteiro. Sabe-se que as águas subterrâneas representam o maior volume de água doce no planeta, portanto, estes tipos de ambientes são considerados um recurso indispensável para o abastecimento dos seres humanos. Várias são as cidades do mundo que são abastecidos unicamente por águas subterrâneas oriundas de aquíferos cársticos, ou que as águas subterrâneas servem como fonte de complemento para o abastecimento, como, por exemplo: Paderborn, Alemanha; Burgundy, França; Cracóvia, Polônia; Sete Lagoas, MG; Lagoa Santa, MG e São Sebastião, DF. O método COP foi desenvolvido e aplicado em países europeus, onde o clima e os aspectos físicos dos solos atuam de forma diferente, neste sentido, para a utilização do método COP, foi proposta uma modificação no parâmetro das camadas sobrepostas (Fator O), haja vista que os solos tropicais brasileiros apresentam solos estruturados e solos não estruturados. Foi usada técnica de geoprocessamento para confecção dos layouts e mapeamento dos índices de vulnerabilidade intrínseca por intermédio do modelo COP. Os resultados apontaram cinco categorias ou classes de vulnerabilidade à contaminação da água subterrânea, distribuído da seguinte maneira: i - classe de vulnerabilidade muito alta (421,70 km² ou 11,28%); ii - classe de vulnerabilidade alta (567,89 km² ou 15,19%); iii - classe de vulnerabilidade moderada (1.151,20 km² ou 30,80%); iv - classe de vulnerabilidade baixa (722,41 km² ou 19,33%) e v - classe de vulnerabilidade muito baixa (874,63 km² ou 23,40%). Embora as classes de vulnerabilidade muito alta e alta apresentaram um baixo percentual dos índices de vulnerabilidade, ainda assim, estas classes devem ser consideradas pelos gestores ambientais, visto à forte relação entre água subterrânea e a água superficial na área estudada.

A militarização das escolas públicas é um fenômeno que foi identificado, no ano de 2020, em 12 estados brasileiros e no Distrito Federal. Em 2019, a militarização passa a ter o apoio e ser organizado pelo governo federal, como um programa federal, e é implementado no Distrito Federal. O fenômeno é materializado em territórios denominados de vulnerabilidade social. Assim, partimos da compreensão de que o território é uma categoria central neste fenômeno, composta por natureza e sociedade, mediante suas diversas dimensões sociais, humanas, simbólicas, política e naturais, de forma dialética e concomitante (SAQUET, 2006). Todavia, empregamos também as categorias clássicas do método materialista histórico-dialético, tais como: trabalho, totalidade, contradição, mediação e reprodução, e os eixos temáticos educação escolar, militarismo e território. As categorias e eixos temáticos estão inseridos em uma totalidade, a sociabilidade capitalista e relacionados entre si, de forma que não podem ser considerados de forma isolada (WACHOWICZ, 1989). A fim de desvelar o fenômeno da militarização das escolas públicas, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar as relações entre a militarização de escolas públicas e a constituição socioespacial do território por meio de uma escola militarizada do Distrito Federal. Para alcançar esse objetivo geral, partimos da suposição ou tese de que esse fenômeno é um projeto político que segue uma tendência nacional de uso de agentes da segurança pública, especialmente servidores das carreiras militares, para moldar as relações de produção em determinados territórios, por meio da educação escolar, conforme indicado parcialmente por Silva e Fernandes Silva (2019). Para verificar esta suposição realizamos os seguintes procedimentos metodológicos: pesquisa bibliográfica com levantamento de dados sócio-históricos; pesquisa bibliográfica com análise do estado de conhecimento; pesquisa documental com análise dos principais documentos relativos ao programa federal e projeto distrital; pesquisa bibliográfica para caracterização dos territórios e análise geográfica acerca dos territórios da Região Administrativa de Ceilândia e do Centro Educacional 07 de Ceilândia, lócus territorial do fenômeno; e pesquisa empírica com levantamento de dados por meio de grupo focal, aplicado em estudantes da escola, representantes de turma do 3º ano do Ensino Médio, e questionários aplicados nos componentes do Conselho Escolar. Os dados oriundos da pesquisa empírica foram analisados por meio da técnica de Núcleos de Significação (AGUIAR; OZELLA, 2013). Os resultados nos evidenciaram que: a era Vargas e o Regime Militar são momentos históricos determinantes para entendermos a relação entre militarismo e educação escolar; a pandemia da Covid-19 influenciou a constituição do fenômeno no Distrito Federal e o desenvolvimento desta pesquisa; as publicações científicas formam um conjunto de dados e conclusões que apontam para a ineficiência e inadequação da militarização das escolas no exercício do direito à educação; o fenômeno se constitui mediante a junção de interesses ideológicos de grupos políticos conservadores, neoliberais e do partido militar; e os estudantes, contraditoriamente aos docentes e ao familiar de estudante, representam uma resistência ao projeto e indicaram que a militarização provocou novos conflitos e ilegalidades no território escolar e que não diminuiu a violência no território da comunidade circunvizinha à escola.

