Esta dissertação tem como objetivo analisar políticas habitacionais a partir da perspectiva de gênero e sexualidade, com foco em mulheres cisgêneras em situação de vulnerabilidade social e na população LGBTQIA+. Utilizando o programa argentino Habitar en Igualdad como caso-referência paradigmático na América Latina, criado em 2021 na província de La Rioja, a pesquisa repensa as políticas públicas de habitação para oferecer moradia digna e inclusiva a sujeitos historicamente invisibilizados e precarizados pela sociedade. A abordagem teórica é fundamentada nas interfaces entre a arquitetura, o urbanismo e os estudos queer, destacando autores como Judith Butler (2012), Michel Foucault (2002), Paul Preciado (2000), Monique Wittig (1980) e Beatriz Colomina (1992). O trabalho também promove um deslocamento teórico nos estudos de arquitetura e urbanismo, incentivando a reflexão sobre a moradia para mulheres cisgêneras vítimas de violência doméstica e a comunidade sexogênero dissidente. Além disso, tensiona conceitos heteronormativos nas políticas habitacionais, buscando desconstruir normas binárias de gênero e estruturas heterocentradas que perpetuam a precarização dessas vidas. Apesar de avanços, especialmente na Argentina, ainda existem barreiras significativas para a implementação de políticas habitacionais inclusivas no Brasil e na América Latina. A conexão entre a teoria queer e as políticas habitacionais oferece a possibilidade de expandir os limites dos debates convencionais sobre urbanismo, inspirando novas perspectivas e ampliando o campo de atuação de arquitetos, urbanistas e gestores urbanos diante dos desafios contemporâneos das cidades.

Esta dissertação aborda a importância dos acervos de arquitetura e urbanismo como elementos fundamentais para a preservação da memória cultural e para a compreensão dos processos criativos, técnicos, políticos e sociais da produção arquitetônica. Com foco nos acervos do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), conforme abrigados em Brasília, o trabalho explora os desafios e as urgências para a preservação e o acesso a esse tipo de documentação, ressaltando sua relevância tanto para a profissão quanto para a sociedade. A partir de tal coleção, a análise passa pela história do IAB e do seu Departamento do DF, ressaltando iniciativas voltadas para a sua preservação, como ações de tratamento arquivístico e esforços de extroversão. A pesquisa evidencia ainda as ameaças e desafios à preservação de acervos de arquitetura e urbanismo no país, com destaque à ameaça da evasão de bens culturais para o exterior, assim como aborda as possibilidades de sua preservação e valoração enquanto patrimônio de interesse cultural, propondo políticas públicas e aplicação da legislação vigente no campo da preservação do patrimônio cultural brasileiro para esses bens.

As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios globais da atualidade, destacando a importância das decisões projetuais na mitigação de seus impactos. Nesse contexto, compromissos ambientais internacionais têm incentivado a adoção de estratégias sustentáveis, promovendo a redução dos impactos ambientais em diversos setores e influenciando diretamente o planejamento e a concepção de projetos arquitetônicos. No Brasil, uma solução de destaque é a aplicação de brises enquanto elementos de controle solar nas aberturas. Nesse sentido, percebe-se que a cor pode ter impacto no seu desempenho térmico. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é analisar a influência das cores em brises metálicos na variação de suas temperaturas superficiais no contexto climático do Distrito Federal (DF). Partindo de uma análise de protocolos existentes e na seleção da fachada noroeste da Escola Verde, localizada na Região Administrativa do Riacho Fundo, no DF, como estudo de caso, foram realizadas análises de termogramas registrados por termografia infravermelha durante sete meses (de março a setembro de 2024), utilizando correlações e convergências que permitiram compreender a relação entre a temperatura superficial e os matizes e brilhos das cores presentes nos brises metálicos do edifício. Os dados tabulados revelam a predominância dos tons azuis com 62% das maiores temperaturas, a estabilidade térmica dos tons amarelos correspondendo a 59% das menores temperaturas e o comportamento intermediário dos tons vermelhos representando 11%. Quanto a luminosidade, 55% dos brises metálicos de alta luminosidade encontravam-se refletindo melhor o calor, e 59% dos brises metálicos com as maiores taxas de absorção de radiação eram os de baixa luminosidade. Nesse contexto, evidencia-se, como estratégia para oferecer subsídios para decisões projetuais, correlações claras entre matiz, luminosidade e as temperaturas superficiais dos brises metálicos.

Esta pesquisa analisa o impacto da Estrada de Ferro Santa Maria - Marcelino Ramos na urbanização e no ordenamento territorial do Alto Uruguai Gaúcho no início do século XX. A pesquisa investiga como a implantação dessa ferrovia, inspirada pelo ideal positivista de “Ordem e Progresso”, moldou a paisagem social e urbana da região, impulsionando a colonização e o desenvolvimento econômico, mas também gerando conflitos e impactos socioambientais. O estudo destaca a influência do positivismo e o papel da ferrovia como instrumento de integração e progresso, facilitando o transporte de produtos e bens, o que levou ao surgimento de povoados e cidades novas, como Erechim. Contudo, a ocupação territorial gerou expulsões de indígenas Kaingang e posseiros, gerando conflitos sociais em nome do progresso. A dissertação também questiona o conceito de progresso com base nas críticas de autores como Gilberto Dupas e Walter Benjamin, que destacam os paradoxos do desenvolvimento acelerado, como a exclusão social e os danos ambientais. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, utilizando revisão bibliográfica, registros históricos, visitas in loco e análise de dados. A dissertação é estruturada em três capítulos: o primeiro aborda os conceitos de “ordem” e “progresso” na Primeira República (1889-1930); o segundo analisa a influência da ferrovia no ordenamento da região; e o terceiro examina os impactos socioambientais e os conflitos gerados pela colonização. Ao destacar os benefícios e contradições do processo de urbanização, o estudo contribui, deste modo, para a compreensão da história urbana do Sul do país e da complexidade dos projetos de desenvolvimento e colonização da região do Alto Uruguai Gaúcho.

O uso de técnicas de processamento de imagens (IPTs) tem se mostrado promissor na identificação de problemas na construção civil, com o potencial de reduzir a necessidade de inspeções presenciais realizadas por especialistas. Essas IPTs são empregadas principalmente para manipular imagens e extrair características relacionadas a defeitos e manifestações patológicas nas edificações. Entretanto, a adoção generalizada dessas técnicas enfrenta desafios decorrentes das variações das condições reais, como mudanças de iluminação e presença de sombras. Com o intuito de superar essas limitações, esta pesquisa propõe um método baseado em visão computacional, utilizando uma arquitetura profunda de redes neurais convolucionais (CNNs) para detectar esquadrias em edifícios públicos. O modelo de deep learning foi treinado com um banco de dados específico, composto por imagens de edificações públicas distribuídos nas 26 unidades federativas e no Distrito Federal. As imagens utilizadas totalizam mais de 1.840 construções. A CNN foi treinada com mais de 19 mil imagens de 227 × 227 pixels, alcançando uma precisão de aproximadamente 80%. A robustez e a adaptabilidade do método foram testadas em imagens de alta resolução e tamanhos variados, capturadas sob diferentes condições de luz e tipos de esquadrias, que não foram utilizadas no treinamento e validação do modelo. Nessas situações, o modelo atingiu uma acurácia de 83,34%. Os resultados demonstram a eficácia da abordagem proposta, mostrando seu potencial para a detecção automática de esquadrias e para a geração de levantamentos quantitativos voltados à recuperação das mesmas. A tecnologia apresentada destaca-se pelo desempenho satisfatório e pela sua aplicabilidade em cenários reais.

A dissertação analisa a correlação entre as narrativas dos jornais Correio Braziliense e Zero Hora e o Cine Brasília e o Auditório Araújo Vianna como bens patrimoniais, que são obras tombadas de arquitetura moderna localizadas em Brasília e em Porto Alegre, respectivamente. O intuito é desvelar, por trás das possíveis correlações encontradas, a forma como os jornais (in)formam à população não especializada questões sobre a prática preservacionista em ambas as cidades, considerando que o processo de construção social do patrimônio cultural depende enormemente da participação popular. Para tanto, o trabalho é dividido em três partes: a primeira discute especificidades da preservação do moderno e apresenta o Cine e o Auditório, de modo a compreender o histórico de projeto, de intervenções e de tombamento de cada edifício. A segunda estabelece a lógica de análise dos jornais baseada nos conceitos de História Cultural e Representação, propostos por Sandra Pesavento, a fim de definir a forma de leitura e interpretação do Correio Braziliense e do Zero Hora fontes da pesquisa que também são objetos de panorama histórico. A terceira parte apresenta a metodologia e análise das reportagens em si. Por fim, são discutidos os rebatimentos entre as práticas preservacionistas atuantes nos edifícios e o modo como foram representados nos jornais, no intuito de se compreender de que forma as narrativas dos meios de comunicação (in)formam seu público acerca da conservação dos supracitados edifícios modernos.

A presente pesquisa investiga as condições de acessibilidade para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em ambientes escolares, com ênfase em duas instituições da rede pública da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). O estudo articula os aspectos arquitetônicos, pedagógicos e normativos envolvidos na inclusão escolar, tomando como referência a Norma Brasileira de Acessibilidade (NBR 9050/2020) e demais diretrizes legais pertinentes. A partir de visitas técnicas e análise documental, foram identificadas fragilidades tanto na infraestrutura física quanto nas práticas pedagógicas voltadas ao atendimento das necessidades específicas desses alunos. As observações evidenciam que a ausência de adaptações arquitetônicas adequadas e de estratégias educacionais inclusivas compromete a equidade no processo de ensinar e aprender. Nesse contexto, a pesquisa ressalta a urgência de intervenções estruturais e formativas que possibilitem ambientes mais sensoriais, seguros e estimulantes, promovendo o bem-estar e o desenvolvimento integral de crianças com TEA. Os resultados obtidos reforçam o papel fundamental da acessibilidade como princípio norteador para uma educação básica inclusiva, democrática e de qualidade, pautada no respeito à diferença e à singularidade de cada estudante.

A gestão e o planejamento urbano no Brasil enfrentam grandes desafios, especialmente no que diz respeito aos impactos causados por polos geradores de viagens. Estes impactos afetam a infraestrutura urbana, o tráfego e o meio ambiente, exigindo uma abordagem analítica e integrada para sua avaliação e mitigação. Observa-se uma lacuna significativa na ausência de ferramentas de análise espacial e definição de medidas para mensurar os impactos no uso e ocupação do solo de diferentes tipos de polos geradores de viagens. Além disso, há uma falta de integração entre os estudos de impactos de trânsito, vizinhança e ambiental, dificultando a implementação de medidas de mitigação ou compensação eficazes e a potencialização de impactos positivos e consequente desenvolvimento urbano e da qualidade de vida. Assim, o objetivo principal desta pesquisa é desenvolver um procedimento de análise espacial para os impactos no uso e ocupação do solo dos polos geradores de viagens. A proposta visa integrar os diferentes tipos de análises espaciais, a partir da criação de cenários urbanos através da modelagem georreferenciada, fornecendo uma ferramenta eficaz para o planejamento urbano e permitindo uma avaliação abrangente dos efeitos da alteração do uso e ocupação do solo sobre a cidade. Ao desenvolver um procedimento que relaciona diferentes aspectos de análise (ocupação, acessibilidade, densidade, atividades, grau de incomodidade), a pesquisa contribui para a criação de políticas públicas mais eficientes, sustentáveis e aplicáveis à realidade das cidades, promovendo uma gestão urbana mais integrada. A pesquisa adota uma abordagem baseada na análise espacial, visando integrar os diferentes tipos de impactos urbanos (trânsito, vizinhança e ambiental). Como resultado, tem-se a criação de um instrumento de planejamento urbano que permite a análise dos impactos de polos geradores de viagens na gestão do uso e ocupação do solo.

Os processos de inspeção predial, realizados periodicamente, diagnosticam o estado de conservação e orientam o planejamento de manutenções. Em sistemas de cobertura, as inspeções prediais podem envolver dificuldade de acesso, riscos de segurança devido aos trabalhos em altura e tempo despendido para a realização das vistorias, além de requererem conhecimento técnico baseado em análises sensoriais. Na cobertura, é comum a ocupação intensiva das lajes impermeabilizadas para acomodar instalações e equipamentos, o que aumenta as dificuldades nos levantamentos in loco e na identificação de manifestações patológicas. Nesse contexto, as ações de reparos e substituições dos elementos ou componentes da laje impermeabilizada, ou em equipamentos dispostos sobre ela, apresentam uma situação de complexidade a ser pesquisada. Por meio de uma revisão sistemática da literatura, identificouse uma lacuna na abordagem integrada para a inspeção de lajes planas impermeabilizadas e com diferentes níveis, considerando as etapas do processamento digital para a geração de ortoimagens e a aplicação de técnicas de visão computacional para detecção de equipamentos e segmentação automatizada de manchas. Diante disso, questiona-se nesta pesquisa como tecnologias digitais e processos automatizados podem contribuir com a gestão da manutenção em sistemas de cobertura plana, com diferentes tipologias e níveis. Nesse sentido, o objetivo principal desta tese é promover o aprimoramento das inspeções prediais de sistemas de cobertura plana por meio de tecnologias digitais para aquisição de imagens e processos automatizados, com foco no desenvolvimento de cenários aplicáveis ao monitoramento e à gestão da manutenção. Fundamentada em uma abordagem qualitativa, a pesquisa combinou diferentes metodologias, integrando as etapas bibliográfica, exploratória e experimental. Essas abordagens foram empregadas para caracterizar os sistemas em foco, realizar os levantamentos de campo, aplicar tecnologias digitais e conduzir procedimentos experimentais em processos automatizados. O método proposto integra o uso de drones para inspeção visual por meio de imagens, a construção de uma base de dados para a realização do processamento digital dessas imagens e a aplicação de técnicas de visão computacional. A amostra selecionada para os estudos constitui-se do conjunto de coberturas planas do Quartel General do Exército Brasileiro (QGEx) e outras quatro edificações da Universidade de Brasília (UnB), no campus Darcy Ribeiro: Biblioteca Central (BCE), Instituto Central de Ciências (ICC), Unidade da Criança e do Adolescente (UCA) e Reitoria. Os resultados obtidos mostram desempenho satisfatório na aplicação do processamento digital de imagens e de redes neurais convolucionais para detecção de equipamentos que interferem nas ações de manutenção e segmentação de manchas que afetam a impermeabilização das coberturas. Durante as inspeções, o campo de visão de drones difere do campo de visão do inspetor, mostrando que as tecnologias digitais podem contribuir para a inspeção visual dos manchamentos, uma vez que estas manchas indicam processos de degradação que aceleram a infiltração de água e comprometem o desempenho e a durabilidade da cobertura. Com essa tese, espera-se contribuir para uma abordagem metodológica integrada como estratégia para dar celeridade às ações de manutenção preventiva e corretiva na gestão da manutenção e no monitoramento do sistema de cobertura.

Esta pesquisa aborda como a Revista Manchete, de grande circulação e destinada ao público geral, contribuiu para consolidação da imagem do arquiteto Oscar Niemeyer, e divulgação de sua a arquitetura no cenário nacional e internacional. A tese investiga a relação entre arquitetura, mídia e sociedade na trajetória de Oscar Niemeyer, enfatizando o papel da revista Manchete como veículo de difusão cultural. A revista documentou as obras de Niemeyer e as apresentou de maneira acessível, direta e clara, vinculando-as à inovação, ousadia e arrojo, dentro do contexto da época e em relação a questões políticas, sociais e culturais. A metodologia empregada organiza esse material em categorias temáticas de obras publicadas nas edições da revista. Essa abordagem permite uma análise da construção de sua narrativa pública e de seu impacto na historiografia arquitetônica.
Com base no acervo digitalizado da Manchete disponível na Hemeroteca Digital Brasileira, a pesquisa reúne registros relacionados a Niemeyer, abrangendo entrevistas, reportagens e imagens que retratam sua obra, vida pessoal e impacto cultural. Ao revelar perspectivas sobre Niemeyer, a tese apresenta uma opção para releitura das publicações de Manchete e sua relação entre arquitetura e comunicação, mostrando como as revistas desempenharam um papel importante na legitimação e difusão da obra e trajetória de Niemeyer.

Partindo da necessidade de ampliar a compreensão sobre estruturas urbanas amazônicas, sobretudo quanto à sua espacialidade, que dialoga com as dinâmicas sociais, esta pesquisa procura contribuir para o campo a partir da perspectiva configuracional. Para tanto, investiga-se uma amostra de estruturas urbanas de diferentes escalas inseridas na Região Norte, interpretada em dois níveis de análise: a) um global, em que o conjunto de 101 núcleos urbanos da amostra são comparados entre si e com cidades de todas as regiões brasileiras, com dados obtidos a partir da pesquisa de Medeiros (2024), de modo a caracterizar as cidades locais frente às das demais regiões e à compreensão das formas pelas quais os processos históricos e socioeconômicos ocorridos nas diferentes porções da região se relacionam à sua estrutura espacial, e b) outro local, em que assentamentos informalmente produzidos (FCU’s) inseridos apenas em cidades componentes da Região Norte são analisados comparativamente visando à análise de suas maneiras de articulação interna e ao conjunto da cidade. Há, complementarmente, duas categorias de variáveis: a) a configuracional, de natureza geométrica e topológica, exploradas a partir do suporte teórico-metodológico da Sintaxe Espacial (Teoria da Lógica Social do Espaço); b) a não-configuracional, que composto por variáveis socioeconômicas, que contemplam aspectos como renda, escolaridade, desenvolvimento humano, entre outras. Pretende-se que o estudo contribua para a caracterização e identificação de eventuais padrões configuracionais próprios das estruturas urbanas da região, em ambos os níveis. É interesse responder a duas questões de pesquisa: 1) Existem especificidades na configuracionais nas cidades da Região Norte, frente às demais regiões brasileiras? 2) Existem especificidades configuracionais das FCU’s locais frente ao conjunto urbano das cidades da Região Norte, e às das demais regiões brasileiras? 3) Caso existam, quais aspectos promovem (se relacionam com) essas especificidades?

A indústria da construção é mundialmente reconhecida como um importante impulsionador do consumo de energia e das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Isso requer repensar o projeto arquitetônico e as estratégias das edificações para satisfazer as condições de conforto humano. As evidências recolhidas por meio da investigação científica mostram que, com estratégias passivas adequadas, é possível melhorar o desempenho ambiental de edifícios existentes e reduzir significativamente o consumo de energia e emissões de gases de efeito estufa (GEE). Nesse sentido, a requalificação energética dos edifícios existentes é crucial para alcançar metas climáticas globais. Este estudo adota um método para analisar os impactos ambientais de uma renovação arquitetônica, voltada para a eficiência energética, a partir da qual foi proposta uma estratégia abrangente de Otimização do desempenho da edificação que envolve a análise de suas características, dos seus sistemas de funcionamento, do comportamento dos usuários e das condições ambientais. O objetivo deste trabalho é identificar as melhores estratégias passivas para diminuir o consumo energético e a emissão de carbono, com menor investimento, mantendo-se o conforto térmico na fase de operação de um edifício público, na cidade de Goiânia. A pesquisa baseia-se em dados de consumo da fase operacional do edifício, para simular o modelo de estudo e, posteriormente, a Análise do Ciclo de Vida (ACV) para estimar o carbono incorporado e operacional nas estratégias propostas. Na simulação computacional buscou-se a melhoria no consumo energético, por intermédio de estratégias de alteração do envelope construtivo e adoção e aprimoramento de fontes renováveis de energia. A auditoria energética da edificação foi realizada e comparada à estimativa das novas situações. A análise do ciclo de vida (ACV) foi considerada para estimar as emissões de carbono incorporado e da fase operacional atual da edificação, sendo o concreto o maior emissor, com mais de 4 milhões de KgCO2eq por ano do edifício estudo de caso, baseado no orçamento da obra. Utilizando as ferramentas de simulação computacional pode-se obter uma redução do uso da energia elétrica da edificação em 51,30% em relação ao consumo atual com estratégias passivas, alterando-se a composição do envelope, aprimorando e ampliando a utilização de energia solar fotovoltaica na edifiicação e alterando o horário de funcionamento da edificação. O indicador de consumo médio de energia elétrica, em KWh, foi de 105 kWh/m2/ano. Adotando-se os melhores cenários do estudo, o carbono operacional relativo ao uso da energia elétrica da edificação passa de 67,97% para 51,47% gerando uma economia de cerca de 23 milhões de KgCO2eq de emissões de gases de efeito estufa, em 50 anos.

