SABER PARA DOMINAR OU PARA RESISTIR? AS FISSURAS TERRITORIAIS E OS PROJETOS DE AUTONOMIA E EDUCAÇÃO DO MST E DO EZLN
Autonomia, Território, Estado, Resistência, Movimentos Socioterrioriais, Saber, Educação.
A presente tese tem como objetivo analisar as distintas formas dos zapatistas e dos sem-terra em organizar suas relações territoriais e conduzir suas resistências às estruturas de dominação, em especial o Estado, e como essas diferentes formas de resistir se reverberam na maneira de pensar e dirigir os projetos educativos elaborados por eles e quais as consequências de tais caminhos. A categoria território permeia nossa análise, afinal temos como objeto movimentos que tem o território como trunfo, ou seja, movimentos socioterritoriais. Em tais territórios de resistência a escola aparece como peça fundamental que ora dialoga com o território estatal, ora é um contraponto estrutural. Uma das principais inovações de nosso estudo foi a operacionalização do materialismo bakuninista e da dialética serial para interpretar as resistências político-educativas dos Sem-terra e dos Zapatistas. Esta base metodológica nos possibilitou estruturar este estudo a partir de quatro séries dialéticas: autonomia e heteronomia, Estado e movimentos sociais, dominação e resistência, saber e escola. Em paralelo, recorremos ao trabalho de campo, onde realizamos entrevistas estruturadas, semiestruturadas e não estruturadas, conversas informais com os Sem-terra e os Zapatistas, bem como junto a apoiadores e movimentos próximos a eles. Realizamos também pesquisa documental onde revisitamos documentos, cartilhas, comunicados e boletins informativos de ambos os movimentos. Percebemos que mesmo se tratando de dois movimentos socioterritoriais a forma com que cada um dos movimentos se organiza internamente, bem como sua relação com o Estado é diferente. Tais características têm implicações diretas na educação, onde expressa também os objetivos imediatos e programático dos movimentos. A problematização contida neste estudo abre horizontes para subverter a instrumentalização do pensamento geográfico pelo Estado, retirando deste a exclusividade de organização do território, evidenciando as suas fissuras e ressaltando as sobreposições territoriais e consequentemente a multiterritorialidade. Os dilemas da construção de uma educação pelo o Estado ou contra o Estado nos territórios de resistência acompanham a trajetória de todos movimentos e estuda-las e evidenciar suas dificuldades e possibilidades nos permitem refletir sobre caminhos e percalços em busca de uma sociedade autônoma.