A construção de redes de infraestrutura visa, inicialmente, ao adensamento de fluxos logísticos. Em uma conjuntura internacional marcada pelo acirramento de disputas comerciais, os ganhos derivados da redução de custos logísticos representam um potencial acesso a mercados consumidores. No entanto, além desse adensamento, essas redes desempenham funções mais amplas e complexas em relação ao espaço. Oriundos da implantação de objetos técnicos, os sistemas de engenharia representam o modo como a técnica, a ciência e a informação modificam o espaço. Desse modo, a construção da Rota de Integração Latino-Americana (RILA), um Corredor Rodoviário que conectará as duas fachadas oceânicas da América do Sul, entre Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, aumentará não somente os fluxos comerciais, mas, também, a circulação e as dinâmicas territoriais entre esses países. Diferentemente dos Corredores de Exportação, que visam facilitar o escoamento, notadamente de commodities, da área de produção até portos marítimos, a RILA tem o potencial de desencadear transformações comerciais, produtivas, sociais e geopolíticas nas regiões que serão conectadas, visto que, por meio do desenvolvimento de redes regionais, nacionais e internacionais, tende a desencadear dinâmicas territoriais que representam as intencionalidades e a projeção de poder de atores de diferentes escalas. Visto que o interior da América do Sul será mais beneficiado pelo acesso bioceânico mais dinâmico, principalmente o Paraguai e o estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, os segmentos políticos e econômicos  dessas regiões tendem a promover a implantação de fixos a fim de proporcionar maior fluidez aos fluxos produtivos, o que ampliará a competitividade internacional dessa produção, em relação, principalmente, a mercados sul-americanos e àqueles localizados na Ásia e na América do Norte. Nesse contexto, a fronteira entre o Brasil e o Paraguai, notadamente a cidade de Porto Murtinho, no estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, apresenta-se como espaço privilegiado de intencionalidades sobrepostas, de poderes e de iniciativas públicas e privadas que forjam novos usos territoriais, devido, principalmente, à fluidez territorial proporcionada pela RILA e pela hidrovia do Paraguai, além da própria condição geopolítica de espaço prioritário à segurança nacional. Com base na metodologia das escalas geográficas de poder e gestão, que proporciona a compreensão dos usos territoriais por atores que integram a sociedade civil, o Estado e o mercado, esta pesquisa  analisou as transformações políticas, econômicas e logísticas relacionadas à cidade de Porto Murtinho e arredores, que resultam no processo tendencial de reestruturação territorial nas escalas local e regional, como consequência da implantação da RILA. Pesquisas documentais, entrevistas com representantes de atores relacionados com a construção desse Corredor Bioceânico e coleta de dados e informações na escala local foram essenciais à identificação e à compreensão dos novos usos territoriais desencadeados pela construção da RILA em um espaço considerado, até então, periférico: Porto Murtinho. Embora investimentos públicos e privados tenham desencadeado um processo de crescimento econômico, os novos usos territoriais decorrentes desse processo têm imposto alguns efeitos deletérios, como aumento da desigualdade socioeconômica e da segregação urbana. A recalcitrância da escala local em relação à influência política de outras escalas tem dificultado a mitigação desses efeitos, o que tende a erodir o potencial de desenvolvimento socioeconômico proporcionado pela construção do Corredor Rodoviário Bioceânico.

• O presente estudo buscou compreender os efeitos da velocidade e do tráfego de veículos na fauna atropelada em rodovias próximas a Unidades de Conservação (UC) do DF. Dados de atropelamentos em três segmentos rodoviários foram sobrepostos às informações sobre o volume de tráfego, registros de infrações e sinalização vertical. Os resultados evidenciam uma correlação fraca positiva entre atropelamentos e o volume de tráfego anual (ρ = -0,469; 0,045). Não foram encontradas significâncias estatísticas nos índices de correlação entre atropelamentos e infrações de excesso de velocidade e não há evidências de que a inserção da sinalização vertical (SV) surtiu efeito sobre os registros de atropelamentos a 200m (V=387; p > 0,3) ou a 500m (V=437.5; p > 0,5) da SV. A análise dos dados evidencia uma possível seleção da fauna habituada ao ambiente rodoviário nas CAV e a consequente intensificação do efeito de borda, da fragmentação e do isolamento de espécies nas UC adjacentes. Propõe-se: novos estudos que avaliem a inserção de estruturas capazes de reconectar as áreas afetadas; a continuidade de projetos de monitoramento; e, a melhoria no acesso aos dados de infrações de trânsito.

Existe consenso no Brasil sobre o novo ordenamento do território ocasionado pelo movimento de restruturação da agropecuária. Considerando um recorte territorial específico para estudo composto pela Mesorregião Oriental do Tocantins e a Mesorregião Extremo Oeste Baiano observou-se que as transformações que vem ocorrendo nessas mesorregiões alteram consideravelmente as relações de produção e os modos de vida dos grupos sociais no âmbito dos municípios, bem como em suas cidades sedes. Desse modo, tem-se por pressuposto que a reestruturação da produção agropecuária e seus desdobramentos não se processa de forma homogênea no recorte territorial da pesquisa e assim, produz rebatimentos diferenciados no ordenamento do território, na vida das pessoas e principalmente no interior das cidades desse segmento de rede urban. Pelo exposto, tem-se que o objetivo central da tese é estudar as transformações, ocasionadas pelo movimento de reestruturação da produção agropecuária na rede de cidades da Mesorregião Oriental do Tocantins e na Mesorregião Extremo Oeste Baiano. Alguns resultados indicam, por um lado, a ocorrência de padrões espaciais formando grupos de municípios na Mesorregião Extremo Oeste Baiano onde as redes agroindustriais cristalizaram alto padrão de produção agrícola, crescimento econômico e desenvolvimento social nas relações entre os lugares e a população e, por outro lado, na Mesorregião Oriental do Tocantins a abertura recente desse espaço para a fronteira de produção agrícola enfrenta as fracas possibilidades dos pequenos núcleos urbanos marcados pela ruralidade, com população pouco densa e desarticulados entre si, inibindo assim a presença das grandes empresas de capital transacional que realizam a instrumentalização do território.