This study examines the socio-spatial segregation in Metropolitan São Paulo and Metropolitan Istanbul through the perspective of social competition, cooperation, territoriality and centrality phenomena and their mutual relationships with urban configuration. For this purpose, an integrated analytical framework combining statistical data analysis, geographic tools, machine learning algorithms and space syntax methodologies are utilized. In the first stage, various demographic and socio-economic indicators at the municipality scale are used to derive general profiles of the cases through Summary Statistics. Then, these profiles are detailed by determining the areas where demographic groups are concentrated with Location Quotient Analyses. After picturing the demographic structures, the social identity features and urban resources affecting group differentiation are determined by Random Forest Analysis. Additionally, the settlement patterns of these groups are visualized by overlapping the group data with the geographic information system files. Finally, Space Syntax measures such as network segment data and Normalized Angular Integration (NAIN) of the group areas are used to evaluate the mutual relationships between social groups and urban configurational features. Thus, the research aims to identify distinct social groups that settle in these metropolitan areas and compare the socio-spatial dynamics manifesting in segregation patterns.

Esta tese apresenta os acervos documental e material do Palácio Itamaraty de Brasília, sede do Ministério das Relações Exteriores, e investiga a tensão entre a utilização e a preservação desses conjuntos. Partindo do princípio de que grande parte do mobiliário moderno e histórico continua a ser utilizada no cotidiano, propõe-se compreender o Palácio como um espaço híbrido, no qual arquitetura, design e documentação se articulam de forma integrada. Fundamentada no trinômio Arquivo–Museu–Lugar de Representação, a pesquisa analisa como essa articulação pode fortalecer a preservação e a valorização do patrimônio institucional. O estudo organiza-se em torno de três eixos principais: a formação do acervo documental (com ênfase nos registros de arquitetura e design); a constituição do acervo material (móveis expostos ou em uso); e os desafios contemporâneos da conservação em contextos institucionais. A análise tem em conta os diversos valores atribuídos a documentos e objetos — documental, probatório, artístico, patrimonial, simbólico, entre outros — com base em autores como Schellenberg, Bellotto, Riegl e Susan Macdonald. A metodologia adotada é de base qualitativa, combinando pesquisa documental, levantamento fotográfico e revisão crítica da bibliografia especializada. Conclui-se que a formulação de diretrizes específicas para acervos em uso e a integração entre as dimensões arquitetônica, museológica e arquivística são fundamentais para garantir a integridade e continuidade do legado material e simbólico do Itamaraty.

Esta tese examina a relação entre criminalidade, medo do crime, caminhabilidade e forma urbana em bairros de Brasília e de Florianópolis, articulando dimensões ambientais, criminais e psicossociais em um modelo analítico interdisciplinar. Partindo do pressuposto de que o crime não se distribui aleatoriamente no espaço, mas segue padrões condicionados pela morfologia urbana, pelas práticas sociais e pelas percepções subjetivas de segurança, o trabalho busca compreender como o ambiente construído e as experiências cotidianas dos indivíduos interagem na produção da segurança ou da vulnerabilidade urbana. A pesquisa organiza-se em quatro estudos empíricos complementares. O primeiro investiga a configuração espacial de seis áreas de estudo em Brasília e Florianópolis, utilizando métricas da sintaxe espacial e dados espaciais do entorno do edifício. O segundo estudo analisa a espacialização de ocorrências criminais, identificando hotspots, padrões de concentração e a relação com características urbanas locais. O terceiro aplica um survey georreferenciado para captar percepções de medo do crime e de caminhabilidade, explorando como variáveis sociodemográficas (idade, gênero, tempo de residência) modulam essas percepções. O quarto integra os resultados anteriores por meio de modelagem de redes e regressão múltipla, identificando efeitos diretos, indiretos e interativos entre espaço, crime e percepção. Os resultados apontam que a conectividade urbana emerge como variável central, atuando como elo entre estrutura configuracional, ocorrências criminais e percepções de segurança. A análise de regressão reforça o peso de fatores como diversidade de usos, manutenção e imagem do espaço, que afetam a mobilidade ativa e a confiança dos moradores. Do ponto de vista teórico, a tese contribui ao propor uma abordagem integrada entre criminologia ambiental, urbanismo preventivo e psicologia ambiental, superando leituras fragmentadas. Do ponto de vista metodológico, inova ao combinar dados geoespaciais, registros criminais e percepções subjetivas, oferecendo um modelo replicável em outros contextos urbanos. Em síntese, a criminalidade urbana não pode ser entendida isoladamente, mas como produto de interações entre estrutura espacial, condições sociais e percepções individuais.

Assistiu-se em 2023 dois grandes terremotos: na Turquia e no Marrocos que enterraram milhares de vidas e devastaram cidades inteiras. A inexistência de desastres naturais no Brasil similares a estes conduz à duas percepções equivocadas: a crença generalizada que o país é assísmico e de que desastres são eventos que transcendem a vontade e o controle humano, portanto, pouco pode ser feito para evitá-los ou mitigá-los. Fato é que apenas no ano de 2022 foram registrados 398 eventos sísmicos no Brasil e, ilusório é crer que nunca um forte abalo sísmico atingirá sítios históricos no Brasil. Ademais, grande parte dos edifícios com significância cultural não foram construídos com técnicas e prescrições resistentes a terremotos. É fundamental compreender que o impacto de um único desastre sobre o patrimônio histórico supera, em grande proporção, a deterioração progressiva do bem e, por vezes, pode resultar no colapso total do bem. Embora o patrimônio desempenhe papel importante para a coesão social e desenvolvimento sustentável, raras pesquisas tem avaliado a vulnerabilidade sísmica de patrimônios históricos. De igual modo às usinas nucleares que obrigatoriamente são verificadas para nível mínimo de sismo, é necessário proceder a verificação para edificações com significância cultural pois a perda do patrimônio histórico em decorrência de desastres é tão catastrófica quanto. Este trabalho tem o objetivo de avaliar a vulnerabilidade sísmica de edificações com significância cultural de Brasília e seus respectivos níveis de segurança sísmico. Inicialmente foi definido seis edificações para estudo de caso: Palácio do Itamaraty, Palácio da Alvorada, Palácio da Justiça, Palácio do Supremo Tribunal Federal, Palácio do Planalto e Catedral Metropolitana de Brasília. Principiou-se com a coleta das plantas estruturais originais para modelagem tridimensional dos elementos estruturais que compõem estas edificações. Posto isto, aplicou-se o método japonês adaptado à realidade brasileira baseado nos quantitativos extraídos da modelagem paramétrica. Dentre as análises desenvolvidas, foi estudado o impacto de possível alteração da zona sísmica de Brasília na reserva de capacidade resistente dos Patrimônios. Concomitantemente, implementou-se o método japonês computacionalmente para otimizar as análises. Na segunda parte do trabalho adaptou-se o método japonês para modelo probabilístico mediante a consideração das incertezas por meio do sorteio de variáveis randômicas de resistência e solicitação. Nesta etapa efetuou-se análises de confiabilidade pela técnica de simulação de Monte Carlo para determinar o nível de segurança sísmica de cada estrutura. Optou-se aqui pela construção de dois cenários: possíveis e prováveis. O primeiro cenário buscou conhecer o nível de segurança sísmico de cada patrimônio em quaisquer acelerações sísmicas de projeto, classe de solo, fator de importância, configuração estrutural, deterioração da estrutura, já no segundo cenário (provável), restringe-se o sorteio das variáveis às condições de contorno de cada patrimônio histórico. Por fim, realizou-se análise de sensibilidade global para identificar a contribuição de cada variável na avaliação da vulnerabilidade sísmica por meio do Método de Morris.

A criação de Brasília, na década de ’60, foi caraterizada pela ruptura com a tradição da arquitetura em paralelo ao modernismo internacional, concebido com o objetivo de manifestar o otimismo de uma nova era através da arquitetura, a mais alta forma de expressão artística, fundamentou uma outra compreensão das qualidades espaciais, utilizando inovações tecnológicas e estruturais (MACDONALD, 2007). As arquiteturas de Brasília possuem muitas realizações importantes na área de engenharia das estruturas, sendo muitas delas originais e inovadoras para a época da execução. A Ponte do Braghetto, chamada de “O Grande Viaduto sobre o Lago de Brasília”, foi executada em 1960 pela SETAL Sociedade de Engenharia e Terraplenagem Alberto Ltda. com projeto do Prof. Aderson Moreira da Rocha, representava a introdução de algumas inovações técnicas importantes como protensão e o sistema construtivo de concreto armado protendido, sendo precursor de uma nova técnica destinada a revolucionar os conceitos de concreto protendido. O caso da Ponte do Braghetto representa um firme ponto de partida para as futuras operações de manutenção do patrimônio de capital brasileira. Cabe ressaltar que rever informações que sejam relevantes para preservação do patrimônio moderno, adotando aspectos do projeto inicial, a conservação, as intervenções ao longo do tempo que emplacaram na ampliação da capacidade da ponte com os reforços estruturais devidos, destinada para a realização de grande parte dos deslocamentos Sul-Norte e vice-versa, deve ser considerado uma das principais artérias viárias de Brasília tanto em termos de importância no que tange à estrutura urbana, quanto em termos de volume veicular.

O caso da Vila Amaury, intencionalmente pré-concebida na região onde em pouco tempo viria a ser o Lago Paranoá, nos instiga a refletir sobre o esquecimento de determinadas memórias em contraponto à persistência de outras. A narrativa oficial de Brasília celebra constantemente os seus títulos de cidade modernista, monumental, racional e planejada, como o ápice da solução para o caos urbano se buscava extirpar há mais de século. A Vila Amaury, por sua vez, se constitui como uma ocupação informal de candangos que se deu durante a construção da capital e que em pouco mais de um ano foi inundada pelo Lago Paranoá, por meio de uma política proposital. Apesar de ser um episódio conhecido, não se vê até então a inserção desta em um debate a respeito da disputa de memória da capital e da ideia de modernidade, com sua subjacente dualidade discursiva moderno-selvagem. Ao dar voz aos relatos orais daqueles que viveram na Vila Amaury, o trabalho busca não apenas reconstruir uma parte periférica da história, mas também questionar e problematizar as narrativas oficiais. Isso é crucial para uma compreensão mais polifônica do passado, colocando em um plano de maior importância às experiências urbanas de pessoas sistematicamente marginalizadas durante o processo de construção física e simbólica do território. A abordagem crítica da oralidade, memória e construção de uma história dita universal é fundamental para esse tipo de pesquisa, pois nos lembra que a história não é apenas sobre fatos objetivos, mas também sobre as experiências de pessoas comuns. Após conhecer o assentamento de dentro e de fora, buscamos, assim, questionar alguns pilares que sustentam a construção de uma narrativa oficial de Brasília e compreender como esses pilares contribuíram para o afogamento simbólico e concreto da Vila Amaury. Essa perspectiva mais ampla e inclusiva enriquece nossa compreensão do passado e nos ajuda a questionar as narrativas dominantes que muitas vezes excluem certas vozes e perspectivas.

A compreensão dos fatores que favorecem a degradação de viadutos é essencial para prolongar sua vida útil. Os viadutos estão expostos à condições climáticas adversas, assim como a agentes agressivos a mecanismos de deterioração que comprometem a funcionalidade de sua estrutura. Nesse cenário, a adoção de programas de manutenção e a aplicação de técnicas não destrutivas, como a termografia infravermelha, desempenham um papel fundamental na identificação de manifestações. Um ensaio não destrutivo (END’s), que são técnicas que inspecionam materiais ou equipamentos sem a necessidade de danificá-los. Podendo ser usados nas etapas de fabricação. Construção, montagem e manutenção (ADENDI,2015). No caso dos viadutos e pontes. Os END’S podem ser usados inclusive com as estruturas em pleno funcionamento. Além de garantir que manifestações patológicas possam ser detectadas em estágios iniciais (MEDEIROS.2010) ao realizar a medição da radiação infravermelha emitida pela superfície do material, através de uma câmera termográfica, produzindo uma imagem térmica visual (termograma). Com a capacidade de detecção de defeitos internos ocultos. Os termogramas possibilitam dois tipos de análise de superfície, sendo elas a quantitativa (avaliação dos dados de temperatura) e a qualitativa (visualização dos contrastes térmico). Estas duas análises são embasadas nos gradientes de temperatura superficiais (ou contraste térmico). Portanto, o presente trabalho é um estudo de caso que tem como objetivo avaliar a eficiência da termografia infravermelha na análise de manifestações patológicas em viadutos. Para tal fim, serão capturadas imagens termográficas de viadutos localizados na cidade de Brasília “Asa Sul e Asa Norte” seguidas por uma análise do comportamento térmico das anomalias identificadas.

Esta pesquisa tem por objetivo a análise do processo de planejamento de transportes adotado no Distrito Federal (DF), bem como a verificação da coerência entre os requisitos estabelecidos no plano urbano e as soluções especificadas no plano de transportes. Para tanto, foram examinados o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal (PDTU) e as diretrizes contidas no Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT). Orienta o estudo a seguinte questão: como favorecer a integração entre o Plano de Transporte e o Plano Urbano, fazendo com que as soluções de transporte se mantenham compatíveis com as diretrizes urbanas? Os aspectos teóricos e metodológicos que amparam a pesquisa na resposta ao problema apresentado estão divididos em quatro etapas: revisão bibliográfica e documental; construção de check list (instrumento de análise do processo de planejamento adotado no DF; estudo de caso contemplando a aplicação do check list e a verificação da coerência entre os planos; e a comprovação ou refutação das hipóteses. A partir do estudo de caso, foi possível identificar lacunas no processo de elaboração do PDTU, assim como evidenciar relações existentes entre o plano urbano e o plano de transportes. Conclui-se que a adoção de um modelo que integre as etapas de planejamento, traz recursos metodológicos que podem favorecer a efetividade das ações propostas no plano de transportes e tem o potencial de impactar significativamente sua integração com o plano urbano.

A arquitetura sempre teve uma ligação com a utopia, porém, vemos atualmente que alguns autores retratam que seria impossível tanto a utopia existir quanto a arquitetura buscar ser crítica. A arquitetura teria sido integrada totalmente ao capitalismo e por isso teria perdido qualquer poder de ser crítica e de participar do debate, de ter um papel social. Estaria fadada a ser somente um meio de reprodução ideológica. Esta pesquisa busca investigar tal premissa, se ela poderia estar incorreta, com uma visão de fim da história que não teria ocorrido. Para então, investigar como poderia haver atualmente uma arquitetura que busque ser algo além de apenas construção e tectônica, que busque questionar as premissas da realidade. Em busca de se conceituar e pautar a utopia, este trabalho buscou a partir do filósofo Ernst Bloch a compreensão de como seria uma utopia concreta, que busca o real e não ser apenas um plano ideal. Por meio da antropologia blochiana e de sua compreensão do processo da história, buscamos entender como poderíamos aplicar sua teoria para a arquitetura, em busca de uma arquitetura cheia de esperança, voltada para o amanhã. Após a investigação da utopia, analisamos a proposta de um realismo utópico feito na arquitetura, entendendo que a tarefa de um movimento que busque ser utópico e real seria demonstrar o caráter aurático da arquitetura, em servir como um meio de mascarar o real. Então, por meio da compreensão do conceito de aura, símbolo e alegoria em diversos autores, este trabalho buscou propor uma tese de como se fazer e pensar caminho possível para essa arquitetura contemporânea, não um plano totalmente decidido para não ser autoritário como os utopismos antigos, mas uma proposta que entende as idas e voltas da história, mas que resiste por meio de uma esperança militante visando uma arquitetura para o amanhã, uma arquitetura para o homem.

Esta pesquisa surge diante dos desafios ao planejamento urbano e à participação pública. Imediatamente ao redor das cidades estabelecem assentamentos informais marcados por diversos problemas, como: a falta de saneamento, drenagem ineficiente e abastecimento limitado de água potável. Pesquisas mostram que grupos minoritários e de baixa renda têm desproporcionalmente menos acesso a espaços verdes e infraestrutura verde. Esta é a situação de calamidade pública da Chácara Santa Luzia na Cidade Estrutural, além da irregularidade territorial da ocupação informal em Santa Luzia, a região estudada é ambientalmente complexa e frágil, está cercada por importantes áreas de preservação ambiental. Nesse sentido, as pesquisas com as crianças, em especial com as que se encontram em situação de risco e vulnerabilidade, são ferramentas de excelência, no sentido de construir com estes sujeitos competências de enfrentamento do risco a que estão expostos. Portanto, a partir dessa problemática, quais são as possíveis soluções no âmbito da arquitetura e urbanismo para a equidade de acesso à natureza? Quais são os possíveis métodos para incluir as crianças no planejamento urbano e nas infraestruturas urbanas verdes? Assim, este trabalho adota a Pesquisa-Ação como base metodológica facilitadora à participação dos habitantes por meio da geração de confiança, envolvimento e processos reflexivos-transformativos. O objetivo principal desta pesquisa é elaborar e sistematizar parâmetros para incluir a Infraestrutura Verde na cidade a partir da escuta ativa, do planejamento participativo e da compreensão das necessidades das crianças, em Santa Luzia, Distrito Federal. Partindo do princípio da participação cidadã na promoção de Soluções Baseadas na Natureza como ferramenta de transformação cotidiana e um caminho potencial para alcançar a emancipação social e o direito à cidade, além do bem-estar humano e a integridade dos ecossistemas. Além disso, busca-se: (i) compreender as limitações e potencialidades das Soluções baseadas na Natureza na cidade informal; (ii) analisar e estruturar o pensamento científico que promove a interação entre planejamento participativo, natureza e criança; (iii) compreender o papel emancipador das crianças na política urbana; e (iv) aplicar parâmetros (padrões) para implementação de uma infraestrutura verde no território vulnerável, tendo como estudo de caso as crianças do projeto Educamar em Santa Luzia, DF. Nesse contexto, é elaborado um conjunto de atividades possíveis para incluir a participação de crianças no processo de planejamento das Infraestruturas Verdes. Esse processo participativo foi aplicado com as crianças da instituição Educamar, em Santa Luzia. Como resultado, esta pesquisa: desenvolveu uma aproximação com as crianças, reveladas as principais problemáticas e potencialidades da área; catalogou metodologias de escuta ativa para crianças possíveis de serem utilizadas no planejamento de infraestruturas verdes; desenvolveu padrões que atendam às crianças em consonância com os princípios de design biofílico e infraestrutura verde e; forneceu uma linha de base teórica a respeito da infância, da natureza e do planejamento participativo. Para isso, esta dissertação foi organizada em quatro capítulos: (i) Abordagens Integradas para Infraestrutura Verde e Soluções Baseadas na Natureza na Promoção da Justiça Ambiental e do Bem-Estar das Crianças; (ii) Reconectando Crianças à Natureza; (iii) Territórios da Infância e; (iv) A co-criação como novo imperativo para a participação no planejamento das infraestruturas verdes: o caso de Santa Luzia.