A presente tese tem como objetivo analisar as distintas formas dos zapatistas e dos sem-terra em organizar suas relações territoriais e conduzir suas resistências às estruturas de dominação, em especial o Estado, e como essas diferentes formas de resistir se reverberam na maneira de pensar e dirigir os projetos educativos elaborados por eles e quais as consequências de tais caminhos. A categoria território permeia nossa análise, afinal temos como objeto movimentos que tem o território como trunfo, ou seja, movimentos socioterritoriais. Em tais territórios de resistência a escola aparece como peça fundamental que ora dialoga com o território estatal, ora é um contraponto estrutural. Uma das principais inovações de nosso estudo foi a operacionalização do materialismo bakuninista e da dialética serial para interpretar as resistências político-educativas dos Sem-terra e dos Zapatistas. Esta base metodológica nos possibilitou estruturar este estudo a partir de quatro séries dialéticas: autonomia e heteronomia, Estado e movimentos sociais, dominação e resistência, saber e escola. Em paralelo, recorremos ao trabalho de campo, onde realizamos entrevistas estruturadas, semiestruturadas e não estruturadas, conversas informais com os Sem-terra e os Zapatistas, bem como junto a apoiadores e movimentos próximos a eles. Realizamos também pesquisa documental onde revisitamos documentos, cartilhas, comunicados e boletins informativos de ambos os movimentos. Percebemos que mesmo se tratando de dois movimentos socioterritoriais a forma com que cada um dos movimentos se organiza internamente, bem como sua relação com o Estado é diferente. Tais características têm implicações diretas na educação, onde expressa também os objetivos imediatos e programático dos movimentos. A problematização contida neste estudo abre horizontes para subverter a instrumentalização do pensamento geográfico pelo Estado, retirando deste a exclusividade de organização do território, evidenciando as suas fissuras e ressaltando as sobreposições territoriais e consequentemente a multiterritorialidade. Os dilemas da construção de uma educação pelo o Estado ou contra o Estado nos territórios de resistência acompanham a trajetória de todos movimentos e estuda-las e evidenciar suas dificuldades e possibilidades nos permitem refletir sobre caminhos e percalços em busca de uma sociedade autônoma.

A fronteira entre Brasil e Bolívia compõe uma extensa zona estratégica no coração da América do Sul que conecta as bacias Amazônica e Platina. Fruto de um processo histórico de mobilidade de fronteiras que remonta à origem colonial de ambos os Estados, essa zona de contato entre os territórios que se formaram foi forjada por distintos fluxos e pelo estabelecimento de diferentes núcleos de ocupação, dentre povoações de diferentes tipos, vilas e cidades. Com foco nessa fronteira como uma zona geoestratégica, a pesquisa tem como objetivo compreender o seu processo de constituição e as suas características contemporâneas. Considerando a definição e redefinição dos limites e os atores estatais envolvidos, a pesquisa problematiza o papel desses núcleos ao longo do processo de formação dessa fronteira. Tomando como recorte temporal do século XVIII ao início do século XXI, analisa-se esse processo a partir da identificação de três grandes períodos: I. o período colonial como o embrionário, tomando como referência o século XVIII, quando os fluxos e a constituição dos núcleos pelas potências ibéricas se encontram no centro-oeste sul-americano; II. o período da gênese das relações entre Brasil e Bolívia, do século XIX ao início do século XX, com a definição inicial e a redefinição dos seus limites internacionais, a partir de um processo de mobilidade de fronteiras; III. o período a partir do início do século XX, marcado por ajustes de limites e iniciativas de integração. Analisados esses períodos, a pesquisa se volta para uma leitura contemporânea das distintas escalas e esferas político-administrativas, considerando os recortes territoriais implicados nessa zona de fronteira. A partir dessa análise, o foco recai sobre os núcleos fronteiriços com articulação através do limite internacional, considerando-se as relações locais, seus arranjos regionais e a sua inserção nacional e internacional. Em uma perspectiva multiescalar, discute-se as mudanças na concepção geoestratégica acerca dessa fronteira, a partir da hipótese que os diferentes núcleos de ocupação foram os elementos constituintes da fronteira Brasil-Bolívia e assumiram um papel relevante na sua configuração geoestratégica contemporânea.

O tema desta pesquisa é a festa do Cristo Negro como potencial de preservação do forte de San Jerónimo, declarado patrimônio mundial, na cidade de Portobelo, localizada na Província de Colón, Panamá. Tal escolha se dá pela necessidade de se pensar a preservação não apenas por medidas institucionais, mas também pela inclusão do sujeito em atividades que possam cooperar com a proteção dos bens culturais. Nesse contexto, a pesquisa propôs uma ação metodológica que visa integrar a festa do Cristo Negro ao patrimônio mundial em risco na cidade de Portobelo através de uma conexão territorial afetiva, reconhecendo o papel central do sujeito como o real responsável pelo poder da mudança, trazendo a si a responsabilidade de lutar pela preservação e conservação dos bens culturais. Assim, este trabalho teve como objetivo principal analisar a dinâmica territorial produzida pela festa do Cristo Negro para verificar seu potencial formulador de práxis popular na preservação do forte de San Jerónimo, patrimônio mundial declarado em perigo pela Unesco em Portobelo. A base teórica-metodológica que serviu de alicerce para a elaboração da proposta e desenvolvimento deste estudo foram os trabalhos desenvolvidos por Costa, especificamente nos anos de 2011, 2017 e 2018. Desta forma, a pesquisa foi realizada através da abordagem qualitativa utilizando-se como técnicas de pesquisa: a bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa in loco para coleta de dados, foi executada entre os dias 19 e 31 de outubro de 2019, onde utilizamos de técnicas/instrumentos como: observação sistemática, diário de campo, entrevistas com os agentes públicos e privados responsáveis pela preservação do forte, moradores da cidade, organizadores da festa e professores das instituições de ensino da cidade, questionários e história oral. Os resultados mostram que o sujeito, quando conscientizado, desperta a necessidade particular de proteger os lugares de afetividade, porque ali jaz a história de seus ancestrais, uma representação da ligação entre o passado e o presente. A conscientização da sociedade sobre sua força de mudança desencadeia a ação de agir em prol da preservação patrimonial, fortalecendo assim sua identidade espacial, um elo compartilhado entre as raízes de sua origem, a manutenção do agora e a permanência do futuro.