Este estudo propôs um modelo de previsão da oferta de água de condensação de ar condicionado em regiões de clima quente e seco, visando facilitar o dimensionamento de sistemas prediais para aproveitamento desse recurso. Utilizando uma abordagem metodológica que incluiu revisão sistemática e revisão exploratória da literatura, bem como uma abordagem experimental de baixo custo, foi possível coletar dados climáticos e de volume de água condensada. O método experimental desenvolvido demonstrou eficácia na obtenção de dados em períodos de curto prazo, com flexibilidade de configurações e baixo custo. Os resultados indicam uma relação entre a temperatura externa e a produção de água de condensação, com implicações importantes para o dimensionamento de sistemas de ar condicionado em diferentes contextos climáticos. O modelo de previsão desenvolvido neste estudo oferece uma ferramenta prática e acessível para profissionais da construção civil.

A dissertação "Escutar Mulheres, Pensar Universidades e Cidades: Estudo de Caso de Método Participativo no Planejamento Espacial da UnB" propõe uma abordagem diferente ao planejamento urbano, centrada na participação ativa das mulheres. Fundamentada na teoria feminista, materialismo histórico, dados socioeconômicos e na semiótica topológica, a pesquisa explora como as mulheres, historicamente invisibilizadas nos processos de planejamento, podem atuar como agentes transformadoras do espaço universitário. Através do Questionário (in)Segurança das Mulheres no Campus Darcy Ribeiro, aplicado a 790 mulheres da comunidade da UnB, a dissertação busca compreender não apenas os problemas de segurança e mobilidade enfrentados, mas também como a participação ativa pode influenciar a criação de espaços mais inclusivos. O trabalho identifica desafios como má iluminação, insegurança em banheiros e falta de acessibilidade, que limitam a circulação e a sensação de segurança das mulheres no campus. Contudo, o foco está nas metodologias participativas desenvolvidas, que oferecem um novo modelo de planejamento urbano baseado no protagonismo das mulheres. As soluções propostas vão além das intervenções físicas no espaço, enfatizando a importância de incorporar as vozes femininas em todas as etapas do processo decisório. Ao destacar a centralidade da participação feminina, a dissertação oferece um caminho para transformar o campus em um ambiente mais seguro, equitativo e inclusivo.

Os campi universitários podem ser comparados a pequenas cidades, devido ao tamanho dos edifícios, ao grande número de usuários e à diversidade de funções que desempenham. Fatores diversos como, por exemplo, o tipo de ensino, a área de ocupação, envoltória da edificação, contribuem para uma elevada demanda energética das instituições de ensino superior. Assim, observa-se o potencial dos campi para atender às suas necessidades energéticas próprias, por meio da implementação de medidas de eficiência e de geração de energia renovável. Sob essa ótica, os Zero Energy Buildings (ZEB) são uma estratégia promissora para a otimização do consumo energético, uma vez que são edificações eficientes e geram sua própria energia, ao passo que asseguram boas condições de conforto para os usuários dos campi universitários. Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa consiste em determinar o impacto de diretrizes bioclimáticas para a obtenção de um ZEB, por meio de uma otimização multiobjetivo, a partir de um edifício educacional existente, em Brasília-DF. O método desse trabalho baseia-se em uma otimização cujos objetivos são minimizar as horas de desconforto e reduzir o gasto de energia com iluminação artificial, por meio de um sistema de automação. Nesse sentido, as simulações foram divididas em três etapas. A primeira desenvolve-se por meio de algoritimo evolutivo para encontrar as soluções ótimas de conforto térmico. A segunda faz novos processos de otimização, sem algoritimo. Essa etapa analisa o conforto visual das salas de aula e, ainda, inclui o uso de ar-condicionado, para suprir as horas em desconforto por calor e servir como parâmetro comparativo para o consumo de energia dos cenários ótimos. Por fim, promove-se a simulação da geração de energia fotovoltaica e a análise do balanço energético do cenário ótimo. Os resultados da pesquisa mostraram que a implementação de estratégias bioclimáticas associadas ao uso de máquinas de condicionamento de ar eficientes e à integração de recursos de automação para os sistemas de iluminação colaboraram para o avanço do desempenho da edificação. O cenário ótimo encontrado contribuiu para uma melhoria de 50% do percentual de horas de conforto anual e de 51% na demanda de energia, além de promover os níveis adequados de iluminância, sem ofuscamento. A combinação desses fatores conduziu o edifício em direção ao balanço energético nulo, com um uma possível extrapolação dos resultados para o campus.

O projeto arquitetônico é constituído por diversas interfaces que possuem bases teóricas, científicas, socioeconômicas, culturais e históricas (Ching, 2016). A qualidade do ambiente construído e o processo de construção são influenciados por uma série de fatores interdependentes. Procurou-se abordar as interfaces do projeto arquitetônico com seu respectivo ambiente construído. O estudo examina como as decisões do arquiteto em relação ao desempenho, especificamente nos aspectos acústico, lumínico e térmico, se manifestam no ambiente construído. Buscou-se validar a importância das simulações computacionais prévias para a execução de edifícios residenciais e de uso misto em Brasília, considerando a atual tipologia construtiva do Plano Piloto e as diretrizes de desempenho da norma 15575 (ABNT, 2013), comparando com dados obtidos in loco. Foram considerados os impactos dos códigos edilícios no desempenho térmico, lumínico e acústico das edificações, com a avaliação da efetividade da simulação computacional. Como abordagem metodológica considerou-se a simulação computacional fornecida pela empresa incorporadora com dados coletados através de medições in loco. Os resultados da pesquisa demonstraram a importância da simulação computacional como ferramenta de apoio ao projeto de edifícios, que prever e otimizar o desempenho térmico, lumínico e acústico das edificações. As simulações computacionais se mostraram eficazes na identificação de potenciais problemas de desempenho, como sobreaquecimento, iluminação inadequada e níveis de ruído excessivos, antes da execução da obra. A comparação entre os dados simulados e os dados medidos in loco evidenciou a acurácia das simulações e sua capacidade de representar o comportamento real das edificações. Pode-se observar que a face norte-oeste é considerada crítica, necessitando de estratégias adicionais de sombreamento, seja por ….. visando melhoria no desempenho dos ambientes construídos. Em relação à NBR 15575, verificou-se que os edifícios analisados atendem aos requisitos mínimos para os parâmetros de desempenho térmico, lumínico e acústico.

A dissertação explora a inter-relação entre neurociência e arquitetura escolar, enfatizando como o ambiente construído afeta o aprendizado, o bem-estar e o desenvolvimento cognitivo. Baseado no método hipotético-dedutivo, o estudo analisa espaços educacionais sob a ótica da neuroarquitetura, abordando categorias como qualidade ambiental do espaço escolar, inovação em design e neuroarquitetura. A pesquisa destaca a importância de ambientes escolares bem planejados, que integram saúde mental, interação social e eficiência pedagógica. O trabalho propõe a criação de uma ferramenta de certificação para avaliar o bem-estar nos espaços escolares, alinhando critérios de neuroarquitetura às demandas contemporâneas. Foram realizados estudos de caso nas escolas classe 308 sul e escola parque 307/308 sul, comparando aspectos de desempenho e design arquitetônico. A análise revelou conformidades parciais em critérios como flexibilidade, iluminação e conexão com a natureza, mas apontou desafios significativos, como ausência de acessibilidade universal e soluções sustentáveis. A pesquisa destaca a relevância de alinhar a preservação patrimonial à inovação arquitetônica, propondo soluções criativas que respeitem a história e atendam às demandas atuais. Critérios de inovação em design e neuroarquitetura foram utilizados para identificar lacunas e sugerir melhorias no espaço escolar, enquanto critérios de qualidade ambiental do espaço escolar foram utilizados para identificar se os espaços atendem a requisitos mínimos de desempenho com ambientes saudáveis, inclusivos e propícios ao aprendizado. A pesquisa conclui que o ambiente escolar transcende sua função pedagógica, desempenhando papel essencial na saúde, criatividade e interação social dos estudantes. Propostas como a adoção de texturas naturais, iluminação adaptável e estímulos sensoriais visam criar espaços educativos mais inclusivos, saudáveis e dinâmicos. Ao final, o trabalho apresenta uma ferramenta de certificação baseada na neuroarquitetura, contribuindo para o planejamento e avaliação de ambientes escolares que atendam às necessidades contemporâneas, alinhados às metas globais de desenvolvimento sustentável.

Para que a preservação do patrimônio urbano seja encarada como uma parte integrante das estratégias de desenvolvimento das cidades, é necessária uma compreensão dos valores inerentes a cada sítio em particular. Segundo a Recomendação da Paisagem Urbana Histórica (2011), HUL na sigla em inglês, o crescimento vem transformando a essência de muitas áreas urbanas históricas, ao mesmo tempo que a urbanização fornece desenvolvimento econômico, social e cultural, essas alterações também podem acabar por minar o senso de lugar e a identidade das comunidades locais. A qualidade do ambiente urbano se tornou uma preocupação local, nacional e mundial, já que as cidades serão o principal local de moradia da sociedade no século XXI. Ao passo que, o entendimento do que vem a ser preservação do patrimônio cultural passou por alterações ao longo dos séculos XIX e XX. As ampliações no campo da preservação vêm adotando uma abordagem mais abrangente, incluindo aspectos intangíveis/imateriais, contextos urbanos e entornos. Partindo-se do entendimento de que a área de entorno de proteção a um bem tombado estaria inserida nas camadas que compõem a paisagem urbana histórica de um determinado bem e considerando que com a ampliação do conceito de entorno estaria superada a apreciação de aspectos meramente físicos nas abordagens deste conceito, estabelecemos o seguinte questionamento principal deste trabalho: Como as novas abordagens trazidas pelas cartas patrimoniais sobre o conceito de entorno e pela UNESCO, abarcando o conceito de paisagem, podem auxiliar nas medidas de preservação e desenvolvimento urbano, trazendo procedimentos úteis para aplicação nos entornos de bens tombados? A partir deste questionamento se formulou a hipótese de que a adoção da abordagem do HUL como forma de salvaguarda das paisagens urbanas históricas poderia ser utilizada como ferramenta de gestão para além dos atributos principais do bem, também do seu entorno. Espera-se com esta problemática e hipótese, extrapolar a discussão sobre os conceitos de conjuntos históricos modernos e de entorno de bens tombados, abarcando também aqueles de paisagem e qualidade de vida.

O planejamento territorial enquanto estrutura, projeto síntese que acolhe a transdisciplinaridade, a multiescalaridade e multidimensionalidade representa as expectativas sociais organizadas em categorias, macrodimensões. Dentre essas destacam-se a compreensão do lugar e de sua dinâmica ecossistêmica, os princípios da sustentabilidade urbana, os valores e interpretações individuais e coletivas. Proporcionando a interface urbano turística a partir de sua compreensão fenomenológica, compatível com a abordagem sistêmica, complexa e com seus atributos. As interações presentes nos lugares, contribuem para sua transformação de forma processual, histórica e coadaptava onde, a diversificação cultural e paisagística interferem no equilíbrio ecossistêmico impactando os atores locais, os de seu entorno e os turistas, quando estes territórios são ocupados pelo turismo. Na microrregião da Chapada dos Veadeiros, nordeste Goiano, a intensificação do fluxo turístico, em função de sua diversificação paisagística e cultural, e, a atratividade do Parque Nacional afeta a dinâmica urbana e o bem estar da população afetada pela precarização dos serviços urbanos, ineficiência das políticas públicas e baixo acesso aos processos decisórios por parte dos grupos mais impactados pela presença de atratividade turística, como ocorre no Distrito de São Jorge em Alto Paraíso de Goiás. Este estudo, ao propor a síntese de processos coletivos de estruturação e articulação da morfologia do lugar, apresenta como objetivo geral elaborar e sistematizar parâmetros de planejamento territorial participativo para o ecossistema urbano-turístico a partir de práxis coletivas, buscando subsidiar os debates e democratizar o acesso à política urbana integrando as áreas de urbanismo, turismo e meio ambiente natural. Tendo, como espaço de vivência e validação teórico-metodológica a microescala de São Jorge, e suas interaçãoes com a mesoescala o município de Alto Paraíso de Goiás, e a macroescala da Chapada, sendo esta última espaço de articulação da oferta turística, integração ambiental, político-territorial, e socioeconômica a partir da força de trabalho, distribuição de riquezas, mobilidade e acessibilidade. Guiada pela pesquisa-ação adotou-se o acolhimento dos saberes e práxis locais a partir da aproximação com a metodologia de urbanismo participativo do Grupo de Pesquisa e Extensão Periférico Trabalhos Emergentes, inovando ao agregar o turismo ao urbanismo participativo (ANDRADE, et. al., 2019) e à tecnociência solidária (DAGNINO, 2019) a partir de sistematização e promoção da ecologia de saberes, da pluralidade e complexidade das interações sociais na construção e transformação de suas múltiplas realidades. Dentre as técnicas de investigação destacam-se: questionário de aproximação, entrevistas semiestruturadas, rodas de conversas, oficinas e encontros virtuais, potencializando recursividade e retroação na validação das etapas. A efetividade e materialidade da ação foi simbolizada pelo Plano Participativo para o Desenvolvimento do Turismo, idealizado a partir da demanda das associações, trabalhadores, e da superintendência local. Neste estão expressos os compromissos coletivos, diretrizes, cenários, propostas de interação no zoneamento do distrito, programas e projetos voltados à patrimonialização, qualificação profissional e da infraestrutura. A partir da interlocução transdisciplinar entre as agendas territoriais, a identificação dos atributos ecossistêmicos e, a elaboração dos princípios, critérios verificadores e indicadores e dos parâmetros de planejamento territoriais integrado a articulação Como resultado teórico metodológico estabeleceu-se a proposição de padrões/parâmetros pautados pelas demandas locais e globais a partir da identificação de categorias, conceitos, eixos norteadores, sínteses analíticas, e instrumentos de planejamento e suas correlações com as dimensões da sustentabilidade urbano-turística orientadas pelos indicadores de desenvolvimento e resiliên

Esta pesquisa parte do pressuposto de que é possível aprender com a cidade e sobre ela a partir da infância e do próprio território, tendo o espaço da escola como espaço da experimentação e do diálogo entre cidade e infância. Corroborando com a ideia de que “é partindo da infância que se constrói uma cidade para todos” (TONUCCI, 2016), acreditase que, ao incluir as crianças no processo de apreensão e construção das cidades, podese combater o “analfabetismo urbanístico” (MARICATO, 2002a) e fomentar a luta pelo “Direito à Cidade” (LEFEBVRE, 2001). O caminho para essa construção pode se dar a partir das escolas, em uma ação conjunta de fortalecimento e integração com a comunidade escolar, partindo de ações e construções participativas dentro da própria escola e se expandindo pelo território. Propõe que essas ações partam do entendimento das crianças como sujeitos políticos, sociais, participantes e produtores de cultura, visando uma ação concreta nos espaços escolares, tidos aqui como espaços de estudo e experimentação prática. Defende-se a pedagogia libertadora de Paulo Freire que encontra coro na perspectiva atualizada de bell hooks para a construção de comunidades de aprendizagem, como bases teóricas para fortalecer essas práticas de construção de uma educação para a consciência crítica. Além disso se ancora na perspectiva do Pensamento Complexo de Edgar Morin do conhecimento que religa os saberes reconectando-se com a solidariedade. O problema central busca compreender quais os caminhos metodológicos para a construção de um aprendizado sobre as cidades com as crianças dentro das escolas públicas, como parte do enfrentamento ao analfabetismo urbanístico. Dessa forma, o objetivo geral é oferecer contribuição teórica, empírica e metodológica para esse enfrentamento, construindo metodologias que tratem das cidades, da arquitetura e urbanismo e da participação social com as crianças no contexto escolar, trabalhando com elas a ideia de território e espaços educativos. Tendo uma escola na cidade de LavrasMG como campo de pesquisa, direciona o olhar para a realidade das cidades médias e para abordagem de outras escalas no planejamento urbano. Adota-se como método a pesquisa-ação, estruturada a partir da participação direta da pesquisadora em interação com outros atores (crianças), na produção de conhecimento sobre a interação entre cidade-educação-infância. Dessa forma, as crianças são participantes colaboradoras da pesquisa, sujeitos do seu próprio conhecimento. A metodologia se dá de forma cíclica, alternando momentos de ação, reflexão e novamente ação, de forma adaptada, de acordo com as experimentações, e com o contexto vivenciado na escola, e com base nas experiências do Grupo Periférico. Além disso, como procedimentos/instrumentos de pesquisa foram realizados: estudo bibliográfico; análise das teses e dissertações que versam sobre o objeto de pesquisa e pesquisa bibliográfica em periódicos; observação participante, com desenvolvimento de oficinas nos momentos de ação a partir de ferramentas e metodologias participativas existentes, adaptação e construção de outras. Como resultado, entende-se que foi possível construir com as crianças uma consciência coletiva e espacial a partir da sua participação e cooperação nos encontros. Além disso, observa-se que é possível explorar o papel do(a) arquiteto(a) e urbanista como educador(a) e a possibilidade de atuação nesse campo com a proposição da construção de uma licenciatura em arquitetura e urbanismo. Associadas ao desenvolvimento desta ideia, propõem-se a convergência de metodologias e ações que podem contribuir para a abertura de canais efetivos de participação das crianças no campo das políticas públicas, especialmente educacionais e urbanas - como a possibilidade de criação de um conselho das crianças.

Esta tese analisa o impacto das políticas públicas de habitação de interesse social, formuladas pelo Governo Federal e executadas pelas administrações municipais, na produção do espaço urbano em cidades pequenas, com foco nos investimentos do Programa Minha Casa Minha Vida - MCMV (2009- 2016). A pesquisa empírica se delimita às pequenas cidades do estado de Goiás. A hipótese central postula que os investimentos da política habitacional federal influenciaram o processo de produção do espaço urbano em cidades pequenas, comprometendo a qualidade do espaço produzido em relação às diretrizes estabelecidas no Estatuto das Cidades (2001). Diante disso, analisam-se as determinações estruturais e intencionalidades políticas e econômicas que se materializam na necessidade de produzir espaços urbanos e expandi-los em cidades pequenas. Para desenvolver essa análise, recorreu-se a uma pesquisa de natureza qualitativa, com duas dimensões de investigação: teórica-conceitual, baseada em pesquisa bibliográfica sobre cidades pequenas, políticas públicas de habitação de interesse social, planejamento urbano e espaço urbano; e documental-empírica, envolvendo análise documental de dados demográficos, econômicos, implementação de programas federais e investimentos públicos em escala macro e municipal. Adicionalmente, a pesquisa investigou os Planos Municipais de Habitação Social (PMHIS) de 31 cidades distribuídas nos três Territórios da Cidadania do estado de Goiás: Chapada dos Veadeiros, Vale do Paranã e Vale do Rio Vermelho. Além disso, foi realizada pesquisa empírica, incluindo visitas de campo, imagens aéreas e produção de mapas. A tese argumenta que os avanços políticos e institucionais das políticas habitacionais de interesse social, embora tenham amplificado o direito à moradia, contraditoriamente contribuíram para a produção de um espaço urbano desigual e fragmentado, em conformidade com as requisições da acumulação capitalista. Em síntese, a tese demonstra que os investimentos públicos recentes em habitação social provocaram e/ou intensificaram a crise urbana nas pequenas cidades, destacando fenômenos como segregação planejada, uso indevido do PMCMV por entidades, produção de grandes bairros monofuncionais pelo FAR e impactos negativos em municípios sem plano de habitação desenvolvido.

Estudar o zoneamento sob um viés abrangente, a segregação de usos e o ordenamento de diversas formas, para entender o que ele é, como ele pode ser usado na conjuntura do planejamento e gestão urbanos contemporâneos. A pesquisa histórica que permitiu  a análise crítica do instrumento em seu contexto econômico e social, e as abordagens ambiental e jurídicas encerraram um conjunto de olhares sobre o que se configura uma ontologia. O problema da prática do ensino do zoneamento no planejamento urbano contemporâneo, na hipermodernidade, em tempo das mudanças climáticas, agravamento da desigualdade social, pelo desiquilíbrio do  tripé da sustentabilidade. Tendo em vista ser este o instrumento do ordenamento que também levou a desordem, pela exclusão, há necessidade de avanço  frente aos desafios sociais e ambientais para um novo ordenamento na terceira modernidade, onde o acesso a informação é decisivo para o empoderamento da população, que conforme as teorias do novo serviço público, devem ser agentes de planejamento e gestão com a participação ativa nas políticas públicas. A metodologia envolveu pesquisas bibliográficas e propôs conexões para construir a narrativa da territorialização das políticas ambientais e sociais e econômicas que o zoneamento é capaz de influenciar. O ordenamento de necessidades a ser atendidas, no espaço urbano e privado, que são a materialidade das políticas públicas no território. Zonear é, desde o passado, a separação e segregação, também é regular, descriminar, criar linhas e áreas para planos e zonas especiais (ZEIS, OUC, reabilitação,  risco, proteção e outros). A proposta de simplificar o diagnóstico, pela proposição da matriz de análise territorial a partir do estado de conservação atual e proposto, e o que será transformado ou conservado, tem a intenção de explicitar a necessidade da melhor integração com as paisagens, proteção de biomas, e proposição de medidas para melhorar a resiliência climática e trazer mais justiça social.

O presente trabalho analisa e avalia o ensino-aprendizagem nas atividades de projeto a partir da aplicação de técnicas para desenvolvimento das habilidades da autoconsciência (HAuto). Compreende-se que a autoconsciência é um processo mental estável o suficiente para ser visto como uma expressão pessoal (FENIGSTEIN, SCHEIER, & BUSS, 1975). Sob esta abordagem é apresentada uma intervenção nas atividades de ensino-aprendizagem, em especial aos exercícios de projeto e nos momentos de desenvolvimento para elaboração de projeto de arquitetura e urbanismo com a utilização das habilidades da autoconsciência (HAuto), destacando três: o autoconhecimento, a Teoria de Mente (ToM) e a percepção visual. Esta pesquisa é de natureza qualitativa e comparativa, classificada como um quase-experimento, em que é utilizado a medida de testagem T conforme sugerido por Shadish, Cook e Campbell (2002) e em dois tempos T1 e T2, pré e pós teste (CRESWELL, 2010). Além de comparar o resultado entre dois grupos, um grupo experimental e o outro grupo de controle, através da Escala de Autoconsciência Revisada (EAC-R, Scheier & Carver, 1985), houve cruzamento dos dados em que foi utilizado a entrevista semiestruturada nas equipes de estudantes do grupo experimental e avaliação de professores externos sobre os projetos finais de ambos os grupos (experimental e de controle). Parte da premissa que investigar as atividades de projeto nas disciplinas tronco dos cursos de AU levanta questões acerca da amplificação e qualidade para a formação do estudante e para a capacitação do professor. Após a coleta e cruzamento dos dados concluiu-se que a EAC-R e a avaliação dos professores externos não possibilitaram verificar a hipótese, mas indicou a possibilidade de elaboração de uma escala de avaliação direcionada para estudantes de AU que estejam utilizando as HAuto em seus projetos. As análises da entrevista semiestruturada foram positivas o que sugere que as HAuto utilizadas no desenvolvimento de projeto de AU pode ampliar a formação dos estudantes e a capacitação dos professores de projeto de AU.

A presente tese, pensada como um espaço de experimentação histórico-cartográfico, foi desenvolvida através da articulação entre três eixos: [1] escrita da história, [2] montagem e [3] vila e Cidade Estrutural. Toda a coleta e análise de fontes primárias tiveram como foco a vila – uma pequena ocupação de catadoras que se desenvolveu próxima ao Lixão do Jóquei e cujos começos remontam a década de 1960 –, e a Cidade Estrutural – núcleo urbano do Distrito Federal cujos começos, por sua vez, localizam-se no final de 1994, com o início da ocupação da área onde hoje se encontra a Cidade do Automóvel. A proximidade entre as duas ocupações, bem como a sobreposição de seus territórios a partir de uma ação empreendida pelo governo de Cristovam Buarque, em 1996, fomentaram a construção e perpetuação de uma narrativa histórica que une, de forma inequívoca, o passado da pequena vila ao presente da Cidade Estrutural. Esta tese busca investigar, portanto, a historicidade dessas localidades e propor, a partir de um diálogo com variados tipos de fontes, modos múltiplos de dar a ver processos históricos e acontecimentos que tornaram possível, na dinâmica espacial do Distrito Federal, a emergência da Cidade Estrutural como território cognoscível. A busca por multiplicar os modos de dar a ver essas histórias constituiu-se a partir de um intenso trabalho de experimentação historiográfica; trabalho este que mobilizou variadas formas de escrita como a transcriação, a fotografia, a poesia e a cartografia deleuzo-guattariana. Aliada à questão da escrita está a montagem, compreendida aqui, como escreveu Georges DidiHuberman (2018), tanto como ensaio – no sentido da experimentação –, quanto como forma – no sentido do corpo específico a partir do qual a pesquisa se inscreve e se torna visível ao público. Por fim, esta tese se alia ao que Félix Guattari (2011) definiu como paradigma estético de implicações ético-políticas; estético no sentido de criatividade, de criação, e ético-políticas pelo compromisso que o processo criativo estabelece com a riqueza do possível e com a produção de multiplicidades.

A tese tem por objetivo analisar a movimentação habitacional da “elite”, de modo a identificar as características espaciais e sociais da cidade que dialogam com a mobilidade habitacional refletida no comportamento do mercado de imobiliário, observando critérios de composição, necessidades, preferências e características espaciais. O problema norteador localiza-se na dinâmica de ocupação do solo urbano, fruto da divisão de classes, que produz um assentamento estratificado e segregado. A partir da premissa de que a forma construída da cidade afeta seu desempenho, assume-se que: a) a localização e a acessibilidade perfazem elementos relevantes na valorização, distribuição e ocupação do solo; e b) o consumo deste ocorre motivado pelo lucro. O estudo, com base nos pressupostos acima, busca o entendimento da questão habitacional a partir do horizonte da elite, tendo como estudo de caso Goiânia/GO, cidade de grande porte com problemas urbanos e sociais semelhantes a diversos municípios brasileiros e considerada pela ONU como a capital mais desigual do país e a décima do mundo. A investigação está estruturada segundo as estratégias da Teoria da Lógica Social do Espaço (Sintaxe do Espaço), por meio do confronto de dados configuracionais e não-configuracionais, especialmente aqueles relacionados ao mercado imobiliário. É intenção responder três questões de pesquisa – 1) De que forma a configuração espacial contribui para o entendimento da movimentação da elite do centro para as franjas das cidades, e seu recente retorno para o centro expandido?; 2) Quais as principais demandas da elite quanto à ocupação da cidade em seus diferentes processos de movimentação?; e 3) Quais os principais atributos presentes nos novos empreendimentos (os “condomíniosclube”) que justificam ao consumidor imobiliário da elite a perda de espaço individual e o aumento da densidade? – vinculadas à seguinte hipótese: a permissividade da legislação e as condições de acessibilidade configuracional afetam o movimento da elite, que pode ser mapeado por meio do registro da carreira habitacional.

Esta pesquisa tem por pressuposto que o continuum rural-urbano é um meio para integrar os territórios rural e urbano no instrumento do Plano Diretor, por consequência, no planejamento territorial. Para tanto, a pesquisa tem por objetivo sistematizar parâmetros do continuum rural-urbano convergentes no zoneamento e parcelamento rural, agregados às normativas hoje existentes, criando ferramentas aplicáveis em políticas territoriais. Ao munícipio, o Estatuto da Cidade (Lei Federal n°10.257/2001) determina agir na totalidade territorial pelo espaço rural e urbano, com o Plano Diretor definindo a norma organizacional. Logo, os procedimentos do planejamento se concentrariam em cada território, tratariam das particularidades e, posteriormente, da integração. Entretanto, o rural é transformado em urbano, pressionado pela regularização fundiária de terras e pela dinâmica urbana expansionista do setor imobiliário e do parcelamento irregular e clandestino. Nesse âmbito, a integração rural-urbana requer uma intepretação prévia do conceito de território a ser inserido no Plano Diretor, partindo da intepretação de territorialidades e dos processos de territorialização-desterritorialização-reterritorialização (Saquet, 2017). Nas territorialidades, a heterogeneidade espacial (Andrade, 2014; Lovett et al., 2006) como ferramenta permite identificar as características quantificáveis do espaço por unidades específicas e manchas espaciais contínuas. Assim, os padrões (Alexander et al., 1977; Andrade, 2014) da configuração espacial são revelados com explícita clareza dos arranjos da forma espacial, seja urbana ou rural. O transecto ruralurbano (Duany; Falk, 2020) postula um método de transição da escala mais rural para a mais urbana, perpassando um continuum de zonas das distintas características ecológicas, habitacionais e agrárias. A pesquisa parte da realidade territorial do Distrito Federal (DF) com o estudo de caso da Serrinha do Paranoá/SHTQ, localizada na RA XIX Lago Norte. A regularização fundiária de terras é fato na região, dado que o governo afirma ser zona urbana, instrumentada pelo PDOT (Plano Diretor do DF) com Áreas de Regularização de Interesse Específico (ARINE). Em contraposição, a comunidade proclama pela regularização rural, dada a realidade ocupacional com núcleos rurais consolidados por chácaras de atividades agrícolas e preservação ambiental. O cenário demarca as ARINES sobre os núcleos rurais, com incerteza jurídica de permanência dos chacareiros no lugar. A pesquisa, por meio do mapeamento georreferenciado (software QGIS®), identificou que o rural é mais adequado aos riscos ambientais incidentes na região. Os resultados do mapeamento da heterogeneidade espacial sobre as ARINES demonstram que a região é ocupada por 517 frações rurais (397 frações menor que 1 hectare e 116 frações maior-igual a 1 hectares), configurando uma área rural de 586 hectares (110 hectares de frações menor que 1 hectare, 356 hectares em frações maior-igual a 1 hectare, e 120 hectares de vazio). Portanto a regularização fundiária se define em rural. A pesquisa também identificou três padrões espaciais da configuração rural: adensamento rural (frações maior-igual a 5ha e menor que 10ha); loteamento rural (vila/aldeia – frações maior-igual 1ha até 5ha); e subdivisões rurais unifamiliar (as frações menores que 1 hectare). Posteriormente, os padrões foram sistematizados nas três zonas do continuum rural-urbano no transecto rural-urbano. Para as zonas, a pesquisa estabeleceu alguns parâmetros atribuídos aos aspectos do zoneamento e parcelamento rural. Por esse constructo real, a pesquisa valida uma integração territorial rural-urbana no PD e no planejamento territorial, consolidando um Referencial Norteador de desenvolvimento para o Planejamento Territorial do Continuum Rural-Urbano na Serrinha do Paranoá/SHTQ.

A proposta deste doutorado é discutir a produção arquitetônica contemporânea da cidade de Brasília, com ênfase nas duas últimas décadas do século XXI. Par tal, elege-se as residências unifamiliares, tipologia que permite a inclusão de grupos de arquitetos destacados em periódicos especializados e concursos públicos de projeto a partir dos anos 2000. Partimos da hipótese de que essa geração contemporânea tenha aprendido com as referências dos profissionais modernos em Brasília, tendo a arquitetura moderna repercutido na produção contemporânea a partir de formas, modos de construir e outras relações possíveis. O objetivo da pesquisa é relacionar os projetos dessas duas gerações, em busca dos nexos entre eles, para assim compreender aproximações e rompimentos entre os dois tempos da arquitetura da capital federal. As residências dos dois períodos são problematizadas a partir de uma perspectiva morfológica, não se desprezando seus aspectos funcionais, sociais e simbólicos, que importam no entendimento de formas de morar próprias aos dois momentos da cidade, a Brasília Bossa Nova e a Brasília Contemporânea.

O vidro se tornou símbolo do progresso industrial e, portanto, uma inspiração para arquitetos e projetistas em todo o mundo – independentemente de suas condições climáticas. Fachadas envidraçadas no Brasil são usadas como solução econômica dominante em edifícios não residenciais. Desde 1980, novas tecnologias de vidros foram desenvolvidas como solução para mitigar esses problemas. Entre elas, o vidro eletrocrômico pode variar sua transmitância visível de 60% a 1%, tornando-se uma solução promissora. Portanto, o objetivo desta pesquisa é investigar o vidro eletrocrômico para as condições de iluminação, incluindo efeitos visuais e não visuais em modelo representativo de sala não residencial dentro do contexto climático brasileiro. Simulações computacionais usando Climate Studio e ALFA foram realizadas combinando 96 variações da sala não residencial em seis cidades/latitudes brasileiras (Manaus - 3° sul, Recife - 8° sul, Bom Jesus da Lapa - 13° sul, Brasília - 15° sul, Rio de Janeiro - 22° sul, e Santa Maria - 29° sul), considerando quatro orientações de janelas, e, quatro materiais de janela, incluindo os vidros eletrocrômico, claro, verde neutro e refletivo prata. Para avaliar o desempenho do vidro eletrocrômico, a análise estatística consistiu na categorização de 864 casos para efeitos visuais e 34.560 casos para efeitos não visuais. Resultados demonstraram que o vidro eletrocrômico mostrou boa conformidade com os critérios de autonomia de luz natural, particularmente na parte de trás da sala em relação ao vidro refletivo prata. Apesar de seus benefícios, o vidro eletrocrômico não evitou problemas de ofuscamento perto da janela, apresentando desempenho semelhante ao vidro neutro verde. Além disso, falta de luz circadiana foi detectada nas posições do meio e da parte de trás da sala para o vidro eletrocrômico, especialmente para a orientação norte em cinco das seis cidades, exceto Recife, e para o sul nas cidades de latitudes mais baixas. Nas orientações leste e oeste, problemas de falta de luz circadiana foram menos frequentes. Em relação ao espectro, distorções relacionadas à maior transmissão de luz azulada para o vidro eletrocrômico no estado escuro podem ser fonte de críticas de futuros usuários se tecnologias similares forem implementadas no Brasil. A principal contribuição deste estudo foi a previsão do desempenho do vidro eletrocrômico em relação aos efeitos visuais e não visuais da luz, indicando potencialidades, problemas e recomendações relacionados ao uso dessa tecnologia em latitudes brasileiras.

Esta tese possui como objetivo lançar luz sobre os processos de patrimonialização de Brasília, Tel Aviv e Le Havre de forma conjunta. A ausência de estudos comparativos entre essas cidades Patrimônio Mundial denota a importância de conduzir um olhar voltado aos problemas e potencialidades enfrentados por elas em seus respectivos processos de patrimonialização. O ponto de partida é a percepção de que os percursos de candidatura desses conjuntos urbanos à Lista do Patrimônio Mundial da Unesco possuem potencial para colaborar para a preservação de cidades modernas, não somente as já reconhecidas, mas, sobretudo, outras que venham a pleitear esse título. A documentação primária encontrada nos arquivos da Unesco e do Icomos, com subsídio de outros documentos atrelados aos arquivos locais, representa o aporte para o método da História Comparada, utilizado de forma a extrair as informações sobre os processos de patrimonialização. A tese parte das teorias e práticas que alicerçam a construção do patrimônio urbano moderno para, a seguir, da terra, da areia e dos escombros evidenciar as construções de Brasília, de Tel Aviv e de Le Havre. Na sequência, o texto passa ao processo de patrimonialização das cidades e, por fim, elencando condicionantes de comparação, apresenta conexões possíveis. A leitura comparativa dessas fontes de pesquisa colaborou para a percepção não apenas de como se constrói a candidatura de um bem, mas ainda sobre o trabalho dos organismos internacionais e de como diferentes narrativas são construídas até o reconhecimento de uma cidade moderna como Patrimônio Mundial.

A extração mineral no Brasil é responsável por parcela considerável do produto interno bruto (PIB) nacional. Este grande volume extrativo está diretamente relacionado com a quantidade de resíduo gerado ao final das plantas de produção. Soluções que visem a incorporação do rejeito depositado/descartado contribuem para minimizar o passivo ambiental gerado pela exploração mineral. O setor da construção civil tem sido grande aliado neste tipo de solução, ao passo que vários dos seus materiais e técnicas construtivas permitem o aproveitamento ou a incorporação de resíduos das mais diferentes cadeias produtivas. Dentre estas técnicas está o adobe, que consiste na conformação de solos plásticos, em um formato prismático, com posterior secagem ao ar para então ser utilizado nas edificações como componente de diferentes sistemas, como o de vedação, estrutural e até de cobertura. Dito isto, este trabalho buscou avaliar o desempenho de adobes produzidos com a adição de rejeito da mineração de cobre e ouro, depositado no município de Alto Horizonte, no estado de Goiás. Os adobes foram confeccionados com 0%, 20%, 40%, 60%, 80% e 100% de incorporação do rejeito à amostra de solo local. As unidades produzidas foram posteriormente submetidas a ensaios de compressão simples e de absorção de água por imersão, onde a mistura com 20% (em massa) de rejeito foi a que apresentou melhores resultados nos dois índices, mesmo que não tenha atingido o mínimo estabelecido pelas normativa brasileiras. Concluiu–se que a produção de adobes com a incorporação de rejeito da mineração em até 20% em massa, seguindo os critérios definidos na pesquisa, resultou em componentes com melhor desempenho à compressão simples e à absorção de água, quando comparados às unidades de controle, produzidas apenas com solo. No entanto, para que haja o atendimento aos requisitos mínimos de resistência é necessária uma maior adição de estabilizante, como o cimento ou a cal.

Esta dissertação aborda dois exemplos de projetos-padrão de creches construídos em Ceilândia e Sol Nascente / Pôr do Sol, regiões administrativas de Brasília. Elas resultam da implementação no Distrito Federal do Programa Nacional de Estruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância). Criado em 2007, este programa visava financiar e oferecer assistência técnica aos municípios, instâncias responsáveis pela educação das crianças entre 0 e 6 anos de idade. O Proinfância disponibiliza projetos-padrão de creches construídas em todo o país. A padronização de edifícios provoca uma pergunta por vezes incômoda a quem os projeta e constrói: como o projeto-padrão se relaciona com a cidade, o bairro e sua comunidade? O estudo dos exemplos mencionados objetiva colaborar para este debate. Metodologicamente, buscamos definir um entendimento para o termo projeto-padrão, a partir de revisão bibliográfica; em seguida, procedemos aos estudos de caso analisados em duas abordagens: a de sua implantação espacial, considerando a relação com a Região Administrativa, o terreno e a vizinhança; e a de sua apropriação, para qual empregamos a abordagem experiencial de Rheingantz et al. (2009).