O objetivo deste estudo é analisar as relações entre o processo de mundialização financeira, a agrofinanceirização do setor sucroenergético e suas implicações na formação socioespacial brasileira. Buscamos contribuir para a geografia agrária e econômica, com o intuito de compreender de forma abrangente a influência dos capitais internacionais na indústria sucroenergética. Levando em consideração a segurança alimentar, o desenvolvimento das forças produtivas no campo e a soberania nacional. Partimos da hipótese de que a agrofinanceirização no setor sucroenergético brasileiro tem resultado em uma maior concentração do controle acionário das empresas e uma maior dependência do capital estrangeiro. Isso pode ter implicações para a soberania nacional e para o desenvolvimento das forças produtivas no campo. Além disso, a busca por lucros a curto prazo pode levar à redução dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e práticas sustentáveis de produção, o que tem consequências negativas para o meio ambiente e a segurança alimentar. Diante desse contexto, surgem algumas questões: Qual é a contribuição da geografia agrária e econômica no estudo da financeirização, agronegócio e agrofinanceirização? Como a agrofinanceirização se insere na crescente internacionalização da produção no setor sucroenergético? Quais são as principais dimensões econômicas, políticas e geográficas interligadas na agrofinanceirização do setor sucroenergético? Quais são os principais problemas decorrentes da agrofinanceirização e do uso de agrotóxicos no setor sucroenergético brasileiro? Existe uma alternativa viável ao modelo de agronegócio para o desenvolvimento do espaço agrário brasileiro? Para abordar esse tema de forma abrangente, a presente pesquisa foi estruturada com base em um extenso levantamento bibliográfico, incluindo revisão de teses, dissertações, livros e periódicos relacionados ao tema. Ademais, foram realizados levantamentos temáticos sobre as iniciativas atuais do setor sucroenergético nas regiões produtivas e o processo de expansão desse setor no território brasileiro, especialmente na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. Também foram coletados e analisados dados secundários, tanto quantitativos quanto qualitativos. Levantamentos de dados primários foram realizados como complemento aos dados secundários obtidos. Essa abordagem metodológica permitiu uma análise mais abrangente e fundamentada do tema em questão. A relevância dessa pesquisa está na compreensão das transformações que ocorrem no espaço geográfico e como elas afetam as relações socioeconômicas. Portanto, contribui para reflexões importantes na geografia e para a sociedade como um todo, somando-se a outros estudos sobre as atividades sucroenergéticas brasileiras, sua inserção na agrofinanceirização e os impactos na formação socioespacial brasileira.

A mobilidade humana, particularmente a migração internacional, é tema transversal e central da saúde global. A intensificação e superdiversidade dos fluxos migratórios agregam desafios a vigilância sanitária internacional e aos sistemas de saúde. Os migrantes são cerca de 3,6% da população mundial e assim como os nacionais, integram as sociedades de acolhida e possuem necessidades inerentes à vida, incluindo à saúde. Contudo, migrantes, solicitantes de refúgio e refugiados encontram dificuldade para acessar os serviços de saúde em decorrência da inelegibilidade para o acesso, do custo, das especificidades linguísticas e culturais, da falta de informação e de ações de equidade direcionadas a esse público. Reconhecendo a Atenção Primária à Saúde (APS) como porta de entrada aos serviços de saúde e sua importância na promoção e manutenção da saúde da população, esta pesquisa objetivou analisar o acesso de migrantes à APS no Distrito Federal (DF), Brasil e Limburgo, Países Baixos por meio de estudo de caso comparado. Foram realizadas análises de registros administrativos, legislação e entrevistas semiestruturadas com profissionais de saúde de ambas as localidades, e de migrantes e partes interessadas no DF. Os resultados indicaram insuficiência da APS em ambos os sistemas de saúde em promover o acesso e cumprir seu papel de prevenção, educação e manutenção da saúde dos usuários migrantes devido a barreiras de acesso organizacionais, informacionais, linguísticas e culturais. Foram identificados desafios comuns e boas práticas que subsidiaram recomendações para mitigar essas barreiras.

O gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil é regrado pela Lei Federal 9.433, de 1997, que estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos - Singreh. Surgida num momento de consolidação e retomada da democracia no país, a assim chamada Lei das Águas foi resultado de um grande movimento de concertação nacional que buscava incutir os princípios da gestão participativa e responsabilidade compartilhada no trato das questões hídricas. A estrutura de governança das águas adotada pelo Brasil, teria, por suas características e princípios, um grande potencial de servir como modelo adequado à transformação de conflitos, com especial destaque para a prevenção. No entanto, passados pouco mais de 25 anos da sua promulgação, a despeito dos muitos avanços alcançados, a implementação dos instrumentos da PNRH caminhou a passos mais lentos que o esperado. É perceptível para vários estudiosos um enfraquecimento político do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, ente máximo do Singreh, e de outros colegiados. Num cenário global tendencial de aumento no número de conflitos ambientais em razão dos efeitos da mudança do clima, da rápida urbanização, da perda da biodiversidade e outras questões correlatas, estudar formas de recuperar e fortalecer um quadro institucional legítimo capaz de analisar informações estratégicas e gerenciar as disputas pelo uso da água nas diferentes escalas é fundamental para o Brasil e para o seu posicionamento internacional. Esse trabalho analisa os avanços e desafios da implementação dos instrumentos da PNRH e seus efeitos sobre a prevenção de conflitos no gerenciamento de recursos hídricos e apresenta uma proposta conceitual de um modelo que se vale do conhecimento geográfico e das bases de dados disponíveis no país voltado à identificação de áreas sensíveis a conflitos pela água de forma a contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas à sua prevenção.