A problemática territorial das comunidades quilombolas é trazida para a esfera atual com o desenvolvimento urbano neoliberal que vem ocorrendo com mais força desde a década de 1980 e com o desmantelamento dos Estados-nações que possui em suas formas de gestão, explorações de terras e expropriação de direitos, entre outros pontos. O rápido crescimento populacional, intensifica a reestruturação industrial, aumenta em níveis cada vez mais crescentes a polarização das classes sociais, precariedade no funcionamento de instituições públicas em geral, e que contribui para desencadear conflitos territoriais que afetam também reminiscências quilombolas.
Assim, este estudo pretende apontar para a necessidade da consideração da especificidade rural afrodescendente – afrorruralidade – dentro do contexto de desenvolvimento do planejamento territorial urbano, tentando fomentar a questão de como a Bem Viver e a identidade afrorrural podem dialogar com as políticas territoriais do Estado, pois, os órgãos dos governos federal, estadual e municipal, além de concessionárias de serviços públicos, na implementação de políticas urbanas voltadas para a melhoria, instrumentos de política territorial, como planos diretores, e estes necessitam estar atrelados à cosmovisão específica destas comunidades tradicionais alinhamento o planejamento urbano ao desenvolvimento e sustentabilidade econômica, ambiental e social destes povos e salvaguarda destes sítios.
E compreende-se através da problemática apresentada e da abordagem proposta que é necessário o alinhamento entre as bases legais que garantem a salvaguarda das reminiscências quilombolas, a caracterização e entendimento enquanto tecnologia social dos saberes tradicionais e as políticas públicas de planejamento urbano visando a preservação territorial e identitária desta população. E com base nestes aspectos este projeto pretende utilizar como estudo de caso o Quilombo Mesquita, comunidade localizada no município de Cidade Ocidental (GO), que foi Certificada como reminiscência quilombola pela Fundação Cultural Palmares em 2006, teve seu território delimitado pelo INCRA através do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação em 2011.

O objetivo da pesquisa é indicar como as empresas operadoras de transporte público por ônibus podem apropriar do valor gerado na cadeia do sistema de transporte público urbano por ônibus a fim de garantir o aumento na qualidade e no lucro da operação.

A presente dissertação trans[borda] saudade e ancestralidade e, por isso, não deixa de ser uma homenagem de Laíse para Luísa (prosopopeia de São Luís do Maranhão). João do Vale diz que “todo mundo canta sua terra”, então eu resolvi escrever sobre a minha. Uma arquiteta-artista, exercitando cada vez mais seu lado arquiteta-historiadora que propõe o “bordar a história urbana” de São Luís do Maranhão, especificamente nos séculos XIX e XX, como uma ferramenta de leitura citadina experimental que se circunscreve em um movimento pendular entre a “escrevivência” (termo cunhado por Conceição Evaristo que enlaça escrita e vivência) e uma dimensão conceitual-metodológica que denominamos de hipertextual, na medida em que o texto historiográfico está diretamente vinculado e equiparado a outro bloco de informações: o visual. Um plasmar temporal em que a espacialidade e a materialidade ludovicense, para além da traça colonial, são sistematizadas enquanto representação grafada e cartografada. Neste caso, apesar de repousar nas convenções técnico-normativas acadêmicas exigidas no âmbito do mestrado, a produção textual em questão busca uma construção dinâmica, permeável e não-linear, partindo da aglutinação e incorporação da visualidade, do gestual, da vivência, da afetividade, do imaginário e da sensorialidade na historiografia. Costuras entre arquitetura, arte, cidade e história engendradas em articulações visuais e bibliográficas. Mais que uma alusão à inventividade técnica e pujança simbólica do bordado presente nos objetos e indumentárias das manifestações culturais locais, bem como em outras referências conceituais e artísticas internacionais, o bordar se apresenta, aqui, como um vetor conceitual (enquanto linguagem gráfica e recurso visual cartográfico - texturização, linearidade, pontilhado, tracejado etc.) e metodológico (enquanto princípio de estruturação dissertativa e historiográfica). Uma forma de possibilitar ao viajante-leitor imprevisíveis travessias e múltiplas associações/acessos entre imagem e texto sob percursos “movediços” que acolhem “contaminações” e diálogos entre três campos disciplinares, a saber: arquitetura e urbanismo (morfologia; teoria; história e crítica urbana); artes visuais (poética contemporânea) e historiografia (história cultural e mentalidades). Uma aproximação fronteiriça entre arte e ciência que faz trans[bordar] a compartimentação e estanqueidade dos campos de conhecimento, vislumbrando delinear uma possibilidade interpretativa transdisciplinar em que experiência e a fruição são restabelecidas enquanto cerne das discussões do objeto cidade, para além do arquiteto.

O mercado da eficiência energética está experimentando um crescimento significativo, impulsionado pela necessidade de reduzir o consumo de energia em unidades consumidoras e pela crescente conscientização sobre questões ambientais. Esses projetos têm recebido amplo apoio técnico de profissionais do setor e da sociedade em geral, devido à sua relevância para a sustentabilidade e à possibilidade de integrá-los às tendências atuais em termos de concepção projetual. Para desenvolver esses projetos, são utilizadas metodologias prescritivas, com equacionamentos, e simulações por meio de ferramentas computacionais, com o objetivo de compreender a realidade do consumidor e propor ações eficientes que se adequem às suas necessidades específicas. No entanto, a implementação desses projetos enfrenta desafios, como restrições de tempo, altos custos de auditorias e consultorias, e a necessidade de conhecimentos técnicos especializados. Para garantir uma avaliação mais precisa e quantificar os benefícios obtidos com os projetos de eficiência energética, é necessário realizar verificações de desempenho e modelamento energético focados na sustentabilidade. O edifício Palácio do Desenvolvimento, localizado em Brasília, Distrito Federal, foi selecionado como caso de análise, e foram realizadas medições do consumo de energia, análises das características construtivas e de uso, validação dos dados da estação meteorológica, monitoramento climático e simulações para avaliar potenciais sugestões de ações de eficiência energética, que abrangem tanto aspectos tecnológicos quanto operacionais. Os resultados dessas análises proporcionaram informações valiosas para o desenvolvimento de estratégias eficientes e sustentáveis no contexto do edifício estudado. Eles demonstraram uma consistência significativa em relação aos parâmetros avaliados. Foi observado que as características construtivas adotadas no modelo de simulação proporcionaram resultados coerentes, refletindo adequadamente o desempenho energético do edifício em estudo. Além disso, os dados operacionais utilizados nos cálculos e na simulação mostraram-se adequados, o que contribuiu para uma análise precisa. A comparação entre os dados climáticos medidos na edificação e os dados climáticos nacionais demonstrou uma concordância satisfatória, validando a representatividade do ambiente local. Adicionalmente, os dados climáticos utilizados no simulador apresentaram um comportamento similar aos dados climáticos nacionais, o que aumenta a confiabilidade das simulações realizadas. Essa consistência e similaridade entre os resultados evidenciam a robustez das análises realizadas e reforçam a validade das conclusões obtidas a partir das simulações.

Esta pesquisa busca investigar sobre as características de obras construídos na cidade de Cuiabá, no estado de Mato Grosso, durante as décadas de 1930 e 1940 sob o governo autoritário de Getúlio Vargas no Brasil, sobretudo do período do Estado Novo (1937-1945). As construções analisadas são consideradas ilustrativas do período de transição entre a construção tradicional e as primeiras manifestações modernas, não necessariamente modernistas, em Cuiabá. Elas se expressam através de uma série de características variadas, observadas em edifícios institucionais construídos ao longo desses anos, com ênfase em aspectos das linguagens neoclássica modernizada, Art Déco e neocolonial. Além da análise das características dos edifícios, verifica-se também o papel da construção historiográfica da arquitetura brasileira, onde é constatado que a ênfase na produção do movimento moderno resultou em certa “invisibilização” de manifestações paralelas importantes que ocorreram expressivamente e numerosa, principalmente se tratando da arquitetura produzida fora dos grandes centros do país. Por fim, o trabalho procura entender as relações entre arquitetura e política neste contexto— sobretudo por se tratar de um período de governo autoritário no Brasil e também em um contexto pré e durante Segunda Guerra— e os resultados dessas dinâmicas na materialização do espaço e mudanças da paisagem que ocorreram a cidade de Cuiabá-MT, considerando também que essas obras levaram a introdução de novos materiais e técnicas construtivas no local.

A construção de edifícios é parcela relevante na emissão de gases de efeito estufa (GEE), mas carece de informações quanto às emissões de GEE embutidas dos processos e seus elementos construtivos. A pesquisa tem como objetivo geral analisar o impacto das mudanças climáticas em parques edificados por meio da metodologia ACV. Já seus objetivos específicos são (i) Levantar as ferramentas de apoio a ACV para o contexto brasileiro; (ii) Comparar a aplicabilidade de diferentes bancos de dados nacionais (iii) Sistematizar uma metodologia ACV para edifícios construídos. O método da pesquisa está organizado em seis etapas. Inicialmente, (i) determina-se a área de estudo como a etapa 01 do Setor Noroeste, no Distrito Federal, para em seguida (ii) determinar quais são as tipologias edilícias para a análise, que neste estudo são três tipologias com diferentes áreas de projeções de plantas (planta quadrada, 1.024m2; planta retangular, 1.000m2; e planta retangular 1.500m2) e posteriormente, é proposto o (iii) levantamento das características das tipologias, (iv) a extração e organização dos dados obtidos no levantamento, para (v) a realização da ACV das tipologias analisadas e, por fim, (vi) a interpretação dos resultados obtidos na ACV para comunicá-los. Como resultado, observou-se o desconhecimento e carência de informações sobre o impacto ambiental referente as mudanças climáticas aos edifícios construídos no contexto brasileiro a partir da avaliação de alguns planos de mitigação climática de cidades. Outro ponto observado, foi a existência de diferentes instrumentos de apoio à avaliação das emissões de GEE no setor da construção de edifícios no contexto brasileiro, porém ainda há uma plataforma única consolidada para o uso. A tipologia 1 (23 unidades) obteve como resultado da ACV o total de 2,65 kgCO2eq./m2.a, a tipologia 2 (51 unidades) obteve 3,13 kgCO2eq./m2.a e a tipologia 3 (11 unidades) obteve 4,08 kgCO2eq./m2.a, totalizando 265,46 kgCO2 eq./m2.a advindos dos edifícios residenciais da etapa 01 do Setor Noroeste-DF, considerando uma vida útil de 50 anos. Por fim, pondera-se que arquiteturas que considerem o uso de materiais com maior racionalidade podem indicar também edifícios com menor impacto ambiental quanto a emissão embutida de GEE.

As cidades brasileiras têm encontrado diversas dificuldades para oferecer à população espaços públicos de qualidade, aqui entendidos como aqueles que proporcionam experiências positivas no uso da cidade especialmente nas dimensões da mobilidade, no convívio social e na economia urbana. Embora a atribuição constitucional de executar a política de desenvolvimento urbano seja do município, os benefícios atrelados a espaços públicos de qualidade, também chamados de dinâmicos, motivam os diversos setores sociais a participarem para promovê-los. Para isso, existem instrumentos do direito urbanístico que propiciam a realização de projeto e gestão de espaços públicos com a participação de agentes públicos e privados. Dentre esses instrumentos, se destaca o parcelamento do solo, por onde se inicia a estruturação dos espaços públicos. Frente a essa problemática, o estudo teve como objetivo identificar diretrizes de projeto e de responsabilidades de gestão para tornar os parcelamentos do solo urbano promotores da qualidade espacial urbanística. Para tanto, exploraram-se o conceito de espaço público, suas funções, tipologias e o que define o dinamismo urbano bem como os instrumentos do direito urbanístico. São discutidos três aspectos principais: como a norma de parcelamento do solo pode promover a incorporação de diretrizes de projeto para o alcance das características urbanísticas que definem a qualidade espacial urbana; como pode promover melhorias à gestão espacial a partir de definições sobre a repartição de responsabilidades, e como o código de posturas pode se tornar o instrumento que concentra normas para projeto e gestão de espaços públicos em parceria entre os setores público e privado. Como método, abordou-se a dimensão do projeto construindo quadros com características urbanísticas e diretrizes de projeto urbano destacadas na literatura especializada como facilitadoras do dinamismo urbano. Na dimensão da gestão, também foram construídos quadros-síntese dos instrumentos do direito urbanístico associados às modalidades de ‘loteamentos de acesso controlado’ e de ‘condomínios de lotes’. Os achados são utilizados para avaliação do projeto do bairro 'Cidade Urbitá', a ser implantado em Brasília/DF/Brasil, quanto à suficiência de diretrizes para a promoção do dinamismo dos espaços públicos. Como contribuições, o trabalho propõe recomendações para o aprimoramento da regulamentação afeta ao parcelamento do solo com vistas a que promova a qualidade dos espaços públicos.

As ocupações ou assentamentos humanos, localizados em áreas periurbanas da América Latina, são locais com diversas potencialidades em termos de geografia e condições atmosféricas, mas ao mesmo tempo são cenários com diversos problemas, como a falta de verde urbano, a desigualdade socioterritorial e a injustiça socioambiental. Esta pesquisa estimula a reflexão sobre a importância socioambiental e socioecológica dos espaços abertos no contexto das periferias das capitais latino-americanas, especificamente na Ocupação Santa Luzia, em Brasília-DF, Brasil, e no assentamento humano Cerro Verde, em Lima, Peru. O objetivo desta pesquisa é a proposição de parâmetros ou padrões socioecológicos (ALEXANDER, et al, 1977) (ANDRADE, 2014) identificados por meio das Paisagens do Sul (VERÍSSIMO, et al, 2020), com o intuito de melhorar a qualidade de vida socioambiental dos habitantes que historicamente foram relegados e negligenciados pelo Estado. Por meio de uma perspectiva teórica que critica o atual sistema moderno, capitalista e patriarcal, justificada por sua capacidade de nos situar a partir de uma perspectiva adequada, diferente e crítica à perspectiva eurocêntrica e hegemônica dentro da área de arquitetura e urbanismo, especificamente da Arquitetura Paisagística, que inferioriza outros saberes e paisagens. Exaltar a participação popular e a auto-organização por meio do Ecofeminismo (SHIVA; MIES, 1993). Além disso, são observados criticamente o planejamento urbano, o paisagismo, o meio ambiente, o direito à cidade, o direito à qualidade ambiental, a justiça e o racismo ambiental, entre outras questões tangenciais necessárias para a compreensão do problema de pesquisa e dos estudos de caso e, portanto, para a conquista de cidades mais feministas, justas, saudáveis e solidárias.

Os países compartilham da mesma missão: a redução do consumo de energia e a busca por soluções para o desenvolvimento sustentável. Dentre os desafios desse caminho destaca-se a eficiência energética como solução para a transição energética e como alternativa mais econômica para atender a demanda de energia. No âmbito da eficiência energética pode-se considerar que para as unidades hospitalares ainda existem lacunas a serem preenchidas e áreas de pesquisa e estudos, principalmente voltados para planejamento e gestão das medidas de eficiência energética nessas unidades. Os hospitais possuem equipamentos característicos com potências mais elevadas do que os equipamentos normalmente encontrados nas edificações comerciais e residenciais, possuem operação contínua de funcionamento e características de operação especificas em determinadas áreas, por exemplo, a qualidade do ambiente em salas cirúrgicas. Em um estudo exploratório foi identificado que boa parte da literatura é voltada para soluções passivas, inserção da digitalização nos hospitais para controle e medição da energia e o levantamento de dados para desenvolvimento de benchmarking. No entanto torna-se fundamental obter ferramentas que auxiliem no planejamento e gestão das ações de eficiência energética nos hospitais. Neste sentido, a principal contribuição do presente trabalho é desenvolver a base de uma ferramenta em software para auxiliar os gestores e técnicos no planejamento e gestão da eficiência energética em hospitais.

Tão logo começou a construção de uma nova capital no Planalto Central, despertou-se um enorme interesse por Brasília, que resultou em uma abundante produção bibliográfica. Em meio à acirrada disputa política — envolvendo oposição e críticas, por um lado, e um laborioso contra-ataque a fim de legitimar a transferência da capital, por outro —, foram publicados diversos textos literários, dos mais variados gêneros, que ora corroboram os discursos mudancistas, ora reforçam as críticas ou ensejam novas investidas contra o projeto de mudança em curso. Esta dissertação toma esses textos literários como fonte de pesquisa histórica de Brasília, analisando de que maneira eles contribuíram para forjar um imaginário social da cidade, bem como examina as sensibilidades reveladas por eles, que por vezes outros documentos históricos deixam escapar, sobretudo aquelas relacionadas ao cotidiano da cidade em construção, que aparece representada sob distintas perspectivas e focos narrativos.

O presente trabalho aborda a irregularidade fundiária habitacional do Distrito Federal e objetiva avaliar a política distrital de regularização fundiária, com foco no recorte temporal iniciado com a aprovação do atual Plano Diretor de Ordenamento Territorial, Lei Complementar nº 803/2009. Antecedentes da construção da cidade apontam as influências do urbanismo modernista na expansão territorial e as origens do processo de valorização da terra. Sucessivos planos de uso do solo contrapõem-se à consolidação de assentamentos informais e demonstram como o crescimento da cidade real interferiu no planejamento formal, além de evidenciar tensões e disputas territoriais que persistem até os dias atuais. A política habitacional praticada no DF, caracterizada, por muitos anos, pela remoção de “invasões” e distribuição de lotes semiurbanizados, cede lugar à diretriz vigente que privilegia a permanência dos ocupantes e a qualificação de núcleos urbanos ilegalmente implantados. São apresentadas diferentes concepções de irregularidade e algumas linhas de ação baseadas nos dois paradigmas de regularização fundiária que se destacaram na América Latina: o peruano, centrado na regularização jurídica de lotes; e o brasileiro, alinhado a uma concepção de regularização fundiária plena. A partir desse contexto, a pesquisa chega à aprovação do atual instrumento de Regularização Fundiária Urbana – Reurb e observa em que medida a sua implementação tem atendido à demanda por regularização fundiária habitacional no Distrito Federal. A investigação se orienta por uma abordagem histórica e pressupõe o estudo das interfaces políticas, sociais, econômicas e culturais, adotando-se a pesquisa bibliográfica e documental como subsídio às reflexões. Realiza-se uma análise jurídico-urbanística da Reurb à luz do ordenamento jurídico nacional, nos termos da Lei nº 13.465/2017 e seus antecedentes, bem como sua aplicação e regulamentação em âmbito distrital. Com base na compilação e no cruzamento de dados oficiais, apresenta-se um panorama atualizado da irregularidade habitacional e dos processos de regularização fundiária a fim de demonstrar a expressividade das ações por regiões administrativas e de acordo com as modalidades do instrumento: interesse específico (Reurb-E) e interesse social (Reurb-S). Os estudos indicam a contribuição da Reurb para o enfrentamento da informalidade, embora apontem o maior avanço e finalização de processos de regularização fundiária de ocupações de média renda, em detrimento das faixas menos favorecidas.

O presente estudo buscou retratar as inequidades inerentes ao exercício profissional a partir das informações do 2º Censo do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), realizado em 2020, partindo da seguinte hipótese: quanto maior a sobreposição de marcadores de diferença de uma pessoa em relação a um referencial normativo (nas categorias gênero, raça e deficiência), maiores serão as suas vulnerabilidades ao longo da carreira. Quando o assunto é gênero, tendemos a falar de mulheres; quando é raça, pensamos nas pessoas não brancas; e quando falamos de corpos, temos um ideal de capacidade construído a partir da aptidão para um modelo de trabalho. Nessa pesquisa, foi adotada uma postura inversa: deslocar o olhar para o homem branco, cisgênero e sem deficiência, para demonstrar os seus privilégios em relação aos demais. As pessoas que se desviam desse padrão não foram marcadas e as suas interseccionalidades não foram hierarquizadas, tanto para simplificar a leitura dos dados quanto para viabilizar e induzir uma convergência de pautas. Conceituando categorias para depois suprimi-las, desagregando dados para reagregá-los, descontruindo um cânone sem a proposição de novas hierarquias, buscamos, a partir de uma narrativa errante, conduzir um exercício de provocações. Adentramos em aspectos como discurso, representatividade e comportamento, contextualizados em eixos estruturados a partir de um agrupamento crítico das perguntas do questionário: 1) identidade, 2) renda, 3) formação, 4) hábitos e insumos, 5) trabalho e 6) política.

Na conjuntura de insurgências urbanas globais travadas na última década, que demarcaram um ciclo de insurgências latino-americanas, houve uma explosão de Casas de Cultura e Ocupações Culturais nas periferias do Distrito Federal, protagonizadas por movimentos sociais e coletivos culturais, que posicionaram a Periferia no centro da questão urbana, formulando um projeto contra-hegemônico de cidade, elaborado a partir da potência inventiva e emancipatória de suas práticas, saberes e formas de gestão cotidianas, que têm apontando novos rumos e horizontes para um planejamento insurgente e popular. No entanto, há ainda um vazio teórico-metodológico no que diz respeito à conjuntura de explosão das insurgências periféricas deste período, que dificulta avaliar e compreender suas capacidades, demandas, reivindicações e analisar seus efeitos. Assim, esta pesquisa buscou cartografar as Ocupações Culturais e Casas de Cultura que surgiram nos territórios periféricos do DF a partir de 2010, de modo a sistematizar e compreender suas expressões socioculturais, formas de ação e resistência, pautas de luta, demandas, além de conflitos territoriais que as atravessam, com o objetivo de sistematizar diretrizes de planejamento para inserir as Ocupações no PDOT, a fim de contribuir nos seus processos de valorização, regularização e permanência. Para tanto, esta dissertação incorporou a metodologia da pesquisa-ação, que foi realizada em quatro fases – permeadas pela cartografia: (1) análise e avaliação dos instrumentos das políticas culturais e do PDOT/2009; (2) cartografia dos territórios (práticas, conflitos e demandas gerais); (3) Encontros de articulação nas Ocupações Culturais (levantamento dos problemas/demandas específicos); (4) diretrizes de planejamento para inserir as Ocupações no PDOT. Tal processo revelou como os coletivos e Ocupações Culturais vêm dando visibilidade pública às suas pautas e demandas comuns, que explicitam uma lacuna central do planejamento urbano no DF: a inexistência de instrumentos urbanísticos voltados à valorização, regularização e permanência de seus territórios, marcados pela condição de invisibilidade e ameaça permanente, legitimada pela aplicação seletiva da legislação urbanística. Assim, foram realizados seis Encontros que ocorreram mensalmente em diferentes Ocupações, onde grande parte das demandas giraram em torno do mapeamento, levantamento e sistematização de informações sobre estes territórios. Neste processo, a cartografia atuou como instrumento de mobilização social e incorporou parte das demandas levantadas, visando contribuir, instrumentalizar e potencializar a luta pelo direito à cidade dos coletivos. Por fim, visando incidir nas demandas levantadas e fomentar, fortalecer e valorizar as práticas socioculturais das Ocupações, aglutinadas nas seis frentes de ação que foram decodificadas nesta pesquisa, tais como: expressões artísticas e culturais; educação popular; saúde e autocuidado; redes de solidariedade; prática socioambiental; e economia popular/geração de renda; foram gerados cinco eixos temáticos de diretrizes de planejamento, que inserem e incorporam as Ocupações Culturais no PDOT, de modo intersetorial e transversal, nos variados aspectos que compõem e orientam o planejamento territorial, como: (1) Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo; (2) Desenvolvimento Econômico Sustentável; (3) Equipamentos comunitários e sociais; (4) Regularização Fundiária; e (6) Sistema de Informações. Tais diretrizes reconhecem as Ocupações Culturais como vetores de transformação socioespacial, inserindo-as como indutoras da política de desenvolvimento urbano, social, econômico e ambiental do Distrito Federal.

Existem elos perdidos entre a natureza e o homem que foram se construindo ao longo da história tornando as pessoas mais dominadoras do que parceiras da natureza (THOMAS, 1989). Nas cidades, observa-se a desconsideração de características ecológicas para localizar áreas verdes com prevalência das relações entre densidades e presença desses espaços que possuem ênfase na função de integração social (BEZERRA et al, 2016). Estas áreas são rotineiramente espaços decorativos e acessórios que pouco contribuem para a preservação do ecossistema e/ou prestação de serviços ambientais (SPIRN, 1995). Diante desse problema e identificada a lacuna na discussão de um sistema de áreas verdes urbanas (SAVU) de base ecológica, a pesquisa tem o objetivo estabelecer critérios de natureza ecossistêmica e urbanística para implantação de sistemas de áreas verdes urbanos, bem como instrumentos urbano-ambientais que favoreçam sua implantação e gestão. Fundamenta que a necessidade de renaturalizar as cidades encontra na ecologia da paisagem bases para definir os critérios que devem amparar os estudos de um SAVU ecológico tais como: conectividade, multiescalaridade multifuncionalidade, interdisciplinaridade, participação social, promoção de biodiversidade e permeabilidade. Estuda as bases normativas ambientais e urbanas de diversas cidades brasileiras, permitindo identificar as cidades com SAVU’s com algum grau de implementação (em especial São Paulo e Campinas), bem como instrumentos ambientais e urbanísticos que podem apoiar a implantação de um SAVU. Verifica por meio do método de métricas da paisagem os SAVU’s dessas cidades quanto a aplicabilidade dos critérios definidos e por fim, apresenta os procedimentos técnicos a serem realizados para a estruturação de um SAVU de base ecológica com potencial de prestação de serviços ecossistêmicos urbanos.

Esse trabalho propõe caminhos para uma Brasília sensível aos sons. Com o propósito de aprofundar o debate urbano-sonoro e suas implicações sociais, buscamos estudar a paisagem sonora noturna de Brasília, com recorte para o Plano Piloto. Uma paisagem sonora ao mesmo tempo única e tão comum às grandes metrópoles, na qual coexistem os diversos elementos, percepções e usos, às vezes conflitantes, como o descanso e a diversão noturna. O entendimento da relação entre som e espaço urbano, portanto, considerou tanto os aspectos objetivos (morfológicos, físicos, ambientais, acústicos) quanto os subjetivos (perceptivos, políticos e sociais), levando-se em conta tanto os aspectos materiais quanto aqueles que trazem uma importante carga da percepção dos sujeitos. O desenvolvimento do trabalho traz como justificativa o fato de que, apesar da ambiência sonora tranquila da cidade, o ruído noturno (proveniente de bares, restaurantes, casas noturnas e demais estabelecimentos que funcionam nesse período) é atualmente fator de relevante incômodo a uma parcela da população residente nas superquadras do Plano Piloto, verificado em registros de reclamações nos órgãos do GDF e em conflitos recorrentes entre moradores, donos e usuários de bares e produtores culturais. Tais embates decorrem, entre outros fatores, do crescimento das atividades de lazer noturno nas entrequadras comerciais e da proximidade e posição relativa entre estes e alguns blocos residenciais das superquadras. Tomamos como hipótese a ideia de que o planejamento urbano visto apenas em seus aspectos físicos e funcionais, como usualmente acontece, é incapaz de dar conta da resolução de conflitos sociais. Além disso, a morfologia da cidade traz aspectos configuracionais que influenciam diretamente o conforto dos usuários em relação aos elementos ambientais (sol/insolação, luz/iluminação, vento/ventilação e o som/acústica). Assim, o objetivo principal desta Tese de Doutorado é apontar caminhos para tornar possível e saudável a convivência entre lazer noturno e descanso no Plano Piloto de Brasília, propondo-se diretrizes e recomendações para um planejamento urbano sensível aos sons. Para atingir esse objetivo, buscamos também: Discutir o papel do equilíbrio ambiental e da vitalidade urbana para a qualidade de vida e o desenho urbano sustentável; Elencar os instrumentos legais e normativos que podem favorecer o planejamento urbano sensível aos sons; Compreender a Paisagem Sonora noturna da escala residencial do Plano Piloto de Brasília; Evidenciar as especificidades do processo de Projeto Acústico no espaço urbano, partindo do estudo do som e seus impactos na saúde e conforto humanos. Finalmente, apresentamos recomendações para o processo de projeto acústico da escala urbana à escala do ambiente, passando pelo edifício, visando criar espaços urbanos e arquitetônicos com maior conforto sonoro e que aliem a vitalidade urbana e o equilíbrio ambiental.

A preservação da arquitetura moderna expandiu-se internacionalmente na década de 1990, com protagonismo da organização Docomomo, privilegiando a concepção e o projeto de obras ligadas ao Movimento Moderno. Na década de 2000, formou-se outra visão sobre o tema, que culminou com a formação do Comitê Científico Internacional do Patrimônio do Século XX do Icomos, com interesses mais amplos, inclusive a história e a materialidade dos edifícios – posição consolidada na década passada, com o Documento de Madri-Nova Déli, de 2017. Define-se, assim, um estado da arte da preservação do patrimônio do século XX, que considera sua plena inserção no campo da preservação e lhe reconhece uma variedade de valores e de atributos de valor. A presente tese contribui para o para o avanço do debate e das práticas profissionais, ao analisar as possibilidades de atribuição e de preservação do valor de antiguidade de 32 edifícios brasileiros, construídos de 1901 a 1991, em nove unidades da federação. O valor de antiguidade é chave da Teoria dos valores concorrentes, desenvolvida por Alois Riegl em 1903, que segue como marco contemporâneo da reflexão disciplinar. A primeira parte da tese demonstra como o valor de antiguidade surge e se transforma no pensamento de Riegl, em relação com seus conceitos de atmosfera (Stimmung) e atenção (Aufmerksamkeit), partindo da ênfase no tempo natural e chegando à ênfase na continuidade humana, e se manifestando por meio do envelhecimento, da obsolescência e das alterações nos edifícios. Os casos da segunda parte da tese exploram os desdobramentos empíricos dos três atributos citados, identificando valor de antiguidade relevante e passível de preservação em numerosos exemplos. O valor de antiguidade associado ao envelhecimento varia conforme o material de construção, o elemento arquitetônico em que é empregado e o edifício em que se insere; pode se manifestar em materiais modernos ou tradicionais, frágeis ou resistentes; pode estar em acordo ou em conflito com as intenções de projeto; e pode se formar em peças produzidas em série, as tornando únicas. O valor de antiguidade associado à obsolescência pode se manifestar nos padrões ultrapassados, nas formas antiquadas e nos usos perdidos dos edifícios; nessa variedade, ambiguidade e fricção entre tempos e constituem fonte de interesse para o público. O valor de antiguidade associado às alterações se manifesta menos frequentemente do que os demais, enquanto complexidade ou contradição formais visíveis, e seu reconhecimento depende da sensibilidade para essas características. Por fim, a preservação desse valor é favorecida pelo reconhecimento dos edifícios, dentro e fora das instituições de patrimônio, antes e depois do tombamento; e por uma cultura de preservação que reconheça relevância em sua materialidade e sua história.

Diante da incontestável finitude das matérias-primas básicas para a indústria da construção civil e da problemática ocasionada pelo aquecimento global, a incorporação da sustentabilidade em seus componentes auxilia e fornece informações para análise e seleção de materiais. No contexto da sustentabilidade das edificações, o processo de seleção de materiais desponta, atualmente, como uma premissa necessária para a sustentabilidade do ambiente construído. Nesta tese, partiu-se da premissa que propor um ambiente construído sustentável implica, principalmente, em uma articulação mais próxima dos materiais, baseando-se em exigências preestabelecidas, em coerência com novas demandas tecnológicas. Nesse contexto, o propósito principal da pesquisa foi desenvolver uma metodologia para auxiliar a seleção e desenvolvimento de materiais à luz da sustentabilidade, prático e acessível ao conhecimento teórico das partes interessadas. A estrutura metodológica tem como cerne o Pensamento do Ciclo de Vida (PCV), no qual são mensurados e avaliados indicadores de sustentabilidade como quantidade de emissões poluentes e energia incorporada. O objetivo da metodologia é fornecer uma ferramenta prática para análise do desempenho ambiental de materiais construtivos. O escopo metodológico não consiste em determinar se o material construtivo é sustentável ou não, e sim o quanto este material pode vir a ser sustentável. A metodologia para avaliação do desempenho ambiental de materiais construtivos, denominada Metodologia (ADAMC): identifica, direciona, avalia e apresenta melhorias ambientais, considerando indicadores de sustentabilidade preestabelecidos. A Metodologia estabelece o (Ida) índice de desempenho ambiental, e, propõe uma escala gráfica, para determinar o nível da performance ambiental que varia de 0% a 100%. A metodologia ADAMC classifica a performance ambiental em: muito baixa, baixa, média, alta e avançada. Sua estrutura é constituída por 7 etapas sequenciais e interdependentes entre si, e foi concebida com o propósito de buscar oportunidades de melhorias ambientais no componente ou material da construção civil. Como material de estudo, foi adotado o bloco de pavimento intertravado de concreto para a aplicação da metodologia. A proposta de melhorias ambientais no bloco de pavimento, apresentou uma redução de 51,29% ou cerca de 9,48 kgCO₂/m², para as emissões poluentes CO₂ e uma redução de 27,98% de energia incorporada (EI), ou cerca de 31,26 MJ/m².

Não existe um consenso que o termo resiliência tenha a mesma origem. No Brasil acreditase que a palavra se originou das ciências exatas. O vocábulo resiliência tem ascendência na palavra latina resílio, resilire, que significa "recuar". O termo é muito utilizado nas ciências humanas e na psicologia. Nas publicações de psicologia é que a referência à resiliência passou a ser utilizada. O conceito foi desenvolvido e introduzido em pesquisas científicas ecológicas por Holling, na década de 1970, associado aos ecossistemas. Holling apresentou o termo como uma medida de habilidade dos sistemas de absorver mudanças e perturbações sem perder os laços entre seus elementos constituintes. Depois de amplamente utilizado nas áreas de psicologia e ecologia, passou a ser empregado em matérias relativa a desastres e gestão organizacional das cidades. No entanto esse conceito foi ampliado e hoje, quando se fala em resiliência urbana, ou resiliência na mobilidade urbana, o conceito pode ser definido como a capacidade de um sistema de manter a sua funcionalidade sob interrupções, tempo e recursos necessários para restaurar o nível de desempenho após interrupções. Os pesquisadores tem uma aquiescência que a cidade, por ser uma entidade dinâmica, não é considerada apenas um sistema ecológico, mas um sistema social, portanto um sistema dinâmico e socioecológico, pois ela passa por processos constante de mudança e adaptação. Para que uma cidade possa manter sua dinâmica, seu sistema de mobilidade tem de estar funcionando de forma muito equilibrada. Vários são os sistemas que compõem a mobilidade urbana, dentre eles destaca-se o sistema viário, que, de forma simples, é o conjunto de ruas e avenidas de uma cidade. O sistema viário é um dos mais importantes e necessários elementos que integram o espaço urbano. Estudar e avaliar o sistema viário de uma cidade a partir do conceito de resiliência é entender como, mesmo quando parte do viário principal está interrompido, a cidade consegue manter a sua circulação por meio de outras vias, mesmo que elas não apresentem as mesmas características, mas a cidade consiga manter seu funcionamento. Esta tese tem o precípuo fim de compor um arcabouço teórico sobre resiliência, mobilidade urbana e sistema viário, e apoiada em ferramentas de análise espacial, propiciar procedimentos de maneira metodológica que, em qualquer interrupção no viário de uma cidade, os procedimentos aqui descritos possam servir de auxílio na realização de intervenções e desvios no viário que poderão manter os deslocamentos de forma resiliente sem grandes prejuízos ao funcionamento da cidade. Avaliar a resiliência no sistema viário é um instrumento de suporte ao planejamento que permite que a cidade continue funcionando mesmo quando parte de seu sistema viário principal está interrompido.

A realização de ações integradas de políticas públicas para Arranjos Produtivos Locais (APLs) é uma das estratégias do Governo Federal do Brasil para a promoção do desenvolvimento regional. No entanto, o contexto de instabilidade econômica do mercado atual constitui entrave ao desenvolvimento dessa política. Esse contexto de incertezas abrange problemas sociais e ambientais que não são resolvidos com soluções tradicionais, exigindo que as aglomerações produtivas sejam sustentáveis e menos vulneráveis aos riscos característicos das constantes transformações para tornarem-se mais competitivas no mercado. Diante disso, o problema proposto nesta pesquisa é como consolidar uma aglomeração produtiva, tornando-a mais competitiva no mercado. Um dos aspectos significativos para que ocorra a consolidação do aglomerado produtivo e, respectivamente, o aumento da competitividade é a adoção de processo de tomada de decisões, ou seja, governança. A governança é um dispositivo que articula a coordenação de ações entre atores diversos, acomodando interesses conflitantes para a realização de ações cooperativas. Por isso, a hipótese adotada nesta pesquisa é que a consolidação de uma aglomeração produtiva é resultado de uma estratégia que inclua ações de governança coorporativa de aglomerados produtivos, inclusive composta pela gestão de clusters. Essa estratégia é o meio para garantir maior aproveitamento do potencial das aglomerações, para além da vantagem geográfica. Para tanto, estabeleceu-se como objetivo desta pesquisa o desenho de uma estrutura de governança corporativa para aglomerados produtivos (EGCAP), que inclua ações de governança de aglomerados produtivos, composta também por recursos de gestão de cluster e que busque a consolidação desse aglomerado. A estrutura tem como base os elementos coletados na literatura, aliada a aplicação do método denominado Processo do Produto Enxuto (Lean Product Process), criado por Dan Olsen (2015), para ajuste dessa estrutura como produto/serviço ao mercado. Uma das etapas desse processo é o teste de MVP que foi realizado a partir de entrevistas com empresários de aglomerados produtivos de Aparecida de Goiânia, em Goiás. Como resultado, observou-se a aderência dos empresários à proposta da EGCAP, bem como, a necessidade de desenvolver uma cultura de coletividade, a urgência de problemas relacionados a falta de mão de obra e alto turn over e a importância de uma governança para pensar de forma estratégica para aproveitamento do potencial do aglomerado.