A pesquisa realizada teve como objetivo apresentar a importância das trilhas interpretativas e práticas de campo, como recurso didático para ensinar a temática do Cerrado no Ensino Médio, bem como as questões que caracterizam o Cerrado nos componentes físico-naturais do espaço geográfico do Distrito Federal, em especial, a configuração geográfica do Jardim Botânico de Brasília, localidade escolhida para a realização do trabalho de campo, em trilha interpretativa guiada. O trabalho foi realizado com alunos do segundo ano do ensino médio, por meio de metodologias ativas, utilizando a trilha interpretativa, para o preenchimento do roteiro de campo, elaborado, aplicado e analisado nos resultados desta pesquisa. O trabalho de campo foi realizado em pré-campo (aulas e pesquisas sobre a temática do Cerrado), campo (saída de campo para o Jardim Botânico de Brasília, em uma trilha ecológica interpretativa guiada, com preenchimento e explicações sobre o roteiro de campo) e póscampo (discussões e fechamento do roteiro em roda de conversa). Optou-se pela pesquisa qualitativa, por meio da elaboração, aplicação e análise do roteiro de campo, com o objetivo de levar o aluno a “ler o ambiente” numa perspectiva geográfica, trabalhando com localização, descrição e análise da área visitada. A parte de localização foi realizada com a utilização de aplicativos do smartphone, para fazer a localização e leitura de dados quantitativos do ambiente. Já, a descrição abordou características ligadas ao relevo, solo, clima, hidrografia, flora e fauna da região visitada; e quanto à análise, foram observados em campo alterações ambientais e a ação humana na região; e por último, os alunos registraram o que viram em fotografias, utilizando os smartphones e no pós-campo, selecionaram a imagem que o grupo considerou mais significativa da fitofisionomia visitada e fizeram um desenho a partir do que lembravam terem encontrado em campo. Sendo assim, o trabalho de campo cumpriu o papel de levar os alunos ao entendimento do ambiente em que vivem e interferem por meio de suas ações, além de despertar os alunos, por meio dos estudos do pré-campo, do campo propriamente dito e das reflexões do pós-campo, para as questões ambientais que interferem no seu espaço vivido

A presente investigação teve como objetivo geral "Avaliar o impacto do modelo de planejamento e ordenamento territorial no cantão Portoviejo pós-terremoto, através de uma comparação das portarias municipais definidas no processo de desenvolvimento urbano da cidade". A partir de uma investigação descritiva e explicativa para identificar as políticas e instrumentos de gestão territorial implementadoss na reconstrução e recuperação do cantão de Portoviejo após o terremoto do ano 2016. Foi realizada uma investigação analítica para avaliar os objetivos, metas e projetos do cantão de Portoviejo do atual plano de desenvolvimento e ordenamento do território e seu alinhamento com os objetivos definidos na Estratégia Territorial Nacional. Determinou-se o impacto, influência, incidência e contradições do processo de implementação do modelo de planejamento de desenvolvimento e ordenamento do território. Metodologicamente, este estudo tipificou-se como misto, tanto qualitativo quanto quantitativo. Esta investigação concluiu que, dentro do território estudado, o indicador que teve a menor média foi o "GIS", indicando que os funcionários e a comunidade em geral do cantão de Portoviejo quase nunca percebem os benefícios dos sistemas de informação geográfica, pôr o pouco acesso que têm para eles, isto é importante porque, junto com a comunidade, podem ser desenvolvidos planos de ordenamento territorial para melhorar e promover a recuperação do cantão de Portoviejo. Este estudo concluiu que as diretrizes geradas nesta pesquisa possuem as ações pertinentes por meio das quais se pretende fortalecer a aplicação efetiva das políticas e instrumentos de gestão territorial, evitando contradições nas leis, e por outro lado priorizando objetivos, metas e projetos que contribuem progressivamente para melhorar a recuperação do cantão de Portoviejo, reduzindo o impacto causado pelo terremoto

O Brasil é um país de grandes dimensões territoriais e é considerado um país florestal por possuir 58,5% de seu território recoberto por florestas, sendo o segundo país do mundo em área de florestas, perdendo posição apenas para a Rússia. Apresenta seis biomas com diferentes características biogeográficas e áreas de alto potencial econômico. A conservação das florestas brasileiras proporciona qualidade de vida às populações que vivem em seu entorno e estimula a economia formal fornecendo produtos de florestas manejadas. Considerando a riqueza das áreas florestais do Brasil e a importância da manutenção e conservação dessas áreas, a Lei nº 11.284, que dispõe sobre o manejo de florestas públicas para o manejo florestal sustentável, foi instituída em 2 de março de 2006, criou o Serviço Florestal Brasileiro e gerou a possibilidade de outorga de áreas florestais públicas para o manejo florestal sustentável. Desde 2007 o governo federal concede à empresas e comunidades o direito de promover o manejo florestal para a produção de produtos florestais madeireiros e não madeireiros e de oferecer serviços turísticos em áreas previamente escolhidas. Atualmente encontram-se em concessão 1.307.677,14 hectares, com concessões em curso nos estados do Pará e Rondônia e com a previsão de início de atividades em quatro unidades de manejo florestal na Floresta Nacional do Amapá. A primeira concessão florestal no país teve seu contrato assinado em 16 de outubro de 2008, e o início das operações em setembro de 2010, na Floresta Nacional do Jamari, em Itapuã do Oeste, estado de Rondônia. Considerando o final da primeira década de implantação da concessão florestal pública, é de suma importância verificar como a concessão na região evoluiu nesse período. Para tanto, esta pesquisa tem como objetivo descrever a política pública de concessão florestal e analisar o andamento da modalidade na primeira área outorgada no país.