O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), em suas várias modalidades e em 11 anos (2009 a 2020), envolveu grandes números de produção e de recursos disponibilizados. Dessa forma, apontou para a possibilidade de o país mobilizar, em prazo relativamente curto, recursos e estrutura produtiva capazes de enfrentar o seu grave problema habitacional. No entanto, o que foi implementado tem sido objeto de inúmeras críticas em relação à localização dos empreendimentos, à qualidade dos projetos, ao pouco que teria havido de melhoria para as cidades e para os beneficiários diretos das intervenções. De tais críticas, tem sido relativamente poupado seu subprograma Entidades, mas que, em termos quantitativos, representa pequena parcela do PMCMV. Inclusive, sendo esse fato um dos motivos das críticas ao programa. Este trabalho insere-se no campo de pesquisas sobre as políticas para habitação social e busca dialogar com a literatura que aborda a problemática relacionada a essa questão, sobretudo com aquela que aborda a autogestão. Consiste em um estudo sobre o PMCMV, focado em seu subprograma Entidades (PMCMV-E), que foi aquele em que houve maior possibilidade de se buscar a implementação de processos de trabalho e projetos com características que se diferenciam dos padrões que têm predominado, na produção de habitação social com recursos públicos no país. Especificamente em relação ao PMCMV-E, estuda: a sua relevância relativa ao conjunto do PMCMV, o quadro de avanços e também de limitações, os seus potenciais e desafios que o trabalho propõe problematizar com o termo “encruzilhadas”. Colocando como questões de investigação: o estágio atual do subprograma frente às propostas originais relacionadas à produção da moradia por autogestão; as dificuldades, os limites próprios aos programas com gestão por entidades; os embaraços colocados pelo regramento específico do PMCMV e as estratégias adotadas pelas entidades para contorná-los; os incentivos que o Estado poderia dar para que o subprograma fosse ampliado e para que ganhasse maior agilidade, eficiência/eficácia; as razões estruturais e conjunturais para a escala limitada. Para explorar essas questões adotou-se um conjunto de procedimentos e métodos: o estudo da bibliografia relacionada a habitação, da que discute as questões teóricas e empíricas dos programas de autogestão, da que trata do PMCMV de forma geral e do Entidades de forma específica; estudo dos normativos do PMCMV, de relatórios do Ministério das Cidades e da Caixa Econômica Federal; entrevistas com atores protagonistas na implantação do programa, tais como coordenadores de entidades, integrantes de assessorias técnicas às entidades, etc.; e análise de projetos, fotografias e imagens aéreas de empreendimentos e de sua localização nas cidades; e visitas a obras selecionadas por critérios de interesse analítico da pesquisa. Dentre os resultados obtidos, o principal é um mapeamento e discussão dos aspectos estruturais apontados como positivos e negativos do subprograma, à luz da literatura crítica, e um levantamento de propostas elaboradas para ajustes que poderia sofrer, no sentido de aperfeiçoar procedimentos, ampliar a abrangência do subprograma, etc.. Dessa forma, a pesquisa pretende contribuir para o aprofundamento da reflexão e conhecimento crítico das políticas e práxis da autogestão habitacional como política pública de Estado.

O processo atual do cálculo da depreciação de imóveis é estabelecido em função de variáveis, como o estado de conservação e a vida útil dos sistemas ou materiais construtivos, sem analisar a efetiva degradação, desempenho ou obsolescência destes componentes. Inspeções simples, com equipe de técnicos devidamente treinados, podem coletar dados sobre estado de conservação e tempo de uso, importantes para investimento e preservação de ativos residenciais, comerciais, institucionais, industriais, patrimônios históricos e, até mesmo, obras de arte. Além do baixo custo de implantação, esse tipo de inspeção é amplamente difundido em vários centros de pesquisa pelo mundo, inclusive em regiões de difícil acesso às tecnologias ou sensores para controle. Esta pesquisa propõe duas metas: a primeira é o modelo numérico para o cálculo do desempenho em seus diversos níveis, com base no valor da degradação obtida durante a inspeção predial; a segunda meta, o processo de certificação com a contribuição deste modelo no ciclo de vida do empreendimento para auxiliar no processo de gestão do ambiente construído. Antes dessas metas, entretanto, é necessário apresentar o ciclo de vida do ambiente construído e a associação existente entre o desempenho e a degradação, a obsolescência e a depreciação. A perspectiva é atentar para a possibilidade justificada de preservação de empreendimentos residenciais, comerciais, institucionais, industriais, patrimônios históricos, obras de arte e, desse modo, estabelecer uma linha sustentável na indústria da construção civil. Aprofundando o conhecimento sobre o estado de conservação do bem e de seu tempo de uso para a captação de investimento, o processo proposto nesta pesquisa permite que toda a cadeia de decisão sobre a degradação, obsolescência, desempenho e depreciação seja analisada passo a passo, quer seja de sistemas construtivos isolados ou empreendimentos de forma global.

O patrimônio industrial tem tido considerável interesse no Brasil, inclusive na sua relação com a paisagem, em seus variados aspectos e abordagens. Isso decorre dos processos de desindustrialização ou reestruturação econômica que resultaram em testemunhos variados, em geral abandonados ou esquecidos e cuja proteção no campo do patrimônio cultural tem se mostrado lenta e conflituosa frente a sua vulnerabilidade diante das pressões políticas e econômicas para reocupação das áreas com novos empreendimentos. Assim, considerando os dilemas e desafios da preservação de legados industriais na atualidade, esta tese propõe a análise da paisagem, a partir do legado material industrial e de infraestrutura do município de Cubatão-SP, como forma de contribuir para o debate sobre o enfrentamento das possibilidades de preservação e reconhecimento de paisagens de caráter industrial. Em Cubatão, a formação do patrimônio industrial se insere nos fatores de sua localização como importante conector entre o porto de Santos e uma hinterlândia mais abrangente, bem como da formação de um polo industrial a partir de 1950. No entanto, ao mesmo tempo em que esses fatores permitiram uma concentração de testemunhos industriais de valor cultural, também implicaram em uma forte pressão relacionada às ampliações e modernizações do Porto de Santos, das vias de transporte e do próprio polo, com a destruição contínua de marcos importantes da industrialização da região e, o apagamento de locais e memórias relacionadas ao processo industrial. Somado a esses fatores, as questões ambientais que estigmatizaram Cubatão como “Vale da Morte”, levou a uma narrativa focada na destruição ambiental, dificultando uma identificação dos moradores com a paisagem quando relacionada à indústria. Portanto, realizamos uma análise do processo industrial da região bem como da construção da narrativa ambiental decorrente; procedemos ao levantamento do legado material industrial e, da percepção que esse legado possui na sua relação com a paisagem, em geral focada na natureza e, em uma percepção imaginativa, do que se quer ver, e também em memórias afetivas. Verificou-se que os desafios da preservação de testemunhos industriais na região extrapolam questões locais e se colocam em escala territorial, onde novas condições de valorização ou de preservação podem ser consideradas, tanto para os testemunhos ativos, quanto para aqueles abandonados ou esquecidos a partir do reconhecimento das distintas paisagens que ali se relacionam ou são decorrentes do processo de industrialização regional, porém ainda não compreendidas na perspectiva cultural ou no campo do patrimônio cultural.

Este trabalho consiste em uma pesquisa sobre os processos de ocupação e transformação do território do Distrito Federal, localizado na Região Centro-Oeste do Brasil. O foco é deslocado do centro principal, conhecido como Plano Piloto de Brasília, e concentrado na Região Administrativa de Taguatinga (RA III), fundada em 1958, dois anos antes da inauguração da nova capital. Inicialmente criada como uma cidade-satélite, situada a oeste do limite do cinturão verde estabelecido para proteger a área central, Taguatinga se desenvolveu como um núcleo secundário, geográfica e simbolicamente como periferia. No entanto, a pesquisa toma como ponto de partida indícios da relevância dessa região administrativa na configuração do território e na presença de forças atratoras significativas, apresentando uma possibilidade alternativa de análise, para além do papel periférico e preterido daquilo que se entende como Brasília. O objetivo do estudo foi analisar as ações e processos que levaram à formação e ao crescimento de Taguatinga dentro da região oeste do Distrito Federal, bem como sua relação com as localidades adjacentes. Também buscou identificar elementos-chave de sua materialidade que pudessem servir como base para a compreensão de sua configuração espacial atual. Para isso, realizou-se uma revisão bibliográfica abrangendo as temáticas gerais relacionadas à pesquisa, com foco na história da urbanização e do planejamento de Taguatinga e do Distrito Federal, o que se apresenta ao longo de três capítulos. Soma-se a ela a produção de mapas que demonstram a ocupação do território ao longo do tempo. Foram consultadas fontes primárias e secundárias, como projetos, planejamentos e
registros oficiais relacionados à cidade, bem como plantas cadastrais, mapas, documentos fornecidos pela Administração da RA e reportagens da Revista Brasília, além de fotografias que auxiliaram na identificação das presenças, ausências e transformações do espaço e de seus elementos ao longo dos anos. Entre as principais conclusões, destaca-se que, apesar de o Plano Piloto ter desempenhado o papel de cidade-mãe e configurar a centralidade principal, ao longo do tempo, Taguatinga se estabeleceu como um segundo polo de crescimento da metrópole. A partir dela, formou-se uma extensa área urbana que hoje abriga a maior parte da população do Distrito Federal. Taguatinga também se tornou uma segunda centralidade devido à sua localização espacial e ao processo histórico de crescimento em relação às aglomerações ao seu redor, além da concentração de atividades comerciais e de serviços, que atraem a população de toda a região.

Esta tese relaciona os conceitos de segregação urbana, segregação socioespacial e segregação escolar pelo viés do lugar das escolas públicas na paisagem urbana. Neste estudo, utilizamos Brasília como estudo de caso, discutindo a atual dinâmica das unidades de vizinhança, princípio urbanístico largamente aplicado às cidades-satélites da capital federal, visando investigar como os mecanismos de espoliação e reserva de localização atuam na segregação socioespacial. A pesquisa examina criticamente o papel da escola pública na paisagem urbana e o modo como as escolhas projetuais urbanísticas relacionadas ao paradigma da Unidade de Vizinhança afetam as relações entre cidade, bairro, vizinhança e escola. Para tanto, recorremos a uma metodologia mista, qualitativa e quantitativa, combinando: análise histórica das unidades de vizinhança do Plano Piloto, bem como sua influência no posicionamento de equipamentos públicos de ensino em outros bairros da cidade – Ceilândia, Sudoeste e Águas Claras; além de um mapeamento do fluxo diário de alunos da rede pública de ensino de Brasília, por meio da análise do cadastro de matrículas da rede pública de ensino do Distrito Federal. Objetivou-se construir uma cartográfica com imagens legíveis do espaço que facilitem a articulação das abordagens quantitativas e qualitativas dos efeitos da segregação, uma estratégia de pesquisa e de análise pouco recorrente entre os estudos que tratam da temática. O estudo demonstra que as unidades de vizinhança funcionam como planejando em comunidades periféricas, enquanto em bairros de maior renda a centralidade da escola se dissolve, pois, essas populações optam preferencialmente por escolas privadas. Ademais, existem famílias dos bairros periféricos que reconhecem o efeito vizinhança em suas unidades de vizinhança, e criam mecanismos para transpor as barreiras e acessar escolas onde os mecanismos institucionais são menos nocivos. Mesmo sendo essas estratégias onerosas em termos de gasto de tempo, pois impõem às crianças percorrer rotineiramente longas distâncias. Os resultados encontrados reforçam a tese de que a segregação urbana é um processo espaço-temporal complexo e que a análise desse fenômeno por perspectivas não tradicionais, como a análise histórica dos mecanismos de produção do espaço e a leitura das alterações da dinâmica da cidade pelo fluxo diário de pessoas até a escola, pode contribuir com a construção de estudos urbanos e do pensamento sobre a segregação urbana.

A comunidade internacional enfrenta uma ampla variedade de desafios devido ao crescimento rápido e desenfreado da urbanização global desde a segunda metade do século XX. Como resultado, a demanda por cidades mais sustentáveis se desenvolveu nas últimas décadas, e "agendas urbanas" internacionais surgiram no processo de políticas públicas para mitigar os efeitos negativos desse desenvolvimento. No entanto, as estratégias fundamentais para a implementação e o monitoramento do desenvolvimento urbano diferem significativamente em contextos locais distintos. No norte global, onde a maioria das agendas é desenvolvida, as ferramentas de implementação e gerenciamento normalmente propostas podem ser adequadas. No entanto, as economias emergentes do sul global geralmente enfrentam desafios na implementação de estratégias semelhantes, especialmente na identificação de indicadores adequados e na aquisição de dados de monitoramento confiáveis. Para combater esse problema, esta tese tem como objetivo criar um espectro de indicadores contextualmente apropriado para as comunidades do sul global e propor estratégias de desenvolvimento para apoiar as cidades e os municípios na avaliação da eficácia das agendas urbanas internacionais. A metodologia consiste em uma análise e avaliação crítica de instrumentos de documentos doutrinários não vinculantes para implementação, seguida de um processo de seleção para determinar indicadores viáveis e eficazes para avaliar e medir o desenvolvimento urbano sustentável. O espectro de indicadores-piloto derivado abrange quatro setores distintos (energia, resíduos sólidos, transporte e água). O espectro é avaliado por meio da realização de uma pesquisa global, entrevistando especialistas municipais internacionais de cidades em desenvolvimento e municípios do sul global. Em seguida, é realizada uma aplicação experimental do espectro de indicadores. Os resultados revelaram uma falta de ferramentas eficazes de governança local, preparação e gerenciamento nos países em desenvolvimento. Isso indica a necessidade de novos conjuntos de indicadores projetados especificamente para o hemisfério sul, embora um conjunto de indicadores comuns do "sul" só possa ser parcialmente determinado. Portanto, a tese recomenda o uso de uma abordagem modular e adaptativa para novos conjuntos de indicadores, refletindo três níveis de desenvolvimento urbano e uma combinação abrangente de até sete indicadores por setor. Essa abordagem adaptativa permite que as prefeituras locais e as organizações regionais do hemisfério sul comparem dados de antes, durante e depois da implementação das agendas urbanas locais para auxiliar na elaboração de políticas no local. Ela também facilitaria a comparação de municípios do sul em diferentes níveis de desenvolvimento com agendas urbanas semelhantes, que podem querer colaborar para identificar as melhores práticas em conjunto ou competir por financiamento internacional.

As ideias dos desenhos e os sonhos são representações imagéticas que surgem na psique individual com o propósito de apresentar os desígnios e a interioridade mais profunda do ser. Assim, partindo da premissa que as ideias dos desenhos e os sonhos possuem origens similares na psique e compartilham características, este estudo procura desenvolver um processo de interpretação de croquis a partir de uma releitura do método de interpretação dos sonhos de Freud, a fim de contribuir para a crítica de desenhos de arquitetura, por vezes obras de arte, e leitura dos desígnios implícitos a estes desenhos capazes de se conectar com o observador. A pesquisa será conduzida de tal maneira que seja 1) identificado a finalidade do desenho, enquanto instrumento de criação e, por vezes, obra de arte, 2) explicado o surgimento da ideia na psique dos arquitetos de acordo com a perspectiva psicanalítica freudiana, a fim de compreender como a ideia do desenho surge na psique dos arquitetos, 3) exposto o paralelo entre sonhos, conteúdo onírico manifesto e conteúdo onírico latente, de acordo com as teorias de Freud, e ideias dos desenhos, croqui e a latência do croqui em arquitetura, respectivamente e, 4) aplicado de maneira prática o processo de interpretação de croquis de arquitetura, a fim de buscar os desígnios intrínsecos ao desenho. Para isso, foram escolhidos os desenhos para a Casa de praia e a Igreja do Espírito Santo do Cerrado de Lina Bo Bardi, e os desenhos para a Residência Henrique Xavier e a Catedral de Brasília de Oscar Niemeyer. Dos achados, podemos ressaltar a capacidade que o desenho tem de revelar seus desígnios por meio da ideia do desenho e dos significados de seus riscos, e ser capaz de transformar o ser e o espaço, agindo como um objeto de criação artística transformadora.

O presente trabalho tem como objetivo auxiliar na gestão e tomadas de decisões gerenciais no âmbito da conservação de patrimônios arquitetônicos, em especial ao patrimônio de Brasília ou mesmo de outros bens imóveis a partir de adaptação de metodologias de inspeção. A metodologia empregada consiste na adaptação do método da NBR 16747, Norma IBAPE, Método GUT, Norma Holandesa, MAEC e GADH, a se obter o estado de conservação dos sistemas e subsistemas, por conseguinte o estado geral das edificações. Para isto, tomou-se como amostra duas edificações das superquadras no Plano Piloto de Brasília, marco da arquitetura e urbanismo moderno. Com o estudo, verificaram-se as particularidades e necessidades de ajustes das metodologias, onde a não utilização do parâmetro de extensão para classificação das anomalias resultava na exacerbação do estado de conservação, mesmo que o sistema ainda apresente desempenho e utilidade. Concluiu-se a importância da elaboração do diagnóstico do estado de conservação das edificações como instrumento de apoio na gestão patrimonial, com a finalidade de instruir a gestão de uso, operação e manutenção da edificação, com os resultados obtidos, é possível identificar o estado de conservação dos componentes da edificação e seu estado global, o uso destas informações auxiliam os gestores do imóvel na tomada de decisões quanto à prioridade para aplicação de recursos na manutenção preventiva ou corretiva dos sistemas.

O presente trabalho tem como objetivo apresentar adaptação ao modelo de Ross-Heidecke utilizado para cálculo de depreciação de edificações, incluindo o coeficiente de obsolescência. A partir da revisão bibliográfica sobre as metodologias usuais para cálculo de depreciação e a importância da conservação do patrimônio moderno, serão abordados as principais definições e tipos de obsolescência e qual o seu risco para os sistemas construtivos. A metodologia proposta consiste na integração do coeficiente de obsolescência no cálculo da depreciação de edificações, além da adaptação do coeficiente de conservação a partir da parametrização da norma holandesa de inspeção predial realizada por Martinatti (2021) e quanto segregação da avaliação através de divisão por sistemas, atribuindo a cada um a idade real, vida útil e ponderação conforme apresentado por Braga (2015).  Tomou-se como amostra duas edificações residenciais típicas da superquadra 108 Sul de Brasília, marco da arquitetura e urbanismo moderno e considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Com o estudo, concluiu-se que a inclusão do coeficiente de obsolescência para determinação da depreciação de edificações se faz fundamental, uma vez que auxilia para o desenvolvimento de uma avaliação mais precisa, resultando na diminuição de subjetividade. 

A Revolução Industrial proporcionou mecanização e simplificação dos processos que levaram ao aumento da produção para atender à demanda populacional e ao crescimento rápido e desordenado das cidades. O preço da expansão urbana foi a intensa e crescente extração de recursos naturais e adequação de infraestruturas para atender os novos arranjos socioespaciais. A economia circular surgiu como alternativa de substituir o modelo linear de produção e consumo. Incluída nos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, apresenta grande potencial para manter a integridade do meio ambiente. Repensa os fluxos de recursos - como água, energia e, principalmente, resíduos urbanos -, substituindo o conceito de fim de vida com restauração e regeneração em toda cadeia de valor. A falta de consenso sobre o que seja uma cidade circular e a necessidade de descobrir como e o porquê da utilização dessa abordagem, tornou-se a base de investigação exploratória. Este trabalho tem como objetivo compreender e identificar maneiras para facilitar a implementação de economia circular, investigando sua estrutura, parte interessada (stakeholders), processos e estratégias, a partir da análise bibliométrica e revisão sistemática da literatura. Dessa forma, espera-se contribuir com diretrizes para conduzir gestores públicos e demais interessados a fomentar ações circulares aplicadas ao espaço urbano, reduzindo desperdícios, além de identificar lacunas na literatura existente e, consequente, oportunidades para futuras pesquisas.