Este estudo debruçou-se sobre o ensino de Geografia desenvolvido em um Centro de Ensino em Período Integral (CEPI) de Ensino Médio localizado na cidade de Formosa-GO, com o intuito de compreender a sua dinamicidade e a que aspectos ela estava relacionada, focando a maneira como a implementação do tempo integral na instituição repercutiu no processo de ensino-aprendizagem dessa ciência, as suas potencialidades e o modo como a Reforma do Ensino Médio pode afetá-lo. O interesse pelo tema deu-se inicialmente pela identificação de um ensino de Geografia diferenciado, aparentemente oportunizado pela dinâmica de trabalho dos professores e por uma organização curricular que permitia a ampliação de tempos, espaços e oportunidades de aprendizagem. Posteriormente, além da percepção da permanência, até os dias atuais, de práticas inadequadas no âmbito dessa disciplina, o interesse expandiu-se com a iminência de implementação do novo Ensino Médio na instituição, que indicava o desmantelamento desse trabalho e de tal organização, principalmente por meio da desobrigação da oferta da Geografia ao longo do curso e da proposta de organização por área do conhecimento, o que poderia estreitá-lo e afetar a formação dos escolares. Em termos metodológicos, esta investigação caracteriza-se como Estudo de Caso Qualitativo, cujas técnicas de levantamento de dados e de informações foram a pesquisa bibliográfica, a pesquisa exploratória, a pesquisa documental, as entrevistas por pautas e o questionário. As técnicas de análise foram a análise de conteúdo e a técnica da triangulação de fonte de dados. O estudo constatou a tese defendida neste trabalho, a de que tempos, espaços e práticas são dimensões fundamentais e que influem no processo de ensino-aprendizagem de Geografia, por serem tanto horizontes de possibilidades (facilitadores) quanto de limitações (inibidores) nesse processo; portanto, tempos e espaços estruturados, dotados de possibilidades educativas, e potentes práticas docentes contribuem para a formação dos estudantes. No caso analisado, as evidências revelaram que a dinâmica do trabalho docente, orientado pelos pressupostos teórico-metodológicos das perspectivas Histórico-Cultural e Crítica de educação, relaciona-se às suas personalidades/ aos seus perfis (concepções, propostas, práticas) e ao modo de implementação do modelo de educação da instituição (ampliação estruturada e qualitativa dos tempos e espaços escolares), que tem repercutido em ampliação e qualificação do ensino de Geografia, sobretudo por meio da dedicação exclusiva e da atuação multidisciplinar dos professores, da interligação entre os núcleos curriculares, da ampliação das oportunidades de ensino-aprendizagem e de potentes práticas, embora tal modelo possua perspectiva e organização que intensificam e precarizam a docência. Os resultados também mostraram que, em Goiás, com a Reforma do Ensino Médio (reforma neoliberal que ataca a ciência e provoca fragilização da formação básica e desmonte dessa etapa), a Geografia perdeu tempo/espaço curricular, retrocedeu e sofreu esvaziamento do seu arcabouço teórico-metodológico. O novo Documento Curricular desse Estado e a nova organização do CEPI sinalizam a intensificação do trabalho docente, a perda de identidade disciplinar, o estreitamento no ensino dessa ciência, empobrecimento e danos formativos, o que compromete o desenvolvimento dos discentes, especialmente no que se refere ao processo de compreensão do mundo contemporâneo em suas complexas espacialidades e à construção da cidadania e da humanidade desses indivíduos.

A legislação ambiental brasileira estabelece normas gerais de proteção, conservação e recuperação ambiental. Uma delas é o Código Florestal Brasileiro – CFB: Lei Federal 12.651/2012, que estabelece as Áreas de Preservação Permanente - APP; a Reserva Legal - RL; Uso Restrito; o Cadastro Ambiental Rural - CAR e ferramentas associadas, como o Programa de Regularização Ambiental - PRA e as Cotas de Reserva Ambiental - CRA. Embora, em teoria, a legislação brasileira seja avançada, a sua aplicação e cumprimento efetivo são insuficientes em diversos aspectos. O CFB, avançou no sentido de estabelecer ferramentas para aprimorar a fiscalização da adequação ambiental dos imóveis rurais no Brasil. Dentre essas, destaca-se o CAR, que é um registro eletrônico dos principais atributos ambientais dos imóveis rurais. Segundo dados do Serviço Florestal Brasileiro - SFB (2022), a adesão ao CAR é de aproximadamente de 6,9 milhões de imóveis, o que corresponde a 80% da área estimada como passível de cadastramento. Com essa adesão vislumbra-se uma melhoria no cumprimento da legislação ambiental, uma vez que foram estabelecidas normas para recuperação ambiental como o PRA, e de compensação como as CRA. O CAR concentra informações ambientais relevantes como as APP e as RL da maior parte dos imóveis rurais do Brasil, por esse motivo constitui-se com um banco de dados relevante para a gestão ambiental. Esses dados quando cruzados com outras bases, podem gerar informações para o conhecimento da situação ambiental dos biomas brasileiros, como por exemplo: a importância das RL e APP na conservação da vegetação nativa e na manutenção da estrutura da paisagem; a identificação da estrutura fundiária nos biomas e o estabelecimento de relações com os percentuais de vegetação nativa; e a simulação de cenários de implementação da recuperação ambiental prevista no PRA. Essa pesquisa, desenvolvida em formato de artigos, conta com cinco manuscritos. No primeiro manuscrito foi realizada uma avaliação da legislação ambiental brasileira e do potencial de contribuição que o CAR e no CFB têm para a diminuição da degradação ambiental. O segundo manuscrito abordou a evolução da legislação ambiental brasileira nos últimos 20 anos, associando os principais marcos e os números do CAR com os percentuais de desmatamento no Cerrado. No terceiro manuscrito, tendo como recorte espacial o Distrito Federal-DF, foi construído um modelo e realizada uma simulação de diferentes cenários de recuperação ambiental das APP e da RL. O quarto manuscrito avaliou, comparativamente, a importância das RL na estrutura da paisagem nos biomas brasileiros e estudou o padrão de uso e ocupação do solo dentro da estrutura fundiária a partir dos imóveis declarados no CAR. No quinto manuscrito foi realizada uma análise sobre a área que está no CAR, mas que não deveria, por exemplo: imóveis registrados em unidades de conservação que não admitem domínio privado - e identificadas áreas que não possuem restrição de cadastramento, mas que ainda não foram registradas. A condução da pesquisa permitiu constatar a importância do CAR, uma vez que através dessa política pública, será possível: aprimorar a gestão ambiental, implementar o CFB e viabilizando o alcance da regularidade ambiental no Brasil.  

 Os recursos hídricos e os estudos fenológicos florestais são extremamente importantes para a compreensão de diversos fenômenos naturais como as mudanças climáticas, dinâmica hidrogeomorfológica, condicionamento ambiental e gestão dos recursos. Inserida na dinâmica hídrica, estão presentes as áres inundáveis que estão intrinsecamente ligadas à manuntenção da biota e da fauna nos biomas brasileiros. Nesse contexto, os produtos derivados de sensoriamento remoto têm sido bastante utilizados para a análise e monitoramento de áreas inundáveis, mapeamento de uso e ocupação da terra e dinâmica fenológica devido à sua importância ambiental. As imagens de radar de abertura sintética (SAR) são produtos potenciais por não apresentar interferências atmosféricas, entretanto, necessitam de diversos tratamentos iniciais, definidos de pré-processamento para assim ser possível obter uma melhor extração de informações de uma determinada área. Nesse sentido, essa pesquisa teve como objetivo aplicar as técnicas de deep learning utilizando algoritmos de processamento de séries temporais de imagens de satélite baseados em redes neurais para extração e identificação de áreas inundáveis, corpos hídricos e fenologias florestais em áreas de cerrado, floresta amazônica, mangues, cultivos agrícolas e várzea. O presente estudo foi dividido em três capítulos principais: (a) análises métricas e estatísticas de filtragens espaciais em imagem Sentinel-1 SAR da Amazônia Central, Brasil; (b) análise de série temporal Sentinel-1 SAR em inundações na Amazônia Central; e (c) classificação fenológica de floresta, mangues, cerrado e vegetação alagada do bioma Amazônia por meio de comparação dos modelos LSTM, Bi-LSTM, GRU, Bi-GRU e modelos de aprendizagem de máquina baseados em séries temporais do satélite Sentinel-1. As etapas metodológicas foram distintas para cada capítulo e todos apresentaram precisão e altos valores métricos para mensuração e análise dos corpos hídricos, inundação e fenologias florestais. Dentre os métodos de filtragem analisados na imagem SAR, o filtro Lee com janela 3 × 3 apresentou os melhores desempenhos na redução do ruído speckle (MSE igual a 1,88 e MAE igual a 1,638) e baixo valor de distorção de contraste na polarização VH. Entretanto, para a polarização VV, mensuraram-se diferentes resultados para análise da redução do ruído speckle, onde o filtro Frost com janela 3 × 3 apresentou o melhor desempenho, com baixo valor para as métricas em geral (MSE igual a 1,2 e MAE igual a 6,28) e também um baixo valor de distorção de contraste. Por apresentar os melhores valores estatísticos, o filtro de mediana com janela 11 × 11 nas polarizações VH e VV pode ser utilizado como uma técnica de filtragem alternativa na imagem Sentinel-1 nas duas polarizações. As áreas de inundação mensuradas nas polarizações VH e VV apresentaram uma forte correlação e sem significância estatística entre as amostras, presumindo que se pode utilizar as duas polarizações para obtenção do pulso de inundação e mapeamento da dinâmica das áreas inundáveis na região. Pelo fato de não haver imagens Sentinel-1 anteriores ao ano de 2016, quando os eventos extremos de LMEO foram superiores a 100%, não foi possível delimitar a LMEO por meio de dados SAR. Algumas áreas ao longo da costa e rios apresentam assinaturas temporais de retroespalhamento que evidenciam transições entre ambientes terrestres e áreas cobertas por água. A variação temporal do retroespalhamento de valores mais altos para mais baixos indica erosão e inundação progressiva, enquanto o inverso indica aumento terrestre. O modelo Bi-GRU apresentou a maior acurácia geral, precisão, recall e F-score tanto na polarização individual como na polarização combinada VV+VH. A combinação entre as polarizações forneceu os melhores resultados na classificação e a polarização VH obteve melhores resultados quando comparado à polarização VV. O presente estudo atestou o procedimento metodológico adequado para mensurar as áreas de corpos hídricos e seu pulso de inundação como também obteve a classificação de fenologias com alta precisão na Amazônia Central por meio de deep learning advindas de série temporal de imagens Sentinel-1 SAR.