O projeto expográfico apresenta-se como um campo fronteiriço entre a arquitetura e a arte, mediado pela curadoria, determinado pelo espaço dado, e finalmente confrontado pelo espectador. Cabe ao arquiteto a concepção e estímulo a um passeio, o caminho que por fim é particular a cada observador. Este estímulo é determinado pela edificação que recebe a exposição e é pontuado com surpresas, marcações simbólicas, perspectivas e conceitos curatoriais que conduzem e provocam o olhar. O estudo pretende compreender como o projeto expográficoprovoca o espectador, define ambiências e contribui para a forma como ele vai entrar em contato com a curadoria e com as obras. Como estudo de caso farei um relato de minha experiência profissional à frente do projeto expográfico do Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea que foi realizado em 2015, 2016 e 2018, cujos acervos foram inteiramente renovados a cada edição, reunindo artistas do DF e entorno, e realizada por diferentes grupos de curadores ao longo dos anos. Abordaremos a terceira e última edição, montada na galeria Acervo da Caixa Cultural Brasília, por esta oferecer variados elementos de análise, tais como número reduzido de artistas permitindo a inclusão de mais obras por artistas e sobretudo pelos critérios que nortearam a expografia, baseados na materialidade dos trabalhos expostos e em sua discursividade, para além das inerentes características espaciais geradas por cada obra.

Um ambiente hospitalar, além de oferecer a assistência de saúde, deve apresentar uma organização arquitetônica que promova o conforto aos usuários e que seja eficiente energeticamente. Nesse contexto, esta dissertação avaliou o desempenho térmico e energético da sala de observação do projeto referência de UPA ventilada naturalmente, em três contextos climáticos do Brasil (quenteseco, quente-úmido e subtropical). O estudo cumpriu as seguintes etapas: revisão de bibliografia, normas e legislações arquitetônicas específicas; caracterização e análise do objeto de estudo; determinação das cidades de Brasília, Salvador e Florianópolis, que caracterizam os climas supracitados; e, por fim, execução, em duas fases, de simulações termoenergéticas com auxílio do programa DesignBuilder. Na primeira fase simulações analisou-se o percentual de horas em conforto térmico (POC), em função do índice de temperatura neutra (Tn) e o número de renovações de ar por hora (ACH), para definir a orientação de implantação do projetoreferência mais apropriada à obtenção dessas renovações. A segunda parte avaliou-se, ainda, os ganhos térmicos da envoltória e a demanda de energia elétrica da sala de observação em sua forma básica (caso-base) e em cenários com diferentes propostas para a envoltória (cobertura e sombreamento). Os resultados apontaram que, no contexto climático de Brasília e Florianópolis, a sala de observação ventilada naturalmente com as intervenções arquitetônicas sugeridas neste trabalho alcançou índices satisfatórios de POC, ACH e eficiência energética. Entretanto, para Salvador, apenas o ACH foi satisfatório.

Este trabalho apresenta a empresa Coimbra Bueno e Cia. Ltda, juntamente de seus fundadores, os irmãos Jeronymo Coimbra Bueno e Abelardo Coimbra Bueno, por uma ótica que ultrapassa o até então narrado ponto de vista sobre ambos a partir da criação da capital Goiânia, Goiás. Desvenda sua forma de atuação através de duas cidades novas, Luiziânia, no interior paulista, e Rubiataba, no interior goiano. Faz uma análise comparativa entre os planos urbanísticos das duas cidades e as histórias de sua fundação. E ainda discorre sobre os contextos político e social vigentes nas décadas de 1930 e 1940 (crise de 1929, governo Vargas, Marcha para o Oeste, construção de novas estradas), que contribuíram desde a formação acadêmica dos irmãos até a parceria e influência das ações do Estado na empresa e nos caminhos por ambos traçados até o final da década de 1940. A pesquisa foi realizada mediante muitas fontes primárias e se apresenta como um recorte inicial que abre caminho para outras pesquisas da historiografia urbana brasileira.

Nos últimos 20 anos, são notáveis as reverberações das demandas coletivas do movimento LGBTQIA+ no município de Florianópolis, como a criação de conselhos e planos de políticas públicas voltadas a esta população. Estas iniciativas, quando efetivadas, são capitaneadas sob um marketing urbano governamental LGBTQIA+-friendly, focadas nas ideias de “Pink Money” e “Pink Market”, cujo efeito perverso é deslocar as pessoas que lutaram por essas pautas em primeiro lugar, que são os setores mais subalternizados dentro da comunidade LGBTQIA+. Utilizando de certas metodologias, principalmente cartográficas e historiográficas, busco traçar o arco da formação da espacialidade LGBTQIA+ em Florianópolis, desde a formação de uma comunidade organizada até a consolidação destas pautas identitárias em programas e políticas públicas. A partir desta visão cartográfico-historiográfica, busco tentar entender como a efetivação destas políticas ou são incompletas, ou quando concretizadas acabam por comercializar estes espaços identitários, exacerbando processos de gentrificação e desigualdade urbana através de intersecções de gênero, raça e classe dentro da própria comunidade LGBTQIA+.

Este trabalho discute e analisa três projetos da arquiteta japonesa Kazuyo Sejima. O objetivo é apreender a influência de aspectos culturais, socioeconômicos e geográficos do Japão em sua obra, sobretudo em fins do século XX e início do século XXI. Recorreremos à trajetória da arquiteta para melhor compreendermos sua percepção de mundo, que reverbera em sua produção arquitetônica e a destaca como uma profissional expoente da contemporaneidade. Para isso, exploraremos a característica central em sua obra: a relação entre espaços públicos e privados. Focalizamos os projetos habitacionais: a Casa das Ameixeiras (2004), em que nos voltaremos para aspectos construtivos da casa, partindo de uma releitura da casa tradicional japonesa para um contexto atual; o complexo habitacional Gifu Kitagata (2000), para entendermos melhor o agenciamento de um espaço difuso, recorrente em sua obra; e, por fim, o Dormitório para Mulheres Saishunkan Seiyaku (1991), que repercute transformações no estilo de vida urbano no país. Trata-se de estudo temático, e não cronológico, para refletir sobre Sejima como arquiteta que projeta para o presente, sintonizada com as expressões em circulação no contexto em que se situa.

Diante da crise de abastecimento de água, entre os anos de 2016 e 2018 e do elevado consumo de água em Brasília, concentrado em habitações unifamiliares, renda alta, e multifamiliares, renda média-alta, apresentou-se uma oportunidade mercadológica para a introdução dos sistemas de água não potáveis como um instrumento tecnológico de gestão ambiental urbana que estimula a sustentabilidade, a qualidade e a eficiência no uso da água no ambiente urbano construído. Assim, esta pesquisa tem como objetivos verificar os custos e benefícios envolvidos no emprego de sistemas prediais de água não potável em edificações do Distrito Federal; examinar o arcabouço legal aplicável à implementação de políticas públicas voltadas ao incentivo de conservação de água em edificações; e analisar a aplicabilidade de diferentes modelos de financiamento existentes para instalação de sistemas prediais de água não potável. Foi realizada a revisão sistemática da literatura considerando a adaptação predial, custos e benefícios envolvidos, o potencial de redução do consumo de água potável e benefícios econômicos, ambientais e sociais gerados; o levantamento dos atos normativos legais e infralegais relevantes para implementação de sistemas de água não potável, federais e distritais; foram verificadas as variáveis obtidas por meio da revisão da literatura que estejam diretamente ligadas às tomadas de decisões de investimentos por parte do público alvo no que concerne à implementação de sistema de uso de água não potável, através da Matriz de SWOT (FOFA).Observou-se que os investimentos em Sistemas de Aproveitamento de Águas Pluviais, SAAP em residências unifamiliares possuem um payback, que variam, entre 2 até 14,9 anos para residências de renda alta, de 2,8 até 9,4 anos para renda média-alta, de 15,4 até 23,4 anos para renda média-baixa e para renda baixa 16 anos até 24,7 anos para o retorno do investimento. O tempo de vida útil do sistema é de 30 anos. No caso dos Sistemas de Reúso de Águas Cinzas, SRAC. A viabilidade econômica financeira para o uso desse sistema alcança uma melhor eficiência para residenciais multifamiliares de renda média-alta. A economia de água chega a 65m³/residência/ano, equivalente a 9.858,69 R$/residência ao longo do ano, e benefícios econômicos de 5,04 R$/m³ de água economizada. O conjunto de indicadores econômicos, tais como o VPL positivo, a taxa de retorno inferior ao custo do investimento e a vida útil dos equipamentos superiores à taxa de retorno, tanto no SAAP como no SRAC, aponta para ganhos econômicos e financeiros aos usuários residenciais e comerciais em relação à substituição do uso da água potável. A Matriz Estratégica da SWOT apontou resultados satisfatórios relacionados aos ganhos, ambientais, econômicos e sociais na implantação de políticas públicas voltadas à implementação de sistema de uso de água não potável em residências e comércio. Concluiu-se que se faz necessário o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas para o financiamento público de 100% do projeto, com taxa de juros acessíveis, prazos não inferiores ao tempo de vida útil dos sistemas para alavancar implementação dos SAAP E SRAC.

A vida do edifício do Museu de Arte de Brasília pode ser considerada uma das histórias mais antigas e conturbadas da Capital Federal. Construído em meio aos preparativos para a inauguração da cidade, o prédio foi projetado para servir como restaurante do conjunto de cinco edificações do Anexo do Brasília Palace Hotel. Em pouco tempo subutilizado, passou a abrigar outros diversos usos, tendo funcionado como Clube das Forças Armadas, Associação Atlética Novacap e até como Casarão do Samba, quando, por fim, em 1985, foi convertido na primeira sede do acervo de arte do Governo do Distrito Federal. Apesar da sua relevância para a cultura da cidade, a existência do MAB foi marcada por inúmeros impasses funcionais e políticos, o que fez da sua sede e do seu entorno os objetos de muitos projetos e adiamentos. Em 2007, o edifício foi embargado e seu acervo de arte transferido para o recém-inaugurado Museu Nacional da República. Quase quatorze anos fechado e mais de seis anos em reforma, o MAB foi finalmente reaberto em maio de 2021. Mas ainda poucos conhecem a sua história. Desenvolvida entre 2015 e 2022, esta investigação iniciou-se no âmbito do Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, contudo, devido ao volume e ao ineditismo dos primeiros resultados, foi alçada ao título de Doutorado. Ao final de 2020, com o suporte do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, foi lançado e distribuído gratuitamente o pequeno livro MAB: o Museu de Arte de Brasília desde o Anexo do Brasília Palace Hotel, com a divulgação de algumas informações resultantes da presente pesquisa. Agora, o trabalho, fruto de levantamentos mais aprofundados, é apresentado em sua completude, expressivamente ampliado em fatos históricos e em questões diversificadas, além de enriquecido por registros documentais e fotográficos. Pensada na forma de uma antologia multidisciplinar e iconográfica, além das partes introdutórias e conclusivas, a tese está exposta em quatro capítulos: os dois primeiros, de mesma periodização, abordam as contextualizações referentes às circunstâncias das origens do edifício e do território e à gênese do Museu de Arte de Brasília em si, desde o início do planejamento da nova cidade até a criação da instituição; o terceiro capítulo se debruça sobre a historicidade do MAB enquanto confluência das temáticas antecedentes, em junção das esferas edifício, arte, instituição e cidade; o quarto e último capítulo, vem desvelar trechos biográficos da trajetória do arquiteto do prédio, até então no anonimato. Este estudo consiste, assim, no resgate de memórias dispersas acerca de patrimônios não reconhecidos da cidade, cujos históricos estão intrinsecamente relacionados aos desenvolvimentos, aos impasses e às contradições da breve cultura artística, arquitetônica e urbanística local. A história do museu carrega em si muitas estórias de Brasília.

A ergonomia contemporânea tem sido desafiada a colaborar em diferentes fases do processo de concepção dos espaços, integrando elementos ao projeto de forma a compatibilizar as exigências do usuário às características do espaço. A abordagem metodológica proposta em ergonomia, a Analise Ergonômica do Trabalho – AET de origem francesa, foi construída inicialmente para analisar os ambientes de trabalho, estruturada em diferentes etapas, com o objetivo de compreender e transformar as situações de trabalho assegurando a segurança, saúde e o conforto dos usuários. No entanto, com o decorrer do tempo, diferentes estudos, em ergonomia tem demonstrado sua utilidade no processo de concepção e/ou avaliação de projetos, bem como na transformação e adequação dos espaços. Os desafios do ergonomista relacionados a cada etapa do projeto são assinalar os momentos estratégicos do processo projetual e integrar de maneira pertinente as exigências de uso. O objetivo deste estudo é propor uma reflexão teórica sobre a articulação das duas áreas de conhecimento - Ergonomia e Arquitetura, buscando identificar as complementaridades e limites dessa interface, apoiando-se na análise de modelos representativos. Os autores dos estudos selecionados foram elencados pelo reconhecimento de suas pesquisas com diferentes enfoques e sua vinculação com a prática, no contexto do processo de definição do programa de necessidades arquitetônico, projetos de acessibilidade, avaliação do uso e adequação dos espaços. Por meio dos exemplos apresentados ao longo deste estudo, foi possível ilustrar modelos metodológicos que integram as diferentes variáveis envolvidas no projeto arquitetônico e seus processos de retroalimentação entre as diferentes etapas, tendo como referência as exigências das atividades a serem realizadas no espaço. Nesta perspectiva, ao articular dados oriundosda metodologia ergonômica com o processo de desenho arquitetônico, permiteidentificar as categorias para a coleta de dados com base nas atividades e as projeções futuras para o espaço em função do projeto. O caráter estrutural e ao mesmo tempo articulador da atividade contribui no dimensionamento do espaço físico e na definição dos aspectos relativos às interações entre os usuários e o uso do espaço. A abordagem complementar da ergonomia associada ao estudo por meio de diferentes instrumentos permite a comparação dos dados, apoiados no princípio da interdisciplinaridade, na diversidade das variáveis e na multiplicidade de ações. A distinção da abordagem da análise ergonômica, quanto aos procedimentos e aos conceitos metodológicos, realça as interfaces da ergonomia e da arquitetura.

As políticas de habitação social praticadas no Brasil dispõem de uma única alternativa de provimento habitacional: construção de unidades habitacionais para venda subsidiada, o que se caracteriza um tratamento da habitação como um bem de consumo, pois está associada à conquista da propriedade. Essa prática não tem conseguido ao longo dos anos suprir toda a demanda de moradia para a população de baixa renda, ocasionado filas enormes na espera pelas residências, incentivo a ocupação irregular do solo urbano e a manutenção de uma população morando de aluguel no mercado privado de loteamentos periféricos ou nos assentamentos informais já existentes, nos quais o governo não atua para regular atenuando sobre preços para famílias de baixa renda. Por outro lado, a locação social, apesar de presente em alguns planos habitacionais brasileiros como uma alternativa para moradia, ainda não é uma política difundida no Brasil, sendo sua adoção uma mudança na percepção da habitação que passa a ser tratada como um serviço público oferecido pelo Estado. Foi incluída na Política Nacional de Habitação em 2004, decorrente da visão de técnicos do setor que vislumbravam para o Brasil os resultados que se obtém com sua aplicação no plano internacional onde, consegue atender um maior quantitativo de pessoas ao mesmo tempo que dialoga com a política de desenvolvimento urbano. Passados dezoito anos essa alternativa encontra-se sem maior aderência com a prática dos diferentes agentes produtores e promotores da habitação no Brasil. A pesquisa debruça-se sobre as condições institucionais e normativas que levam aos diferentes agentes intervenientes na habitação a não se mobilizarem para sua adoção no país vis a vis o que ocorre na experiência internacional. A discussão iniciou-se pela revisão conceitual e teórica da habitação social, relacionando-a como um bem de consumo ou como um serviço e ponderando as dificuldades de novas estratégias de moradia devido à cultura da casa própria. Seguiu com a construção de procedimentos de análise a partir das experiências de locação social na França, Inglaterra e Estados Unidos, avaliando os agentes intervenientes e observando as estratégias e ações capazes de promover os êxitos e/ou entraves de cada programa de locação social. Observou-se ainda os atores participantes do processo de produção da moradia social brasileira e a visão geral da política de locação social no Brasil, estudando os municípios que a contemplam e o que tem sido feito para a sua implantação. Considerou-se para estudo no Brasil o Programa de locação social do município de São Paulo, que possui maior grau de implantação, onde foi identificado toda a rede de agentes presente nas várias etapas do programa, além das suas características, ações e inserção urbana, de forma a contrapor os achados com os procedimentos de análise estruturados a partir de uma das experiências internacionais: o Programa das HLM na França. Vários foram os resultados obtidos em termos de aprendizado para concepção de um programa bem-sucedido de locação social com destaque para o fato de aqui, no Brasil, notar a presença exclusiva de agentes públicos, o Estado, desenvolvendo as mesmas funções de promoção/regulação, gestão, operação e financiamento do programa. Fato diferente ocorre na França, onde o Estado passou a ter as funções apenas de regular/promover e, por vezes, financiar a locação social, enquanto as entidades sociais e/ou construtores privados ficaram com as funções de produzir e gerir as unidades habitacionais. Nesse papel regulador se encontra, também, uma forte articulação entre políticas habitacionais e urbanas, promovendo uma boa inserção da habitação na estrutura da cidade e apoiando projetos de revitalização urbana.

Desde a criação do Sketchpad em 1963 por Ivan Sutherland, o computador vem sendo utilizado como ferramenta nos mais diversos tipos de profissões. Não seria diferente com o estudo da Arquitetura. Dentre os tipos de tecnologia que acabaram sendo criadas e utilizadas para o uso na arquitetura podemos citar o sistema de representações BIM (Building Information Modeling) como um dos mais revolucionários e promissores meios para a produção de uma arquitetura mais bem representada e com menos possibilidades de erro desde sua concepção, passando por todas as etapas conceituais, os processos de legalização do projeto e até sua construção. No entanto, desde a utilização dos primeiros sistemas CAD (Computer Aided Design) para o uso na Arquitetura, com todo o ganho em tempo e produtividade que eles geraram no Brasil o processo de aprovação de projetos e construções pouco evoluiu acompanhando a evolução dos sistemas computacionais. Mesmo com a possibilidade de utilização de sólidos tridimensionais para representação de projetos, para sua avaliação mediante os órgãos competentes continua o mesmo, através de pranchas, contendo plantas baixas, cortes e fachadas. Nesse contexto realizamos um estudo diretamente sobre os sistemas BIM, que desde sua concepção original pregava a possibilidade de analisar um projeto e suas normas de edificações locais diretamente no modelo BIM. Com isso apresentamos a possibilidade de análise de projetos de arquitetura para aprovação dentro do sistema BIM por meio da criação de um algoritmo com variações para esta finalidade que venham a ser futuramente direto no software original ou por meio de um aplicativo.

O trabalho aqui apresentado navega no sentido de ler o projeto de arquitetura como um campo ampliado que anseia dialogar com disciplinas diversas com o intuito de compreender a própria história e assim, quem sabe, produzir cidades plurais e solidárias. Nesse contexto, o pensamento de Paulo Mendes da Rocha oferece múltiplos caminhos, um deles é a sua densa obra de concursos de projeto (45 participações). Tendo em vista a latência da construção de uma ideia com base no discurso e no desenho que esses certames propiciam, encontra-se uma seara de reflexões possíveis no campo da arquitetura potencial. Com isso, esquadrinha-se a ideia de discurso e desenho regidos por um desígnio. Utilizando o discurso (entrevistas, textos e memórias) do arquiteto, encontram-se algumas pautas constantes, tais como cidade, história e geografia. E assim, levanta-se a hipótese da possibilidade de leitura dos projetos do arquiteto sob a luz de três conceitos que permeia arquitetura e geografia. Paisagem, território e espaço. Os conceitos são construídos no eco encontrado com o pensamento do geógrafo Milton Santos.