Esta tese tem como objetivo investigar como a translocalidade se reflete na construção de identidade dos palestinos e descendentes de Barra do Garças-MT, bem como compreender o processo diaspórico e as estratégias socioespaciais compartilhadas na mobilidade. O movimento político sionista alicerçou a criação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948. Esse evento marca a catástrofe (al-Nakba) e o início da guerra árabe-israelense que promoveu a expulsão de milhares de palestinos. Outros eventos subsequentes, como ocupação do território dos palestinos pelo exército israelense na guerra de 1967, aliado aos problemas socioeconômicos, provocaram a emigração de levas da população palestina, para vários países do mundo, denominado de diáspora. Muitos vieram para a América. Em maior quantidade para a América Latina, sobretudo para o Chile e Honduras. No Brasil, os palestinos se concentraram em alguns estados, dentre eles, embora em proporção reduzida, em Mato Grosso. Em Barra do Garças, um grupo de palestinos muçulmanos chegou a partir da década de 1950. Eles se fixaram no centro da cidade, onde cristalizou como o lugar de trabalho e moradia. Esta pesquisa se baseia na corrente filosófica pós-estruturalista, no método etnogeográfico e, principalmente, nos conceitos de identidade, diáspora e translocalidade. Os dados da pesquisa foram obtidos por meio de pesquisa de campo exploratória, seguida de entrevistas em profundidade, presencialmente, com horário previamente estabelecido, questionário de identificação, observação participante, pesquisas documentais e registros fotográficos. Os resultados mostram que o caráter diaspórico se revela na família espalhada, em que, pelo menos, um membro reside em outros países ou em outros estados, sem, no entanto, perder a importância da localidade na vida das pessoas. Concluiu-se que os palestinos se identificam tanto com o Brasil, pelo qual nutrem um sentimento de pertencimento, quanto com a localidade de origem na Palestina/Jordânia. Essa identificação é construída e sustentada pelos valores da família, religião, idioma árabe e pelas viagens para regar as raízes e manter viva a diáspora. Esse elo se intensifica com um tipo de retorno transitório, de “ir e voltar”, sem, no entanto, perder a ideia de um retorno para uma pátria imaginada. A identidade é assim, construída e retroalimentada por uma mobilidade concreta ou abstrata na qual se mantém variados vínculos que os conectam uns com os outros em um sistema rizomático, que resulta em um tipo diferente de identidade, a identidade translocal.

O entendimento da dinâmica evolutiva dos sistemas fluviocársticos é fundamental para implementação de medidas para conservação do patrimônio espeleológico. Desta forma, este estudo se propôs em analisar dinâmica paleoambiental dos vales secos no carste da área de proteção ambiental nascentes do rio vermelho-APANRV em Mambaí-GO. Neste sentido, se fez necessário a aplicação de diversas técnicas de análise como granulometria, morfoscopia, geoquímica (ICP-OES), mineralogia (Difração de Raio-X), isótopos estáveis (δ13C), morfologia, análise faciológica, datações (Luminescência Opticamente estimulada –LOE, Carbono 14) além da aplicação de geofísica rasa (GPR). Inicialmente realizou-se uma revisão teórica voltada para o conceito e estudos em vales secos em carste e possibilidades, bem como estudos de depósitos fluviais brasileiros que utilizaram métodos de datação (LOE e Carbono 14). Os resultados demonstraram diversas fácies deposicionais cuja idades alcançaram no máximo 23 mil anos, no entanto as transições fluviocársticas com abandono de vales secos ocorreram no Quaternário. A correlação das idades com estudos regionais demonstrou relação íntima entre eventos climáticos pretéritos com os processos fluviocársticos. A dinâmica deposicional em conjunto com a interpretação na paisagem permitiram propor modelos evolutivos para cada vale seco estudado, demonstrando as fases deposicionais vinculadas com o processo de transição fluviocárstica. Os perfis de GPR a nível de vale demonstrou os limites do preenchimento dos vales secos com depósitos fluviais. O entendimento da dinâmica evolutiva dos ambientes cársticos perpassa estudo de suas diversas feições típicas, como os vales secos. Desta forma, este estudo visou contribuir para maior conhecimento da evolução complexa das paisagens cársticas, que possui grande capacidade de resguardar sedimentos que podem ser utilizados em estudos paleoambientais que permitem compreender possíveis cenários futuros.

O nitrogênio é um elemento essencial para o desenvolvimento da biodiversidade. Nos últimos 100 anos seu ciclo natural tem sido alterado, levando a formação de novas especiações, com o aumento das atividades antrópicas, sobretudo nos setores de energia, indústria alimentar, bem como, com as atividades da mudança no uso da terra. Com essa alteração, diversos ecossistemas ao redor do globo sofrem com o desequilíbrio das taxas adicionadas de Nr. Neste estudo foram utilizadas a base de dados da GIOVANNNI data & Science da NASA, onde foram analisadas a variabilidade espacial e temporal da concentração da espécie reativa gasosa do dióxido de nitrogênio (NO2) para o bioma Cerrado nos anos de (2012 e 2020) e duas áreas específicas, denominado de Cerrado Norte e Cerrado Sul, em função das variáveis meteorológicas da temperatura e precipitação no mesmo período. As análises mostraram concentrações de NO2 mais intensas no período de estiagem no Cerrado Norte, contrastando uma forte relação com a mudança no uso da terra na região, apresentando valores de concentração em torno de 7.74e+15 da coluna total nos anos de 2012 e 6.70e+15 da coluna total no ano de 2020. No Cerrado Sul, as concentrações para o mesmo período foram respectivamente, 1.56e+15 e 3.46e+15 para os anos de 2012 e 2020. Para ambos os anos houve fortes correlações entre as concentrações de NO2 e os altos índices de temperatura e precipitação. Contudo, os resultados mostram que o aporte do nitrogênio em áreas remotas apresenta desequilíbrio no seu balanço natural, influenciado por diversas fontes de emissões no bioma Cerrado, sobretudo com a intensificação das atividades agrícolas.

Este trabalho tem como objetivo demonstrar a viabilidade e a aplicação de Sensoriamento Remoto com imagens gratuitas de satélite no processo de monitoramento e fiscalização das obras de usinas de geração de energia em implantação, tendo por base um projeto piloto em desenvolvimento na Agência Nacional de Energia Elétrica. Os resultados obtidos sinalizam o potencial de enriquecimento que o uso de imagens traz aos processos de controle na Administração Pública, ao fortalecimento da accountability no setor público e ao efeito positivo da transformação digital como ferramenta simples e moderna de fiscalização, propiciando economicidade e eficiência ao controle externo na administração pública.